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3. Metodologia de Pesquisa

3.4. A Coleta: Procedimentos para Obtenção dos Dados

Na utilização dos instrumentos de pesquisa, buscou-se afastar do princípio de que o valor da informação está definido pelo caráter dos instrumentos que a produzem, pois, como explica Rey (2005), essa concepção exclui o momento de aplicação das reflexões do pesquisador. Nesse sentido, os instrumentos foram utilizados como meios de provocação da expressão do sujeito pesquisado, não seguindo regras padronizadas: representaram meios de envolvimento emocional das pessoas, e por isso facilitaram a expressão de sentidos subjetivos. Como explica Rey (1999, p.80), “o instrumento é uma ferramenta interativa, não uma via objetiva geradora de resultados capazes de refletir diretamente a natureza do estudado independentemente do pesquisador”.

Nesse estudo, foram utilizados instrumentos individuais e grupais. Os instrumentos individuais podem ser especificamente relacionais, como entrevistas ou situações em que a apresentação de estímulos é acompanhada de um diálogo permanente entre os participantes, mas pode também estar mais centrada na produção individual. Os instrumentos grupais são todos aqueles que implicam uma atividade coletiva e o desenvolvimento de dinâmicas grupais a partir de tal atividade (REY, 2005).

Privilegiou-se a conversação em grupo, devido ao potencial que o instrumento tem fazer com que cada um dos participantes se sinta sujeito no processo de pesquisa, “facilitando a expressão deles por meio de suas necessidades e interesses” (REY, 2005, p. 45-46). Essa característica torna o instrumento de conversação bastante adequado ao estudo do tema participação no trabalho, por sua capacidade de propiciar reflexão e elaboração de hipóteses e pela possibilidade de integração das experiências concretas entre pesquisador e pesquisados, num processo em que as dúvidas, tensões e emoções facilitam o aparecimento de sentidos subjetivos no curso da aplicação desse instrumento.

Durante a conversação, foram utilizados indutores que serviram como estímulo à produção de sentidos subjetivos dos participantes acerca do problema pesquisado. Os indutores constituem recurso valioso para a manutenção de um processo ativo que se trava entre o pesquisador e os sujeitos pesquisados no processo de conversação, principalmente para os sujeitos com maior dificuldade de envolvimento no processo (REY, 2005).

Outro instrumento utilizado foi a redação e o indutor utilizado foi a solicitação para que cada um dos sujeitos pesquisados escrevessem um pouco sobre sua origem, perfil, formação e

história de vida associada ao trabalho. A redação foi escolhida em razão de ser um instrumento aberto que permite a produção de trechos de informação não vinculados a perguntas diretas feitas pelo pesquisador. A redação estimula o sujeito a construir uma narração de qualidade, que está além de sua intencionalidade e de seu controle (REY, 2005).

A escolha da redação se deu após a realização de duas reuniões de conversação. A opção original era a utilização dos instrumentos escritos complemento de frases e questionário, mas o andamento da conversação nas três primeiras reuniões se mostrou tão produtivo, pelo caráter aberto das expressões dos sujeitos pesquisados, que se optou por substituí-los pelo instrumento da redação, além de mais uma etapa de conversação. A redação, por não possuir perguntas diretas, possibilitou o surgimento de informações diretas e indiretas valiosas à construção de indicadores de sentidos subjetivos e levantamento e confirmação ou não de hipóteses.

Em alguns momentos aplicou-se também a técnica de entrevista aberta, principalmente para a obtenção de complementos de informação com um ou outro sujeito da pesquisa. O uso de instrumentos diferentes se justifica por permitir descentrar o sujeito dos sentidos subjetivos manifestados diante de cada instrumento, oferecendo opções de novos momentos de geração de sentidos que por sua vez incentivam o desenvolvimento de novas informações, e assim por diante (REY, 2005).

A pesquisa, ao utilizar a proposta teórica, epistemológica e metodológica que vem sendo desenvolvida por Rey (2005), contempla uma inovação considerada pelo próprio autor como a maior dentro de sua concepção de construção do conhecimento: o uso de indicadores para o desenvolvimento contínuo de hipóteses, que dão lugar a um modelo teórico em construção e que permite a visualização, por via indireta, de informações ocultas aos sujeitos que estão sendo pesquisados. Esse processo de produção de indicadores e de hipóteses constitui uma das fases mais trabalhosas da epistemologia qualitativa, mas é o que dá vida aos instrumentos utilizados. A produção de indicadores consiste na captação de elementos que dêem liberdade para que a pessoa continuamente se expresse sobre temas de seu interesse. Nesse sentido, o pesquisador precisa atuar como facilitador da dinâmica de comunicação entre ele e os sujeitos estudados.

Na análise das informações coletadas por meio dos instrumentos, os indicadores funcionam como meios essenciais de extração de sentidos subjetivos. Em razão da amplitude e da

natureza social e política que o tema participação possui, as expressões que se formam em seu redor possuem características análogas e nem sempre são visíveis ao pesquisador. Rey (2005) explica que o uso de meios demasiados simples para análise da palavra articulada ou escrita não favorece a descoberta de sentidos subjetivos ocultos em expressões e manifestações sobre o tema estudado.

É importante destacar, por fim, que a importância dos indicadores não se dá na quantidade de vezes em que sentidos subjetivos emergem nas inúmeras expressões nos instrumentos, mas sim na revelação significativa de um ou de um conjunto deles. Assim, pode acontecer que um sentido subjetivo revelado por meio de um único indicador supere ou tome o lugar de outros sentidos subjetivos revelados em um ou mais indicadores. Por isso, a construção teórica por meio dos indicadores impõe ao pesquisador esforço intelectual ativo e revisão constante de sentidos subjetivos levantados, captados nos significados e nas emoções expressas pelos sujeitos pesquisados.