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3. Metodologia de Pesquisa

3.3. O Trabalho no Campo: Cenário e Momentos Empíricos

Estabelecidos os sujeitos de pesquisa, a etapa seguinte foi a criação do cenário de pesquisa, que se deu numa reunião do pesquisador com os sujeitos pesquisados para formação do grupo de pesquisa. Rey (2005) explica que, durante o curso do avanço em direção à formulação do problema de pesquisa, é muito importante se pensar também nas possibilidades reais da pesquisa, o que envolve a representação do pesquisador sobre a criação do cenário de pesquisa. A construção desse cenário é o momento inicial da pesquisa e antecede a aplicação de instrumentos de coleta de dados.

“Entendemos por cenário de pesquisa a fundação daquele espaço social que caracterizará o desenvolvimento da pesquisa e que está orientado a promover o envolvimento dos participantes da pesquisa. É precisamente no processo de criação de tal cenário que as pessoas tomarão a decisão de participar da pesquisa, e o pesquisador ganhará confiança e se familiarizará com os participantes e com o contexto em que vai desenvolver a pesquisa” (REY, 2005, p. 83).

A criação do cenário de pesquisa é um momento de fundação do espaço social que caracteriza o desenvolvimento da pesquisa, orientado à facilitação do envolvimento dos participantes. Nesse momento, o pesquisador adquire mais confiança e familiaridade com os sujeitos pesquisados. Nesse encontro, precisamente, os participantes também decidem pela participação ou não nos estudos. Feito isso, os sujeitos participantes se convertem em grupo de pesquisa.

A reunião para criação do cenário de pesquisa aconteceu na primeira semana do mês de julho de 2009. O local foi o terraço do prédio da SEFAZ, área utilizada como espaço de vivência pelos servidores e propícia à conversa em grupo. Na reunião, foi exposto aos sujeitos de pesquisa os pontos principais do projeto: tema, conceito de participação utilizado, delimitação do estudo, problema de pesquisa e objetivo. Em seguida, foi abordado o referencial teórico e metodológico. Houve bastante ânimo dos participantes em contribuir com a pesquisa, por considerarem o tema importante e entenderem que as discussões poderiam produzir resultados que contribuiriam para o entendimento da participação no trabalho no âmbito da SEFAZ. Ao final da reunião, os sete participantes expressaram a vontade e a disposição para participar da pesquisa, o que os converteu em grupo de pesquisa, com o preenchimento e assinatura do Termo de Compromisso (Apêndice I).

A partir daí, foram realizados quatro momentos empíricos durante o período de julho de 2009 a fevereiro de 2010. O primeiro se deu duas semanas após a criação do cenário de pesquisa, na segunda quinzena do mês de julho de 2009, e constituiu-se de uma reunião para conversação. O indutor utilizado foi a solicitação para que contassem um fato que julgassem marcante ocorrido em suas trajetórias na Fazenda, associado à participação no trabalho. A análise de indicadores de sentidos subjetivos levantados nessa primeira reunião mostrou-se importante para a preparação dos momentos empíricos seguintes.

O segundo momento empírico se deu no mês de agosto, um mês após a realização do primeiro momento empírico. Procurou-se desde o início estabelecer uma conversação espontânea, mas sempre com a preocupação de durante o seu curso conduzir as conversas para o foco do objeto de estudo. A reunião foi gravada e transcrita, como todas as outras, e as análises das expressões dos sujeitos nessa fase tiveram como ponto de referência as análises das conversações do primeiro momento empírico.

Esse segundo momento empírico revelou-se importante para o redirecionamento da etapa de levantamento de dados, principalmente no que se refere aos instrumentos programados. Como as conversações evoluíram de maneira muito aberta e produtiva, tomou-se a decisão de substituir os instrumentos previstos de complemento de frases e questionário por novas conversações. Para essa decisão, levou-se em consideração também a limitação de tempo para a aplicação desses instrumentos e para a análise dos dados, pois o grupo de pesquisa era relativamente grande e a quantidade de dados obtidos seria significativa. Porém, principalmente, levou-se em consideração a percepção do pesquisador de que os instrumentos

de complemento de frases e questionário não seriam bem assimilados pela maioria do grupo, o que poderia comprometer a pesquisa. Com base nessas considerações, os instrumentos foram substituídos por redação, entrevista aberta e por mais conversação. A entrevista aberta foi utilizada para o levantamento de informações complementares específicas em um ou outro sujeito da pesquisa.

O terceiro momento empírico foi a utilização do instrumento escrito da redação e se deu em meados de setembro de 2009. Foi solicitado aos sujeitos que fizessem comentários sobre a pesquisa em curso e que escrevessem uma breve biografia e um pequeno histórico de sua passagem pela SEFAZ. O objetivo foi obter o “perfil” de cada um e levantar novos indicadores de sentidos subjetivos para serem comparados com indicadores levantados em momentos anteriores. A aplicação da redação também se mostrou importante para descentrar os sujeitos, antes da realização do quarto e último momento empírico, em que seria aplicado novamente a técnica de conversação. Nesse momento da pesquisa, já havia uma quantidade considerável de dados e informações analisadas e a serem analisadas, o que implicou na necessidade de um intervalo maior entre esse terceiro momento e o momento empírico seguinte, aproximadamente 50 dias.

No dia 4 de novembro de 2009, quatro meses após a criação do cenário de pesquisa, foi realizado o quarto momento empírico. A reunião foi realizada num espaço reservado do restaurante Alice Vitória, no centro da cidade, gentilmente cedido pelo gerente do estabelecimento. Durante um período de aproximadamente três horas, houve o almoço e conversas voltadas ao objeto de pesquisa, num clima descontraído.

Inicialmente, foi explicado o objetivo daquele encontro. Foi abordado que, com base nas interpretações obtidas dos momentos empíricos realizados, foram identificadas algumas lacunas de informação que precisavam ser preenchidas, muito importantes ao acabamento da pesquisa. Para essa reunião, foi elaborado um roteiro contendo indutores que tinham como objetivo conduzir a conversação para o objeto estudado: participação no trabalho (APÊNDICE II). Esse momento foi complementado com uma reunião no dia 11 de fevereiro de 2010, na qual foi apresentado aos sujeitos de pesquisa o relatório contendo as análises dos sentidos subjetivos interpretados a partir das expressões de cada um.