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3. Metodologia de Pesquisa

3.5. A Produção: Construção e Análise da Informação

Nessa pesquisa, a construção e a análise da informação deu-se pela captação das expressões dos sujeitos pesquisados, produzidas por meio dos instrumentos utilizados nos momentos empíricos programados e, mais raramente, em momentos informais, com o consentimento do sujeito de pesquisa. A análise das expressões e das emoções dos sujeitos possibilita a produção de indicadores de sentidos subjetivos a partir dos quais são construídas categorias e hipóteses. O processo de confirmação ou não das hipóteses levantadas conduziu aos sentidos subjetivos do servidor frente à participação no trabalho.

Trata-se de um processo difícil na realização da pesquisa qualitativa baseada na epistemologia qualitativa, como reconhece Rey (2005), que atribui essa dificuldade ao que chama de “fantasma empirista” que ainda circula no âmbito da pesquisa científica nas ciências sociais em geral: “a prioridade dada à descrição como função principal do pesquisador em relação a seus resultados” (REY, 2005, p. 115-116). Um dos pontos mais importantes do processo de construção do conhecimento, levado em conta nessa pesquisa, é a consciência de que as informações a serem alcançadas não se tornam visíveis de forma direta nas expressões dos sujeitos da pesquisa, em suas falas e escritas, pois os sentidos subjetivos mostram-se indiretamente:

“na qualidade da informação, no lugar de uma palavra em uma narrativa, na comparação das significações atribuídas a conceitos distintos de uma construção, no nível de elaboração diferenciado no tratamento dos temas, na forma com que se utiliza a temporalidade, nas construções associadas a estados anímicos diferentes, nas manifestações gerais do sujeito em seus diversos tipos de expressão, etc.” (REY, 2005, p. 116).

Tem-se consciência de que essa característica exige do pesquisador um caráter ativo e de responsabilidade intelectual pela construção teórica resultante da pesquisa, pois o objeto do pesquisador não está na aparência do material empírico, mas em diversas formas de organização não acessíveis na aparência. O objeto do pesquisador é a organização subjetiva presente em qualquer modelo de comportamento ou expressão humana (REY, 2005).

Nesse estudo, o conhecimento é produzido durante todo o seu curso, tomando-se por base os indicadores de sentidos subjetivos que possam estar ocultos nas expressões dos sujeitos pesquisados. Esses indicadores são comparados e revisados permanentemente, a cada momento empírico novo realizado, e constituem fonte para as interpretações do pesquisador sobre os sentidos subjetivos. O levantamento de informações não segue uma ordem cronológica rígida e tampouco há um momento específico para isso. A construção do conhecimento se dá antes, durante, entre e depois da aplicação dos instrumentos.

Nos instrumentos são utilizados indutores com o objetivo de conduzir os sujeitos pesquisados para um campo de sentidos em torno do objeto de pesquisa. Durante o curso das conversações, é necessário atenção para a sustentação de um diálogo aberto, a fim de captar sentidos subjetivos dos pesquisados frente à participação no trabalho. Nos instrumentos escritos, essa tarefa é menos complexa, pois permitem maior concentração do sujeito pesquisado em torno dos indutores escolhidos pelo pesquisador e colocados previamente nos instrumentos. Já nas conversações, a tarefa é um pouco mais delicada, pois a falta de concentração pode fazer com que o pesquisador perca expressões importantes que auxiliam na captação de indicadores de sentidos subjetivos ou concorram para o fortalecimento de indicadores levantados. Essas expressões podem ser, por exemplo, gestos, modo de falar e de participar, o olhar, o silêncio ou o tipo de expressão em determinados assuntos, entre outras.

Assim, a construção do conhecimento dá-se por meio de indicadores de sentidos subjetivos. Por meio da análise das conversações e das respostas nos instrumentos escritos, o pesquisador vai levantando indicadores que, organizados em categorias, constituem base para a construção de hipóteses. As hipóteses, por sua vez, confrontadas com outros indicadores oriundos de um mesmo instrumento ou de instrumentos diferentes, vão se confirmando ou não, num processo construtivo-interpretativo permanente de construção do conhecimento (REY, 2005).

O processo de construção da informação não se orienta por uma lógica preconcebida, mas se caracteriza por um processo mental e reflexivo do pesquisador que ao longo da pesquisa vai construindo seu próprio modelo teórico. Nesse processo, o pesquisador busca acessar elementos de sentido que possam ser transformados em indicadores de sentidos subjetivos. Na medida em que esses elementos de sentidos e significados vão surgindo, eles vão sendo agrupados em categorias, que servem como ferramentas de organização das informações. As categorias são importantes para a organização do processo construtivo-interpretativo porque, como explica Rey (2005), indicam núcleos teóricos de significação portadores de certa estabilidade.

A base para a captação dos sentidos subjetivos é a construção de hipóteses por meio dos indicadores de sentidos subjetivos. Os indicadores vão adquirindo significados na interpretação do pesquisador e permitem a visualização de informações ocultas nas expressões dos sujeitos pesquisados: os sentidos subjetivos (REY, 2005). Um elemento essencial para a definição de um indicador de sentido subjetivo é a emoção expressa pelo sujeito. A emoção pode surgir tanto nas conversações individuais quanto grupais, mas pode aparecer também em relatos escritos que favoreçam a livre manifestação dos sujeitos investigados e permitam uma expressão mais significativa. A emoção não aparece em forma pura e evidente, mas sim na organização da fala ou da escrita. Trata-se de uma emoção que é parte da organização qualitativa da fala e da escrita, e não de uma emoção em comportamentos concretos.

No que tange ao modelo teórico, ele não pode ser pronto e acabado, pois durante o processo de pesquisa pode haver transformações. O modelo vai se edificando ao longo da própria pesquisa e está diretamente relacionado às reflexões e interpretações do pesquisador. O processo de construção da informação tem origem na relação entre os sujeitos de pesquisa e o pesquisador. Nessa relação, com a aplicação dos instrumentos de pesquisa em diversos momentos empíricos, surgem as expressões e as emoções dos sujeitos, que organizadas em categorias e orientadas por indicadores, convertem-se em hipóteses.

As hipóteses, por meio do trabalho reflexivo do pesquisador, são convertidas em sentidos subjetivos. Esse processo constitui o caminho básico para a organização, análise e construção das informações. Nesse processo construtivo-interpretativo, o conhecimento vai se legitimando dentro de um modelo teórico permanentemente em desenvolvimento por parte do pesquisador, em sua trajetória pelos momentos empíricos. Como explica Rey (2005, p. 120), o modelo teórico é ao mesmo tempo um “requisito de aproveitamento da informação empírica e

não explícita na aparência do dado isolado”, e também o “resultado de uma intenção dirigida à produção de teoria”.

Durante a realização dos momentos empíricos, são elaboradas tabelas e anotações, que constituirão a documentação básica da pesquisa e fonte para elaboração do relatório de pesquisa. Os momentos empíricos formais são aqueles durante os quais o pesquisador aplica os instrumentos de pesquisa; os informais são encontros espontâneos entre o pesquisador e os sujeitos pesquisados, durante os quais poderão surgir situações e expressões passíveis de serem utilizadas na pesquisa, sempre, claro, com o consentimento dos sujeitos pesquisados. A matéria-prima dos momentos empíricos são as expressões de linguagem e as emoções. Interpretadas pelo pesquisador, resultam em uma tabela de indicadores. Continuamente, esses indicadores vão sendo organizados em categorias, que vão abrindo caminho para o surgimento e consolidação de hipóteses, num processo reflexivo de ida e volta contínuo. A partir da confirmação de hipóteses é que são captados os sentidos subjetivos.

Na proposta de Rey, tal como a subjetividade, o modelo teórico está sempre em construção, admite formas diferenciadas de construção e apresentação, sem que nenhuma possa ser considerada mais válida ou correta, pois cada pesquisador conduz, organiza e interpreta as informações do modo como achar mais conveniente e adequado aos seus propósitos (REY, 2002, 2005). O modelo teórico está em processo, está em construção, porque ele representa a construção teórica de um problema ao final de uma pesquisa.

Existem modelos teóricos de maior ou menor qualidade, e os resultados da pesquisa dependerão da capacidade do pesquisador para produzir uma maior quantidade de significados sobre o material que estuda. O processo de construção da informação está associado aos indicadores que possam ser definidos no curso desse processo e representa a construção bem fundamentada que o pesquisador consegue elaborar a partir dos dados empíricos. Não há critérios externos ao processo para definir a qualidade e a legitimidade do que vai sendo construído. A legitimidade é a própria viabilidade da construção para gerar novos significados sobre o problema.

O relatório de pesquisa é o resultado do conhecimento produzido pelas interpretações do pesquisador dentro do modelo teórico desenvolvido. No relatório dessa pesquisa, foram destacadas as interpretações do pesquisador sobre os sentidos subjetivos do servidor fazendário frente à participação no trabalho. O relatório não tem como objetivo apresentar

conclusões, visto que, sob a perspectiva da Epistemologia Qualitativa, o conhecimento não representa um caminho que conduz ao descobrimento de algo pronto para ser conhecido ou de uma realidade que se apresenta de uma única forma.

Como alerta Rey (2005), o pesquisador precisa ter muito cuidado em suas afirmações. Por isso, o relatório de pesquisa consiste na resposta interpretada do pesquisador ao problema objeto de estudo: os sentidos subjetivos do servidor fazendário frente à participação no trabalho. Analisar os sentidos subjetivos sob a perspectiva da Epistemologia Qualitativa implica reconhecer que esse é um caminho entre outros para se chegar a uma realidade que se apresenta, e que os resultados são fruto do trabalho reflexivo e interpretativo do pesquisador, nos quais estão contidos os seus próprios sentidos subjetivos.