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Figura 4.3:Produção da banana no assentamento São Francisco (Foto da autora)

Ao visitarmos o assentamento São Francisco, por conta de nossa pesquisa de campo, observamos que essas áreas de assentamentos foram criadas pelo INCRA sem nenhum planejamento prévio ou diagnóstico, para saber se estas áreas estariam propícias ao cultivo. Constatamos que as áreas do assentamento São Francisco, conforme já falamos, possui uma declividade bastante acentuada, com áreas extremamente íngremes, o que dificulta o cultivo de certas lavouras.

A área desse assentamento era, antes do processo de desapropriação das terras, recoberta de cana durante o funcionamento da Usina Santa Maria. Os técnicos do Projeto LUMIAR no início dos seus trabalhos refletiram sobre quais seriam as lavouras propícias a essas áreas com acentuadas declividades e especialmente quais os tipos de lavouras que poderiam ser cultivadas para comercialização e para promover renda aos assentados. Constataram que esta região era

propícia ao cultivo de alimentos de subsistência e de fruticulturas para a comercialização. No início, os trabalhadores foram estimulados a plantar lavouras de subsistência (milho, feijão, mandioca) para o consumo e a banana para a comercialização. As lavouras de subsistência não foram comercializadas, tendo em vista a escassez dos recursos para a compra de sementes que propiciassem um investimento maior em seu cultivo.

O cultivo da banana teve bons resultados no assentamento São Francisco e as razões dos agricultores familiares terem optado por sua comercialização, como produto principal, deve-se a fatores como: o mercado comprador estar inserido na região do Rio Grande do Norte (local onde há o escoamento da banana), a facilidade para obtenção das mudas e sementes o que possibilita a intensidade do seu cultivo, além do produto ter grande rentabilidade e saída no mercado local.

Em nossa pesquisa de campo um dos nossos entrevistados foi questionado sobre quais os principais produtos cultivados pelos assentados, além das razões deles optarem pelo cultivo da banana para a comercialização.

Planto roça, macaxeira, feijão, milho. Só vendo banana mesmo porque o outro é só pro consumo. Não vale a pena consumir e vender, falta recurso para a semente. A banana é melhor pra plantar, você só roçou o mato plantou por dentro, depois é só limpar. No caso do milho é diferente, tem que deixar o terreno todo limpo organizado, todo direitinho e no caso do feijão é a mesma coisa onde se planta o milho se planta o feijão. O milho pra plantar é diferente tem que ter um preparo maior, tem que ter estrume também, muito mais recurso (Assentado).

Porém os agricultores encontram grandes dificuldades para comercializarem o seu produto devido a precariedade das estradas, o que inviabiliza que os assentados levem seus produtos aos municípios próximos. Em virtude desses aspectos elencados, os trabalhadores recorrem à intermediação dos atravessadores para venderem seus produtos. Essa é a percepção que os próprios agricultores expressam em

seus depoimentos, de que a grande dificuldade de comercialização refere-se à presença dos atravessadores.

Eu vendo a atravessador aí na rua. Vender pra atravessador é trabalho de meia porque dá o lucro do caba13 todinho pra ele. Eu vendo aqui a banana por 40 conto, em Guarabira é 70 e 80 reais e a gente perde a metade do lucro (Assentado).

Observamos, pelo relato do entrevistado, que a comercialização do produto realizado por intermédio do atravessador torna-se um empecilho para desenvolver a venda dos produtos de maneira justa e que garanta o lucro almejado pelos assentados.

Outro entrevistado tem a mesma compreensão sobre o processo de comercialização, o qual é dificultado por eles não terem condições de fazer a venda do produto de forma autônoma e, em razão disso, o único meio viável é vender os produtos para os atravessadores. Outro fator levantado refere-se à precariedade das estradas, que impossibilita que os trabalhadores levem por conta própria os produtos, já que em um determinado momento tentaram levar a banana em um caminhão para o município de Pilões, tendo ocorrido vários acidentes. Nesse sentido, não restou outra saída para os trabalhadores senão vender seus produtos para os atravessadores.

O maior desafio é comercializar os produtos e aqui a gente já fez isso a gente já teve uns pessoal, o pessoal daqui mesmo é que leva os produto pra feira, mas, chega na feira vai entregar a outras pessoas, a atravessadores porque antigamente o pessoal comprava aqui dentro dos sítios, né. A gente se juntou, aí levou pra feira, mas, na feira tá sendo quase a mesma coisa que tá entregando a atravessador também. Aí começou o mesmo ciclo leva banana paga frete, aí quando vende lá na feira e paga o frete

13 Trata-se de uma expressão popular peculiar da região nordeste que se manifesta pela ideia de

fica quase nada também, aí fica o negócio difícil, né. Eu viajei umas vez e não gostei, bem o sofrimento é muito grande e se arrisca muito também (Assentado).

LEITE destaca que os atravessadores se constituem como sujeitos no processo de comercialização, em virtude de mediar essa relação: eles buscam o produto no assentamento e impõem preços mais baixos aos assentados (LEITE et al., 2004 p.176). Os atravessadores se constituem como um impasse para a autonomia dos assentados, já que pelo papel que cumprem na comercialização dos produtos, são responsáveis pela reiteração do ciclo de dependência destes, fruto da desvalorização do preço imposto aos produtos. Além disso, se soma a ausência do INCRA no sentido de buscar melhorias para as condições das estradas no assentamento, outro fator que dificulta que os agricultores possam comercializar seus produtos de forma justa e que garanta o rendimento necessário para o desenvolvimento do seu lote de terra e para a obtenção da renda familiar. Em decorrência disso, muitos trabalhadores não contam apenas com o rendimento da comercialização da banana para sobreviver, o que se torna pouco em face do prejuízo na comercialização. Além desses rendimentos, há alguns agricultores que contam com o auxílio de programas do governo como o Bolsa Família, e, no caso de outros agricultores, com o auxílio de aposentadorias dos idosos.