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1 ENTRE QUINTAIS, O ARVOREDO: BRINCANDO COM PIRILAMPOS

1.3 Metodologia da Pesquisa

1.3.2 A Composição do Corpus da Pesquisa

A entrevista foi gravada na própria igreja ou na residência da entrevistada. Nessa parte da entrevista, a pesquisadora elaborou um roteiro de perguntas com o objetivo de usá-lo para ‘estimular’ a entrevistada, se necessário. Com esse mesmo objetivo, outras perguntas surgiram no transcurso da entrevista.

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“A MEAP é uma entidade social sem fins lucrativos cujo principal objetivo é atender as milhares de famílias carentes de pescadores artesanais do litoral brasileiro, oferecendo a elas um programa de educação, assistência médico-odontológica, alimentação e novas oportunidades para sua subsistência.” (disponível em: http://www.pescadores.org.br, acesso em: 19 abr. 2010). Outro site que faz um chamado para que os evangélicos tornem-se um missionário, esclarece que “A MEAP não é e nem pretende ser uma denominação; sendo antes um braço estendido da igreja, com a finalidade específica de alcançar os pescadores!” (disponível em: http://www.meap.org.br, acesso em: 19 abr. 2010).

PARTE II - ROTEIRO DE PERGUNTAS PARA ENTREVISTA GRAVADA

1. Por que você se tornou uma missionária?

2. Há preparação específica para realizar este trabalho? 3. O que faz uma missionária?

4. Qual o objetivo, a meta da missionária?

5. O que você considera mais fácil neste trabalho? 6. O que você considera mais difícil neste trabalho?

7. Há um momento em que você considera o seu trabalho realizado? Quando? Por quê?

A entrevista estava programada para dez minutos, o que às vezes não era cumprido, visto que muitas entrevistas ultrapassaram o tempo inicial programado, em função de a entrevistada ter desenvolvido narrações espontâneas sobre o seu modo de trabalhar ou sobre “a felicidade de ser um evangélico” – o que garantiu um volume elevado do material, notadamente em algumas entrevistas. Abaixo, as sequências discursivas 1 e 2 (SD1 e SD2) materializam o prazer e a felicidade de se fazer o que gosta.

SD1 - E o mais fácil é fazer aquilo que você gosta de fazer (inint) faz aquilo que você gosta, com amor, com prazer.

SD2 - Eu faço relação assim à Palavra de Deus a essa distância que as pessoas têm e não conhecem então quando a gente leva a Palavra de Deus para as pessoas terem conhecimento da Palavra de Deus, essas pessoas começam assim a desejar, a viver aquilo que ouviu, então muitos homens acham que isso é louvável, em nome do Senhor é felicidade, então assim o pouco que eu tenho, o que eu tenho feito...

O passo seguinte foi realizar a transcrição grafemática das entrevistas, resultando na composição do corpus para a análise do objeto empírico (texto)-teórico (discurso), ou seja, o material lingüístico-histórico que originou as sequências discursivas, o que possibilita compreender a relação necessária entre as duas ordens do real: da língua e da história.

Esse procedimento analítico permite um trabalho com a organização da língua e com a ordem do discurso, “a partir de princípios teóricos fundamentais, como o da dispersão (do

sujeito), o da não evidência (dos sentidos)” (ORLANDI, 1996, p. 50). Assim, considerando-se o texto como um objeto sócio-histórico onde o linguístico intervém como pressuposto e tomando-se a língua como materialidade específica, o que significa, portanto, que o texto é um pressuposto para a análise dos processos de discursividade cujo corpus é “um conjunto de seqüências discursivas estruturadas, de acordo com um plano definido em referência a um certo estado de condições de produção de discurso.” (COURTINE, 2006, p. 66).

Para a gravação da entrevista foi programado um roteiro de perguntas (anexos) que, inicialmente, serviu de motivação para a condução da entrevista e como instrumento de aproximação entre entrevistador e entrevistada, o que foi fundamental para a obtenção de algumas narrações espontâneas. As sete perguntas do roteiro dizem respeito às atividades ligadas às missões, por isso, as respostas, induzidas ou espontâneas, propiciaram informações à pesquisadora sobre o trabalho desenvolvido pelas missionárias, bem como sobre a comunidade batista. Serviram, em última escala, como um mecanismo de indução para que se abordasse a questão da conversão, mais explicitada nas perguntas 4 e 7 do roteiro de perguntas.

Assim, o questionário foi aplicado a fim de obter informações pessoais e sociais da missionária que foram usadas para controle de formação acadêmica, ano de ingresso na denominação batista, religião dos pais e para uma possível localização da entrevistada. Além disso, o questionário permite informações sobre a vida social da entrevistada, tais como grupo de amigos, preferência para diversão.

Desse modo, o corpus compõe-se de sequências discursivas da materialidade transcrita grafematicamente das entrevistas gravadas das missionárias batistas que foram utilizadas na análise do trabalho de missões batista. Considerando-se que durante a análise o corpus pode ‘requisitar’ por outro material, também fez parte da sua composição sequências discursivas de textos retirados de sites da internet, tais como propagandas/chamadas para o trabalho de missões e o pagamento do dízimo que são usadas na análise. Assim, no exame analítico do

corpus recorre-se às sequências da materialidade discursiva das entrevistas das missionárias

batistas e do chamado para a contribuição do dízimo e para o trabalho missionário, no intuito de compreender o trabalho de missões.

Além destes, na exposição, foram incluídos trechos da Filosofia da Convenção Batista Brasileira e a Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira e de depoimentos de

vários missionários, pastores e membros em geral da Igreja Batista que possibilitaram esclarecimentos fundamentais para a compreensão de algumas definições de termos religiosos, bem como para compreender algumas práticas da comunidade que ajudaram a realizar a análise. Neste trabalho, o uso do dicionário torna-se pertinente porque é um discurso que se coaduna com a rigidez do discurso religioso. Assim, utilizou-se, também, esse suporte lingüístico para auxiliar a análise de alguns recortes dos textos transcritos das missionárias, buscando identificar o funcionamento dos sentidos para a palavra trabalho, a partir de sentidos estabilizados.

As entrevistas foram realizadas com gravação em fita cassete. Após a gravação, realizou-se a transcrição grafemática das fitas. Nessas transcrições, o termo (inint)16 significa que o fragmento oral da gravação não foi compreendido e, por isso, não foi possível realizar a transcrição do fragmento. Para identificar a sequência discursiva, usou-se (SD), com numeração arábica crescente, por exemplo, (SD1) e, quando a sequência é retomada, foram acrescentadas letras minúsculas entre parênteses, por exemplos, SD1(a), SD1(b), em ordem alfabética; o enunciado em destaque foi numerado com marcação romana minúscula, crescente, de (i), de SD5, no Capítulo 2 até (lxiv), de SD54, no Capítulo 5.

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“Inint” é uma legenda utilizada pelo Projeto NURC (Norma Urbana Culta) para trechos de difícil compreensão, na transcrição fonética de entrevistas gravadas. Decidiu-se usá-la, porque há trechos de difícil compreensão nas gravações das entrevistas feitas com as missionárias.

CAPÍTULO 2

2 O FUNCIONAMENTO DO DISCURSO RELIGIOSO E O TRABALHO DE