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2. Revisão da Literatura

2.3. O modelo de jogo, elemento constituinte da base de sustentação para tomar

2.3.1. A comunicação em acção, os princípios de jogo, regras base de

“Sempre disse que o FC Porto tinha um sistema base, e tem, tem um modelo estabelecido que passa por um conjunto de princípios que regem a

organização táctica da equipa e a configuração dos

jogos e dos jogadores vai obrigar-nos algumas vezes a reposicionar os jogadores de tal forma que pareçam enquadrar outro sistema, mas o importante é que o modelo não mude, ou esteja cada vez mais forte e estável. E, independentemente do sistema, o importante é que os jogadores actuem de acordo com aqueles que são os nossos princípios quer a defender, quer a atacar.” – Jesualdo Ferreira (2009).

O autor da frase acima citada reforça a importância do colectivo e valoriza a capacidade que uma equipa deverá ter para, a qualquer momento, estar preparada para funcionar “independentemente de ser utilizado este ou aquele jogador”. O funcionamento e a dinâmica da equipa deverá ir para além da capacidade de prestação individual, ideia esta que parece em sintonia com Tavares, Grecco e Garganta (2006) quando sugerem que o êxito da equipa, enquanto entidade colectiva, depende da coordenação das decisões efectuadas pelos seus jogadores.

Sendo o treinador o responsável máximo por todo o processo de treino e de preparação da equipa deverá, para além de assumir a liderança como criador e pensador da ideia de como a sua equipa deve jogar, consumar a sua acção como protagonista na construção e desenvolvimento do jogar da sua equipa à imagem desse modelo. Para isso deverá elaborar os princípios que pretende ver como orientadores dos comportamentos dos seus jogadores.

Princípios esses que serão a base para a obtenção de um funcionamento colectivo direccionado para o sucesso. Será imperativo que os indicadores produzidos pelos jogadores da mesma equipa possam ser indicadores de uns para os outros, funcionando como dados que lhes permitiam coordenar as suas decisões, reduzir a incerteza entre eles e, simultaneamente, gerar níveis mais elevados de incerteza aos adversários. Para o conseguirem será imprescindível que os jogadores da mesma equipa comuniquem na mesma

linguagem de uma forma íntima e eficaz, isto é, sejam capazes de reconhecer e dar o mesmo significado às acções de jogo (Tavares, Greco e Garganta, 2006).

Van Gaal (cit. por Kormelink e Seeverens, 1997) corrobora a importância desta comunicação ao afirmar que no Futebol, tudo depende do colectivo. Desse modo, é importante que cada jogador saiba o que pode ou não fazer. Têm que descobrir as características de cada um, e isso automaticamente leva a um bom entendimento, que é a base para o resultado.

Apenas desta forma se conseguirá entrar na construção do que Klein (1998) entende como uma equipa especializada que se pretende que seja uma entidade com inteligência própria.

Vilas-Boas (cit. por Sousa, 2009), por altura do Mundial de 2006, corrobora a importância desta inteligência de equipa quando no decorrer da interpretação da equipa do Brasil comentando acerca do seu funcionamento dinâmico no momento da perda da posse de bola e de como poderiam os seus adversários explorar, nesse momento do jogo, uma fragilidade, por ele apontada. Nesse sentido afirmava o seguinte “(…) quando eles (equipa do Brasil) a perdem (a posse de bola) é preciso ter critério, certeza e segurança no passe e na posse, é preciso ser-se inteligente para perceber que a equipa brasileira está partida e posicionalmente desequilibrada em transição defensiva(…)”

Este tipo de capacidade e premissa para o êxito colectivo depende das competências enquanto equipa demonstradas dentro de campo, em muito influenciadas pela qualidade da comunicação entre os seus elementos constituintes. Comunicação essa que deverá ser hiper-eficaz em dois sentidos, primeiro sendo altamente inteligível por parte dos elementos de uma mesma equipa e, ao mesmo tempo, num segundo sentido, de ser o mais dissuasora possível para os adversários, funcionando como aquilo a que Garganta e Gréhaigne (1999) apelidam de contra-comunicação para os jogadores da equipa contrária. No mesmo sentido Temprado (1989) demonstra um entendimento da decisão, não só como funcional, porque participa na

resolução da tarefa, mas também como significante, pois informa colegas e adversários influenciando as suas próprias decisões.

Klein (1998) quando discorre sobre o tema do “Poder da Mente de Equipa” aponta como sendo um dos pontos-chave o desenvolvimento de uma série de competências básicas e rotinas, que contribuem para a formação de uma identidade clara, tornando-se (a equipa), dessa forma, capaz de adaptar o seu pensamento sempre que necessário.

Garganta e Gréhaigne (1999) transmitem a ideia de que para alcançar este tipo de comunicação será essencial desenvolver nos futebolistas competências associadas à assimilação de regras de acção e princípios de gestão do jogo, sendo que a geração e a corporificação dessas mesmas competências serão veiculadas pela estratégia e pela táctica.

No âmbito do jogo de Futebol pode-se entender os princípios de jogo como “as regras de base segundo as quais os jogadores dirigem e coordenam a sua actividade – consideradas individualmente e em colectivo durante as fases.” (Queiroz, 1983:15).

Tavares, Greco e Garganta (2006) afirmam, que os princípios do jogo ao serem respeitados, integrados e coordenados simultaneamente por todos os jogadores da mesma equipa funcionarão como orientação da sua movimentação global indo ao encontro de um funcionamento mais efectivo da equipa.

Garganta (2005) tendo por base a vitalidade das interacções de jogadores/equipas para funcionarem de forma eficaz em situações de elevada instabilidade e variabilidade apresenta uma perspectiva do jogo e treino como sistemas acontecimentais dinâmicos, considerando as equipas de Futebol como sistemas especializados altamente dominados pelas competências estratégicas e heurísticas.

O mesmo autor valoriza em grande medida a importância de analisar e interpretar a equipa de um ponto de vista essencialmente qualitativo percebendo o seu funcionamento enquanto sistema, sugerindo que isso poderá ser conseguido havendo a capacidade de tornar perceptíveis os princípios que orientam o seu comportamento e definem a organização dos sistemas

implicados. Para tal a chave será identificar as regras de gestão e de funcionamento dos jogadores e das equipas, conseguindo assim interpretar de forma mais rica as regularidades e variações que ocorrem nas acções de jogo.

Klein (1998) no enquadramento do modelo de RPD refere a forma como os peritos regem as suas decisões afirmando que estas deverão, em grande escala, ser orientadas, nos casos mais simples, por regras de acção baseadas consumadas em raciocínios do género: se estou perante X (o contexto/a situação for X) então deverei optar pela acção Y (a resposta deverá será Y) (ver modelo expresso na figura 2, p.31)

De igual modo Tavares em 1993 nos dá uma imagem muito rica do que é jogar tendo por base o respeito dos princípios em vez de adoptar sistemas estereotipados. Este será um tipo de jogo que permitirá aos jogadores maior liberdade e autonomia para tomarem decisões de acordo com o que lhes pareça mais ajustado a cada situação de jogo, sem fugirem e respeitando os princípios básicos que deverão nortear cada decisão. Deste ponto de vista importará propiciar ao jogador as condições para cumprir as suas decisões tácticas num contexto de respeito pela estrutura do jogo.

Queiroz (1986) refere que o sistema de relações estabelecido entre os diferentes elementos de uma dada situação de jogo deverá ser reproduzido de forma metódica e sistemática nos Modelos técnico-tácticos, definindo de forma precisa as tarefas e os comportamentos técnico-tácticos exigíveis aos jogadores, de acordo com os seus níveis de aptidão e capacidade.

Tavares (1993) reforça esta ideia apesar de, aparentemente, ter uma perspectiva, que insinua uma maior flexibilidade por parte dos jogadores na interpretação dos princípios; sugere que apesar de estar implicado o desenvolvimento de uma relação de dependência com o treinador durante o processo de aprendizagem e treino, existirá a necessidade de ser criada uma autonomia do jogador em termos de decisão para a realização das acções de jogo. Em última instância será, sempre ele, o jogador a consumar todo o processo, assumindo-se como o agente activo de cada decisão, “o artista que se espera que pinte com o maior requinte e genialidade possível, de preferência para além do imaginável, a tela que está em Jogo”.

2.3.2. A comunicação através da acção em jogo: Jogar em Equipa