• Nenhum resultado encontrado

2. Revisão da Literatura

2.3. O modelo de jogo, elemento constituinte da base de sustentação para tomar

2.3.6. Fases/momentos do jogo

O jogo de Futebol assenta grande parte da sua riqueza na diversidade dos contextos e das acções de jogo (não existem situações absolutamente idênticas). No entanto para mapeamento do jogo, para criar de um modelo de jogo e de uma forma de jogar, para a construção dos exercícios para o aprender e treinar, será importante a configuração de modelos explicativos e interpretativos, que possibilitem a representação dos respectivos conteúdos e lógica, partido das dimensões percebidas como essenciais (Garganta 2005). As situações deverão ser categorizáveis, isto é, reconvertíveis em categorias ou tipos de situações.

Nesse sentido será possível identificação de Fases/momentos do jogo. Apesar de não haver na literatura uma grande consonância em relação à utilização do termo fase ou do termo momento (Barreira, 2006), já em relação à sua quantificação parece que a distinção de quatro momentos/fases poderá ser considerada uma contagem para além de frequente, também ela relativamente unânime.

Garganta (2006) sugere quatro grandes fases, sendo que em cada uma delas as equipas perseguem objectivos antagónicos: “a fase de ataque, quando a equipa tem a posse da bola e, procurando mantê-la, tenta criar situações de finalização e marcar golo; a fase de defesa, quando a equipa não tem a posse da bola e, procurando apoderar-se dela, tenta impedir a criação de situações de finalização e a marcação do golo; as transições de posse da bola, quando ela é conquistada (ataque/defesa) ou perdida (defesa/ataque), e em que a alteração rápida e eficaz de comportamentos e atitudes permite surpreender o

adversário, fazendo com que o mesmo não consiga organizar-se a contento” (Garganta, 2006).

Fases estas que têm um elevado grau de correspondência com os 4 momentos propostos por alguns treinadores (Louis Van Gaal, in Kormelink e Seeverens, 1997; Mourinho, 1999 (cit. por Faria, 1999); Oliveira, 2004; Vélasquez, 2005):

(1) Organização ofensiva, considerado como o conjunto de comportamentos que a equipa deverá avocar quando adquire a posse de bola, com o objectivo de preparar, criar e consumar as situações ofensivas, tendo como objectivo máximo marcar golo; Garganta (2006) associa a esta fase em que a equipa tem a bola os seguintes constrangimentos típicos e finalidades: “Criar espaço (amplitude; profundidade) para “aumentar” o tamanho relativo do campo; Manter o equilíbrio espacial, oferecendo linhas de passe (apoio); Construir jogo para marcar golos”.

(2) Transição ataque/defesa, será caracterizado pelos comportamentos a assumir nos segundos após perda de posse de bola, estando, provavelmente, ambas as equipas desorganizadas ou pelo menos não tão bem organizadas; Garganta (2006) associa a esta fase em que a bola é perdida os seguintes constrangimentos típicos e finalidades: Mudar o sentido do fluxo do jogo tão depressa quanto possível (passando do ataque à defesa); pressionar o portador da bola para permitir a recuperação defensiva.

(3) Organização defensiva, que visa contrariar a organização ofensiva, isto é, quando não se está em posse da bola, a equipa deverá organizar-se de forma a criar dificuldades ao adversário na preparação e criação de situações de golo e evitar que marque golos; Garganta (2006) associa a esta fase em que a equipa adversária tem a bola os seguintes constrangimentos típicos e finalidades: “Adensar o espaço, para diminuir o tamanho relativo do campo; Movimentar-se em direcção à bola (pressing) para retirar tempo/espaço ao adversário; Movimentar-se em direcção à própria baliza (fall back) para proteger a própria baliza”

(4) Transição defesa/ataque, que se caracteriza pelos comportamentos a adoptar nos segundos que sucedem a recuperação da posse de bola.

Garganta (2006) associa a esta fase em que a equipa ganha a bola os seguintes constrangimentos típicos e finalidades: Mudar o sentido do fluxo do jogo tão depressa quanto possível (passando do ataque à defesa); retirar a bola da zona de pressão;

Sendo que a estes 4 momentos Sousa (2005) acrescenta os denominados fragmentos constantes de jogo, frequentemente apelidados de lances de bola parada.

Os momentos/fases de transições defesa/ataque e ataque/defesa são ricos em variações marcantes na dinâmica do jogo, a sua importância poderá ser fundamental para a eficácia da dinâmica do jogo de uma equipa, isto porque induzem desequilíbrios importantes implicando muitas das vezes desorganizações nas equipas em confronto.

Vários treinadores de excelência vêm salientando a importância dos momentos de transição – Mourinho, 2003 (cit. por Amieiro, 2004); Wenger, 2008, Queiroz, 2003 (cit. por Almeida 2006).

Oliveira em 2004 aponta que a tónica destes momentos de transição será o aproveitamento iminente da desorganização das equipas nos instantes imediatos à perda ou recuperação da posse de bola. Também Garganta (2006) aponta as transições de fase como sendo fases críticas do jogo com grande importância para a eficácia da dinâmica de jogo.

Explorando um pouco mais aprofundadamente o tema da transição após recuperação de bola, facilmente se percebe que a forma como ela decorre e é aproveitada pela equipa depende de um sem número de factores que vão desde a zona onde a bola é recuperada, à capacidade do jogador que a recuperou para lidar de forma técnica/táctica eficaz com uma situação de pressão/não pressão imediata por parte dos adversários, passando pelos níveis de organização da equipa e da equipa adversária no momento em que se dá a recuperação, o próprio tempo decorrido de jogo e até mesmo o resultado poderão ter influência directa na forma como é encarada e explorada essa mesma transição. Portando o contexto, o “como”, o “quando”, o “onde”, o

“quem”, etc. irão seguramente ser factores a condicionar e propiciar todo um conjunto de diferentes transições.

Será importante, no entanto e concordando com Garganta (2006), alertar para o facto de que com a identificação de diferentes fases/momentos não se pretender fragmentar o jogo em elementos, mas sim “entretecer os respectivos ingredientes específicos”, facilitando a criação de cenários de organização que envolvam o “gérmen do jogo”.

Percebe-se esta importância de interligação e interdependência dos diferentes momentos do jogo nas palavras de alguns autores, Queiroz (2006) “(…) com bola se defende e ataca e sem bola se defende e ataca(…) O equilíbrio defensivo é o argumento fundamental de um bom ataque.”; ou Mourinho, 2003 (cit. por Amieiro 2004) “(…) quando se possui a bola, também se tem que pensar defensivamente o jogo, da mesma forma que, quando se está sem ela e se está numa situação defensiva, também se tem que estar a pensar no jogo de uma forma ofensiva e a preparar o momento em que se recupera a posse de bola.”