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2. Revisão da Literatura

2.3. O modelo de jogo, elemento constituinte da base de sustentação para tomar

2.3.5. A interacção de macro-estruturas enquanto indutoras da dinâmica do jogo

“Nas partidas de Futebol, as equipas disputam objectivos comuns, lutando para gerir em proveito próprio, o tempo e o espaço, através da realização de acções de sinal contrário (ataque versus defesa) alicerçadas em relações de oposição e de cooperação.”

(Garganta, 2005: 179)

Partindo das palavras de Garganta (2005) infere-se a forma como os jogadores e a equipa gerem o espaço, tempo, tarefas e a forma como conjugam a sua interacção se apresenta como um factor chave, interacção essa, nas diferentes fases do jogo, apontada por Pino Ortega (2001) como a

indutora da sua dinâmica. De seguida procurar-se explorar e esclarecer de forma sucinta cada das designadas Macro-estruturas.

2.3.5.1. Macro-estrutura Espaço

“O Futebol, é inconscientemente, sempre sobre o espaço. É sempre sobre criar e ocupar espaço. E se a bola não vem, o jogador deixa o espaço e outro jogador o ocupará. É uma espécie de arquitectura do espaço. É sobre esse movimento, mas continua a ser sobre o Espaço, sobre organizar Espaço”

Michler (cit. por Sousa 2009)

Toda a acção desenvolvida no espaço de jogo não pode ser perspectivada apenas como uma produção motora, isto é, através de deslocamentos e da projecção das técnicas numa estrutura geométrica. O espaço assume-se, sobretudo, como um quadro referencial de pensamento e acção (Garganta, 1997). Será indispensável enquadrar no espaço toda o tipo de acções de jogo.

Para ter um bom exemplo desse funcionamento do espaço como referencial de pensamento e acção bastará ouvir alguns treinadores, principalmente em jogos de escalões etários mais baixos, quando os jogadores não conhecem de forma tão aprofundada o jogo ou não valorizam muito o risco de algumas acções, comentarem com os seus jogadores que determinados tipos de acções, nomeadamente 1x1, 1x2 ou determinados tipos de passe ou recepções não deverão ser feitas em algumas zonas do campo, mas sim noutras.

No sentido de compreender o espaço de jogo como um espaço efectivamente fisco, mas essencialmente interactivo Tissié (cit. por Pino Ortega, 1997), demonstra uma perspectiva do espaço de jogo numa dupla dimensão correspondente a dois subespaços: as zonas fixas e as zonas variáveis. Uma dimensão física caracterizada por um espaço formal, estável e estandardizado (idem, 1997), delimitado pelas normas do regulamento de jogo.

Este subespaço é considerado através das marcações visíveis no terreno de jogo.

De acordo com o mesmo autor a outra dimensão – subespaço de zona variável, reflecte a natureza invasiva do jogo de Futebol, isto é, duas equipas interagem num mesmo espaço, em busca de um mesmo objectivo. Falar-se de espaço de jogo impõe, desde logo, uma ligação ao factor interacção (Castellano, 2000), pelo que um bom comportamento se orienta também no comportamento do adversário, sendo este um parâmetro relevante da acção.

De igual modo Garganta (1997) refere-se ao espaço indo para além da sua dimensão física, acrescentando a ideia de espaço configuracional2, ou informacional.

Espaço este rico em zonas de referência que, apesar de muitas das vezes, não serem visíveis no espaço físico, deverão ser perspectiváveis por cada jogador, como são os casos dos corredores ou sectores em que o campo é comummente dividido. Trata-se assim de um espaço informacional que decorre da interacção do jogador com o contexto de jogo e os demais intervenientes.

2.3.5.2. Macro-estrutura Tempo

O Futebol, enquanto disciplina desportiva depende do factor tempo (time- dependent, cf. Franks e McGarry cit. por Garganta, 2005), é interactivo, integra cadeias de acontecimentos descontínuos altamente relacionados, não apenas com os acontecimentos antecedentes, mas também com as probabilidades de ocorrência de acontecimentos subsequentes, considerada a respectiva aleatoriedade (Garganta, 1997).

Esta macro-estrutura que implica fortes constrangimentos no que respeita à tomada de decisão por parte dos jogadores uma vez que implica uma intensa

2

O termo Configuração significa o aspecto / formato exterior de um sistema (jogo - equipa) percebido por um sujeito, num dado momento, não apenas a partir da posição dos jogadores no terreno e na constelação equipa, mas também de acordo com as “linhas de força” do jogo (fase de ataque ou defesa; relação de superioridade, igualdade ou inferioridade numérica; zona do terreno de jogo; posição da bola, …) e as suas possibilidades de evolução (Harris e

pressão acrescida, nomeadamente, à utilização de espaços, recolha de pistas, interpretação dos contextos, realização de tarefas...

Da mesma forma que o espaço de jogo, também o tempo de jogo poderá ser perspectivado através de uma dupla significação. A forma como é vivenciado reflecte aspectos relevantes do jogador e da equipa (Oliveira, 2003) e, logicamente, o sucesso ou o insucesso.

Para além de ser entendido de acordo com as medidas que o regulamento do jogo estabelece, como, por exemplo, a duração total do jogo. A partir da conciliação do factor tempo será possível estudar algumas variáveis do rendimento como o tempo de posse de bola, participação efectiva dos jogadores, duração de acções ofensivas/defensivas, etc. (Vélasquez, 2005). Variáveis essas que podem ser relevantes ou até mesmo chave para a compreensão da dinâmica do jogo.

Em jogo o ideal será que os jogadores consigam resolver de forma óptima os problemas que este lhes propicia em cada contexto e em cada instante, utilizando para isso, segundo Romero Cerezo (2000), três mecanismos fundamentais de acção, a percepção, a decisão e a execução.

Associado a cada um destes mecanismos está o espaço temporal em que eles decorrem, ao qual surge, inevitavelmente, associada a noção de velocidade. No entanto e concordando com Balash (1998) no âmbito do jogo de Futebol será importante valorizar esta velocidade à luz do necessário ajuste temporal e espacial das acções, bem como das características da tarefa a realizar, por isso o mesmo autor sugere que se deverá ponderar mais como uma velocidade táctico-técnica.

O que se espera do jogador de Futebol é que consiga realizar acções de jogo indo ao encontro da solução dos problemas da forma o mais ajustada possível o que muitas vezes implica uma elevada velocidade, que poderá ser solicitada a diferentes níveis, partindo do exemplo de Romero Cerezo (2000), velocidade perceptiva, velocidade decisional e/ou velocidade de execução. No entanto e apesar da(s) velocidade(s) ser muitas vezes determinante a dimensão qualitativa da sua intervenção no jogo não deverá, nunca, passar para segundo plano. Assim, no jogo de Futebol as noções de espaço e de

tempo aparecem estreitamente intrincadas, pelo que limitar o espaço disponível para jogar implica diminuir o tempo para agir. Neste âmbito, poderá compreender-se no jogo uma luta incessante pelo tempo e pelo espaço (Garganta, 1997).

Estas duas noções (Tempo/Espaço) tornam-se, em grade escala, vitais para o entendimento do jogo. A sua interpretação implica nitidamente a sua interligação com a dos factores que permitem configurar a lógica de actuação dos jogadores e das equipas, ou seja, a realização das tarefas (idem, 1997).

2.3.5.3. Macro-estrutura Tarefa

Garganta, em 1997, apresenta esta macro-estrutura referenciada à acção ou às acções desempenhadas pelos jogadores nas diferentes fases do jogo, em função dos constrangimentos provocados pelas macro-estruturas espaço e tempo que se lhes deparam.

A realização de toda e qualquer tarefa ou comportamento em situação de jogo pressupõe um contexto que será em certa medida consumado no seu enquadramento espacial, de criação de espaços livres, aproveitamento desses espaços, super-povoação de outros (…), e no seu timing de execução. Realizar uma acção que, a priori, seria considerada ajustada mas numa zona imprópria, num momento inoportuno ou com uma velocidade de execução desajustada poderá ser tanto ou mais prejudicial como optar e executar uma acção que, supostamente, não fosse tão adequada a essa mesma situação de jogo.

Da interacção destas três macro-estruturas inferimos uma outra, que se poderá considerar como o objectivo para o qual as três concorrem em todas as fases/momentos do jogo – a organização colectiva, que se constrói a partir das acções resultantes da tão almejada optimização de comportamentos colectivos (Barreira 2006).

Poderá depreender-se esta sensação de optimização colectiva associada a estas 3 macro estruturas. A partir das palavras de Castelo (1994) ao sugerir que logo que a bola entra em movimento se efectuam com uma certa liberdade, de sector para sector e de corredor para corredor, movimentos

compensatórios, em que a ocupação é a cada instante adaptada consoante as situações momentâneas de jogo, onde se procuram assegurar as respostas tácticas especificas – imediatas e prementes, à consecução dos objectivos da equipa.