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4. A PRESENÇA DO RÁDIO EM SANTANA

4.2. A comunicação em interação com a educação

O conceito que une comunicação e educação como uma intersecção que prima pelo desenvolvimento e transformação da educação é conhecida como educomunicação. Segundo o professor Ismar de Oliveira (2009), esse conceito já vem sendo utilizado há muito tempo, quando começou a ser mencionado para identificar a área da educação para a comunicação, ou seja, a educação pra a formação do senso crítico frente à mídia, especialmente a televisão. Então por um tempo significou educação para a mídia. Em seguida, as pesquisas do Núcleo de Comunicação e Educação da USP apontaram a existência de uma nova realidade, representada pelas Organizações Não-Governamentais (ONGs) especialmente na América Latina e África, ao se utilizarem da comunicação alternativa, desde os anos 70. Dessa forma, essas organizações começavam a interferir na educação e na comunicação, trazendo à arena pública o debate das temáticas relacionadas aos problemas sociais. O autor comenta que havia rejeições porque tanto os profissionais da educação como os da comunicação estranhavam-se mutuamente. Em suas palavras, traz exemplos de comentários que exemplificam o início dessa discussão: “Bom, isso aí é educação popular, não é educação formal, não é também escola. No entanto, a comunicação dizia: Isso aí é coisa de gente que gosta de pobre, que gosta de temas que não são os temas do mercado, do entretenimento.” 42

O termo, segundo o mesmo autor, veio ganhar legitimidade a partir do ‘Betinho’, Herbert de Souza, que começou a usar essa comunicação para finalidades reconhecidas pela sociedade como importantes. O termo significaria “Esse conjunto de atividades voltado para o conhecimento do uso desses meios numa perspectiva de prática da cidadania”.

Segundo Citelli (2000), as inquietações que dizem respeito à relação comunicação e educação remontam às décadas de 30 e 40, resultantes da expansão dos meios de comunicação de massa no século XX.

42 Baixado de http://www.anj.org.br/jornaleeducacao/biblioteca/entrevistas/ismar-soares-define-o-conceito-de- educomunicacao em outubro de 2009.

Entendido o papel singular que os veículos de comunicação passaram a exercer no mundo contemporâneo, agora com o aporte dos novos meios disponibilizados pela informática, pelos sistemas digitais, pelas redes de computadores, e que orientam uma revolução nos diferentes âmbitos da cultura, da história, dos fluxos econômicos, das sociabilidades, etc., é compreensível que o tema da educação, particularmente no seu âmbito formal tenha se colocado numa perspectiva diferenciada e que requisita, de maneira crescente, o estreitamento dialógico com informações e conhecimentos gerados em fontes indiretamente escolares. (CITELLI, 2000, 137)

Mário Kaplún, que também foi um estudioso da comunicação e educação e que também ajudou a cunhar o termo “educomunicación”, fala como entende a relação:

En primer lugar, cuando hacemos comunicación educativa, estamos siempre buscando, de una y otra manera, un resultado formativo. Decimos que producimos nuestros mensajes «para que los destinatários tomen conciencia de su realidad», o «para suscitar una reflexión», o «para generar una discusión». Concebimos, pues, los medios de comunicación que realizamos como instrumentos para una educación popular como alimentadores de un proceso educativo transformador. (1998, p. 11)

Paulo Freire não chegou a falar nessa área de estudo de forma tão específica, mas era adepto da presença dos meios de comunicação dentro das escolas como meio de dinamizar o ensino e, consequentemente, a educação. No Brasil, a experiência com escolas radiofônicas, inserida dentro dessa relação comunicação e educação, já tem antecedentes nos anos 1960. Podemos destacar como um dos exemplos, a ação do Movimento de Educação de Base – MEB43, uma dinâmica de educação mediado pela Igreja Católica do Brasil, para atendimento às regiões subdesenvolvidas do país, num contexto de conflito entre o campesinato e setores do proletariado rural e a crise do capitalismo no Brasil, segundo dados colhidos por Wanderley (1984, p.14).

O autor traz em seus estudos um fragmento de publicações do MEB, definições sobre essa dinâmica promovida por meio do rádio: “O sistema radioeducativo é constituído por uma

43 “O MEB constituiu-se na seqüência das atividades de educação pelo rádio, promovidas pelo episcopado nas arquidioceses de Natal e Aracaju. Com apoio nessas experiências, a Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) elaborou um plano de um movimento educativo em plano nacional, que ganhou caráter oficial pelo aDecreto50.370 de 21 de março de 1961, mediante o qual o Governo Federal forneceria recursos – através de convênios com órgãos da administração federal – para serem aplicados no programa d CNBB, através do MEB e utilizando a rede de emissoras católicas para as áreas do Norte, Nordeste e Centro-oeste do país. Posteriormente ampliou-se a área de ação para as áreas subdesenvolvidas do país como um todo, e o governe federal comprometia-se a conceder canais radiofônicos aos bispos para finalidades de educação de base, além de autorizar a requisição de funcionários federais e autárquicos para prestar serviços no movimento.” (Wanderley, 1984, p.48)

rede de núcleos com recepção organizada de programas educativos especialmente elaborados, com supervisão periódica, com trabalho de comunidade e escola.” (1984, p. 53)

No sertão cearense o rádio é um veículo de comunicação de massas e uma velha tecnologia, conhecido e bem adaptado à cultura por ser um meio versátil em relação à sua difusão e permeabilidade junto aos diversos tipos de público. Seu aparelho receptor pode funcionar até mesmo sem energia elétrica e sua audição pode ser alcançada por pessoas que não sabem ler como é o caso de parte da população sertaneja. Martin-Barbero define assim as transformações sociotecnológicas dos meios de comunicação, dando ênfase ao rádio.

Los médios, especialmente la radio, se conviertieron em voceros de la interpretacion que desde el Estado convertia a las masas em pueblo y al pueblo en nacion. La radio en todos, y el cine em algunos países – México, Brasil, Argentina - hacieron la mediacion entre las culturas rurales tradicionales com la nueva cultura urbana de la sociedade de masas, introduciendo em ésta elementos de la oralidad y la expressidivad de aquéllas, y posibilitandoles hacer el paso de la racionalidade expresivo-simbólica a la racionalidad informativo- instrumental que organizada la modernidad. (2002, p. 74)

Uma radioescola é, em si, uma possibilidade de uso de um veículo de comunicação e expressão a favor do desenvolvimento das pessoas que compartilham sua produção e audiência. Dentro do assentamento rural, a mesma toma forma como instrumento massivo e amplificado de comunicação pelos contornos geográficos do agrupamento de casas do assentamento Santana. A comunidade, conforme suas necessidades e interesses, por meio deste instrumento, produz, veicula e recebe a informação que circula dentro de seu território, assim como cria condições de trazer para esse circuito o que ocorre em outros locais. A internet, tecnologia proporcionada pela presença do Crid, permite que as pessoas do lugar tenham acesso a informações de outros lugares do mundo.