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III. CAPÍTULO UMA NOVA PRÁTICA COMUNICACIONAL NA IGREJA

3.1 A Comunicação Social nos Documentos da Igreja na América Latina

Para a Igreja presente na América Latina e no Caribe, o Vaticano II é inspiração para tantas intuições, desdobramentos, caminhos alternativos e criativos naquilo que lhe compete, que é a evangelização. Foi a Igreja da América Latina que realizou a recepção mais fecunda do Concílio, inspirando-se nas suas orientações e em seu espírito de renovação eclesial. Nos anos que se sucederam a ele, a reflexão acerca dos meios de comunicação tornou-se muito mais clara e definida, principalmente na influência e reprodução que os mesmos exerceram e exercem sobre as mais variadas culturas e suas articulações repletas de significados. A Igreja, aos poucos, deixou de focar apenas sobre os instrumentos – como fez no século passado – para expressar-se mais amplamente sobre a cultura midiática361. O assunto foi além dos

359 TEMPESTA, Dom Orani João, O. Cist. A importância da comunicação na vida da Igreja. Disponível em

<http://www.cnbb.org.br/site/articulistas/dom-orani-joao-tempesta/7103-a-importancia-da-comunicacao-na-vida -da-igreja>. Acesso em: 20 junho 2011. 09:53:10

360 Bento XVI vai dizer que “as novas tecnologias estão a mudar não só o modo de comunicar, mas a própria

comunicação em si mesma, podendo-se afirmar que estamos perante uma ampla transformação cultural”. In: BENTO XVI. Verdade, anúncio e autenticidade de vida, na era digital. Mensagem para o 45º Dia Mundial das Comunicações Sociais. 05 de Junho 2011. Disponível em: <http://www.vatican. va/holy _father /bene dict_xvi/messages/communications/documents/hf_ben-xvi_mes_20110124_45th-world-communications-day_ po. html>. Acesso em: 20 junho 2011. 11:16:20.

361 A Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in America, do papa João Paulo II afirma: "Para a eficácia da

nova evangelização, é fundamental um profundo conhecimento da cultura atual, na qual têm grande influência os meios de comunicação social. Por isso, é indispensável conhecer e servir-se destes meios, tanto nas suas formas tradicionais como nas formas introduzidas mais recentemente pelo progresso tecnológico. A realidade atual requer que se saiba dominar a linguagem, a natureza e as características dos mídia. Utilizando-os de maneira correta e competente, pode-se levar a termo uma autêntica inculturação do Evangelho. Por outro lado, estes mesmos meios contribuem para modelar a cultura e a mentalidade dos homens e mulheres do nosso tempo, pelo

documentos próprios sobre comunicação. Um exemplo é o texto dedicado à missão da Igreja no mundo atual, a encíclica Redemptoris missio de 1990, que coloca o mundo da comunicação como o primeiro areópago362 dos tempos modernos, e insiste no novo contexto

comunicativo como uma “nova cultura‟. Assim afirma o documento:

O primeiro areópago dos tempos modernos é o mundo das comunicações que está unificando a humanidade. Os Meios de Comunicação Social alcançaram tamanha importância que são para muitos o principal instrumento de informação e formação de guia e inspiração dos comportamentos individuais, familiares e sociais. Principalmente as novas gerações crescem num mundo condicionado pelos mass media. Talvez se tenha descuidado, um pouco, este areópago: deu-se preferência a outros instrumentos para o anúncio evangélico e para a formação, enquanto os mass

media foram deixados à iniciativa de particulares ou de pequenos grupos, entretanto apenas, secundariamente, na programação pastoral. O uso dos

mass media, no entanto, não tem somente a finalidade de multiplicar o anúncio do Evangelho: trata-se de um fato muito mais profundo, porque a própria evangelização da cultura moderna depende, em grande parte, da sua influência. Não é suficiente, portanto, usá-los para difundir a mensagem cristã e o Magistério da Igreja, mas é necessário integrar a mensagem nessa “nova cultura”, criada pelas modernas comunicações. É um problema complexo, pois esta cultura nasce menos dos conteúdos do que do próprio fato de existirem novos modos de comunicar com novas linguagens, novas técnicas, novas atitudes psicológicas.363

No que se refere ao Magistério da Igreja na América Latina e Caribe, urge destacar as abordagens, conteúdos e preocupações pela comunicação como dimensão humana e espaço evangelizador com sentido social, aceno presente nos documentos finais das Conferências Gerais do Episcopado Latino-Americano e Caribenho.

A primeira dessas Conferências realizou-se no Rio de Janeiro de 25 de julho a 4 de agosto de 1955. O período que se seguiu à Segunda Guerra Mundial foi bastante conturbado e

que os agentes no campo dos instrumentos de comunicação social devem ser destinatários de uma especial ação pastoral" In. EA. 72.

362 O nome "areópago" é a adaptação de areopagus (ou Areios Pagos, de "Ἄρειος πάγος"), que significa algo

como "Colina de Ares", em referência ao deus da guerra grega. Tal referência se deve ao fato de os membros dos Areópagos, por serem aristocratas, cumprirem em geral a função de guerreiros de elite em tempos bélicos, responsáveis pela proteção da cidade. Nos Atos dos Apóstolos, com um célebre discurso de Paulo (At 17), faz se referência a este local. Cf. WIKIPEDIA. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Are%C3%B3pago.> Acesso em: 21 jun 2011, 14:04:10.

marcou profundamente o mundo e a Igreja. Para fazer frente a essas transformações, especialmente em ambiente latino-americano, a idéia dessa Assembléia dos Bispos foi aprovada e incentivada pelo Papa Pio XII.364

Numa fase pré-conciliar, as preocupações foram os problemas da Igreja ad intra: a escassez de sacerdotes, a ignorância religiosa do povo; as missões entre os infiéis.365 Na Conferência do Rio de Janeiro, as referências aos meios de comunicação, num primeiro momento, dizem respeito à ação dos leigos, através da inserção deles como uma das múltiplas formas de apostolado. Dessa forma, um dos campos de atuação específica que os bispos sugerem são os meios de comunicação, com uma menção explícita à imprensa católica, às experiências da escola radiofônica iniciada pela „Ação Popular Católica‟ na Colômbia – para a educação dos camponeses, e ao cinema como um meio ligado à indústria do espetáculo. Na verdade, com relação ao cinema, os bispos apontaram dois problemas: como limitar ou neutralizar o mau cinema e como convertê-lo em um meio positivo de educação cristã.366

O trabalho apresentado como grande destaque desta Conferência foi a formalização de um pedido para a criação de um Conselho Episcopal Latino-Americano. O pedido foi enviado ao Papa Pio XII, e em 2 de novembro de 1955 foi criado o CELAM, que dinamizou profundamente as atividades da Igreja na América Latina. O CELAM, desde sua primeira Conferência, sempre buscou considerar os meios de comunicação de massa como um instrumento para o desenvolvimento das atividades de evangelização. Dessa forma, ele cria

364 De sua parte Pio XII tinha consciência das transformações do mundo e de como isso afetava a Igreja da

América Latina e seu grande potencial de crescimento. Por isso, enviou uma carta apostólica, “Ad Ecclesiam Christi”, que elencava alguns pontos que deveriam ser considerados pela Conferência do Rio. Os principais

problemas considerados foram: a falta de clero e a sua distribuição irregular; a consequente perda de valores religiosos, da influência da Igreja e o avanço das religiões não católicas. “Por esta razón nos ha parecido oportuno, accediendo también ai deseo que nos mostró el Episcopado de Iberoamérica, que la Jerarquia iberoamericana se reuniese para proceder, en conjunto, ai estúdio profundo de los problemas y la determinación de los médios más aptos para resolverlos con la prontitud y la perfección que las actuales necesidades reclaman”. PIO XII. Carta Apostólica Ad Ecclesiam Christi, n.4. Disponível em <htpp: www.multimedios. org/docs/d000022/>. Acesso em: 22 junho 2011 09:14:10.

365 Cf. CONSELHO EPISCOPAL LATINO-AMERICANO. Documentos do CELAM: Conclusões das

Conferências do Rio de Janeiro, de Medellín, Puebla e Santo Domingo. São Paulo: Paulus, 2004, p. 7.

366 Ibidem. Declaração dos Cardeais, Arcebispos, Bispos e demais prelados representantes da hierarquia da

um Departamento de Comunicação Social (DECOS), para articular os serviços e atividades pastorais no âmbito da comunicação.

No pós-Concílio Vaticano II, a questão primordial que a Igreja católica européia busca responder é como ser cristão num mundo crítico, adulto e funcionalista. Já as Igrejas católicas presentes nas periferias do mundo, tais como Ásia, África e especialmente América Latina refletem a partir da existência de uma imensa maioria de pessoas consideradas economicamente desprezíveis, politicamente alienadas e culturalmente marginalizadas e, por isso, manifestam outro questionamento: como ser cristão num mundo de empobrecidos e marginalizados?367 É a partir do escândalo da pobreza e da profundidade da fé popular que surge a Teologia da Libertação, que não é outra coisa senão a reflexão de uma Igreja que tomou a sério a opção preferencial e solidária para com os pobres e oprimidos. Esse fenômeno368 foi constatado fortemente a partir dos anos 60, em quase todos os países latino- americanos. Para Leonardo Boff, “os pobres, em sua grande parte cristãos, irrompem; animados pela fé (...) se organizam, não aceitam morrer antes do tempo e lutam por alternativas que atendam melhor suas necessidades básicas e lhes proporcionem uma vida minimamente digna”.369

Com a Teologia da Libertação, há uma mudança de perspectiva na Igreja Latino- Americana. Fome, opressão, injustiça e outras formas de violência obrigam a uma reflexão teológica nova e muito mais profunda, que interprete tais sinais à luz do Evangelho. Nesse contexto, a Igreja é vista como instrumento e sinal de libertação de Jesus Cristo em meio à

367 BOFF. Leonardo. E a Igreja se fez povo. Petrópolis: Vozes, 1986, pp. 17-21.

368 Segundo o sociólogo Michael Löwy, “podemos datar o nascimento dessa corrente, que poderíamos

denominar como "cristianismo da libertação" no começo dos anos 60, quando a Juventude Universitária Católica brasileira (JUC), alimentada pela cultura católica francesa progressista (Emmanuel Mounier e a revista Esprit, o padre Lebret e o movimento "Economia y Humanismo", o Karl Marx do jesuíta J.Y. Calvez), formula por primeira vez, em nome do cristianismo, uma proposta radical de transformação social. Esse movimento se estende depois a outros países do continente e encontra, a partir dos anos 70, uma expressão cultural, política e espiritual na "Teologia da Libertação". In: LÖWY. Michael. A Teologia da Libertação: Leonardo Boff e Frei Betto. Disponivel em:<http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=40899> Acesso em: 03 jul. 2011 18:04:10

história. Impulsionado por essa alavanca e com a tentativa de traduzir o Concílio para a realidade latino-americana, as Assembléias que o CELAM irá convocar serão as grandes propulsoras de uma nova reflexão quanto ao novo jeito de ser Igreja, a partir da realidade latino-americana.

A segunda Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano foi convocada por Paulo VI erealizou-se em Medellín, na Colômbia, no período de 24 de agosto a 6 de setembro de 1968. O tema escolhido para essa assembléia foi: “A Igreja na presente transformação da América Latina à luz do Concílio Vaticano II”. A Conferência de Medellín é considerada um marco histórico e inovador na Igreja Católica da América Latina, com destaque para a influência substantiva recebida do Concílio Vaticano II. É bom recordar que nela ainda estava aceso o facho do aggiornamento de João XXIII e de abertura, mesmo com as dificuldades de implementá-la. O Papa Paulo VI dirigiu o discurso de abertura e apresentou a direção dos trabalhos, divididos em três partes: Orientações Espirituais; Orientações Pastorais e Orientações Sociais. Mas o discurso do papa não causou uma marca profunda na Conferência; “com o recuo do tempo, percebe-se que o discurso de Paulo VI não só não foi seguido, como até contrariado pelos bispos de Medellín”370

Nesse período, além desses fatores externos,371 a América Latina vivia uma realidade político-social bastante conturbada, pelos movimentos sociais de esquerda, pelo regime de

370CATÃO. Francisco. “Aos trinta anos de Medellín”. In: Trinta anos depois, Medellín é ainda atual? São Paulo,

1998, p. 262.

371 Segundo Araujo da Fonseca, “a década de sessenta foi um período de grandes transformações em todo o

mundo, uma época de realização dos projetos alternativos iniciados nos anos 50. No cenário político foi reforçada a polarização, e o domínio das duas super potências, Estados Unidos e União Soviética. Em várias partes do chamado Terceiro Mundo, os movimentos de independência das antigas colônias, ganharam força. No ambiente cultural também foram várias mudanças de comportamento, com o surgimento do movimento feminista, dos movimentos sociais contra o preconceito racial, e com os movimentos a favor da liberdade sexual”. In:ARAUJO DA FONSECA, Devair. O surgimento do CELAM na América Latina. Disponível em: <http://www.dhi.uem.br/ gtreligiao/ rbhr/ o_ surgi mento_do_celam_na_america_latina.pdf.> Acesso em: 05 jul. 2011 14:14:20.

governo totalitário, de cunho militar, instalado em diversos países, e pelo acentuado número de pessoas que viviam na pobreza.372

A reflexão que Medellín faz sobre os meios de comunicação social, não obstante sua brevidade é riquíssima em conteúdo. Ao longo de suas três partes – descrição da realidade, justificações e recomendações pastorais – o documento pontualiza desafios que até hoje servem de interrogações para as comunidades cristãs. O capítulo 16 começa descrevendo as principais características do fenômeno dos meios de comunicação social, os quais

abrangem a pessoa na sua totalidade. Plasmam o homem e a sociedade e tomam cada vez mais seu tempo livre. Forjam uma nova cultura, produto da civilização audiovisual que, se por um lado tende a massificar o homem, por outro lado favorece sua personalização. (...) De outra parte, aproximam homens e povos, convertendo-os em próximos e solidários, contribuindo desta forma para o fenômeno da socialização.373

Essa descrição faz parte de uma visão otimista do Vaticano II e da sua compreensão acerca das realidades terrenas e do progresso científico e tecnológico do mundo atual. No entanto, Medellín, apesar de reconhecer os meios de comunicação como veículos capazes de despertar a consciência acerca das realidades das grandes massas e elegê-los como agentes positivos de mudança, no seu documento recorda que “muitos destes meios estão vinculados a grupos econômicos e políticos, nacionais e estrangeiros, interessados na preservação do status

quo social.”374 Nessa perspectiva de libertação, Medellín antecipou aquilo que três anos mais

tarde Paulo VI trataria na Carta Apostólica Octogesima Adveniens.375

372 Cf. BEOZZO, José Oscar. (org) A Igreja Latino-Americana às vésperas do Concílio, São Paulo, 1993. 373 MEDELLIN. 16.1.

374 Ibidem. 16.2.

375 Ao comemorar o 80º aniversário da Rerum Novarum, Paulo VI lança em 1971, a Carta Apostólica trata

sobretudo do compromisso sociopolítico dos cristãos. O papa identifica a importância crescente que assumem os meios de comunicação, mas, segundo o pontífice, “estes mesmos meios de comunicação social, pela sua própria ação, chegam a representar como que um novo poder. E como não interrogar-se, então, sobre os detentores reais de tal poder, sobre as finalidades que eles intentam, sobre os meios que eles adotam e, enfim, sobre a repercussão da sua mesma ação, quanto ao exercício das liberdades individuais, tanto no domínio político e ideológico, como na vida social, econômica e cultural? Os homens que detêm este poder carregam uma grave responsabilidade

Os bispos em Medellín ressaltam as diversas iniciativas da Igreja no campo comunicação, e reconhecem a ineficácia de algumas ações justamente pelo fato de os agentes não terem uma “visão clara do que representa a comunicação social em si mesma e do desconhecimento das condições que seu uso impõe”.376

Segundo Medellín, a Igreja não pode cumprir a missão que Cristo lhe confiou, “se não empregar os Meios de Comunicação Social, únicos capazes de chegar efetivamente a todos os homens”.377 O documento também enfatiza a necessidade de apresentar uma imagem mais

exata e fiel da Igreja, “transmitindo ao grande público não apenas notícias relativas aos acontecimentos da vida eclesial e suas atividades, mas, sobretudo, interpretando os fatos à luz do pensamento cristão”.378

Entre as recomendações pastorais de Medellín, cabe destacar as seguintes:

a) A urgência em suscitar e promover vocações no campo da comunicação social, especialmente entre os leigos, através de uma adequada formação apostólica e profissional.379 b) A necessidade de aprofundar o estudo do fenômeno da comunicação social em seus diversos aspectos, superando os reducionismos técnicos e pragmatistas, e não se esquecendo da Teologia da Comunicação.380

c) A exigência, por causa da situação do continente latino americano, de produzir material adaptado às várias culturas locais e que promovam os valores autóctones, entre eles: artigos de imprensa, emissões radiofônicas e televisivas etc.381

Em Medellín a Igreja quer em primeiro lugar dialogar, e quer que esse diálogo seja transformador da realidade, ela quer, assim, ser aquela que serve.382 Se na Conferência do Rio

de Janeiro buscou-se uma forma de incentivo e aumento do clero para fazer frente aos

moral no que diz respeito à verdade das informações que devem difundir, no que diz respeito às necessidades e às reações que eles suscitam e, ainda, aos valores que eles propõem”. In: PAULO VI, Carta Apostólica

Octogesima Adveniens, n. 20. 376 MEDELLÍN, 16.3. 377 Ibidem. 16.7. 378 Ibidem. 16.8 379 Cf. Ibidem. 16.13; 16.14. 380 Cf. Ibidem. 16.17. 381 Cf. Ibidem. 16.18. 382 Cf. Ibidem. 1.5

desafios que a Igreja vivia, a Conferência de Medellín introduz a visão de um mundo profundamente dividido entre nações desenvolvidas e subdesenvolvidas, entre países da abundância e países da miséria; divididos igualmente no seu interior em classes sociais e por um abismo entre ricos e pobres. A proposta de Medellín não é apenas que a Igreja entre em diálogo com o mundo moderno, mas que, neste mundo dividido, tome partido pelos oprimidos e se associe à sua luta pela libertação.383

Várias das recomendações de Medellín foram assumidas pela III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, que aconteceu em Puebla, México, de 27 janeiro a 13 de fevereiro de 1979, com o tema “A Evangelização no presente e no futuro da América Latina”.384 Uma das temáticas que retomou com vigor a posição profética da Igreja em Puebla

foi a opção preferencial pelos pobres.385 No que tange à comunicação, o documento final dedicou uma sessão à Comunicação Social, dentro do capítulo III da terceira parte como um dos „meios‟ para a comunhão e participação, junto com a liturgia, o testemunho, a catequese e a educação. A Conferência de Puebla expressa um desenvolvimento substancial no que diz respeito não só a Medellín, mas a praticamente todas as declarações da Igreja que se referem às comunicações. Em primeiro lugar, a visão do documento sobre comunicação social é radicalmente mais rica e mais ampla do que todo o ensino anterior do Magisterio da Igreja. De acordo com Puebla, comunicação social não deve mais ser considerada apenas como um meio

383 Cf. BEOZZO. José Oscar. O Vaticano II e as transformações culturais na América Latina e no Caribe. In:

Ciberteologia. Revista de Teologia e Cultura. São Paulo: Paulinas, nº 02, [Out/ Nov/ Dez] 2005, p. 15.

384 A Conferência de Puebla foi a aplicação da Evangelli Nuntiandi para a América Latina. O esquema do

documento está dividido em três partes: na primeira, o ver, onde se encontra uma análise pastoral da evangelização na América latina; na segunda, o julgar, na qual são destacados o conteúdo da evangelização; na terceira, o agir, que propõe ações em vista da evangelização, que encontra no binômio “comunhão e participação” o meio pelo qual ela acontecerá. Cf. HACKMANN, Geraldo Luis Borges. A Amada Igreja de

Jesus Cristo: manual de eclesiologia como comunhão orgânica. Porto Alegre: Edipucrs, 2003, p. 324.

385 Quando a Conferência de Puebla assumiu a herança de Medellín criando a expressão "opção preferencial

pelos pobres", exatamente estas três palavras - pobre, preferência, opção – remeteram aos três conceitos distintos de pobreza material, pobreza espiritual e pobreza como compromisso. A missão da Igreja latino-americana vai se definindo, então, em torno desse eixo fundamental: uma missão a partir dos pobres - das vítimas da pobreza, que anuncia a Palavra que se fez carne nos pobres, realizada por uma Igreja existencialmente pobre. Cf. RASCHIETTI, Estevão. Medellín 40 anos. Revista Missões, São Paulo: Loyola, ano XXXV, n. 04 [maio] 2008, pp. 17-18.

de transmitir a mensagem de Cristo, mas deve promover uma íntima relação com a evangelização.386

Segundo o documento, a Comunicação Social está condicionada pelo fenômeno sociocultural que, por sua vez, exerce uma influência sobre a vida do homem e na sociedade