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A condição humana da Ação Católica Brasileira: indefinições e incertezas

4. A transubstanciação da Ação Católica Brasileira (1950-1960)

4.2. A condição humana da Ação Católica Brasileira: indefinições e incertezas

O fim da Segunda Guerra Mundial coincide com o fim do Estado Novo no Brasil, em 1945. Na década de 1950 a sociedade brasileira vivia as consequências da industrialização, da imigração camponesa para os centros urbanos e de um total despreparo das capitais para responder às demandas dos fluxos e mobilidade populacionais.

Os governos de Getúlio Vargas e de Juscelino Kubistchek de Oliveira, cada qual a sua maneira, incentivaram o avanço das indústrias e deram aportes financeiros ao estabelecimento de uma infraestrutura viária para a circulação de bens. Contudo, faltavam com os compromissos nos centros urbanos, nos quais havia déficit de moradia, saneamento básico, transporte coletivo, educação e saúde. Os trabalhadores eram organizados em movimentos, sindicatos e partidos e reivindicavam melhores condições de vida. Os inchaços nas capitais advinham do êxodo rural, devido à pobreza no campo, ainda que parte destes agricultores não fosse absorvida pelas indústrias e comércio, gerando desemprego (FAUSTO, 2007.p.311-55).

A Igreja era sensível a estas mazelas sociais. Os movimentos de juventude e adultos católicos pronunciavam-se a respeito nas semanas de estudo, com apoio dos sacerdotes. A IV Semana Nacional de ACB (1950), no Rio de Janeiro, apresentava como tema os perigos da modernidade e a realidade confrontada com a doutrina social católica. Já a VI Semana Nacional de ACB (1957), no Recife, deu destaque ao trabalho específico da Ação Católica Especializada, chamando a atenção sobre a situação religiosa, cultural, econômica, social e moral da sociedade (DALE, 1989.p.104).

No meio urbano, a Juventude Operária Católica, na década de 1950, conseguiu ter 12000 membros orientados a discutir questões temporais (BANDEIRA, 2000.p.311-2). De igual modo, as Juventudes Estudantil e a Universitária Católicas desenvolviam trabalhos de conscientização sobre a crise na educação e avançavam na cooptação de membros. No meio rural, com a ajuda do padre Eugênio Sales, a Juventude Masculina Católica, nos finais de 1949, instalou o Serviço de Assistência Rural (SAR), no Rio Grande do Norte, e,

nos 1950, a Juventude Agrária Católica, que se ocupava com a alfabetização e valorização do trabalho no campo. Ainda eram notórios os eventos da Igreja, incluindo a participação de representantes de órgãos públicos e as denúncias de fome nas zonas rurais (AZZI, 2008. p.99; BANDEIRA, 2000.p.299; SOUZA,1984. p.114-21).

Por outro lado, havia uma classe média que tinha padrão de vida moderno representado, entre outros objetos e comportamentos, por aparelhos eletrodomésticos, televisão, rádio e também o hábito do cinema, tal qual na Europa e nos EUA. Era também mais permeável a doutrinas religiosas que estavam se expandindo no Brasil, como o espiritismo. Essas condutas levavam a que os bispos organizassem uma série de recomendações a respeito tanto dos entretenimentos sociais, por meio dos boletins da Ação Católica Brasileira, tanto quanto campanhas contra o espiritismo (AZZI, 2008 p. 16). Assim, contavam com o papel da Juventude Independente Católica, que era fundamental para realizar a crítica ao meio burguês e formar uma classe mais sensível e ativa em relação aos problemas sociais.

Estando a Igreja inserida no meio social, era natural que ela refletisse no seu interior conflitos e alianças para com esta própria sociedade, influenciando parte das transformações na Ação Católica Brasileira109. A década de 1950 foi marcada pela estruturação da Ação Católica Especializada, ou seja, da atuação dos ramos setorizados da ACB de maneira mais específica e autônoma. Foi o protagonismo das juventudes agrária, estudantil, independente, operária e universitária de que trataremos adiante de maneira abrangente.

O trabalho desenvolvido pela Ação Católica Especializada incluía-se, juntamente com outras organizações católicas, na própria necessidade da Igreja de organizar-se para além da base paroquial para assim ocupar espaços nos quais se tinha o avanço do processo de secularização, ou seja, propriamente nos meios sociais. Também proporcionava uma rede de trabalho setorizada, com maior ou menor incidência nos diversos ambientes sociais em que estava presente, facilitando uma maior interação em várias direções e em dois sentidos. No primeiro sentido, despertar o conjunto da Igreja para as problemáticas vividas

109 O autor Souza (1984) se detém sobre a questão da Igreja e suas relações com “a hegemonia

burguesa e com os projetos de blocos históricos alternativos” (p.42). A referida obra “A JUC: os

por determinados setores da sociedade. No segundo sentido, procurar intervir junto desses mesmos setores em função de uma visão integradora e organizada de sociedade católica.

Parte dessas suas mudanças era resultado também de conflitos endógenos. Por esse ângulo, era possível perceber as disputas entre o próprio clero em torno do poder que emanava da ACB, bem como as justificativas teológicas que surgiram para explicar o novo papel da associação e do leigo nesse momento. O papel forjado pela ACB era o de interlocutor entre os interesses da Igreja e dos leigos, no propósito de articular os movimentos especializados em torno dos mesmos objetivos, assim como de incluir outras associações ao seu escopo, papel que coube ao seu Secretariado Nacional.

Na interlocução do Secretariado Nacional da ACB com a Igreja, a unidade era um apoio para os assistentes nacionais dos movimentos especializados, no sentido de promover a reunião e o debate entre eles e a Comissão Episcopal da ACB. Os assistentes eclesiásticos tinham um papel fundamental no movimento e sobre eles pesava a responsabilidade de cumprir o mandato que lhe era delegado pelo bispo.

A ACB fomentava a formação dos assistentes eclesiásticos. Desde a gestão de Dom Sebastião Leme, até seu falecimento, em 1942, era solicitado que os Seminários discorressem sobre o tema Ação Católica. Na gestão de Dom Jaime de Barros Câmara (1942) e na assistência geral por monsenhor Hélder Câmara (1946), não que o ensino de seminaristas e sacerdotes deixasse de ter importância, porém o incentivo à instalação da especialização do movimento em diferentes dioceses tomou mais tempo e rumos mais consistentes.

Do mesmo modo, a ACB buscava dirimir conflitos quanto à jurisdição do assistente eclesiástico que representava a Hierarquia e, por consequência, era a presença da Igreja oficial no seio do movimento. Apesar desse papel, o assistente era uma autoridade privada de poder em duas esferas, na primeira em relação ao leigo e na segunda em relação à Hierarquia.

Na primeira esfera, os sacerdotes disputavam com o dirigente leigo o poder de orientação dos movimentos. Essa realidade era representada nas reuniões dos assistentes eclesiásticos com a Comissão Episcopal da ACB, nas quais demonstravam a dificuldade de manter o elo de subordinação entre os acistas e a Hierarquia, ao mesmo tempo em que ressentiam a falta de autonomia

dos leigos para com as suas funções. Tal situação levava o sacerdote assistente eclesiástico a cumprir uma multiplicidade de funções até contraditórias no cotidiano dos movimentos especializados da ACB. Por sua vez, cabia à ACB, por intermédio da sua Comissão e do seu Secretariado Nacional apaziguar os ânimos e fomentar discussões sobre a questão que os assistentes lhes reportavam.

Na segunda esfera, os sacerdotes disputavam com o vigário, que detinha o poder sobre a sua paróquia, e com o bispo, em relação à diocese. Como a Ação Católica representava uma estrutura hierárquica de complexa organização: nacional, diocesano e paroquial, tal qual a própria Igreja, os sacerdotes, por serem poucos, desdobravam-se nos seus níveis de atuação e, por consequência, interferiam nos espaços então demarcados pela paróquia e diocese.

2) a orientação diocesana dos movimentos da Ação Católica: a orientação diocesana dos movimentos da Ação Católica, às vezes, mata o movimento paroquial porque convoca para o setor diocesano os melhores elementos paroquiais; ou então, entra em conflito com a vida paroquial porque impõe programas diocesanos. (I Semana de Estudos do Clero, São Paulo, 1952.p.13)

Por existir uma precariedade da ACB nas dioceses, era o Secretariado Nacional que, fortalecido, intervinha na situação.

Outro infortúnio era o de que mesmo que os estatutos da ACB citassem em linhas gerais o papel do assistente - presidir a eucaristia e a oração, educar sobre as questões da fé, ser representante da Hierarquia e, portanto, somente ser nomeado pelo bispo para cumprir esse papel110 -, cabia ao bispo definir propriamente as suas atividades. Portanto, poderia variar de diocese para diocese. Assim, ensejou-se que os sacerdotes não conheciam bem o seu papel e poder em relação à própria ACB e aos leigos, ainda que compreendessem que a função do assistente eclesiástico fosse bastante importante dentro do movimento, no sentido de dar-lhe unidade e direção. O cumprimento de tal papel

110 Os Estatutos e Regulamentos promulgados nos anos 1950 detalhavam mais sobre o papel

do assistente eclesiástico: ter como missão assegurar a pureza da doutrina e a integração dos membros nos ideais da AC (artigo 30º), ser um guardião da ortodoxia, fiscal das atividades da AC e “representante autorizado da Hierarquia, o formador de consciências, a alma, enfim, de toda e qualquer atividade no apostolado oficial dos leigos” (artigo 31º).

chegava também a representar a memória e a continuidade do movimento, uma vez que a circularidade de dirigentes leigos era grande (BEOZZO, 1984.p.69-81; SOUZA, 1984.p.88).

Na busca por respostas, os sacerdotes consultavam o código de direito canônico de 1917 na tentativa de melhor definir o seu papel. Isso quer dizer que se procurava o ordenamento da realidade a partir de um molde legal.

– a função do assistente é nova na história do apostolado da Igreja. Nenhuma definição jurídica tem sido dada. No direito eclesiástico, o assistente de Ação Católica não existe. Disto resulta que o papel do assistente se define praticamente a partir das tradições de determinados movimentos e por isso com divergências consideráveis provenientes das diversidades de experiências. (Os Assistentes nos Movimentos de Ação Católica, [1959]. p.1) (grifos nossos) 111

Igualmente, seria somada ao bojo dos problemas uma nova unidade dentro do corpo hierárquico da Igreja a ser respeitada. Instalava-se a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a partir de 1952.

A nomeação dos dirigentes e dos assistentes deve ser considerada nesta perspectiva. Formalmente é o bispo quem mandata o dirigente e nomeia o assistente, isto segundo a organização correspondente à estrutura hierárquica. Até há pouco a ordem jurídica era somente a diocese e a Santa Sé, mas agora as conferências episcopais têm recebido poderes jurídicos. O bispo mandata o dirigente, porém, não o nomeia. A razão se fundamenta em que a Hierarquia reconhece como colaborador de seu apostolado a um movimento de leigos, a um laicato organizado e não a indivíduos. Este movimento guarda a sua autonomia no domínio da ação própria do laicato. Cabe ao Movimento [propor] dirigentes [para a] aprovação da hierarquia. (Os Assistentes nos Movimentos de Ação Católica, [1959]. p.22) (grifos do autor)

A ACB tornou-se subordinada ao Secretariado Nacional de Apostolado Leigo da Conferência Nacional dos Bispos, como previsto em seus estatutos publicados em 1956112. Decorreram daí novos procedimentos para a aprovação

111O texto ‘Os Assistentes nos Movimentos de Ação Católica’ é composto por 24 páginas; não

possui autoria e nem data, porém pela citação do nome do papa João XXIII, auferiu-se tratar-se dos finais dos anos 1950.

112 “Art. 2º - A ACB integra o Secretariado Nacional dos Leigos, da Conferência Nacional dos

Bispos do Brasil, como organismo distinto e irmão dos organismos constituídos pelas Associações Religiosas.” (ESTATUTOS, 1956)

dos regulamentos da Comissão Episcopal da ACB e para a indicação de nomes para compor os cargos dentro do movimento. Isto representou que parte dos poderes dos bispos e das atribuições da ACB foi se esvaindo. Os sacerdotes estavam atentos a essas mudanças institucionais, mas não somente isto, os bispos mostravam-se ressentidos por não mais terem o poder na delegação do mandato ao dirigente, na nomeação do assistente e não terem todos assentos na própria Conferência Episcopal (como se verá mais adiante)113.

A Comissão da CNBB inicialmente foi presidida por Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, ao mesmo tempo em que era membro da Comissão da ACB, juntamente com Dom Jaime de Barros Câmara. Considerados bispos mais conservadores, cabia ao secretário da CNBB e assistente geral da ACB, monsenhor Hélder Câmara, realizar negociações mais favoráveis à ACB. Tanto que à medida que a ACB se especializava e a CNBB ganhava forma, os bispos já não dispunham do clero mais capacitado para prestar assistência aos leigos militantes, cabendo a Dom Hélder estimular os bispos a disporem de boas indicações de sacerdotes para a ACB (SOUZA, 1984.p.63-4)

Do ponto de vista da Igreja brasileira, a Ação Católica ressignificou os papéis dos párocos, outorgando-lhes poderes mesmo que relativizados quanto à Hierarquia jurídica. Tal qual os leigos, o clero também se afeiçoou à influência que passou a deter na própria Igreja por meio da ACB, quando dependia dele o sucesso do movimento.

Em relação à interlocução do Secretariado Nacional com o membro acista, ao longo da década de 1950, mesmo que desejada a autonomia dos movimentos especializados da ACB, paradoxalmente, era promovido um conjunto de esquemas de estudos e de eventos a fim de lembrar a subordinação dos leigos à Hierarquia. Era enfatizado um dos traços essenciais da AC que era a dependência que decorria do mandato.

O Secretariado da Ação Católica Brasileira pouco pontuava que existiam rupturas entre os papas Pio XI e Pio XII por meio de suas publicações oficiais. Dava um sentido de continuidade entre as ideias, tanto em relação ao termo participação e colaboração, quanto ao estreitamento e dilatação do conceito de Ação Católica.

113 Inicialmente, apenas os arcebispos metropolitanos participavam da CNBB com expressão nas

Igualmente, o fundamento teológico do “corpo místico” ganhou força dentro da Ação Católica Brasileira. Parte da explicação sobre o mandato era forjada já incorporando o direito de todos os leigos de participarem da missão evangelizadora da Igreja.

Podemos então fazer, a esta altura um paralelo: assim como o Apostolado da Hierarquia tem seu fundamento divino e teológico, ‘per se et formaliter’, no próprio mandato de Cristo, assim o leigo, ‘per se et formaliter’, possui a potencialidade de capacidade do apostolado, com direito e justiça do fundamento teológico do seu caráter Batismal. (I Semana de Estudos do Clero, São Paulo, 1952.p.26) 114

Já era mais comum refletir sobre a inclusão das Congregações Marianas no escopo da Ação Católica, assim também das demais organizações de fiéis. O material de formação da ACB, destinado aos futuros ingressantes, procurava responder dúvidas a respeito do apostolado leigo das Congregações e da ACB, como no “Guia do estagiário: religião e ação”, 1952, por monsenhor João Alexandre Loschi115.

As Congregações Marianas, segundo as diretrizes da encíclica Bis Saeculari Die, de 1948, comporiam os quadros da Ação Católica como um setor autônomo, ao lado dos ramos Adulto e Juventude (Homens e Senhoras de AC e Juventude Masculina e Juventude Feminina Católicas). Para efetivar essa instrução, foi pensado pela Comissão Episcopal Brasileira, em meados de 1952, deixar à Comissão Episcopal da ACB a interpretação da encíclica e a sua aplicação no plano nacional da organização. De igual maneira, sugeria que os congregados marianos recebessem formação técnica de acordo com as normas da ACB.

114 Assinou a apresentação da pequena publicação resultante da Semana o bispo Auxiliar de

São Paulo, Antônio Maria de Alves Siqueira, a qual era composta por autores como frei Domingos Leite, O.P e por outros anônimos.

115 Nasceu a 26 de janeiro de 1887. Estudou Filosofia no Seminário Maior de São Paulo. Foi

enviado para fazer o curso teológico no Seminário Pio Latino Americano, em Roma, onde bacharelou-se em Direito Canônico. Foi ordenado sacerdote em Roma, a 28 de outubro de 1914, indo logo depois para Campinas. Desempenhou diversos encargos do ministério sacerdotal e foi o organizador e primeiro Diretor das Federações Marianas Masculina e Feminina. “Organizador e primeiro Assistente Geral Eclesiástico da Ação Católica, incrementando em toda a Arquidiocese as Organizações da AC e realizando Semanas de Estudos e Conferências nas Arquidioceses de Campinas, São Paulo, Botucatu e nas Dioceses de Lorena, São Carlos, Taubaté e Santos”. Disponível em https://sites.google.com/site/exsicampinas/galeria-dos- personagens-2/materias-recebidas. Acesso em 02 dez 2016.

Isto foi aplicado de fato por parte das Congregações Marianas, mas via- se que membros marianos individualmente já se alistavam às estruturas da ACB (MAIA, 1992) sem que comprometessem a autonomia e a unidade institucional das Congregações.

Diferentemente não acontecia a subordinação de outras associações religiosas ao corpo diretivo de Ação Católica Brasileira, mesmo que consideradas obras auxiliares e ainda que se enfatizasse que não competia à ACB a missão de dirigi-las. A ACB e seus movimentos por vezes eram “mais comparáveis a um lugar de reunião para onde convergem e onde se organizam os católicos de ação” (LOSCHI, 1952. p.125), mas nem isso facilitava o diálogo entre as associações. Assim, as ordens terceiras, irmandades, confrarias e outras associações, como os legionários de Maria, o apostolado da oração e o Movimento Familiar Cristão subsistiam procurando evitar a ACB116.

Por outro lado, também minimizavam os impactos da Ação Católica no escopo da Igreja Católica, baseando-se nos discursos do papa Pio XII:

P.: o que é o apostolado dos leigos segundo Pio XII?

R.: Seria errôneo ver na Ação Católica, como recentemente se afirmou – algo de essencialmente novo, uma mudança de estrutura da Igreja, um apostolado novo dos leigos, paralelo ao dos sacerdotes e não subordinados a ele. “

P.: A Ação Católica trouxe algo de novo?

R.: A Ação Católica quis somente dar a essa colaboração uma nova forma e organização acidental para sua atuação melhor e mais eficaz. (LOSCHI, Guia do estagiário, 1952.p.127)

Ao contrário da retórica dos anos iniciais, que tornava a AC bastante particularizada (e isto dificultava estabelecer alguma similaridade entre as diversas associações laicais), as notas essenciais da ACB foram distendidas ao longo dos anos 1950. Isso favorecia o fortalecimento de uma ação apostólica abrangente, uma vez que procurava incluir várias associações, como foi com as Congregações Marianas, no escopo das organizações acistas, e, ao mesmo tempo, específica, como era o apostolado dos movimentos de Ação Católica Especializada.

116 As mudanças dos estatutos da ACB em 1950 “libera” as demais associações de laicato da

Em suma, a complexidade do movimento provocava desordem nas atribuições do clero junto à ACB e a fundamentação teológica do “corpo místico” confundia os leigos sobre o seu papel. Somavam-se ainda questões estruturantes, como a falta de uma definição jurídica e, ainda, outras de significação, como a minimização de sua importância na história da Igreja.

Contudo, como dito anteriormente, a fratura mais incisiva no significado da ACB veio com o esvaziamento de parte de suas atribuições, por meio da organização mais precisa também do apostolado hierárquico, representada pela institucionalização da Conferência Nacional dos Bispos. A fundação da CNBB retirava da ACB sua posição privilegiada junto ao episcopado. Com o tempo a ACB começa a se ressentir da falta de decisões rápidas, da atenção constante prioritária à qual fora habituada, nos anos anteriores, pelo episcopado.

A situação ficou ainda mais crítica para a ACB quando se constituiu um Secretariado mais amplo de Apostolado Leigo dentro da CNBB. Porque logo de imediato os bispos brasileiros, reunidos nesse Secretariado, tentaram cumprir a formalidade de se aproximar mais das outras associações, tal qual assuntado pelo papa Pio XII no último Congresso de Apostolado Leigo, em 1957117.

Isto significou ao mesmo tempo valorizar o maior número de associações de fiéis e religiosas, bem como centralizá-las e subordiná-las a uma comissão episcopal. Também com isso seriam dirimidos os conflitos com as demais associações que não se sentiam confortáveis em subordinar-se diretamente à ACB e, por sua vez, a ACB não se sentiria com poder sobre elas. Contudo, a apreensão de que a Ação Católica Brasileira era mais uma organização de apostolado leigo dentre muitas se forjava mais rapidamente.

Tanto que, o Secretariado Nacional da ACB, em 20 de abril [1958118], com a presença do assistente geral, Dom Hélder Câmara, reuniu os membros de Ação Católica Especializada (adultos e juventudes) para apresentar um projeto compilado por frei Romeu Dale, assistente de Juventude Universitária Católica (JUC). A proposta era de aceitação ou não das sugestões contidas no discurso do papa Pio XII, referentes à alteração na estrutura da Ação Católica Brasileira,