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O progresso do apostolado leigo rumo à especialização, autonomia e

2. A Ação Católica Brasileira

2.2. O progresso do apostolado leigo rumo à especialização, autonomia e

A Ação Católica configurou-se em dois modelos então conhecidos pelos países católicos: o padrão geral, com os ramos fundamentais por gênero e idade, e o padrão especializado, com os ramos fundamentais divididos por gênero, idade e segmentos sociais. Em alguns países, como Portugal e Brasil, o modo geral e especializado realizaram-se de maneira conjugada. Segundo seus estatutos, em 1935, a Ação Católica Brasileira foi instituída como quatro ramos fundamentais – adulto (masculino e feminino) e juventude (masculina e feminina) - e alguns segmentos sociais – estudantil, operário e universitário. Em 1946, forjou-se o segmento agrário nos ramos adultos e juvenis.

De qualquer maneira, a ACB buscava a uniformidade organizativa, centralizada e hierarquizada. A experiência demonstrava que era necessário reduzir a estrutura do movimento para atingir com mais êxito a unidade administrativa. Outrossim quando a alta direção da ACB optava cada vez mais por adotar um modelo de Ação Católica Especializada que tinha como princípio a autonomia das especializações em relação aos ramos fundamentais da ACB.

Paradoxalmente, a ACB implantava uma política menos rígida na ampliação e na remodelação do movimento. Mais flexível, a Comissão Episcopal, em julho de 1950, na IV Semana Nacional da Ação Católica, anunciava a feitura de novos estatutos. Em termos sucintos transmitia que as principais modificações consistiam em: fixar maior atenção às organizações fundamentais; permitir às dioceses e paróquias margem ampla de adaptação da ACB às realidades locais e possibilitar aos bispos a opção de desenvolver a Ação Católica geral, dividida em quatro ramos, ao invés de adotarem o modelo de AC especializada, dividida em cinco seções. Além de incluir na Comissão Episcopal os cardeais e arcebispos metropolitanos e afastar da ACB a Confederação Católica Diocesana e os Departamentos.

As linhas gerais propostas na IV Semana de Ação Católica pela Comissão Episcopal da ACB foram redefinidas ao longo de seis anos. Entre 23 de novembro de 1953 e 11 de janeiro de 1954, a Comissão Nacional da ACB expediu uma circular consultando os bispos a respeito da reformulação e aprovação dos estatutos da ACB, para o que

recebeu uma série de respostas positivas e algumas observações35. Por meio de um questionário perguntou-se aos bispos: 1) está disposto a aprovar os estatutos da ACB?; 2) a Comissão Episcopal de ACB vem sendo fiel ao mandato recebido da Hierarquia neste país?; 3) referenda a eleição da atual Comissão Episcopal da ACB?; 4) desejaria explicitar os limites da delegação dada pelo Episcopado Nacional à Comissão Episcopal?

As perguntas suscitaram uma série de respostas que revelaram conflitos entre a Comissão Episcopal da ACB e os bispos de várias dioceses em relação a múltiplos pontos da ACB. As sensibilidades eram contraditórias no tocante à complexidade da organização do apostolado de leigos e à falta de pessoal para instalá-la.

O mecanismo constitutivo da ACB é por demais complexo e variado, impossível de ser executado em grande parte, - pelo menos por enquanto. A preocupação deve ser de simplificar e reduzir a um mínimo, que as nossas Dioceses possam executar [...] (Carta do Arcebispo de Mariana para Dom Jaime de Barros Câmara, Presidente da ACB, em 05 de maio de 1954)36

Acho Excelência Revma. que os Estatutos da AC não podem ter normas rígidas, inadaptáveis a circunstâncias geográficas, intelectuais, sociais etc., semelhantes às em que vive o nosso povo. (Carta do bispo de Caratinga (MG), Dom João Cavati, a Dom Hélder Câmara, em 20 de maio de 1954)

[...] não achei quem pudesse cuidar dos setores de AC. [...]. Logo que tenha mais alguns padres diocesanos ou congregados, tratarei da instalação da AC. (Carta do bispo de Parnaíba (PI) Dom Felipe Benito Cundurú Pacheco para Dom Hélder Câmara, Assistente Geral da ACB, em 27 de maio de 1954)

35 A publicação periódica Comunicado Mensal da CNBB acompanhou a reformulação dos Estatutos

apresentando notas em muitos dos seus números. Para saber mais das transcrições de respostas e comentários, ver números 18. As respostas podem ser encontradas das Dioceses do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, Valença, Campo Grande, Barra do Piraí, Campos, Niterói); de Minas Gerais (Paracatu, Caratinga, Bonfim, Juiz de Fora, Leopoldina, Belo Horizonte, Oliveira, Montes Claros, Pouso Alegre, Guaxupé, Mariana, Aterrado Oeste de Minas); de São Paulo (Santos, Holanda, Campinas, Assis, São José do Rio Preto, Lins, São Carlos, Jaboticabal, Ribeirão Preto, Piracicaba, Taubaté, Botucatu); de Pernambuco (Olinda, Caruaru, Recife, Pesqueira, Petrolina, Nazaré da Mata); do Rio Grande do Sul (Caxias, Vacaria, Santa Maria, Porto Alegre, Passo Fundo); do Rio Grande do Norte (Mossoró, Caicó); do Piauí (Parnaíba, Oeiras, São Raimundo Nonato); do Mato Grosso (São Luís dos Cáceres, Araguaia, Guiratinga, Chapada, Diamantino); da Bahia (Salvador, Amargosa); do Ceará (Crato, Limoeiro do Norte, Sobral, Fortaleza); do Pará (Bragança, Marajó, Belém, Xingu/ Altamira); de Santa Catarina (Florianópolis, Curitiba, Lages, Joinville); do Paraná (Laranjeira do Sul, Ponta Grossa); do Alagoas (Penido); do Acre (Cruzeiro do Sul, Rio Branco, Sena Madureira); do Amazonas (Lábrea, Tefé, Manaus, Alto Solimões, Rio Negro); Maceió (Natal), Maranhão (São Luiz, Pinheiro); Paraíba (João Pessoa, Cajazeiras, Campina Grande), Goiás (Santana da Ilha do Bananal, Jataí) e do Mato Grosso do Sul (Corumbá). Vimos também que 93 circunscrições eclesiásticas foram favoráveis e 12 apresentaram restrições mais ou menos graves, segundo Comunicado Mensal da CNBB, n. 24, setembro de 1954.

36 A carta não possui assinatura, porém pela data atribuímos ser de Dom Helvécio Gomes de Oliveira,

Houve críticas também sobre a localização da sede do Secretariado Nacional da ACB, então no Rio de Janeiro, e outras mais contundentes como:

declaro achar inconveniente dar minha adesão incondicional a todas as definições, subdivisões e rumos dos Estatutos de nossa ACB. [...] Data vênia: a) os nomes dos Exmos. componentes da Comissão Episcopal da ACB foram indicados e não votados, à última hora de derradeira reunião do Exmos. Srs. Cardeais e Arcebispos, aí em Palácio; salvo engano da minha parte. (Carta do Arcebispo de Mariana para Dom Jaime de Barros Câmara, Presidente da ACB, em 05 de maio de 1954)

Esta última averiguação do cardeal de Mariana respondia a uma questão posta pela própria Comissão se essa representava a ACB legitimamente. Muitos manifestaram que não havia porque explicitar os limites do mandato da Comissão Episcopal da ACB, “já que nada fazia sem antes consultar o Episcopado”, por exemplo, era essa a opinião do bispo de Caxias, em 25 de maio de 1954. Dizia ainda a carta do arcebispo de Mariana que “50% das Dioceses não poderiam realizar em 90% das suas paróquias as especializações sugeridas pelos estatutos” e, portanto, as obras já existentes de apostolado não deveriam ser colocadas em segundo plano. Da mesma maneira, outras dioceses cogitavam em estabelecer semelhanças entre os efetivos apostolados já em curso e a Ação Católica Brasileira – designando-os “como sendo verdadeiras AC”.

o que não nos pareceu justo e nem oportuno, nem mesmo possível [...] atirar no plano secundário o Apostolado, a Carisma (digamos assim) das Congregações Marianas, de muitas Associações florescentes, Pontifícias umas, Diocesanas a maior parte; fundadas algumas por Santos de grande ação católica [...] Subordiná-las, em todo ou em parte, à novel Ação Católica (com A e C maiúsculos), acenando-se para elas com um Secretariado Nacional leigo, constituído sabe Deus como, com sede de certo muito afastada do habitat da grande maioria das Dioceses e Prelazias [...] está a me parecer se não erro, pelo menos tarefa ingrata, esforço sobre humano e temerário [...]. (Carta do arcebispo de Mariana para Dom Jaime de Barros Câmara, presidente da ACB, em 05 de maio de 1954) (grifos do autor)

desejaria, porém, que Associações como o Apostolado da Oração, Liga Católica de Jesus, Maria e José, Cruzada Eucarística e Filhas de Maria ficassem incluídas de um modo geral na estrutura de Ação Católica. Esta solução, segundo meu fraco saber, daria ótimos resultados em cidades pequenas, como as de minha Prelazia. (Carta de frei José Alvarez, de Lábrea (AM) para Dom Hélder Câmara, Assistente Geral da ACB, em 16 de maio de 1954)

Há, entre os vicentinos, [...], os congregados marianos, os membros do Apostolado da Oração, da Pia União etc.; almas realmente imbuídas

daquele espírito de apostolado, mas que, pelo baixo nível de sua cultura intelectual não se adaptaram aos órgãos de AC que tentei reiteradamente constituir, sem resultado, em minha diocese. [...] Não seria melhor evitar que a redação dos Estatutos venha a criar dúvidas ou dificuldades capazes de estiolar aquela chama de apostolado das diversas associações donde podem surgir bons elementos para a AC? (Carta do bispo de Caratinga (MG) Dom João Batista Cavati para Dom Hélder Câmara, Assistente Geral da ACB, em 20 de maio de 1954)

Atendendo a que máxime por falta de sacerdotes, estivemos sempre formando para o apostolado os membros de nossas associações religiosas e atendendo principalmente a que documentos pontifícios consideram as Congregações Marianas, o Apostolado da Oração, a Confraria da Doutrina Cristã e outras associações como sendo verdadeiras AC ou que muitas delas, pelos seus Estatutos, exercessem verdadeiro apostolado – julgo que todas essas associações religiosas devem ser equiparadas e iguais das à Associação da AC e que todas devem formar e constituir a ACB. (Carta do bispo da Diocese de Ponta Grossa Dom Antônio Mazzarotto para Dom Hélder Câmara, Assistente Geral da ACB, em 04 de junho de 1954)

Nos trechos ilustrativos acima, citaram-se o Apostolado da Oração (1867), as Congregações Marianas (refundadas em 1870), a Sociedade Vicentina (1870), a Liga Católica de Jesus, Maria e José (1902), Confraria da Doutrina Cristã, Cruzada Eucarística e Pia União de Filhas de Maria37, e muitas outras foram exemplificadas como sendo similares à Ação Católica Brasileira ou sendo suas partes constituintes.

Com isso, os bispos tentaram preservá-las dentro do escopo da Ação Católica, pois percebiam naquele momento o status que isto representava para si mesmos, já que se repetia que era o apostolado desejado e cuidado desde Pio XI. Por outro lado, essa mesma estratégia poderia representar um temor de uma hipervalorização da ACB em detrimento das demais associações. Essas antigas organizações também conferiam prerrogativas aos bispos, como liberdade de as instituírem ou não, já que muitas apenas dependiam de uma autorização do bispo imediato para isto e, também, tinham seus preceitos melhor explicitados pelo código canônico de 1917.

Destarte, esta retórica da similaridade entre essas instituições e a ACB era uma estratégia para que, de alguma maneira, se dissesse que se cumpriu com mais uma demanda da Hierarquia, considerando que já havia sido manifestado pelos bispos o número reduzido de ordenados38. Ou, como ainda refletiu Beozzo (2001, p.85), a definição

37 Não foi possível precisar algumas datas de fundação das organizações citadas devido à quantidade de

entidades com denominações similares.

38 Na Semana de Estudos do Clero de São Paulo sobre o apostolado dos leigos, outubro de 1952, temos

um exemplar do cotidiano do sacerdote “além dos atos religiosos comuns e especiais em que a presença do vigário é exigida, há os setores de AC com seus círculos de estudo frequentes, as associações religiosas com suas reuniões...” além de se ocupar com a burocracia da paróquia, com as obras religiosas e sociais.

do que seria a AC era um “tema que na época suscitava muita controvérsia na Igreja do Brasil devido ao confronto com as tradicionais ‘associações católicas’ [...]”.

Propriamente sobre a Congregação Mariana, a única destas associações que integrou os novos estatutos da ACB, considerou-se que fosse um setor autônomo, juntando-se às seções de adultos e jovens especializados, como Dom Hélder Câmara explicou ao bispo de Guiratinga (MT), Dom José Selva,

gostaria de saber se V. Excia pode observar que os novos Estatutos reconhecem plenamente, como não podiam deixar de reconhecer, que as CC.MM [Congregações Marianas] são AC de pleno direito, adornadas de todas as características da AC. Só o que não pode ser feito aqui, como também não o foi na Itália, país que se acha sob as vistas imediatas do Santo Padre, foi considerar a Congregação Mariana ramo fundamental de AC. Os ramos fundamentais são as divisas naturais de homens, senhoras, rapazes e moças. Só podem ser quatro. No mais, temos especializações ou, como no caso das CC.MM, um setor autônomo. (Carta de Dom Hélder Câmara, Assistente Geral da ACB. Rio de Janeiro, 31 de maio de 1954)

Apenas quatro bispos não aprovaram os novos estatutos. Houve uma negativa à aprovação e uma crítica mais contumaz aos estatutos por parte de Dom Manuel da Silveira d´Elboux, arcebispo de Curitiba. Esse arcebispo mencionava que Dom Geraldo de Proença Sigaud recorreu a Roma para intervir na questão, uma vez que o mesmo havia apresentado uma série de sugestões que não foram acolhidas pela Comissão Episcopal da ACB. Então, Dom Manuel resolveu esperar o pronunciamento da Santa Sé e apresentar como solução o envio de dois planos de estatutos ao papa para avaliação e escolha39. Dom Sigaud também enviou cartas aos bispos para demovê-los de uma possível aprovação dos estatutos, como citou Dom Joaquim Lange, bispo do Prelado de Tefé, que soube que os bispos do interior do Amazonas receberam correspondência problematizando a matéria.

Dom Hélder Câmara, em um rascunho de uma possível carta dirigida ao “bispo de Campos”40, pôs em relevo uma síntese do que acreditava serem os principais argumentos apresentados pelos bispos na correspondência trocada sobre o tema novos estatutos da ACB. Procurava assim apaziguar possíveis medos em relação à autoridade do bispo em

39 Carta para Dom Hélder Câmara, Assistente Geral da ACB. Curitiba, 07 de junho de 1954.

40 A carta a que responde Dom Hélder Câmara é datada de 10 de fevereiro de 1949, assinada por Dom

Antônio Castro Mayer que também remeteu uma missiva a outros bispos criticando a reformulação dos estatutos da ACB. Essa atitude levou o Assistente Geral da ACB, que devidamente autorizado pela Comissão Episcopal da ACB, a enviar a todos os bispos esclarecimentos a respeito da carta que o bispo de Campos fez circular entre o episcopado. Comunicado Mensal da CNBB, n.19, abril de 1954.p.2

sua diocese, bem como procurava demonstrar que a existência das demais associações de leigos nas paróquias não seria motivo para não apoiar a instalação da Ação Católica:

1) é claro que o bispo é o juiz em sua Diocese. Por isso sempre que os documentos oficiais sobre o assunto acrescentam a cláusula ‘enquanto seja possível’ – ‘quanto antes’ – ou equivalentes, não se referem à conveniência ou necessidade daquilo que preceituam ou recomendam, mas às circunstâncias que possam retardar o cumprimento do que é prescrito ou recomendado – seria alargar muito o raio da ação do bispo, em face de preceitos ou recomendações do Sumo Pontífice. [...] 3) Se o bispo de Campos interpreta os documentos pontifícios, por exemplo, no sentido que onde houver Congregações Marianas não há necessidade de AC, nada podemos opor à maneira de pensar e de agir de V. Exma. (Dom Hélder Câmara. Rascunho intitulado “Responderia ao Exmo. Sr. bispo de Campos”, s/d)

Sobre a questão da autoridade bispal, os regulamentos da ACB, publicados em 1956, consideraram no seu artigo 4º que “a ACB não pretende ditar normas às Dioceses ou Prelazias no que se refere à AC.” O que se propunha era que os estatutos estabelecessem ou representassem pontos gerais e comuns para o estabelecimento da ACB nas dioceses e nas paróquias, com a aprovação de cada bispo para a sua respectiva circunscrição. Ainda, o artigo 32º citava que competia ao bispo definir os direitos e deveres dos assistentes eclesiásticos que iriam compor os ramos e os setores de ACB.

Retomando ainda a possível resposta encaminhada ao “bispo de Campos”, Dom Hélder Câmara dizia:

a) Isto que ele [o próprio bispo de Campos] designa ‘associação chamada AC’ foi ou não instituída por Pio XI, como recomendação explícita e insistente de se estender a toda a Igreja?

b) Tem ou não insistido que a AC seja organizada em todas as paróquias?

c) O mandamento da ACB não se refere à instalação de outras associações e sim da ACB. (Dom Hélder Câmara. Rascunho intitulado “Responderia ao Exmo. Sr. bispo de Campos”, s/d)

Os regulamentos da ACB eram usados para responder as indagações acima. Incluiu-se na sua introdução que as “explícitas e insistentes recomendações dos papas e as diretrizes do Concílio Plenário Brasileiro (1939)” consideravam ser um dever de ‘múnus pastoral’, ou seja, que pertencia à função, à obrigação, ao ônus do sacerdote, a instalação dos ramos fundamentais em todas as paróquias, mesmo que existissem as Congregações

Marianas. Logo, não obrigava, mas persuadia os bispos citando o poder papal sobre a questão e os concílios.

Os estatutos foram publicados em 1956 com sensíveis modificações. A Comissão Episcopal que antes era formada por um grupo definido de bispos (representantes do Rio de Janeiro, Niterói, Salvador, Belo Horizonte e São Paulo) passou a abranger outras sedes episcopais, operando da seguinte forma:

Art. 14 – A ACB, no plano nacional:

a) é superiormente dirigida por uma Comissão Episcopal composta de 7 membros – 3 natos: os Arcebispos do Rio de Janeiro (Presidente), de São Paulo e de Salvador; e 4 membros eleitos por seis anos, em Reunião Ordinária da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil;

b) é coordenada, e a execução dos seus programas se processa por meio do Secretariado Nacional, assim constituído: o Assistente Geral e os Assistentes Nacionais; o Presidente Nacional; o Conselho integrado pelos presidentes nacionais das Organizações Fundamentais e dos setores autônomos [...] (ESTATUTOS DA ACB, 1956)

Surgia a presença da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, criada em 1952, elegendo os membros da Comissão Episcopal da ACB, da qual somente os arcebispos metropolitanos participavam. Além disso, a Ação Católica passava a integrar o Secretariado Nacional dos Leigos, uma das seções da CNBB:

Art. 2º - A ACB integra o Secretariado Nacional dos Leigos, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, como organismo distinto e irmão dos organismos constituídos pelas Associações Religiosas. (ESTATUTOS DA ACB, 1956)

As Congregações Marianas passaram a ser consideradas “uma forma exígua e peculiar de Ação Católica” (ESTATUTOS DA ACB, 1956. art. 3º), representando dizer que também essas figurariam como subordinadas à ACB e por sua vez ao Secretariado Nacional de Leigos da CNBB. Essa matéria, por sinal, gerou muitas controvérsias referentes ao próprio conceito de Ação Católica que servia de tese para distinguir a AC das Congregações.

Outro marco foi que a ACB passou também a ter amplitude internacional (art. 8º), porque diziam os estatutos “que a complexidade dos tempos supõe união dos esforços dos países e até dos continentes”.

A Ação Católica Especializada não teve documentos estatutários ou regimentais para ela enquanto instituição; tratou-se mais de uma nomenclatura dada ao conjunto dos

movimentos especializados da ACB. Não obstante, a necessidade dela era explicada pelo anseio de um agir em profundidade em cada meio específico da sociedade sem perder a unidade da ACB, evitando assim o desentrosamento dos ramos e dos setores adultos e de jovens. A harmonia entre os segmentos seria um dos papéis do Secretariado Nacional da ACB.

Passaram a existir como ramos fundamentais e seus respectivos setores especializados e autônomos: a) Homens da Ação Católica (HAC), com as Ligas Agrária, Independente, Operária e Universitária: b) Liga Feminina de Ação Católica, LFAC (novamente trocou-se a SAC, Senhoras da Ação Católica, por um termo utilizado nos idos de 1930), com as Ligas Operária, Independente e Universitária, além dos Benjamins e Benjaminas (antes subordinados à Juventude Feminina Católica) c) Juventude Masculina Católica (JMC), com as Juventudes Agrária, Estudantil, Independente, Operária e Universitária; e, d) Juventude Feminina Católica (JFC), com as Juventude Agrária, Estudantil, Independente, Operária e Universitária.

Incorporada a estes ramos estava a Congregação Mariana a que se referia como um ramo autônomo da ACB e sem setores especializados, mas também coordenado em âmbito nacional, diocesano e paroquial, tais quais as demais organizações da Ação Católica.

Novamente, o ordinário tinha liberdade e autoridade de organização dos setores de AC, podendo realizar atividades conjuntas entre eles; implantar as especializações ou reduzir o número delas ou ainda aplicar a Ação Católica Brasileira geral, apenas com os ramos, sem os setores – mesmo assim era desejável que as formas escolhidas fossem integradas ao modelo de atuação especializado. Isto representou uma maior autonomia para os bispos na escolha do modelo adotado de ACB, bem como uma maior sensibilidade às questões da paróquia para a instalação dos núcleos acistas.