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As origens de uma fundamentação teórica e dogmática para a Ação Católica

3. A busca por uma essência da Ação Católica Brasileira (1920-1950)

3.1. As origens de uma fundamentação teórica e dogmática para a Ação Católica

A Ação Católica Brasileira foi instituída por orientação dada pela encíclica Ubi Arcano Dei (1922), redigida pelo papa Pio XI. O documento foi elaborado levando-se em conta o cenário europeu, que sofria com as consequências da Primeira Guerra Mundial, com o desenvolvimento da indústria e com a crise econômica e política. Diante disso, a Igreja definira como meta a restauração da ‘ordem social cristã’ em resposta ao laicismo predominante e, preocupada com a possibilidade de iminente redução de seus quadros, voltou-se para os leigos e sua evangelização. Sendo uma instituição universal, a Igreja amplificou parte da situação europeia para outros continentes e países católicos, construindo uma leitura teológica e sociológica da realidade em escala internacional (DUSSEL, 1989. p. 11-3; FONTES, 2011.p. 127-8; MONTERO, 2005; SARANYANA, 2004). O anticomunismo tornou-se um polo de mobilidade católica. Procurando dirimir os efeitos do Manifesto Comunista (1848), de Karl Marx e Friedrich Engels, e da I Internacional Comunista (1864), a Igreja forjou uma luta contra o comunismo com a encíclica social Rerum Novarum (1881). As associações católicas a utilizavam como bandeira de atuação e mecanismo de detenção a essa forma de pensamento e regime político. Principalmente quando a mobilização comunista obteve sucesso com a II Internacional Comunista (1889) e com a vitória da Revolução Russa (1917) (HOBSBAWM, 1995.p.62; 118-9, JUDT, 2008.p. 380). Ainda, “a Primeira Guerra Mundial distorceu índices de emprego, destruiu o comércio e devastou regiões inteiras – além de levar nações à bancarrota” (JUDT, 2008.p.18).

A Igreja assim gerou uma consciência de que teria que se relacionar diferente com a sociedade, criando o enfrentamento do catolicismo com

aspectos do então mundo moderno, nos quais incluiu o liberalismo e o comunismo. Forjou uma leitura histórica de que um dia se viveu um período cristão católico e com a modernidade sucedeu a “descristianização”; e que, portanto, urgia recristianizar o meio. Tal paradigma da “descristianização” não foi apenas um modo de compreensão da sociedade e de interpretação de processos de mudanças em curso. Constituiu-se como o principal dispositivo para o discurso e para a prática de mobilização do movimento católico nesse período. Logo, ao rever a sua capacidade de intervenção, reformulou as suas atividades consideradas essenciais à sua missão religiosa e à sua unidade e organização interna.

Como uma das maneiras para atingir a intercessão no meio social, Pio XI, durante o seu pontificado, de 1922 a 1939, implementou um tipo de apostolado que progressivamente já se desenvolvia nos países de tradição católica. Eram movimentos organizados de adultos e juventude católica, instituídos por sacerdotes em alguns meios sociais. Era o caso da Juventude Operária, na Bélgica, em 1912, reunida por padre Joseph Cardijn. Posteriormente, em 1924, denominada de Juventude Operária Católica (BIRCK, 1975.p.37-47).

Com a orientação do papa Pio XI, essas associações foram reunidas e subordinadas a uma entidade mais ampla de leigos, que passava a ter uma estrutura organizacional uniforme e centralizada. Essa entidade chamada de Ação Católica foi ligada diretamente à Hierarquia da Igreja e organizada na própria Itália (1922), na Bélgica (1924), Polônia e Espanha (1926), Iugoslávia e Checoslováquia (1927), Áustria (1928), Portugal (1933) e expandiu-se também para a América Latina, em especial no México (1929), Peru (1931), Argentina (1931) e no Chile (1939)48.

A Ação Católica tornava então a ser parte constituinte e relevante da Igreja. A Santa Sé passou a citá-la em vários documentos pontifícios – encíclicas, cartas, mensagens, exortações, dentre alguns -, com o objetivo de apresentar as características e diretrizes gerais que deveriam ser observadas

48 As datas são aproximadas porque existem controvérsias entre os autores consultados, pois

alguns recorrem à data de surgimento de uma ‘ação católica’ generalista, outros à data de surgimento de um movimento de denominação similar ao das Juventudes Católicas (DUSSEL, 1989.p14; ESCARTIN CELAYA, 2010.p.2; FONTES, 2011.p.320). Prova está que na versão de Almeida (2006, p.257), a Ação Católica Italiana foi fundada em 1867 sob o nome de Societá della

Gioventú Cattolica. Em alguns casos baseamo-nos nos sites institucionais das Ações Católicas

por todas as Ações Católicas que já progrediam nos países, tanto quanto instituir outras novas. Conjuntamente, alguns teólogos se aprofundavam sobre a questão e formulavam tratados a respeito do fenômeno. Lograva-se uma coesão institucional e dogmática.

Isto não foi diferente no Brasil. Os bispos responderam à convocação do papa, buscaram respeitar as orientações que foram demandadas pela Santa Sé e instalaram a ACB em 1935.

Os anos 1920 a 1950 foram marcados predominantemente pela instalação de uma Ação Católica geral em vários países. De forma semelhante, a Ação Católica no Brasil era geral e se instaurava nas paróquias com os seus segmentos de adultos e de juventude ainda não especializados por meio social. Concorria com outras associações laicas e com as atividades rotineiras dos ordenados, decorrentes do cargo de pároco ou de bispo que ocupavam.

A encíclica Ubi Arcano Dei, de 23 de dezembro de 1922, foi um marco na reelaboração do termo ‘ação católica’. O que antes era comumente utilizado para designar todo o apoio dos fiéis à Igreja, realizado por diferentes organizações católicas, passou a designar uma única instituição. O documento pontifício anunciava que era necessário o leigo atuar em movimentos organizados, os quais seriam denominados de ‘Ação Católica’. Também definia as bases ideológicas da AC que eram as de impedir um recuo maior da Igreja e preparar a reconquista do terreno perdido, apelando ao caráter apostólico ou ativista dos católicos. A partir do viés do que designou “descristianização do meio social”, propôs uma ação católica para reverter a situação e criar um mecanismo de controle das práticas sociais.

Na visão de Pio XI, a Ação Católica compunha a Igreja na seguinte hierarquia: ‘Cúria Pontifícia’, ‘Bispos’, ‘Sacerdotes e Religiosos’, ‘Leigos de Ação Católica’ e ‘Todos’. Nesta última classe, ‘Todos’, estavam os fiéis ou outras associações, gerando a percepção de que era dada mais importância a uma então recente organização (Encíclica Mens Nostra, 192949). Em decorrência deste status, algumas fraturas aconteceram entre a AC e as outras associações que coexistiram no período, como se observou no caso brasileiro, entre as Congregações Marianas e a ACB.

Outras encíclicas50 do pontificado de Pio XI referiam-se à Ação Católica como a “participação dos leigos no apostolado hierárquico”; “aprovada pela Igreja e constituída de associações especiais”; “colaboração do Estado secular (laical) no apostolado hierárquico”; “absoluta dependência da Ação Católica ao Episcopado ao qual pertence”; “auxiliares do sacerdote”, e com caráter assistencial, de formação de pessoal e de oração (Encíclicas Mens Nostra, Divini Illius Magistri, 1929; Non Abbiamo Bisogno, 1931; Ad Catholici Sacerdotii, 1935; Divinis Redemptori, Firmissimam Constantiam e Ingravescentibus Malis, 1937) 51.

Na passagem do pontificado de Pio XI para Pio XII, em 1939, a Segunda Guerra Mundial se pronunciava. Durante o papado de Pio XII, de 1939 a 1958, considerando que a situação de guerra perdurou por quase 6 anos (1939-1945), a Ação Católica não era o assunto mais urgente52. A Summi Pontificatus53, a primeira de seu pontificado, pedia “a colaboração dos leigos no apostolado

50 O papa Pio XI produziu 31 encíclicas e a grande maioria não versava sobre a AC. Serão

exploradas no corpo do texto aquelas Encíclicas que se estendem mais sobre a Ação Católica. Algumas apenas reforçam o apoio a ser dado à AC de cada país, como os casos da Acerba

Animi, de 29 de setembro de 1932, sobre a perseguição à Igreja no México, a qual recomenda

um maior apoio para Ação Católica. Ainda a Dilectissima Nobis, de 03 de junho de 1933, referente à opressão à Igreja Espanhola, em que convida os fiéis a se unirem junto à Ação Católica, e em Mit Brennender Sorge, de 14 de março de 1937, sobre a Igreja no Reich Alemão, inclui os apóstolos seculares de Ação Católica no lamento sobre a situação na Alemanha. Existiu ainda a Carta Laetus sane Nuntius para o I Congresso Nacional de Acción Católica Española, em 6 de novembro de 1929, que foi citada em algumas obras sobre a AC e à qual não se teve acesso direto. Outras cartas pontifícias, por sua vez, não objetivaram ou fizeram menção indireta à Ação Católica, tendo sido um total 26 cartas produzidas ao longo deste pontificado.

51 Na ordem, as encíclicas tratam da educação cristã da juventude, de 31 de dezembro de 1929;

da Ação Católica e o fascismo, de 29 de junho de 1931; dos poderes do clérigo; do comunismo, de 19 de março de 1937. A Encíclica Firmissimam Constantiam, de 28 de março de 1937, sobre a situação do México, diz sobre o objetivo último da Ação Católica, que era o de santificação das almas e das atividades de obras sociais. De acordo com o preceito evangélico, formar homens para o trabalho público e assistencial. “Mas também é verdade que, se a Acção Católica tem o dever de preparar os homens aptos a direcionar tais obras públicas e de apontar os princípios que devem guiá-los, com normas e orientações extraídas de fontes genuínas de nossas Encíclicas, não deve, não obstante assumir a responsabilidade nessa parte que é puramente técnica, financeira, econômica, que está fora de sua competência e fora do seu propósito”. A

Ingravescentibus Malis, de 29 de setembro de 1937, sobre o rosário da Virgem Maria, cita a Ação

Católica que devia adotar a oração para firmar-se diante dos desafios.

52 O papa Pio XII produziu mensagens de Natal (1939, 1940 e 1941) nas quais fixava os princípios

essenciais de uma ordem internacional, fundada na renovação moral e no restabelecimento da cooperação entre os povos a partir do cristianismo católico. (GONELLA, Guido. A reconstrução do mundo: anotações às mensagens de S. Pio XII publicadas por L’Osservatore Romano. Petrópolis, Ed. Vozes, 1945).

53Foram elaboradas 41 encíclicas sob o seu regime. A que citamos é acerca do paganismo, de

hierárquico” sem dar destaque propriamente à AC. Somente em 195154, citou-se mais objetivamente a Ação Católica na Evangelii Praecones55 que solicitava a sua ajuda nas atividades missionárias, como um desdobramento da presença da Igreja Católica na América Latina, na África e na Ásia, e promoção da formação de um clero nacional nos países mais distantes da Santa Sé (FONTES, 2011.p.156).

Essa encíclica, em especial, acentuava uma perspectiva histórica em relação à AC, colocando-a numa linha do tempo bastante ampla, desde a “origem da Igreja”. A narrativa discursiva apresentava-a como uma estratégia tanto da religiosidade cristã, quanto da instituição Igreja, sendo típica em diferentes momentos da história:

[...] pode-se afirmar que este auxílio dos leigos, que chamamos hoje Ação Católica, não faltou desde as origens da Igreja; e mais, que prestou notáveis serviços aos apóstolos e outros propagadores do evangelho e permitiu à religião cristã apreciáveis aumentos [...]

[...] desejamos, portanto, que em toda parte, na medida do possível, se constituam associações católicas de homens e mulheres, de estudantes, de operários, de artífices e de desportistas e além disso outras organizações e piedosos agrupamentos, que se possam chamar tropas auxiliares de missionários [...]

[...] apesar de a Ação Católica, como é sabido, dever exercitar principalmente sua atividade em promover obras de apostolado, nada impede os que foram recebidos nos seus quadros de fazerem parte de associação cujo fim é ajustar a vida social e política aos princípios do evangelho [...] (Encíclica Evangelii Praecones, 1951) (grifos nossos)

A Santa Sé não se preocupava em conceituar a Ação Católica de forma mais clara e ou defini-la juridicamente no interior da estrutura organizacional da

54 Foram 77 cartas dirigidas para vários representantes religiosos e de governos, sendo uma

somente para a Ação Católica. Quanto aos discursos, de 1939 a 1950, foram proferidos cerca de 450, deste total 11 foram destinados à Ação Católica. A saber, Aos Homens da AC, em 20 de setembro de 1942; 25º Aniversário da Juventude Feminina de Ação Católica Italiana, em 24 de abril de 1943; Aos participantes do Congresso proclamado pela Presidência Central da Juventude Italiana da AC, em 20 de abril de 1946; À Juventude Romana da AC, em 08 de dezembro de 1947; Aos membros da AC, em 07 de setembro de 1947; no 80º Aniversário da Juventude Italiana de AC, 12 de setembro de 1948; no 30º Aniversário da Juventude Feminina Italiana de AC, 05 de setembro de 1948; Alocução às Mulheres de AC Italiana, em 24 de julho de 1949; Radiomensagem aos Homens da Ação Católica Portuguesa, em 10 de dezembro de 1950. Reforçavam a conduta moral dos acistas, a formação integral, deveres religiosos e subordinação à Hierarquia.

Igreja. Tais linhas gerais e perspectivas teológicas e históricas demandavam dos teólogos a necessidade de se determinar mais precisamente tanto o que seria essa nova associação de fiéis, quanto o que seria o apostolado leigo. Contudo, tais estudos não se ativeram a que a expressão cunhada pudesse ter sido uma estratégia política da Igreja em relação ao fascismo56. Pois a fórmula do apostolado laico participando da Hierarquia poderia proteger os leigos da repressão política italiana, que não ousava ir contra o apostolado hierárquico (ESCARTIN CELAYA, 2010.p.3).

Surgiram obras que desenvolveram categorias que tornavam inteligível a Ação Católica para a comunidade católica de então. Havia o predomínio dos jesuítas na configuração da teorização primordial da Ação Católica, devido à larga experiência na promoção de organizações laicais e na educação. Autores como o jesuíta alemão Josef Will (1932), jesuíta belga Paul Dabin (1937), monsenhor italiano Luigi Civardi (1945) e jesuíta belga Fernand Lellotte (1947) eram citados na ACB e também nas Ações Católicas de outros países.

Normalmente as obras procuravam decifrar as encíclicas papais a partir de elementos buscados nos próprios textos religiosos, como na Bíblia, na filosofia cristã e na história da Igreja Católica, ou mesmo sugeriam novos pontos de vista sobre o tema. Muitas eram as considerações de que uma nova eclesiologia se fundava com o surgimento e a experiência da Ação Católica.

Outrossim, forjava-se uma mesma explicação seguindo o raciocínio de Pio XII sobre a essência da Ação Católica, a qual não era novidade no meio, era ‘antiga e permanente’. Enquadrava-se e explicava-se o surgimento da Ação Católica numa estrutura social mais ampla abrangida por um tempo de longa duração57, articulando a narrativa de maneira que este acontecimento de fundação da AC se anexasse “a si um tempo muito superior à sua própria duração” (BRAUDEL, 1965, p. 264).

56 Sobre a questão, uma carta encaminhada ao cardeal presbítero Alfredo Ildefonso Schuster,

arcebispo de Milão, em 26 de abril de 1931, defendia a Ação Católica Italiana que fora confundida com as associações fascistas de então. A encíclica Non Abbiamo Bisogno (1931) condenava propriamente o fascismo.

57 Usando o termo de Fernand Braudel (1965), um ‘tempo de longa duração’ permeia o objeto

ação católica, como recurso de análise. Assim são descritas nas obras grandes extensões da história, duração e estruturas sociais da própria Igreja. In: História e Ciências Sociais: a longa duração. Revista de História, ano XVI, vol. XXX, n.62, abr-jun, 1965. pp.261-94.

Assim os relatos históricos elaborados pelos autores e pelos papas acentuavam que a ação católica, no sentido lato, já aparecia nas cartas de Pio IX (1846-1878), Leão XIII (1878-1903), papa Pio X (1903-1914). Pio IX já falava da união dos leigos subordinada à direção hierárquica. Leão XIII solicitava aos leigos que fossem realizados congressos em união íntima com a Hierarquia e discutidos os melhores métodos de trabalho apostólico. Este mesmo papa também já sugeria que todas as associações agissem sob uma só e única direção, reservados os direitos e regulamentos de cada uma. Ainda, o papa Pio X elaborou um discurso de renovação do cristianismo, referindo que o clero necessitava de auxiliares e para isto os fiéis seriam convocados sob a direção dos bispos para se associarem e partirem para a ação. Com isso reforçava-se que a Ação Católica não era novidade. A explicação forjada desta forma atenuava as particularidades da organização, além de demonstrar que seus traços essenciais já haviam sido vivenciados pela Igreja. Contraditoriamente, também enquadravam a formulação da proposta de organização do laicato a um cenário de revelação e iluminação; portanto, inédita e “de um modo refletido, bem deliberado e pode-se mesmo dizer: não sem inspiração divina” (Pio XI, 19 de março de 1927, apud LELLOTTE, 1947, p. 20; DABIN, 1937.p.106-21; SANTINI, 1938.p. 270).

Essa dualidade presente no discurso religioso fazia parte do ethos da Igreja pois assim, no caso, enfatizava-se a dimensão temporal e espiritual da Ação Católica. Outra característica da dualidade era a de ressaltar que um mesmo objeto possuía duas concepções que não eram antagônicas, mas complementares. No caso da AC, eram expressões para defini-la: ‘Ação Católica em sentido lato e em sentido estrito’, ‘de modo direto e de modo indireto’, ‘em essência e aparência’, ‘análoga ou dessemelhante’. No Manual da Ação Católica (1945), escrito por Monsenhor Luigi Civardi, a organização era conceituada em “sentido restrito” como um conjunto orgânico de associações, em que os leigos exerciam toda a forma de apostolado, não só com a aprovação da Hierarquia eclesiástica, mas com mandato especial, sob a sua dependência direta e segundo as normas por ela determinadas. Por sua vez, em “sentido lato” era toda ação apostólica não organizada.

No que tange ao Brasil, até a institucionalização da ACB não havia objeções ao que Pio XI e Pio XII estabeleceram sobre essa organização laical.

Somente depois da promulgação e da instalação surgiram indícios de perplexidade e confusão por parte da Hierarquia e dos leigos diante do que representava a ACB geral. Autores como Alceu Amoroso Lima e padre João Batista Portocarrero Costa discorreram longamente sobre o sentido da definição da AC. Suas visões foram influenciadas por obras muito lidas “durante a época áurea da AC Geral”, como as de Paul Dabin, S.J, L´action catholique, e as do Monsenhor Civardi, Manuale di Azione Cattolica, citadas acima (CARVALHEIRA, 1983.p.11). Assim como Plínio Correa de Oliveira (1943) que, ao contrário, opôs- se a essas formas de pensamento e não obteve êxito junto à ACB.

A política de traduzir no Brasil e dar acesso a textos estrangeiros sobre as AC´s foi uma tentativa de homogeneização do movimento pelo mundo. Produziam-se opúsculos, folhetos paroquiais, boletins oficiais, dentre outros mecanismos de comunicação, para divulgar o movimento, explicar para o leigo e para o sacerdote do que se tratava essa nova organização. Não somente isto, também representava a eficácia da Igreja quanto à circularidade de ideias e das informações. Não obstante, se ainda induzimos que a romanização também teve um papel na estruturação da Ação Católica, as tantas citações de encíclicas e dos pronunciamentos dos papas pelos diferentes sacerdotes estrangeiros e brasileiros confirmavam o respeito a uma Hierarquia de jurisdição.

Nesse sentido, era necessário compreender os traços dessa produção pontifícia e dessa fundamentação teórica estrangeira a respeito da natureza da Ação Católica porque se reprisariam os mesmos pressupostos no Brasil. Ao mesmo tempo essa leitura permitiria acompanhar o que acontecia com as demais AC´s pelos países católicos, pois o que se forjava em termos teóricos era simultaneamente elaborado com uma experiência que se firmava.

À época, dito já, era dado destaque às obras de Paul Dabin. O jesuíta escreveu a L´action catholique, em 1929, e daí lançou uma trilogia completada por L´Apostolat laique (1931) e Principles d´Action Catholique (1937). Foi um teólogo influente e próximo de Pio XI, pois se aliou a outros religiosos para combater o intelectual Charles Maurras (1868-1952), que se colocava como líder da Ação Francesa, movimento de cunho nacionalista e integralista, monárquico e antidemocrático. Maurras difundia suas ideias nos círculos mais tradicionalistas católicos e as mesmas foram condenadas publicamente por Pio

XI (SARANYANA, 2004.p.154). Segundo Pierre Harmel (apud Lellotte, 1947. s/p), “Dabin foi expoente nesta matéria”58.

No Brasil, o livro O apostolado leigo, publicado pela Empresa Editora ABC Limitada, do Rio de Janeiro, foi traduzido em 1937, após 6 anos do seu lançamento. A obra detalhava os significados das notas essenciais da AC, apresentadas pelos papas Pio XI e Pio XII. Do ponto de vista do autor, fazia-se necessário prestar esclarecimentos factuais e teológicos do que representavam os tais atributos: “participação do laicato no apostolado hierárquico”, “a