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A CONSCIÊNCIA CRIADORA

No documento Livro AUM (páginas 109-117)

Q

uando nos referimos à Consciência Criadora surgem imediatamente, ante nós, as consi- derações mais profundas e, ao mesmo tempo, as mais inverossímeis.

Sem dúvida, a humanidade em geral conhece, na atualidade, muito pouco do que seja a Consciência. É comum confundir-se a “consciência-conhecimento” dos psicólogos modernos com a Consciência-Inteligência Universal, ou seja, o Budhatathagatha, o Tao ou Anima

Mundi dos antigos.

A esta Consciência total, fonte de toda geração biótica e matriz de toda função vital na totalidade da Natureza Universal nomeamos “Krenal” em oposição ao princípio “Ontos”, que é a fase mais primitiva da realidade manifestada. Para facilitar a expressão daquilo sobre o que estamos falando, referirmo-nos a ela como Consciência Cósmica.

Estamos completamente impregnados desta Consciência Cósmica e nela nos movemos, pois é a fonte imanente de toda possível realidade. Os Tattwas ou princípios vitais encontram nela suas fases primordiais de atualização, e a isso se deve que possamos dizer: todos somos veículos circunstanciais de seus eternos desígnios. A Vida tem todas as suas possibilidades

dentro dessa Consciência Cósmica e nós somos apenas sua expressão, se bem que essa expressão varia de

acordo com o nosso grau de capacidade para despertar e viver no íntimo de nossa Consciência.

Os místicos de todas as escolas conhecidas designaram esta Consciência sob diversos nomes. Os Budistas, em sua Filosofia Fundamental se referem a ela como Budha, pois Budha é tudo aquilo fundamentalmente real e transcendente. Os gnósticos primitivos ou cristãos e bonitas (ou de São João Batista) chamavam-na Chrestos ou Consciência Imanente Universal, e os cristãos a converteram mais tarde em Cristo ou o Filho do Pai Eterno.

Quando o indivíduo consegue aplacar suas paixões e canalizar de forma dignificante seus desejos e aspirações, emoções e ideais, consegue despertar paulatinamente no íntimo de seu ser essa Consciência Universal ou Cósmica e se converte em adequado veículo de expressão da verdadeira e eterna realidade, aquilo que fica implícito quando se alude ao Espírito Santo ou Alento Divino, se por “espírito” e “divino” se entende a energia eterna que se atualiza em múltiplas

formas, sumamente inteligente e sempre criadora.

A verdadeira Sapiência somente é uma realidade quando se consegue viver em plena realização dessa Consciência Cósmica, isto é, em serena plenitude ecumênica, que proporciona a “visão eterna” e nos faz viver na harmonia do indiferenciado. Isto chamamos de Vida Impessoal ou ecumênica, mas que, para facilitar sua expressão, denominamos a Comunhão Mística.

A realização Consciente que nos coloca em ínti- ma relação com as fases fundamentais e superiores

da vida, fazendo-nos sentir profundamente o senti- do transcendental da Realidade, é uma genuína co- munhão mística, porque atualiza em nós o eterno, a Consciência Cósmica imanente do Indiferenciável. A Comunhão Mística é o sentido íntimo da vida, o motivo e significação da realidade cósmica, ou seja, a Nature- za Universal em suas fases primordiais e transcenden- tais. Quando se sabe o que é a vida em si e quando a pessoa percebe a sublime valia que subjaz em todo o existente, vibra harmoniosamente com o infinito, com o ulterior ou essencial, vive euforicamente. Isso se entende por Comunhão Mística, porquanto, então, se está em sutil concordância com o fundamental e perene da realidade.

A Consciência Cósmica, portanto, é o estado constante de plenitude eufórica dentro do magnífico concerto da Vida Universal. Isto se pode denominar como “ente” substantivo, chamando-o, abertamente,

O CÓSMICO.

Mas não se trata aqui de um “ser” ou de uma “entidade formal”, porquanto carece de toda circunscrição e escapa a todo intento de limitação. Ninguém saberia fixar-lhe proporções nem reluzi-lo a termos doutrinais, porquanto é uma realidade per si, isto é, que não se pode inferir sem integrar-se nela pela via da consubstanciação ou função subliminal, operada pelas realizações da Consciência.

A Consciência Cósmica é o SummumBo num ideal de toda filosofia sã e edificante e, também, é a meta da verdadeira espiritualidade, por ser a conscientiza- ção geral perfeitamente condicionada através de suas

múltiplas fases de variada expressão, em casos inte- ligentemente condicionados. Ela penetra tudo no in- finito campo da realidade universal e eterna e subjaz através de todas as mutações operadas ao compasso do Verbo Eterno.

O indivíduo pode conseguir realizações dessa Cons- ciência Cósmica ou Universal de diversas maneiras. Mui-

tas formas de intuição se revestem dessas caracterís- ticas. A meditação profunda e sustentada pode levar a

tais alcances de realização subliminal, facilmente reco- nhecidos por seu sentido universal ou ecumênico.

O conceito acrisolado, ulterior em suas finalidades e condensações subjetivas, além de toda coordenação metafísica e que cai plenamente na compreensão inefável e apenas inarticulável da realização mística, também pertence a esse gênero de conquista, em que a percepção e toda a função mental do indivíduo, se perde em noções imprecisas, porém transcendentes do ulterior e universal. Muitas formas de sonho e de inspiração também o são, especialmente de caráter profético. O amor, em suas fases excelsas, também pertence a esse gênero de transposições do indivíduo no infinito universal.

Porém, estas conquistas escapam a todas as argúcias e logogrifos metafísicos em que jogam papel decisivo somente as investigações de ordem puramente teórica. A Comunhão Mística não é um assunto dialético ou retórico, mas de experiência íntima e profunda, ampla e categórica, funcional e criadora na certeza e na substância do ser. Toda a explicação deste fato pertence já à ordem das divagações teóricas e das

coordenações metafísicas que são somente tentativas esforçadas e pouco convincentes para patentear e demonstrar a viabilidade ou realidade de hipóteses dogmáticas.

A verdadeira Comunhão Mística se vive, se

sente e se realiza sem paralisar as mentes em

enunciados mais ou menos carregados destruímos ou demasiadamente abstratos.

Para muitos filósofos, a problemática da Consciência gira em torno do fato da existência do pensamento e da imanente realidade universal; ou se esta ou aquele são exclusivos e primordiais; ou, ainda, se é necessário negar validade a um destes dois e quando se deve conceder preponderância absoluta a um sobre o outro. Do nosso ponto de vista, pouco importa qual seja a categoria que se queira assumir, pois não concebemos nenhuma importância em tais posicionamentos ou preferências, de ordem puramente esquemática e sem validade demonstrada.

Isto corresponde ao complexo “achar dificuldades e conceber problemas”. Assim, a mente humana

não cultivada, gosta de engendrar dúvidas e criar dificuldades de toda a espécie. É que a mente humana

faz a si própria, espelho e até reflexo da realidade universal, reproduzindo ou projetando as coisas e os fatos em forma de pensamentos ideais, de acordo com sua própria capacidade interpretativa, conceptual, interceptadora e, ainda representativa. Daí que a Consciência Cósmica não pode ser completamente traduzida ou realizada pela mente sem a adequada preparação e, o mais comum, é que esta deforme

aquela ou lhe dê qualquer condição em forma de expressividade.

Todos os males do mundo, nisto incluindo as crises de que padece a nossa presente humanidade, se devem precisamente a essa ingênita inépcia da mente para se constituir em veículo apropriado da Consciência Cósmica, o que acaba redundando naturalmente em

incontáveis complexidades e numa carência quase absoluta de capacidade para a Comunhão Mística, derivando-se daí, então, todos os males já crônicos de nossa desventurada espécie humana, que parece esmerar-se em ser infeliz e em viver antinaturalmente e inimizada com os únicos valores verdadeiros do majestoso armazém da Natureza Universal.

Tanto a ciência como a religião têm de se encaminhar para estas realizações transcendentais, de ordem ecumênica, tendentes a tornar cada vez mais patente o essencial e o primordial no formal e no transitório, o espiritual no material.

A experiência íntima, profunda, da Comunhão Mística é a que nos pode proporcionar uma solução definitiva a todas as nossas inquietudes e a todos os nossos problemas, não com fantasias e teorias, mas, sim, com novíssimas realizações transcendentais e atitudes mentais verdadeiramente edificantes e fundamentadas no essencial da realidade eterna. Aí, todos os conhecimentos se esfumam, achando sua

Nêmeses1 frente a realizações de ordem superior

1 Nêmeses é a Deusa justa e imparcial que reserva sua cólera unicamente

para aqueles cuja inteligência se acha extraviada pelo orgulho, pelo egoís- mo e pela impiedade. É Carma.

da mente, na qual não entra em comparação nem a função intelectual, nem o raciocínio nem, ainda, as divagações teóricas. A Consciência Cósmica não está esquematizada, nem a verdadeira sabedoria tampouco consiste em definições doutrinárias. O infinito flui na mente, e no íntimo do nosso ser quando estamos adequadamente predispostos e em harmonia com o essencial da realidade vida.

Existe somente uma Consciência, a Consciência Cósmica. Aquilo que nós, indivíduos humanos, chamamos “nossa consciência” é uma paródia, um vago disfarce da Consciência Cósmica, que todos nós pressentimos dentro de nosso inato misticismo, mas que raras vezes conseguimos conceber e compreender. Todo esforço realizado em favor de nosso próprio ser, por meio de um profundo cultivo ou de uma estimulante disciplina, tende a favorecer nossa mente conceitual, funcional e emotivamente, com a finalidade de servir

de veículo à Consciência Cósmica.

Para muitos, esta Consciência Cósmica é o Espírito Universal, enquanto que outros a chamam Alaya, Anima

Mundi, Brahma ou Deus. Mas, com que finalidade nos

confundimos com palavras altissonantes que nada explicam? O importante é realizar, compreender

essa Realidade Eterna e depois servi-la, vivendo em harmonia com seus princípios e inspirações.

Segundo as necessidades das épocas e segundo os fundamentos dos diversos e diferentes círculos da vida essa mesma Consciência Cósmica assume diversas formas de apresentação. Ora tem por nome Rama, Krishina, Zoroastro, ou então Budha, Cristo ou

ainda o Cosmos ou a Inteligência Universal. Por que mudar o nome, a etiqueta ou a marca se o sentido, o conteúdo ou a realidade a que se alude são os mesmos? O verdadeiramente importante está mais na compreensão do que se conseguem disto tudo e do fato de que nos convertamos em adequados veículos de seus valores fundamentais e objetivos transcendentes, o que de outra forma constitui a única finalidade edificante e digna da vida.

A INICIAÇÃO ESOTÉRICA E A

No documento Livro AUM (páginas 109-117)

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