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A consolidação da área de Educação Matemática da Unicamp: o atual Programa de

O Programa de Pós-Graduação do Ensino de Ciências e Matemática, em nível de mestrado, foi o primeiro canal no qual se desenvolveram os primeiros estudos acadêmicos

de dissertações sobre Educação Matemática na Unicamp. Embora esse Programa tenha vigorado entre 1975 e 1984 no IMECC, foi na Faculdade de Educação da Unicamp que a Educação Matemática se consolidaria, anos mais tarde, como área de concentração do Programa de Pós-Graduação em Educação.

A implantação da Pós-Graduação stricto sensu em Educação ocorreu em 1975, expandindo progressivamente em cinco áreas de concentração de mestrado, correspondentes aos cinco departamentos: (1) Filosofia e História da Educação; (2) Administração e Supervisão Educacional; (3) Psicologia Educacional; (4) Ciências Sociais Aplicadas à Educação e, (5) Metodologia de Ensino. Posteriormente, foi criado o doutorado nas respectivas áreas de Filosofia e História (1980), Metodologia de Ensino (1983), Psicologia da Educação (1985) e Administração Educativa (1986). Mas seria na década seguinte, mais precisamente em 1994, que se criaria uma nova área interdepartamental, denominada Educação Matemática, nos níveis de mestrado e doutorado.

Os primeiros trabalhos da Faculdade de Educação foram produzidos isoladamente em termos do ano de produção, isto é, na primeira década (1976-1986) foram defendidas sete dissertações e uma tese de doutorado, originárias das áreas de concentração Metodologia de Ensino e Psicologia Educacional. Somente a partir de 1989 é que a produção seria praticamente anual, iniciando um processo de expansão e crescimento no programa de pós-graduação, pois de 1989-1993 (ano anterior à criação da área de concentração em Educação Matemática) foram produzidas mais de quatro dezenas de pesquisas, considerando que os ingressantes do mestrado de 1994 defenderiam somente a partir de 1996, ainda sem a titulação em Educação Matemática.

Antes da criação da área de concentração de Educação Matemática, os (16) estudos predominavam aspectos da psicologia e desenvolvimento de habilidades cognitivas. Já começavam a apontar oito trabalhos relativos à história da educação matemática. Conforme Fiorentini (1994), neste mesmo período, isto é, antes de criada a Educação Matemática no Programa de Pós-Graduação em Educação, quatro grupos se destacaram pelo uso de uma diversidade teórico-metodológica e temática. O primeiro grupo consistia em pesquisas que focalizavam a produção, desenvolvimento e experimentação de propostas metodológicas,

como os relatos críticos de experiências, estudos de caso ou pesquisa-ação. O segundo grupo, referia-se aos estudos analíticos e históricos do ensino da matemática e/ou de sua produção científica e pedagógica, como os estudos bibliográficos. Outro grupo se concentrava nas questões cognitivas e/ou da psicologia e, por último, estudos histórico- filosóficos e epistemológicos.

No período que antecedeu a instituição da área de concentração em Educação Matemática, existiam cinco áreas de mestrado e quatro de doutorado. Até o ano de 1993, havia na grade curricular do Programa de Pós-Graduação em Educação apenas duas disciplinas dirigidas ao ensino de matemática (FE-480 Matemática e Ensino I e FE-484 Matemática e Ensino II).

O Programa de Pós-Graduação de mestrado e doutorado em Educação, contendo a área de Educação Matemática, foi reconhecido pelo Ministério da Educação em 1995 (portaria MEC 1461/95), configurando-se num programa recomendado pela Capes com todas as suas avaliações.

A primeira tese em Educação Matemática defendida na FE em 1976 foi o marco inicial para o presente estudo dissertativo. Desde esta data, até julho de 2003, foram produzidas na FE/Unicamp, 154 pesquisas (66 teses e 88 dissertações). O ano de 2002 foi o ano com maior produção, com 22 pesquisas entre mestrado e doutorado e, em 1998 houve maior número de orientadores, o que pode indicar uma diversidade de interesse em temas de pesquisa diferenciados.

De fato, ao agruparmos as pesquisas desse ano por temas, identificamos estudos sobre questões do desenvolvimento de habilidades cognitivas, sobre a formação do professor, prática pedagógica e metodologia de ensino, história da matemática, o uso de recursos didáticos e análise de crenças e concepções de professores.

Em 1998, a Congregação da Faculdade de Educação aprovaria a proposta de reformulação que incluía a transformação de áreas de concentração departamentais em áreas de concentração temáticas de natureza interdisciplinar, reunindo vários grupos de pesquisa93. As oito áreas de concentração do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de

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Cf. Catálogo do Programa de Pós-Graduação em Educação da FE/Unicamp, 2004.

Educação da Unicamp, que vigoraram de 1998 a 200594, são: (1) Políticas de Educação e Sistemas Educativos; (2) Educação, Ciência e Tecnologia; (3) História, Filosofia e Educação; (4) Ensino, Avaliação e Formação do Professor; (5) Psicologia, Desenvolvimento Humano e Educação; (6) Educação Matemática; (7) Educação, Conhecimento, Linguagem e Arte; e, (8) Educação, Sociedade, Política e Cultura.

Posteriormente à criação da área de concentração Educação Matemática, em 1994, houve uma ampliação no quadro de disciplinas oferecidas pelo programa de pós-graduação, referentes à matemática e seu ensino, o que declarava a emergência do campo investigativo na instituição. Assim, as disciplinas desenvolvidas no mestrado e doutorado em Educação, área de concentração Educação Matemática eram: (i) Psicologia da Educação Matemática, (ii) Estatística e Pesquisa em Educação, (iii) Solução de Problemas em Matemática, (iv) Mudança Conceitual e Solução de Problemas, (v) Construtivismo e Educação Matemática, (vi) Psicologia Cognitiva I, (vii) Psicologia Cognitiva II, (viii) Processamento de Informação, (ix) Fundamentos Teórico-Metodológicos sobre Ambientes Computacionais, (x) Problemas e Tendências da Educação Matemática, (xi) Metodologia da Pesquisa em Educação Matemática, (xii) Didática para o Ensino de Matemática, (xiv) Planejamento e Produção de Material Instrucional, (xv) Etnomatemática, (xvi) Modelagem Matemática, (xvii) Educação Matemática e Meio Ambiente.

A partir de 1998, algumas dessas disciplinas seriam substituídas por outras que atendessem às demandas dos grupos de pesquisa Hifem e Prapem, tais como: História da Educação Matemática, Fundamentos histórico-epistemológicos da Matemática Escolar, Dimensão semiótica da tecnologia na Educação e na Educação Matemática, Saberes docentes e formação do professor, Pesquisa e Prática Pedagógica em Matemática.

Agregando a esse rol de disciplinas, o Programa de Pós-Graduação em Educação da Unicamp, oferece uma atividade paralela sob responsabilidade de cada grupo de pesquisa, denominada Atividades Programadas de Pesquisa. Além disso, a Unicamp oferece meios para a formação e prática supervisionada a seus alunos pós-graduandos, e não formar

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Embora nosso estudo tenha como limite máximo julho de 2003, consideramos o período da redação final desta dissertação, 2006; salientamos que os Departamentos da FE já apresentaram novas alterações e, conseqüentemente, as áreas de concentração do programa stricto sensu em Educação. Mais detalhes, acessar . <www.fae.posgrad.unicamp.br>.

somente profissionais exclusivamente pesquisadores, mas que os mesmos tenham experiências no ensino de matemática e a sala de aula, como é o caso do Programa de Estágio Docente (PED).

Após o surgimento da área de concentração em Educação Matemática, em 1994, três grupos de pesquisa constituíram-se para dar suporte à área: Prapem, Psiem e, dois anos mais tarde, o Hifem.

O Psiem tem investigado os processos relacionados à formação de conceitos, princípios, solução de problemas, desenvolvimento de atitudes, habilidades e estratégias cognitivas de técnicas de mensuração. Seus estudos apresentam uma abordagem cognitivista e construtivista. Este grupo conta com a participação e orientação de duas professoras95 (Catálogo, 2004, p. 24).

O Hifem tem desenvolvido estudos histórico-filosóficos em Educação Matemática, contando com pesquisas que se processam no âmbito da história e da filosofia da Educação Matemática brasileira; no âmbito das relações entre história cultural da matemática, epistemologia da matemática e ensino-aprendizagem; no âmbito das concepções, crenças e representações da matemática e do seu ensino em diferentes épocas e contextos e; estudos histórico-pedagógicos temáticos. Este grupo conta com dois professores orientadores96 (Catálogo, 2004, p. 26).

O Prapem tem tomado como objeto de estudo a atividade pedagógica em matemática e os processos de formação e constituição profissional do professor de matemática. Seus estudos abordam as relações, interações e significações entre aluno, professor e conteúdo que se produzem na prática cotidiana das aulas de matemática; projetos e experiências de inovação curricular e de formação continuada de professores de matemática; concepções, crenças, representações sociais e saberes profissionais daqueles que produzem a prática escolar em matemática; produção científica sobre a prática pedagógica em matemática; produção científica sobre a prática pedagógica; tecnologia e

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Para saber mais, acessar: <www.fae.posgrad.unicamp.br/psiem>. Embora as dissertações e teses dessa temática se desenvolvam na “Área 5 — Psicologia, Desenvolvimento Humano e Educação”, o grupo Psiem desenvolve estudos em Educação Matemática.

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Maiores informações, disponível em: <www.cempem.fae.unicamp.br/hifem>.

desenvolvimento conceitual em matemática. Este grupo conta com cinco professores orientadores97 (Catálogo, 2004, p. 28).

Devido aos interesses variados do Prapem, surgiriam, a partir de 1999, seis subgrupos98 de estudo e pesquisa. O GEPFPM é um desses, tendo como foco de estudo o professor que ensina matemática.

O GEPFPM foi criado pelo interesse de alunos da pós-graduação que sentiram a necessidade de discutir acerca do tema vinculado a sua pesquisa de doutorado e particularmente relacionado à Educação Matemática. Porém, na época, não estava sendo oferecida nenhuma disciplina aberta sobre a formação do professor que ensina matemática no Programa de Pós-Graduação em Educação. Desse modo, duas alunas envolvidas propuseram aos responsáveis pela disciplina Seminário de Pesquisa, que estava sendo oferecida, matricular-se, mas com o intuito de desenvolver atividades paralelas que seriam acompanhadas e avaliadas pelos professores da referida disciplina. Nessas condições, a proposta foi aceita pelo professor Dario Fiorentini, o qual se responsabilizou por acompanhar o grupo. O interesse estendeu-se a outros alunos da Educação Matemática, não sendo, portanto, apenas duas alunas, pois outros doutorandos também abraçaram a idéia99.

Assim, as atividades do grupo foram, gradativamente, ganhando “corpo”, de tal forma que, no final de 1999, já havia se consolidado “um grupo com características peculiares. Em primeiro lugar, porque surgiu da necessidade de alunos e, em segundo, porque não possuía uma estrutura hierárquica de coordenação. O grupo decidia conjuntamente seus rumos e se responsabilizava por segui-los” (ver livro de Atas do GEPFPM).

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Maiores informações, disponível em: <www.cempem.fae.unicamp.br/prapem>.

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Os subgrupos do Prapem: (1) GPAAE (Grupo de Pesquisa-ação em Álgebra Elementar, hoje autodenominado “Grupo de Sábado” — GdS e que reúne professores escolares e universitários); (2) Educação Matemática Conceitual (reunindo professores escolares e universitários); (3) TDCEM (Grupo de pesquisa Tecnologia e Desenvolvimento Conceitual em Educação Matemática, ligado ao LAPEMMEC — Laboratório de Pesquisa .em Educação Matemática Mediada por Computador) do Cempem/FE/Unicamp; (4) EMJA (Educação Matemática de Jovens e Adultos); (5) GEPFPM (Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Formação de professores de matemática, que reúne professores, mestrandos e doutorandos); (6) Educação Estatística (grupo em processo de constituição).

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Na época, 1999, o GEPFPM foi criado inicialmente por motivação das doutorandas: Ana Cristina Ferreira e Celi Aparecida Espasandin Lopes. Logo em seguida, ingressaram outros doutorandos: Paulo César Oliveira, Gilberto Francisco Alves Melo, Diana Victoria Jaramillo Quiceno e Alfonso Jiménez Espinosa. E em 2000, Renata Anastácio Pinto, Valéria de Carvalho e Adair Mendes Nacarato.

Inicialmente, o objetivo principal do subgrupo era constituir a própria história da pesquisa sobre formação de professores, sobretudo as tendências atuais que concebiam o professor como profissional reflexivo que produz conhecimentos oriundos de sua prática. Dessa forma, o subgrupo buscou aportes teóricos e metodológicos em textos voltados ao tema, contemplando autores tais como Ázcarate, Chapman, Cooney, Elliot, Jaworski, Lytle e Cochran-Smith, Marcelo Garcia, Nóvoa, Ponte, Zeichner e também Ferreira, Fiorentini, Nacarato e Pinto (ver GEPFPM). As leituras e discussões desses textos foram sendo incorporadas aos projetos de pesquisa dos pós-graduandos, resultando, posteriormente, em artigos, dissertações e teses.

Esse subgrupo evoluiu e desenvolveu o tema de forma tal que publicaria dois livros:

Formação de professores de matemática: explorando novos caminhos com outros olhares

(2003)100 e, Cultura, formação e desenvolvimento profissional de professores que ensinam

matemática (2005)101; além de vários artigos de pesquisa como é caso de: Ferreira (2003), Fiorentini et al. (2002, 2003, 2004, 2005a, 2005b), Nacarato et al. (2003), Passos et al. (2004, 2005) e Miskulin et al. (2005).

Nesse período de 27 anos e meio, a Educação Matemática foi se constituindo e ganhando espaço na instituição além do reconhecimento da comunidade de educadores matemáticos.

Para compreender o processo de desenvolvimento da Educação Matemática na Unicamp e principalmente com o propósito de mapear e descrever historicamente a pesquisa acadêmica da instituição buscamos nas dissertações e teses, identificar as temáticas que permeiam a totalidade dessas produções acadêmicas. Para tanto, nosso processo de identificação foi, inicialmente, apoiado pela categorização estabelecida por Fiorentini (1994), o qual identificou quatro grupos relativos aos estudos da Unicamp produzidos até 1990: (i) relativo ao desenvolvimento e à experimentação de propostas metodológicas ou de projetos curriculares, caracterizados como relatos críticos de experiência, com estudos de caso e pesquisa-ação; (ii) estudos analíticos e históricos do

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FIORENTINI, Dario. (Org.). Formação de professores de matemática: explorando novos caminhos com outros olhares. Campinas: Mercado de Letras, 2003.

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FIORENTINI, Dario; NACARATO, Adair Mendes. (Org.). Cultura, formação e desenvolvimento

profissional de professores que ensinam matemática. São Paulo: Musa Editora; Campinas, SP:

GEPFPM/PRAPEM/FE/Unicamp, 223p, 2005.

ensino da matemática e/ou de sua produção científica e pedagógica; (iii) estudos psicológicos e/ou cognitivos e, por fim, (iv) estudos histórico-filosóficos e epistemológicos. Consideremos, no entanto, o fato da nossa pesquisa ampliar treze anos do período investigado por Fiorentini (1994), o que contempla também a criação da área Educação Matemática e seus respectivos grupos (Hifem, Psiem e Prapem) na Unicamp o que propiciou ao desenvolvimento de ampliação das temáticas.

A seguir, apresentamos com mais detalhes o movimento da pesquisa em Educação Matemática da Unicamp, tomando como referência as dissertações e teses produzidas principalmente no IMECC e na FE.

4.3 FE e IMECC: berços da pesquisa em Educação Matemática da Unicamp: