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diciembre de 1966, respectivamente Además tiene oficinas nacionales en Buenos Aires,

3.6 A CONSOLIDAÇÃO DA REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA

Feita essa síntese histórica sobre alguns fatos/acontecimentos que marcaram/definiram o que se conhece contemporaneamente por educação profissional e tecnológica, faz-se referência a um dos marcos dessa pesquisa: a Lei no 8.948/1994 sancionada pelo governo Itamar. Essa Lei/1994, além de reconhecer a existência da Educação Tecnológica brasileira, abordou algumas questões centrais para essa modalidade de educação, tais como: a) instituiu o Sistema Nacional de Educação Tecnológica; b) criou o Conselho Nacional de Educação Tecnológica; e c) transformou todas as Escolas Técnicas Federais criadas pelas Leis Federais nos 3.552/1959 e 8.670/1993 em Centros Federais de Educação Tecnológica. É pertinente resgatar que a implantação de cursos superiores de tecnologia, excluindo os casos dos cursos de engenharia de operação, deu-se basicamente no estado de São Paulo e em cinco instituições não federais de ensino superior, todas com base nos artigos 18 a 23 da Lei Federal n.o 5.540/1968.

Assim, considerando toda essa nova gama de desenvolvimentismo tecnológico incorporado pela indústria e setor de serviços, e a tendência do alargamento do consumismo pela base da sociedade na contemporaneidade, no que tange aos princípios estabelecidos no artigo 3o da Lei no 9.394/1996, para toda a Educação Escolar, conselheiros do CNE no Parecer CNE/CP no 29/2002 se apropriam deles, ratificando-os e alertando para que sejam efetivamente considerados nos Projetos Pedagógicos dos Cursos da Educação Profissional de Nível Tecnológico, dentre os quais se destacam:

a) liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; b) pluralismo de ideias e de concepção pedagógica;

c) respeito à liberdade e apreço à tolerância; d) valorização do profissional da educação escolar;

e) gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; f) garantia do padrão de qualidade; e

g) vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. (BRASIL, 2008e, p. 367).

Além desses princípios citados, conselheiros do CNE no Parecer CNE/CP n.o 29/2002, afirmam que a Educação Profissional de Nível Tecnológico deverá:

a) incentivar o desenvolvimento da capacidade empreendedora e da compreensão do processo tecnológico, em suas causas e efeitos;

b) incentivar a produção e a inovação científico- tecnológica, e suas respectivas aplicações no mundo do trabalho;

c) desenvolver competências profissionais tecnológicas, gerais e específicas, para a gestão de processos e a produção de bens e serviços; d) propiciar a compreensão e a avaliação dos impactos sociais, econômicos e ambientais resultantes da produção, gestão e incorporação de novas tecnologias;

e) promover a capacidade de continuar aprendendo e de acompanhar as mudanças nas condições do trabalho, bem como propiciar o prosseguimento de estudos em cursos de pós- graduação;

f) adotar a flexibilidade, a interdisciplinaridade, a contextualização e a atualização permanente dos cursos e seus currículos;

g) garantir a identidade do Perfil Profissional de conclusão do curso e da respectiva organização curricular. (BRASIL, 2008e, p. 368-378).

Está devidamente posto, por parte de conselheiros do CNE, nos Pareceres CNE/CES no 436/2001 e CNE/CP no 29/2002, a sua própria contradição que ora vê a Educação Profissional e Tecnológica como uma modalidade de educação e em outros momentos a subjuga a mero assistencialismo social com vínculo estreito ao fazer produtivo.52 Outra

52 “Apenas a mais ampla das concepções de educação nos pode ajudar a perseguir o objetivo de

uma mudança verdadeiramente radical, proporcionando instrumentos de pressão que rompam a lógica mistificadora do capital. Essa maneira de abordar o assunto é, de fato, tanto a esperança como a garantia de um possível êxito. Em contraste, cair na tentação dos reparos institucionais formais – ‘passo a passo’, como afirma a sabedoria reformista desde tempos imemoriais – significa permanecer aprisionado dentro do círculo vicioso institucionalmente articulado e protegido dessa lógica autocentrada do capital. Essa forma de encarar tanto os problemas em si como as suas soluções ‘realistas’ é cuidadosamente cultivada e propagandeada nas nossas sociedades, enquanto a alternativa genuína e de alcance amplo e prático é desqualificada aprioristicamente e descartada bombasticamente, qualificada como ‘política de formalidades’.

constatação se refere ao fato de a educação brasileira, como já destacado, organizar-se/estruturar-se mediante uma série de legislações, constituídas por instrumentos, como: Leis, Decretos, Portarias, Pareceres, dentre outros, decorrentes da visão de integrantes de partidos políticos que assumem cargos do aparelho do Estado brasileiro.

Na visão de conselheiros do CNE manifestada no Parecer CNE/CP no 29/2002, o “MEC apresenta os cursos superiores de tecnologia como ‘uma das principais respostas do setor educacional às necessidades e demandas da sociedade brasileira’”, em sua compreensão porque “o progresso tecnológico vem causando profundas ‘alterações nos modos de produção, na distribuição da força de trabalho e na sua qualificação’.” O interessante a se observar é o fato de conselheiros do CNE interpretarem que a “‘a ampliação da participação brasileira no mercado mundial, assim como o incremento do mercado interno, dependerá fundamentalmente de nossa capacitação tecnológica’.” Essa capacidade tecnológica, contudo, na avaliação de conselheiros do CNE deve se dar mediante uma formação profissional que seja possível “‘perceber, compreender, criar, adaptar, organizar e produzir insumos, produtos e serviços’”, reafirmando, segundo a sua visão, que “‘os grandes desafios enfrentados pelos países estão, hoje, intimamente relacionados com as contínuas e profundas transformações sociais ocasionadas pela velocidade com que têm sido gerados novos conhecimentos científicos e tecnológicos’”, com vistas à “‘sua rápida difusão e uso pelo setor produtivo e pela sociedade em geral’.” (BRASIL, 2008e, p. 335).

Com relação ao aprofundamento do vínculo produtivo da educação profissional, destaca-se mais uma edição da reforma dessa educação em 17 de abril de 1997, viabilizada pelo Decreto no 2.208 do governo FHC. O contexto em que se originou o Decreto no 2.208/1997 já foi devidamente pesquisado mediante o desenvolvimento de inúmeras pesquisas, como as de Marcos Dias e Lima Filho (2004), Frigotto (2005), Ciavatta (2003) e Cunha (2000). Em síntese, tratou-se de mais uma reforma executada pelo governo FHC e, de certa forma, aceita

Essa espécie de abordagem é incuravelmente elitista mesmo quando se pretende democrática. Pois define tanto a educação como a atividade intelectual, da maneira mais tacanha possível, como a única forma certa e adequada de preservar os ‘padrões civilizados’ dos que são designados para ‘educar’ e governar, contra a ‘anarquia da subversão’. Simultaneamente, ela exclui a esmagadora maioria da humanidade do âmbito da ação como sujeitos, e condena-os, para sempre, a serem apenas considerados como objetos (e manipulados no mesmo sentido), em nome da suposta superioridade da elite: ‘meritocrática’, ‘tecnocrática’, ‘empresarial’, ou o que quer que seja.” (MÉSZÁROS, 2008, p. 48-49).

pelas autarquias da Rede Federal de Educação Tecnológica, porém com inúmeras manifestações em contrário, por um governo que se rendeu às necessidades dos detentores do capital. Frigotto (2007, p.1140) compreende que “o Decreto no 2.208/1997 também induziu a maioria dos Centros Federais de Educação Tecnológica a um direcionamento que reduziu o tecnológico a um upgrade da formação técnico- profissional”, caracterizando “um caminho inverso, portanto, ao sentido mesmo de educação tecnológica como base ou fundamento científico das diferentes técnicas e de formação humana nos campos social, político e cultural.”

Assim, compreende-se que o Decreto no 2.208/1997 foi idealizado na premissa de separar a formação de cunho propedêutico da educação técnica, flexibilizando os currículos dos cursos técnicos de nível médio de forma a lhes oportunizar agilidade na formação de força de trabalho parcialmente especializada e numa perspectiva modularizada para evitar duas questões: a) reprovação; e b) evasão. Reprovação porque um currículo modularizado induz o seu constrangimento, em face de o aluno reprovar em todo o módulo e redução dos índices de evasão porque aponta para os alunos uma oportunidade de empregabilidade imediata. É preciso atentar-se, contudo, para o fato de que esse mercado que passou a ser cindido pela apropriação da ciência e da tecnologia necessita de estoque de força de trabalho e com rotatividade porque reduz custos sociais, uma vez que tal condição de empregabilidade imediata, sem a necessidade da permanência na instituição educacional por um período mais longo, aguça o espírito da juventude com vistas à possibilidade instantânea de consumo da materialidade.

Quanto à questão da modularização dos currículos dos cursos técnico-profissionais, Cunha (2000b, p. 67) interpreta-a “de um modo geral, como um imperativo da flexibilização, entendida como a solução para a articulação dos currículos com o mundo do trabalho e a adaptação dos currículos às características individuais dos alunos.” O autor compreende que “essas medidas correspondem, de um modo geral, à orientação das agências financeiras internacionais”, como o BIRD e o BID, e que:

[...] no Brasil, essa orientação tem-se revelado mais marcante, ao menos em dois aspectos: a retirada da educação técnico-profissional do âmbito da administração do sistema educacional não ocorre no nível federal, mas tem sido realizada no âmbito estadual. É o que se dá com a

transferência das redes de escolas técnico- profissionais das secretarias da educação para as de ciência e tecnologia, como acontece em São Paulo e no Rio de Janeiro. A transferência das escolas públicas para o setor privado não tem sido objeto de medidas concretas, mas as da rede pública têm sido instadas a incluir empresários nos seus conselhos, além do que o Plano de Expansão do Ensino Profissional prevê expansão da rede escolar apenas no “segmento comunitário”, entendido como privado ou resultante de parceria entre o setor público e entidades privadas. (CUNHA, 2000b, p. 68).

Esse movimento, com o objetivo de viabilizar índices de consumo e de sustentação das funções básicas da produção, suportada cada vez mais em ciência e tecnologia, todavia, necessitava do aval do governo brasileiro, com vistas a uma ação governamental, a qual veio com o Decreto no 2.208/1997. Sobre esse Decreto de 1997, Cunha (2000b, p. 55) compreende que “institui todo um sistema de ensino profissional, com três níveis: o básico (abrangendo a aprendizagem e os cursos rápidos para adultos), o técnico e o tecnológico, este já em nível superior.” Na análise do autor (2000b), “o ensino técnico foi definido como sendo independente do ensino médio” e, portanto, “isso significava que um aluno poderia cursar o ensino técnico ao mesmo tempo em que cursava o ensino médio, depois deste e até mesmo isoladamente” (CUNHA, 2000b, p. 56). Este mesmo autor destaca que “os cursos chamados integrados, que ofereciam num mesmo currículo a educação geral de nível médio e a educação técnico-profissional, foram literalmente proibidos”, todavia, “tolerados apenas no caso das escolas agrotécnicas”.

Na avaliação de Lima Filho (2003, p. 21) o Decreto no 2.208/1997 foi “o principal instrumento jurídico normativo dessa reforma”, o qual, além de estabelecer “níveis e modalidades da educação profissional no país”, também define como deveria se dar o processo de articulação entre o ensino profissional e o ensino regular, “referindo-se com prioridade e detalhamento particular à nova estrutura a ser implantada principalmente na rede federal, composta pelos Centros

Federais de Educação Tecnológica, Escolas Técnicas Federais e Escolas Agrotécnicas Federais.”53

Não se poderia deixar de destacar que, interagindo com todo o arcabouço de legislações elaboradas para a reforma da educação profissional nesse período, desponta o PROEP, cujo programa, na visão de Lima Filho (2003, p. 21), “se constitui no principal instrumento de implantação da reforma, mediante a utilização de recursos da ordem de 500 milhões de dólares para o período 1997-2003.” O autor (2003) destaca que o PROEP foi estruturado com vistas a financiar “250 projetos de Centros de Educação Tecnológica” e que “é justamente no âmbito da aplicação dessa política pública – financiada com recursos públicos – que a União e os Estados empreendem transformações significativas nas suas redes de ensino médio e técnico”, visando, por exemplo, ao “financiamento de instituições privadas.” (LIMA FILHO, 2003, p. 21-22).

Essa foi a leitura sobre o que demonstraram algumas das pesquisas referentes à temática: Decreto no 2.208/1997, ou seja, um instrumento do governo FHC com vistas a oportunizar a mercadorização do ensino profissional, principalmente nos níveis técnico e tecnológico. Além dessa oportunidade oferecida à iniciativa privada por dentro do espaço público, induziram-se as autarquias federais de educação tecnológica, mediante investimento, a se inserirem em seu programa reformista da educação profissional, ofertando cursos estruturados a partir dessa norma legal, de nível básico, técnico e tecnológico, desestruturando os cursos técnicos integrados de nível médio, uma

53

Frigotto e Ciavatta (2003, p. 103) compreendem que “as análises críticas do período do Governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) são abundantes tanto no âmbito econômico e político como no social, cultural e educacional. Todas convergem no sentido de que se trata de um governo que conduziu as diferentes políticas de forma associada e subordinada aos organismos internacionais, gestores da mundialização do capital e dentro da ortodoxia da cartilha do credo neoliberal, cujo núcleo central é a ideia do livre mercado e da irreversibilidade de suas leis.” Com relação às reformas educacionais ocorridas no governo FHC, os autores interpretam que “no seu conjunto e, em particular, em relação à educação tecnológica e à formação profissional, foi coerente com o ideário do liberalismo conservador em termos econômicos e sociais, tanto na concepção quanto na ação prática. O Decreto nº 2.208/1997 é uma síntese emblemática desse ideário. Esse decreto foi complementado, como instrumento coercitivo, pela Portaria do MEC nº 646 de 1997, que obriga os Centros Federais de Educação Tecnológica a restringirem em 50% as matrículas do nível médio integrado, das oferecidas em 1966, com o indicativo de extensão futura. A arma do MEC para isso era a concessão de mais ou menos recursos de acordo com a adesão à portaria. No plano pedagógico, a Resolução nº 4/1999 e o Parecer CNE/CEB nº 16/1999, que traçam as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos técnicos de nível médio, escancaram a perspectiva economicista, mercantilista e fragmentária mediante a pedagogia das competências e a organização do ensino por módulos, sob o ideário da ideologia da empregabilidade.” (ibid., p. 119).

construção histórica e de qualidade, assim como disponibilizando uma alternativa que viesse a reduzir o alívio da pressão social sobre o governo federal quanto à necessidade de expandir a educação superior pública. Quanto aos benefícios decorrentes do Decreto no 2.208/1997 na educação brasileira, Frigotto (2007, p. 1139) interpreta que ele “restabeleceu o dualismo entre educação geral e específica, humanista e técnica, destroçando, de forma autoritária, o pouco ensino médio integrado existente, mormente da rede CEFET.”

No que se refere à relação entre o Decreto no 2.208/1997 e os CSTs, Brandão (2007) destaca que:

[...] é, portanto, a partir do Decreto no 2.208/1997 que podemos observar claramente a reiteração de um ‘sistema de educação profissional’ paralelo ao ‘sistema de educação escolar’; porém, desta vez parece que se consolida a expansão dos limites desta estrutura dual, em termos de níveis, até o superior – são estes os Cursos Superiores de Tecnologia do Brasil de hoje. Cursos que, durante quase duas décadas, haviam ficado no esquecimento. (BRANDÃO, 2007, p. 9).

Para compreender-se a chegada a esse contexto, faz-se referência à Lei no 9.394/1996 elaborada pelo governo FHC. Desta norma legal, Lei/1996, cita-se o artigo 39: “A educação profissional, integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, conduz ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva”, e o inciso III do art. 43: “formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.” (BRASIL, 1996). Ao conjugar-se os dois textos, verifica-se que esses fazem referência às modalidades de educação que se relacionam com a formação para as profissões. Destaca-se que o texto da Lei no 9.394/1996 não dá exclusividade ao tipo de instituição ou mesmo à modalidade de educação, mesmo porque o ensino profissional poderá dar-se em níveis educacionais diferenciados e com requisitos acadêmicos também diferenciados.

Em seguida, o governo FHC publica a Lei no 10.172/2001. Na exposição de motivos que acompanham a norma legal, esse governo, ao manifestar-se sobre a Educação Tecnológica e Formação Profissional, afirma que “há um consenso nacional: a formação para o trabalho

portanto, esta não pode “ficar reduzida à aprendizagem de algumas

habilidades técnicas, o que não impede o oferecimento de cursos de

curta duração voltados para a adaptação do trabalhador às oportunidades do mercado de trabalho”, bem como, “associados à promoção de níveis crescentes de escolarização regular. Finalmente, entende-se que a educação profissional não pode ser concebida apenas como uma modalidade de ensino médio, mas deve constituir educação continuada, que perpassa toda a vida do trabalhador.” (BRASIL, 2001, grifo nosso).

Há de destacar-se que se tratava de um governo com características reformistas54 que entendia que a Educação Tecnológica tinha compromisso restrito com a formação profissional, ou seja, de profissionais para atuar na sociedade como um todo, inclusive chama a atenção para a formação de juízo que foi estabelecida com relação aos cursos originários dessa modalidade de educação, os quais se configuram como especialidades sem formação de base.

No ano de 2004, agora sob a égide de um governo que se propôs a realizar outro projeto, o governo Lula publica o Decreto no 5.154/2004, do qual se destaca o artigo 1o que estabelece que “a educação profissional, prevista no art. 39 da Lei no 9.394/1996 (LDBEN), observadas as diretrizes curriculares nacionais definidas pelo Conselho Nacional de Educação, será desenvolvida por meio de cursos e programas”, compreendendo-se: I – formação inicial e continuada de trabalhadores; II – educação profissional técnica de nível médio; e III – educação profissional tecnológica de graduação e de pós-graduação (BRASIL, 2004a).

Aqui os problemas aprofundam-se, em face de verificar-se que a educação profissional continua sendo vista como aquele tipo de atividade desenvolvida pelas primeiras instituições educacionais, as quais foram estruturadas com vistas a atender certa situação social de uma época. Esquecem-se, todavia, que o “tempo” não é mais o mesmo, há muito “tempo”, e que a educação para as profissões não se relaciona

54 Sobre o que foi o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003), Frigotto e Ciavatta

(2003, p. 108) entendem que “a dimensão talvez mais profunda e de consequência mais grave situa-se no fato de que o Governo Fernando H. Cardoso, por intermédio do Ministério da Educação, adotou o pensamento pedagógico empresarial e as diretrizes dos organismos e das agências internacionais e regionais, dominantemente a serviço desse pensamento como diretriz e concepção educacional do Estado. Trata-se de uma perspectiva pedagógica individualista, dualista e fragmentária coerente com o ideário da desregulamentação, flexibilização e privatização e com o desmonte dos direitos sociais ordenados por uma perspectiva de compromisso social coletivo. Não é casual que a ideologia das competências e da empregabilidade esteja no centro dos parâmetros e das diretrizes educacionais e dos mecanismos de avaliação.” .

apenas às autarquias federais de educação tecnológica, mesmo porque, como já foi declarado e afirmado, por conselheiros do CNE no Parecer CNE/CEB no 16/1999: “Após o ensino médio, a rigor, tudo é educação profissional.” (BRASIL, 2008d, p. 283).

Nesse mesmo ano, o governo Lula retoma sua ação normatizadora, mediante a publicação do Decreto no 5.224/2004, definindo no §1o, do artigo 1o, que “os CEFETs são instituições de ensino superior pluricurriculares, especializados na oferta de educação tecnológica nos diferentes níveis e modalidades de ensino, caracterizando-se pela atuação prioritária na área tecnológica” (BRASIL, 2004b, p. 157), sem, contudo, esclarecer do ponto de vista do conceito o que seria uma instituição de ensino pluricurricular. Constata- se que o governo Lula compreende que os CEFETs estão responsabilizados pela modalidade Educação Tecnológica em todos os níveis educacionais, com atuação prioritária na área tecnológica, conforme já havia sido estabelecido pelo governo Geisel ao publicar a Lei no 6.545/1978.

Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005, p. 20), analisando a gênese do Decreto no 5.154/2004, interpretam que “além de não resolver o problema da identidade e das finalidades sócio-educacionais dessas instituições”, ou seja, dos CEFETs, “esta medida encontra respaldo na tendência de se consolidar a educação profissional como uma modalidade educacional própria, específica e paralela à educação regular.” Os autores compreendem que o conteúdo final do Decreto no 5.154/2004, “sinaliza a persistência de forças conservadoras no manejo do poder de manutenção de seus interesses”, e que “também pode revelar a timidez política do Governo na direção de um projeto nacional de desenvolvimento popular e de massa, cujo corte exige reformas estruturais concomitantes, como sinaliza Márcio Pochman, insistemente, com políticas distributivas e emancipatórias”; e que a aprovação deste, “por si só não muda o desmonte produzido na década de 1990.” (FRIGOTTO; CIAVATTA; RAMOS, 2005, p. 21).

Essa compreensão estabelecida pelo governo Lula no Decreto no 5.224/2004, sobre o que seriam os CEFETs, todavia, parece não ter sido suficiente para orientar sua ação. Assim, em 2006, o governo Lula publica o Decreto no 5.773/2006, (re)conceituando os CEFETs, § 1o do artigo 1o, como: “Os CEFETs são instituições de ensino superior pluricurriculares, especializados na oferta de educação tecnológica nos diferentes níveis e modalidades de ensino, caracterizando-se pela atuação prioritária na área tecnológica.” (BRASIL, 2006). Novamente, o governo Lula não apresentou o conceito sobre instituição

pluricurricular apresentando somente uma lista de coisas que elas