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5 O GRUPO DE DESENVOLVIMENTO DE PROFESSORES DE FÍSICA

5.2 A Trajetória do GDPF

5.2.2 A Consolidação do GDPF

No dia 10 de agosto de 2002, o grupo fez uma visita ao Exploratório Leonardo da Vinci, localizado na cidade de Lagoa Santa, MG, que fica a 70 km de Sete Lagoas. Trata-se de um museu interativo de Ciências, particular, aberto à visitação de escolas mediante agendamento e pagamento de uma taxa de ingresso. Essa foi a primeira vez que o grupo se organizou para fazer uma visita técnica. Eu já havia estado naquele museu por duas vezes, mas, apesar da proximidade, nenhum outro professor do grupo conhecia o local. A visita foi agendada para um sábado à tarde e, por se tratar de um grupo de professores, o proprietário do museu, que também é professor de Física, não cobrou a taxa de ingresso.

No início da visita, o diretor do exploratório fez uma breve explanação sobre a concepção e a finalidade daquele local. Na sua fala, o diretor chamou a atenção para sua concepção de laboratório didático, em que defendia a ideia de que cada cidade deveria investir para ter um espaço como aquele, onde os professores poderiam agendar visitas com seus alunos, para explorar a parte prática dos conteúdos escolares. Essa ideia despertou o interesse dos professores do grupo que, a partir de então, começaram vislumbrar a possibilidade de criar algo semelhante em Sete Lagoas.

Para muitos professores, essa visita representou uma possibilidade de inovação que eles ainda não conheciam e que, posteriormente, passaram a incluí-la na sua prática.

MARINA: “Eu achei ótimo! Eu não conhecia um laboratório como aquele. O tempo todo que eu estudei, eu não tive essa oportunidade. Achei ótimo, tanto para mim, quanto para os meus conhecimentos. Estou até com vontade de levar meus alunos lá. Para mim, foi muito válido.” (GDPF – 24/08/2002)

VIRGÍNIA: “Foi muito interessante, até pra gente mesmo. Por exemplo: se eu tiver um laboratório daquele ali na escola, eu não tenho nem base direito para estar passando para os alunos. A gente não é preparada para este tipo de aula. [...] Falta espaço na escola.” (GDPF – 24/08/2002)

A visita ao Exploratório Leonardo da Vinci representou, para nós, um marco na consolidação do grupo. A partir daquele momento, aumentou a repercussão do trabalho do GDPF na cidade, despertando o interesse, até mesmo, de professores de outras áreas. Aos poucos, os encontros passaram, naturalmente, a fazer parte das atividades dos professores. O telefonema para lembrar da reunião já não era mais tão constrangedor. A interação e o companheirismo entre os professores participantes aumentavam e reflexos positivos do trabalho do grupo começavam a ser percebidos externamente. Um indício disso foi o comentário feito, informalmente, por duas diretoras de escolas onde atuavam professores

membros do grupo, sobre a mudança na prática e na postura de alguns de seus professores depois que começaram a frequentar os encontros do GDPF.

Nos encontros seguintes, cada vez mais, os participantes do grupo queriam falar das atividades que estavam desenvolvendo com seus alunos. Professores que haviam declarado nas reuniões iniciais do GDPF a dificuldade de trabalhar com atividades práticas relatavam, com desenvoltura, trabalhos que estavam desenvolvendo com suas turmas. Nesse momento, percebemos que os professores estavam inovando suas práticas a partir de ideias e atividades compartilhadas com outros colegas no interior do grupo.

No dia 28 de setembro de 2002, o grupo fez o segundo passeio: uma visita ao escritório da professora Beatriz Alvarenga18. O encontro com a professora Beatriz era aguardado com grande ansiedade por todos. Além de a professora Beatriz Alvarenga ser uma referência no ensino de Física do Brasil, havia, no grupo, professores que há mais de vinte anos trabalhavam com o seu livro, sem jamais terem cogitado a possibilidade de conhecê-la pessoalmente.

A professora Beatriz montou em seu escritório um minimuseu onde expõe diversos brinquedos e artefatos relacionados ao ensino de Física, que ela coleciona em suas viagens pelo Brasil e pelo mundo. Nesse escritório, ela também mantém uma vasta biblioteca com inúmeros títulos sobre o ensino de Ciências e de Física. Além de mostrar todo esse material, a professora Beatriz também falou de suas concepções sobre o ensino e o aprendizado de Física e elogiou a iniciativa da criação do grupo, incentivando a sua continuidade.

Nos encontros posteriores, procuramos diminuir nossas intervenções, deixando os debates e as análises a cargo dos integrantes do GDPF. Com isso, foi possível prestar mais atenção na fala dos professores. Essa estratégia levou-nos a perceber que eles possuíam bons argumentos para analisar as propostas que lhes eram feitas e que os debates giravam, não só em torno da viabilidade de aplicação da atividade, mas também sobre as consequências que as propostas analisadas poderiam trazer para suas práticas.

De acordo com o cronograma da pesquisa que estava sendo desenvolvida naquela época, o último encontro do GDPF deveria ocorrer no dia 23 de novembro de 2002. Nesse encontro, recebemos a adesão de mais três professores (GERSON, JANAURA e SÉRGIO LUIZ), vindos de uma cidade vizinha. Esses professores tomaram conhecimento da existência

18 A professora Beatriz Alvarenga foi a primeira mulher a se graduar engenharia civil na UFMG, é professora

emérita do ICEX/UFMG e uma das mais importantes representantes do ensino de Física no Brasil, além de coautora do livro didático “Curso de Física”, que é referência no ensino de Física no Brasil e em outros países.

do GDPF em curso de capacitação que participaram junto com outros professores que já eram membros do grupo. Após a apresentação dos novos companheiros, passamos a fazer um resgate dos objetivos iniciais do trabalho e cada professor expôs sobre sua experiência no âmbito do grupo. O relato dos professores sobre atitudes e práticas que resgataram ou passaram a desenvolver a partir do envolvimento com o GDPF nos deu evidências de que o propósito do GDPF de conciliar pesquisa educacional com prática educativa havia sido atingido. Por unanimidade, todos decidiram pela continuidade do GDPF em 2003.

LEANDRO: [...] uma coisa que eu mudei, de uns tempos pra cá, é que eu tinha a mania de fazer o seguinte: eu pegava, dava os exercícios, e falava assim: ó faz esses exercícios que na próxima aula nós vamos tirar dúvidas. [...] Aí eu chegava lá e falava assim: 1ª questão. Ah, eu tenho dúvida. Eu chegava lá e resolvia. 2º... aí ficava todo mundo assim. Aí eu falei: não! Eu vou mudar isso. 1ª questão alguém tem dúvida? O fulano lê pra mim. Aí o cara vai lá e lê, tem uns que não tá nem aí e tal, mas, mesmo assim, eu peço pra ler. Aí eles leem e eu começo a fazer. Daí eu falo assim: qual a sugestão que você me dá pra resolver esta aqui? Daí o menino fala: eu não sei. E eu digo: então pensa um pouquinho. Ah! Eu acho que é isso. Então vamos colocar essa idéia sua no quadro. Alguém acha que isso está certo ou está errado? E, assim, vai. Às vezes, você acha que perde tempo com isso, mas não perde não. Porque acaba rendendo... A aula rende e os alunos acabam participando mais, é melhor do que você chegar e resolver tudo. Você resolve 50 exercícios e o aluno não tá nem aí. Então, quando a pergunta é diretamente pra ele, ele já começa a articular assim... não, pera aí. Quando aquele aluno fala assim: ah, não sei não. Aí, na outra questão quando você pergunta pro outro, ele fala assim: ô LEANDRO, deixa eu responder essa? Então, você acaba despertando... (GDPF – 09/11/2002)