• Nenhum resultado encontrado

4.2. UM POUCO DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO MUNICÍPIO

4.2.1. A construção da rede pública municipal de Niterói

Do ponto de vista da evolução da oferta de ensino público na cidade, tomamos como base dados coletados pela Assessoria de Estudos e Pesquisas Educacionais – AEPE, da Fundação Municipal de Educação de Niterói – FME, reunidos em um documento intitulado Histórico da rede física escolar municipal de Niterói, produzido no ano de 2007. Na introdução do documento, é explicada a metodologia utilizada na elaboração do estudo:

registro cronológico das ações voltadas para a educação, tendo como referência a criação de órgãos de gestão e as realizações dos governos que se sucederam na gestão municipal (AEPE/

FME, 2007, p.2).

Ainda de acordo com o estudo supracitado, a divisão cronológica é resumida em três momentos, que seguem o processo de institucionalização da Rede Municipal de Ensino:

período anterior à criação da Secretaria Municipal de Educação (de 1914 a 1974); período em que é criada a Secretaria de Educação e Cultura do município (1975 – 1991); e, por fim, o momento em que é criada a Fundação Municipal de Educação de Niterói, em 1991.

Registraremos alguns dos principais acontecimentos destes três períodos a fim de que possamos analisar como vem acontecendo este processo.

Entre os anos de 1914-1918 foi criada a primeira unidade escolar pública de Niterói, no governo de Manoel Otávio de Souza Carneiro (AEPE/ FME, 2007, p.4). Como forma de atendimento aos princípios legais da obrigatoriedade e gratuidade do ensino primário (expressos nos incisos I e II do artigo 167 da Constituição de 1946), entre 1959 e 1960113 o município passou a ofertar bolsas de estudo. No período de 1959 a 1972 foram criadas treze unidades escolares, em prédios alugados, cedidos ou mesmo prédios públicos adaptados. Foi

113 Neste momento o Prefeito era Wilson de Oliveira.

também decretada a criação de alguns órgãos de acompanhamento da gestão da educação pública municipal neste período, na ordem que segue: Grupo Coordenador de Educação e Cultura114, Divisão de Educação e Cultura115 e a transformação deste em Departamento de Educação e Cultura116 (AEPE/ FME, 2007, p.3). Foi somente a partir de 1972, no governo de Ivan Fernandes de Barros, que os primeiros prédios escolares foram de fato construídos pelo poder público municipal, substituindo os prédios alugados e cedidos, e, ainda, abrindo novas vagas.

O segundo momento mencionado no documento da AEPE/ FME é o que abrange os anos de 1975 a 1991, período em que foi criada a Secretaria Municipal de Educação de Niterói, por meio do Decreto nº 2.194/ 75117. Ao final deste período outras unidades escolares foram criadas, perfazendo um total de vinte e seis em 1989. Vale ressaltar que do total mencionado, três escolas eram conveniadas com a SME.

Antes da criação da Fundação Municipal de Educação118, em 1991, o então Prefeito Jorge Roberto Silveira transferiu as três creches municipais vinculadas à Secretaria de Bem-Estar Social, que passaram a integrar o quadro de unidades educacionais geridas pela Secretaria de Educação. Data ainda deste período a criação do Programa Criança na Creche (PCC), que consiste na assinatura de convênios com instituições que atendem crianças de 0 a 6 anos de idade. Devido ao regime de colaboração expresso no artigo 211 da CF de 1988 - especificamente em seu segundo parágrafo, que trata da competência dos municípios - neste período foi priorizada a abertura de vagas na Educação Infantil, que se processou por meio da criação de três unidades municipais, pela municipalização de três unidades estaduais de Educação Infantil e ainda por meio de assinaturas dos referidos convênios (AEPE/ FME, 2007, p.11).

A gestão atual, segunda do Prefeito Godofredo Pinto – que na cronologia do documento se encontra no terceiro momento, de acordo com a metodologia seguida pela AEPE/ FME – deu continuidade ao processo de criação de unidades escolares, municipalização de unidades estaduais e assinatura de convênios. De acordo com o documento analisado, em 2007 existiam 90 unidades educacionais em funcionamento, dentre

114 Em 1960, por meio do Decreto nº 1.231, de 15 de fevereiro.

115 Decreto nº 2.452, de 22 de julho de 1964, na gestão do Prefeito Sílvio Picanço.

116 Decreto nº 1.739, de 02 de abril de 1969 (Prefeito Emílio Abunahman).

117 No governo do Prefeito Ronaldo Fabrício. O primeiro Secretário de Educação do município foi o Professor Hélter Barcellos.

118 A FME foi criada com base na Lei n° 924/91 e no Decreto n° 6.172/91, “visando garantir o aperfeiçoamento da gestão educacional e a autonomia necessária para a efetivação de atos administrativos ágeis, especialmente no tocante aos processos relativos às unidades municipais de educação”. (FME, 2006. Disponível em:

<http://www.niteroi.rj.gov.br>. Acesso em: 10 fev. 2007).

elas, 36 Creches Comunitárias que integram o PCC, escolas criadas ou municipalizadas, que originaram 18 Unidades Municipais de Educação Infantil (UMEIs) e 36 Escolas Municipais - que abrigam alunos do Ensino Fundamental e, em alguns casos de Educação Infantil e Educação de Jovens e Adultos (EJA), sendo este último no período noturno. Para além das instituições escolares, encontram-se vinculados à proposta educacional do município de Niterói cinco Bibliotecas Populares119, dezoito Telecentros120 e o Cateretê nas artes, que acontece no Centro de Artes da Educação, no Barreto121.

Ao longo da gestão petista em Niterói - abrangido pelo recorte metodológico da presente dissertação - estiveram à frente da Secretaria Municipal de Educação (SME) apenas dois secretários: Professora Maria Felisberta Baptista da Trindade e Professor Waldeck Carneiro da Silva122, que se encontrava no cargo até o momento da escrita desta dissertação.

Cabe ressaltar, no entanto, um fato curioso que aconteceu algumas vezes desde a criação da FME, em 1991: o secretário de educação não ser a mesma pessoa que o presidente da FME.

Quando Godofredo Pinto assumiu a gestão municipal, em 2002, a Professora Maria Felisberta assumiu a SME, mas foi a Professora Maria Inês Azevedo de Oliveira quem foi nomeada presidente da FME. Em 1991, a Professora Lia Ciomar Macedo de Faria foi nomeada secretária e presidente da FME, no primeiro mandato de Jorge Roberto Silveira, permanecendo ao longo do mandato do prefeito João Sampaio, e ainda por um período do segundo mandato de Jorge Roberto Silveira, no período de 1997 a 2000. A partir de então, alguns secretários e presidentes da FME foram sendo nomeados, perfazendo um total de cinco gestões diferentes no período de 2000 a 2002, em que ora a mesma pessoa acumulava ambas as funções, ora eram indicados dois nomes distintos123.

Ainda sobre esta estrutura presente na educação de Niterói, o Professor Waldeck Carneiro, Secretário e Presidente da FME no período de fevereiro de 2005 a abril de 2008, pronunciou-se a respeito no painel de encerramento das Pré-Conferências do PME de Niterói, em 04 de setembro de 2004, tendo sido convidado por ser Professor da Faculdade de

119 As bibliotecas situam-se nos seguintes bairros: Fonseca, Badu, Centro, Jurujuba e Itaipu.

120 Rede de inclusão digital, com espaços distribuídos em diversos pontos da cidade.

121 O Cateretê nas artes é um trabalho voltado para o desenvolvimento de aptidões artísticas dos alunos da rede municipal de ensino. Consiste no oferecimento de aulas gratuitas de diferentes instrumentos musicais, coral, teatro e danças folclóricas, para alunos entre 4 e 16 anos.

122 O Diário Oficial do município de Niterói publicado em 04/04/2008, por meio da Portaria nº 426/2008, exonerou, a pedido, Waldeck Carneiro da Silva da Secretaria de Educação, tendo sido nomeada para o cargo Alina Maria Tinoco Pinto (Portaria nº 427/2008). Para a Presidência da FME foi designado Filinto dos Anjos do Souto Branco, também Presidente da EMUSA, por meio da Portaria nº 428/2008.

123 Período de 01/01/2000 a 04/04/2002: Secretário – Eduardo Travassos, Presidente – Lia Ciomar Macedo de Faria; Secretário e Presidente – Plínio Comte Leite Bittencourt; Secretário e Presidente – Reynaldo Mattoso;

Secretário – Fernando de Oliveira Rodrigues, Presidente – Reynaldo Mattoso; Secretário – Raul de Oliveira Rodrigues, Presidente – Artur Santa Rosa.

Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF), uma vez que ainda era a gestão da Professora Maria Felisberta da Trindade neste período, como vimos anteriormente:

[...] Queria falar também da absoluta necessidade de se enfrentar uma polaridade esquisita, na verdade, uma ambivalência que a cidade ainda estranha, qual seja a relação entre fundação municipal de educação e secretaria municipal de educação.

Do ponto de vista da gestão democrática, é preciso que a cidade entenda, que os educadores entendam para que, afinal de contas, serve essa estrutura dual na gestão da educação [...] Evidentemente isso serviu, em alguns momentos, para (re)compor interesses políticos distintos na cidade. Mas, se consideramos que esse é um interesse menor, que é preciso fortalecer o verdadeiro interesse público, cabe perguntar qual o diferencial de eficiência e democracia na gestão que justifica a manutenção dessas duas estruturas[...] Além disso, quando, no modelo atual, o presidente da fundação e o secretário de educação não são as mesmas pessoas, o que já ocorreu em alguns momentos, este fica absolutamente imobilizado, do ponto de vista da formulação, implementação e avaliação das políticas educacionais (FME, 2004a, p.90).

Em entrevista realizada no dia 16 de maio de 2007124, perguntamos ao Professor Waldeck, neste momento ocupando ambas as funções descritas acima, que voltou a falar sobre o assunto, reafirmando alguns pontos que já havia mencionado em 2004:

Eu não vivi esse processo aqui em 1991, mas o registro que tenho é que isso foi uma proposta, como em outros lugares, que as entidades públicas fundacionais teriam duas grandes vantagens sobre as da administração dita direta. Elas, por um lado, teriam mais agilidade na questão burocrática e administrativa, na tramitação processual. Certas exigências burocráticas que se aplicam à administração direta.

Por outro lado, elas teriam maior desenvoltura na capacidade de captação de recursos extra-orçamentários. A experiência, pelo menos da FME nos 15 anos de sua existência, não revelou isso tão nitidamente [...] A gente percebeu que essa estrutura dual serviu na época para compor grupos políticos diferentes, dar espaço de intervenção, que na verdade foi um problema para quem ficou na Secretaria e não ficou com a Fundação, porque naquele momento as pessoas não sabiam direito, e quando se deram conta que ser Secretário de Educação sem ser Presidente da FME era uma coisa absolutamente, ou quase ilustrativa [...] Eu acho que tem essa dificuldade que só é minimizada quando o dirigente da secretaria é o mesmo dirigente da FME, ou ainda quando o dirigente da secretaria e da Fundação estão em grande sintonia, mesmo assim não é tão simples. Com a estrutura desse jeito, há o risco permanente disso acontecer. Como a política é um condicionamento muito grande de ocupação dos cargos, acho que é um risco.

124 Entrevista realizada com o objetivo de compor o corpo metodológico da pesquisa empírica. Além desta, foram realizadas algumas outras: com a Professora Maria Felisberta da Trindade (nos dias 14/05/2007 e 28/05/2007); com a Professora Maria de Fátima Pimenta – coordenadora da equipe assessora do PME de Niterói (30/11/2006); Professora Glória Maria Anselmo de Souza – Diretora de Política Educacional da FME (30/08/2007), e Professor Armando Cerqueira Arosa - Superintendente de Desenvolvimento de Ensino da FME (01/10/2007).

Como vimos, foi no terceiro momento da história da educação pública municipal de Niterói que a rede física conhece uma grande expansão. Retornamos às palavras proferidas pelo Professor Waldeck Carneiro em 2004, em que ele busca explicar as razões que levaram por muitos anos ao represamento da oferta de vagas nas escolas públicas municipais:

[...] contou-se uma história nessa cidade, segundo a qual Niterói não precisava mais de escola pública. É claro que essa história tinha e tem uma intencionalidade política, na medida em que fortalece o interesse do ensino privado na Cidade.

Como professor e cidadão, sempre me incomodou esse discurso, que dispensava a ampliação da escola pública na Cidade, como se já tivéssemos garantido a universalização do acesso à educação infantil e mesmo ao ensino fundamental em Niterói, ou como se pudéssemos atingir esse patamar com uma pequena rede pública e uma expressiva rede particular. Aproveito aqui para destacar que não sou aprioristicamente contrário ao ensino privado nem tampouco defensor de uma espécie de estatização do sistema educacional. Penso, contudo, que a escola pública de boa qualidade deve estar garantida a todos, cabendo às famílias a livre opção por escolarizar suas crianças na escola particular, sejam quais forem as razões dessa escolha. Só não é aceitável que tal opção seja feita em função da inexistência ou da precariedade da escola pública na Cidade. (FME, 2004a, p. 89).

Com relação à oferta de vagas nas escolas de Niterói, dispomos de um estudo que revela a preponderância de matrículas na rede privada sobre a rede municipal. Segundo Davies (2007b, p.1), este é um problema que acontece não somente em Niterói, mas em toda a Educação Básica do Estado do Rio de Janeiro, em que a participação da rede privada no oferecimento de vagas é a maior do Brasil. Esta omissão dos governos das diferentes esferas seria, de acordo com o autor, uma outra modalidade de privatização do ensino, menos visível do que as demais.

Sendo assim, utilizando-se de dados dos Censos Escolares de 1997 e de 2006, disponíveis na página eletrônica do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), o autor apresenta dados que justificam sua argumentação.

Enquanto a média nacional de participação privada nas matrículas em creches no ano de 2006 é de 35,7%, no Estado do Rio de Janeiro é de 48,3%. Em pré –escolas, os números se repetem: média nacional de 25, 8% contra 39, 4% no Rio de Janeiro. Sobre a oferta de Ensino Fundamental no Estado, é feita um a observação, em que é ressaltado um aumento na oferta de matrículas nas escolas públicas municipais no período compreendido pelo estudo, mas a participação do governo estadual se manteve aquém da média nacional – 21,3% contra 35,5%

(DAVIES, 2007b, p.4).

Não nos convém detalhar outros dados, aos quais os leitores podem ter acesso caso desejem aprofundar sua pesquisa125. Passaremos então a observar os dados referentes ao município de Niterói: no que se refere à oferta de vagas em creches, o poder público municipal concorre com 321 (11,8%) contra 2.408 vagas em instituições privadas, ou seja, 88,2%. Em termos absolutos, tais dados colocam Niterói entre um dos cinco municípios do Estado em que se concentra a maior participação privada. Ainda na Educação Infantil126, a oferta municipal de matrículas na pré-escola foi de 22,6% (3.433) contra 64,9% (9.842) do setor privado. Cabe ressaltar que a rede estadual contribuiu com 12,5% (1.892).

No que se refere à oferta de vagas no Ensino Fundamental, Niterói apresenta o menor índice de participação pública – municipal e estadual - dentre os municípios fluminenses:

66,98% de participação pública – 42,31% de vagas oferecidas pela rede estadual e 24,67%

pela rede municipal – contra 33,02% de participação privada. Segundo o Professor Waldeck Carneiro127, a diferença dos números entre a rede estadual e a rede municipal decorre “do fato de termos sido capital e herdarmos uma rede estadual muito grande”.

Estes dados são interessantes também para analisarmos uma outra questão: a proposta de municipalização das vagas de Educação Infantil e dos primeiros anos do Ensino Fundamental atualmente oferecidas pela rede estadual de ensino, que deverão passar para a rede municipal de ensino em 2008 e 2015, respectivamente, de acordo com os artigos 61 e 62 da Lei Estadual nº 4.528/05, discutida no capítulo II desta dissertação. O artigo 65 da lei em questão prevê a possibilidade do Estado disponibilizar instalações ociosas aos municípios, sem afirmar que o fará. No entanto, de acordo com o Secretário de Educação e Presidente da FME, Niterói iniciou um processo dialógico com a Secretaria de Estado de Educação empossada em 2007, em que a questão da municipalização tem sido um constante elemento na pauta de discussões, o que entre os anos de 2005-2007 não havia acontecido ainda, devido

125 No texto ora analisado, constam dados da oferta de Ensino Médio e Educação Especial no Estado do Rio de Janeiro, sua evolução no período de 1997 a 2006, bem como a relação entre estes dados e a média nacional.

126 Segundo a LDB 9.394/96, incisos I e II do artigo 30, a Educação Infantil compreende o trabalho realizado em creches – para crianças de 0 a 3 anos – e pré-escolas, para crianças entre 4 e 6 anos de idade. Cabe ressaltar que a Lei nº 11.274/2006 alterou a redação dos arts. 29, 30, 32 e 87 da Lei 9.394, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos para o Ensino Fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade. Desta forma, havia a proposta da Educação Infantil ter a duração dos 0 aos 5 anos (art.1º e 2º), mas os artigos que propunham tal mudança foram vetados, permanecendo, portanto, o que determina a LDB.

127 Em entrevista realizada no dia 16/05/2007, para a realização desta pesquisa.

aos problemas políticos entre os representantes do Governo do Estado e a Prefeitura de Niterói, de partidos políticos adversários128.

Destarte, acreditamos não ser possível cumprir a Lei 4.528/05 devido ao volume de vagas oferecidas pela rede estadual em Niterói. Para tornar isto possível, ainda este ano o município teria que abrigar cerca de 1.829 alunos oriundos da rede estadual e, nos próximos sete anos, cerca de 27.778 alunos das primeiras séries do Ensino Fundamental e 9.286 alunos da Educação de Jovens e Adultos, que atualmente são atendidos em escolas estaduais situadas no município. Uma comparação pode ser feita ao tomarmos como base os números atuais da rede pública municipal de Niterói, divulgados na página eletrônica da FME129: se em 2007 a rede contava com cerca de 3.861 alunos matriculados nas 18 UMEIs existentes e cerca de 2.862 alunos que freqüentavam as 36 creches conveniadas ao PCC, teria que municipalizar todos os prédios estaduais que atendem a Educação Infantil em Niterói ou abrir aproximadamente nove130 escolas para atender este nível de ensino em 2008. Para atender aos alunos oriundos do Ensino Fundamental da rede estadual, teria que inaugurar até 2015 novas 59 UEs para recebê-los, sem considerar o grande número de oferta de matrículas para a EJA,

128Ainda de acordo com a entrevista, com base no trecho em que o Secretário comenta a Lei Estadual mencionada: “Essa lei entrou em vigor em 1995, para mim isso é positivo. Acho, porém, que na prática essa bilateralidade não aconteceu ainda.

Agora mesmo eu estava conversando com Nelson Maculan sobre o programa de municipalização e a gente fez uma reunião de trabalho boa e longa em janeiro, e temos que dar conseqüência a este trabalho. Então, enfim, é porque nós vivemos em Niterói, no caso específico de Niterói, um complicador conjuntural que foi o fato que o governo do Estado e o governo de Niterói tinham péssimas relações políticas na prática. Eu estou como Secretário de Educação desde fevereiro de 2005, convivi como secretário de Educação com o Professor Cláudio Mendonça, que foi Secretário de Educação antes do Nelson Maculan. Eu nunca tive um encontro de trabalho com o Secretário do Estado. O Prefeito que está a cinco anos na Prefeitura, está no segundo mandato, completou o mandato do outro prefeito, em cinco anos ele conseguiu uma audiência. Se não me engano, foi em março de 2006. As relações políticas entre estes dois governos tornaram praticamente inexistente o diálogo a cerca do processo de municipalização de escolas em Niterói. Em janeiro deste ano, com uma sinalização de que havia alguma mudança no ar, pelo menos do nosso ponto de vista, fiz uma reunião de trabalho longa com o Professor Nelson Maculan, eu fui lá, despachamos juntos, eu levei uma pauta que foi acolhida, foi bem recebida, inclusive um dos pontos da pauta era a municipalização. Eu acho que agora nós estamos iniciando o que preconiza esta lei, que é preconizado no âmbito da Constituição Federal e da LDB e que no âmbito estadual esta lei tentou formatar, regulamentar, que é o diálogo entre dois poderes, dois entes federados, que hoje compartilham a oferta de Educação Infantil e de Ensino Fundamental objetivamente, não é, então eu acho que nós estamos iniciando um processo de conversa, de diálogo, porque antes tarde do que nunca. Nós em Niterói temos uma particularidade, que é o fato de termos sido capital e herdarmos uma rede estadual muito grande.

Enfim, então a discussão da municipalização das escolas estaduais em Niterói ela é muito complicada por causa do volume, da dimensão[...] Em linhas gerais, é isso, eu vejo como positivo a possibilidade de os representantes dos poderes públicos constituídos que são responsáveis pela oferta de educação nas escolas, eles possam sentar e planejar, que eles estão preocupados em planejar de forma articulada este processo, porque na República Federativa do Brasil, o chamado pacto federativo do Brasil, para os municípios é uma balela. Cada vez mais os municípios vêm sendo responsabilizados em termos de serviços, sobretudo na área social, mas o percentual que os municípios recebem em tributos é muito pequeno, então a gente teria que tentar rever os parâmetros desta parceria”.

129 Disponível em: <http://www.educacao.niteroi.rj.gov.br>. Acesso em: 21 jun. 2007).

130 Para calcular estes valores, usamos a proporção existente entre o atual número de matrículas nas UMEIs e o número de UMEIs existentes (3.861: 18), que resultou em uma média de 214,5 alunos por unidade. Desta forma, para saber o número de novas escolas que deveriam ser abertas para receber os alunos da rede estadual, dividimos o número de alunos atendidos por este ente federado pela média de alunos atendidos em cada UMEI (1.892 : 214). Da mesma forma foi calculado o índice para o Ensino Fundamental: 16.929 alunos atendidos nas 36 UEs, resultam em uma média de 470,25 alunos atendidos em cada escola. Caso fosse absorver os 27.778 alunos matriculados na rede estadual, a Prefeitura de Niterói teria que abrir novas 59 escolas, mantendo a mesma média de alunos por UE (27.778: 470=59,1021277).

tendo em vista que em 2007 a rede municipal atendia 2.298 alunos desta modalidade de ensino.

Percebemos, enfim, que apesar da evolução apresentada devido ao incremento da rede física municipal de ensino de Niterói nos últimos anos, esta ainda se encontra aquém das reais necessidades da cidade. Além disso, merece especial destaque as observações feitas pelo Deputado Estadual Alessandro Molon, na justificativa do Projeto de Lei de sua autoria – PL nº 483/2007 - em que ressalta a importância social da manutenção da oferta destes níveis e modalidade de ensino pela rede estadual de ensino do Rio de Janeiro131.

De acordo com a Diretoria de Política Educacional da FME132, a ampliação de vagas tem sido uma preocupação constante nos últimos anos. Entretanto, a atual gestão compreende que aliada a esta questão, está a qualidade: “... para garantir essa educação de qualidade socialmente referendada, sem ter sobrecarga das turmas, tem sido muito difícil, até porque a proposta pedagógica em discussão prevê um número reduzido de alunos em sala de aula.

Então o que está acontecendo: o número de escolas aumenta, o número de profissionais aumenta, mas a oferta de vagas não”. Como nosso objetivo não é detalhar a proposta pedagógica da FME, uma vez que este se constitui objeto de outros estudos133, apenas faremos menção aos movimentos atuais desta instituição.

Atualmente, os impressos oficiais da SME/ FME, bem como os da Prefeitura em geral, vêm utilizando uma espécie de slogan, em que aparece a inscrição Escola de Cidadania. Para entendermos melhor o que isto significa, foi feito em duas entrevistas este questionamento.

De uma maneira a demarcar o compromisso sócio-político da atual gestão, a Diretoria acima citada nos informou que esta expressão:

[...] vem com a intenção de reforçar um compromisso que já está implícito no ato educativo. Porque educar não é só, como disse Paulo Freire, transferir conhecimentos, é mais do que isso. Educar é um ato de construção do conhecimento, é um ato de formação política, enfim, é um ato que coloca os sujeitos num constante processo de desafio e transformação [...] é uma escola que não prepara para a cidadania, ela por si só precisa ter no seu cotidiano práticas democráticas.

131 Projeto este já explicitado na página 71 desta dissertação.

132 Em entrevista realizada no dia 30/08/2007, para esta pesquisa.

133 Está em processo de finalização a dissertação de mestrado em Educação a ser defendida na UFF, de autoria da mestranda Viviane Gualter Peixoto. Sua pesquisa intitula-se Políticas de ciclos em movimento na Rede Municipal de Educação de Niterói/ RJ: análise do processo de reconstrução da proposta pedagógica para o Ensino Fundamental.

No que se refere às ações realizadas pela SME/ FME, tanto a Diretoria de Políticas Educacionais quanto a Superintendência de Desenvolvimento de Ensino134 foram unânimes em eleger a reconstrução pedagógica da rede municipal135 como eixo central das políticas que vêm sendo implementadas desde que o então secretário foi nomeado, em 2005. Contudo, segundo o superintendente, outras medidas vêm sendo tomadas: a reformulação do plano de cargos e salários136, a garantia de progressão continuada como forma de progressão funcional, as intervenções físicas que vêm sendo realizadas nas escolas com o intuito de melhorar as condições de trabalho do professor e as de estudo para os alunos, a reserva de vagas para o mestrado da UFF para os professores da rede municipal, a concessão de apoio institucional para a participação em congressos e eventos educacionais, o estímulo à formação do professor-autor, aquisição de acervo para as escolas, inclusão digital, entre outras, sendo que todas “estão convergindo para a idéia de que o pedagógico é o central”.

Para concluir nossa argumentação, resta-nos apenas mencionar que a formalização do Sistema Municipal de Ensino (SME) de Niterói só foi feita em 2006, por meio do Decreto nº 9.820. Ressalta-se o vocábulo formalizado e não instituído, uma vez que em 1997 o Conselho Municipal de Niterói solicitou ao Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro permissão para organizar seu sistema de ensino. Com base nesta solicitação, o CEE emitiu um parecer – CEE nº 345/97 – delegando competência ao CME de Niterói. Por este motivo, pode-se encontrar em diversas publicações oficiais a menção ao SME de Niterói antes de sua formalização em 2006.

Com base com o Decreto nº 9.820/06 o município de Niterói regulamenta seu próprio sistema, obedecendo aos dispositivos legais emanados pela União (LDB 9.394/96) e pelo Governo Estadual (Lei 4.528/05). Outrossim, cabe ao município organizar, autorizar, credenciar e fiscalizar as instituições componentes de seu sistema, bem como baixar normas que lhe sejam complementares, buscando consolidar no âmbito de sua atuação, o regime de colaboração expresso pela CF de 1988137. De acordo com seu artigo 5º, a educação no município de Niterói passa a ser organizada da seguinte maneira:

134 Em entrevista realizada no dia 01/10/2007, para este trabalho.

135 No ano de 2005 foi produzido um documento intitulado Proposta Pedagógica da Rede Municipal de Educação de Niterói. Desde então, este documento - que trata da reorganização do tempo e espaço escolar por meio do sistema de ciclos, que foi oficialmente implementado em 1999 – vem sendo discutido com os profissionais da rede. Uma segunda versão, que incluiu emendas de caráter supressivo, substitutivo e aditivo foi enviada às escolas no início de 2007, para que novas sugestões fossem encaminhadas para que, enfim, possa ser elaborado o documento final. Tal documento foi publicado no Diário Oficial do município no dia 26/03/2008, sendo denominado Proposta Pedagógica Escola de Cidadania.

136 Lei nº 2307, de 18 de janeiro de 2006.

137 Como exemplo, em 2006 o CME de Niterói fixou Diretrizes para o funcionamento de Unidades de Educação Infantil no SME de Niterói – Deliberação CME nº 009/2006.