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4.1. BREVE HISTÓRICO DA CIDADE DE NITERÓI / RJ

4.1.1. Aspectos gerais

vai além da lógica desbravando um espaço que a lógica não consegue ocupar” (KONDER, 1988a, p.49).

Imbuídos desta perspectiva, iniciaremos este capítulo resgatando alguns dos principais aspectos da cidade de Niterói, a fim de contextualizar a discussão que constitui a segunda parte deste texto, em que focaremos nossa análise no processo descrito acima, que teve início no ano de 2003.

Niterói99 é um município situado no Estado do Rio de Janeiro. Tem por vizinhos os municípios de Maricá, a 43 km de distância, e São Gonçalo, a 13 km. É separado do município do Rio de Janeiro pela Baía de Guanabara, tendo como via de principal acesso a Ponte Presidente Costa e Silva, ou Ponte Rio-Niterói, como é comumente conhecida100(TELELISTAS, 2007). Faz parte da região conhecida como Leste Fluminense ou Região Metropolitana101, juntamente com os municípios de Magé, Itaboraí, Maricá, São Gonçalo, Rio Bonito, Tanguá, Cachoeiras de Macacu, Guapimirim, Silva Jardim, Casimiro de Abreu e Niterói.

Ao tentarmos analisar as principais características da cidade de Niterói devemos considerar que o espaço de uma cidade, com seus atributos naturais, objetos e relações sociais, são fruto da complexidade do trabalho humano, que historicamente o redefine. Destarte, para entender a atual organização de Niterói, é preciso ter em mente que esta reflete um modo de produção - o capitalismo - que com sua lógica modela a estrutura urbana das cidades em geral, conduzindo as concentrações econômica, social e espacial dos meios de produção e da força de trabalho necessária a seu funcionamento.

Sua história começa com a necessidade de ocupação e povoamento da região, que, no século XVI, era constantemente ameaçada pela presença estrangeira, que se interessava pela exploração do pau-brasil. Devido à grande extensão do litoral era difícil manter qualquer controle, facilitando assim a entrada de navios estrangeiros. Apesar de em 1503 o navegador Gonçalo Coelho já ter chegado à Baía de Guanabara e tê-la descoberto em nome de Portugal, somente em 1532 uma expedição chefiada por Martim Afonso dos Santos foi enviada à costa fluminense com o objetivo de colonizá-la. Entretanto, a mesma partiu sem cumprir o proposto, deixando espaço para a atuação dos franceses, que em 1555 fundaram a França

99 O mapa do município de Niterói se encontra ao final, no anexo I do trabalho.

100 Distância rodoviária de 17 km.

101 A Fundação CIDE (Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro) e o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) utilizam como metodologia a divisão do Estado do Rio de Janeiro em mesorregiões e microrregiões geográficas (IBGE, 2005). Desta forma, comporiam o Estado do Rio de Janeiro seis mesorregiões e dezessete microrregiões: Baixadas – Bacia de São Francisco e Lagos; Centro Fluminense – Cantagalo/

Cordeiro, Nova Friburgo, Santa Maria Madalena, Três Rios; Metropolitana do Rio de Janeiro – Itaguaí, Macacu / Caceribu, Rio de Janeiro, Serrana, Vassouras; Noroeste Fluminense – Itaperuna e Santo Antônio de Pádua; Norte Fluminense – Campos dos Goytacazes e Macaé; Sul Fluminense – Baia da Ilha Grande, Barra do Piraí e vale do Paraíba Fluminense. Esta metodologia busca contemplar os elementos naturais em articulação com as relações sociais e econômicas da localidade. Já o Governo do Estado do Rio de Janeiro utiliza a divisão em oito regiões, com base na Lei nº 1.227, que aprovou o Plano de Desenvolvimento Econômico e Social:

Metropolitana, Noroeste Fluminense, Norte Fluminense, Baixadas Litorâneas, Serrana, Centro-Sul Fluminense, Médio Paraíba e Baía da Ilha Grande, tendo algumas delas sofrido algumas alterações desde então. Pode-se dizer que existem vários critérios para a divisão do território fluminense, dependendo dos objetivos a que servem tal divisão. Com a instalação do COMPERJ (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) em Itaboraí, por exemplo, os municípios que se beneficiarão do projeto são conhecidos como região Leste Fluminense (CIDE, 2007). Esta nomenclatura é também utilizada pela Telelistas.

Antártica, tendo estes formado uma aliança com os índios tamoios, que povoavam aquele espaço (RAMOS, 2003, p.6-27).

Como o contingente de forças era insuficiente para combater a entrada de outros navios, o então governador-geral do Brasil, Duarte da Costa, não conseguiu expulsar os franceses. Em 1556, a Regente de Portugal, Rainha D. Catarina da Áustria enviou Mem de Sá para o cargo de governador-geral, tendo este chegado ao Rio de Janeiro em 1560.

Diante da conjuntura, uma esquadra comandada por Estácio de Sá foi também enviada ao Rio de Janeiro, com a tarefa de resolver o problema. Os portugueses conseguiram então formar uma aliança com a tribo temiminós (ou tupiminós), conhecedores da região, mas que se encontravam na Capitania do Espírito Santo. Chefiados pelo cacique Araribóia, contando ainda com o apoio dos padres jesuítas Manoel da Nóbrega e José de Anchieta, Estácio de Sá fundou a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em 1565, tendo contudo os combates permanecido até 1567, quando os franceses foram finalmente derrotados.

Araribóia, que inicialmente quis como recompensa pela ajuda que dera aos portugueses as terras da atual Ilha do Governador, teve que se contentar com uma sesmaria, doada pelo rei de Portugal, em frente à cidade do Rio de Janeiro. A posse ocorreu em 22 de novembro de 1573, data de comemoração do aniversário da fundação da cidade de Niterói.

Seguindo a história, outro aspecto que merece destaque é a criação da Vila Real da Praia Grande, em 1819, ano em que o então Rei de Portugal, D. João VI, esteve hospedado na região. Em 1834, a Vila tornou-se capital da Província do Rio de Janeiro, tendo a palavra

“real” suprimida de seu nome, tendo em vista que o Brasil já havia se tornado independente de Portugal. Foi no ano seguinte elevado à condição de cidade, tendo recebido o nome de Nictheroy, que significa “água escondida” (ENNE, s/d), ou “porto sinuoso” (WIKIPEDIA, 2007a).

Tendo sido capital até 1975102, a principal função que a cidade exerceu desde de quando foi elevada à categoria de capital da Província foi administrativa. Da mesma forma que outros municípios-capitais estaduais, encontraremos sempre, nesses casos, uma superposição do poder estadual sufocando e absorvendo parcelas do poder municipal.

Podemos exemplificar esta afirmação com o fato de Niterói possuir ainda nos dias atuais um grande número de escolas estaduais, decorrência desta sua peculiaridade.

Se no período colonial as principais atividades econômicas eram a pesca artesanal, a manufatura, o cultivo de cana-de-açúcar e a lavoura de subsistência de alguns gêneros

102 Após a inauguração da ponte Rio-Niterói, foi feita a fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, perdendo Niterói o posto de capital para a cidade do Rio de Janeiro.

(RAMOS, 2003, p.33), após a independência e sua elevação à condição de cidade, Niterói foi decompondo sua estrutura rural em função das migrações internas.

Há que ressaltar que esta urbanização acelerada não se fez acompanhar de um aumento significativo das atividades industriais, que se concentraram em grande parte na área pesqueira e na construção naval. A distribuição espacial dos equipamentos urbanos acompanha, de um modo geral, a distribuição da população e das atividades econômicas, que historicamente convergiram no entorno da baía. Segundo dados do IBGE, em 1980, a população já se encontrava totalmente urbanizada103.

No que se refere ao aspecto administrativo, embora a primeira eleição para prefeito do município tenha ocorrido em 1922, em 1904 este cargo já havia sido criado104 em Niterói. Isto se deve ao fato da Reforma Constitucional de 1903 ter previsto a instalação de prefeituras nos municípios onde o Governo Estadual tivesse responsabilidade na organização dos serviços públicos (AEPE/ FME, 2007, p.18). Desta forma, como a iluminação pública e o abastecimento de água eram geridos pelo Governo Estadual, no período de 1904 a 1922 os prefeitos de Niterói eram nomeados e exonerados pelo Governador. Desde então, contabiliza-se 62 prefeitos, contabiliza-sendo que alguns exerceram mais de um mandato.

Assim, delineia-se a cidade que hoje conhecemos. À frente do Poder Executivo temos Godofredo Saturnino da Silva Pinto, do Partido dos Trabalhadores (PT), que assumiu a Prefeitura Municipal de Niterói após a saída de Jorge Roberto Saad Silveira - do Partido Democrático Trabalhista (PDT)105 - para concorrer nas eleições ao Governo do Estado do Rio de Janeiro, em abril de 2002. Foi reeleito em 2004 para o mandato de mais quatro anos, período este que se encerra no presente ano.

Como o objetivo deste capítulo é subsidiar a discussão sobre a elaboração do PME da cidade de Niterói, construindo as informações históricas que tornam os problemas atuais pensáveis (NUNES, 1992, p.13) cabem apenas algumas notas sobre o PT, que como afirmamos anteriormente, é o partido ao qual pertence o atual prefeito.

O Partido dos Trabalhadores teve sua Carta de Princípios lançada publicamente no dia 1º de maio de 1979, tendo seu manifesto de fundação aprovado pelo Movimento Pró-PT em 10 de fevereiro de 1980, em São Paulo (PT, 2007). A idéia de formação de um novo partido, que representasse os trabalhadores, nasceu com inspiração socialista, tendo como base os

103 Segundo dados recentes, a população de Niterói é de aproximadamente 476.669 habitantes em uma área territorial de 129 km2, sendo que totalmente urbana (IBGE, 2006).

104 Decreto nº 833, de 04 de janeiro de 1904.

105 O PDT foi fundado por Leonel Brizola em 1974, após seu retorno do exílio. Para maiores informações, disponível em: <http://pdt12.localweb.com.br>. Acesso em: 10 jan. 2008.

diferentes movimentos sociais. Entretanto, buscando ampliar sua participação institucional, o partido incorporou outras classes sociais, podendo-se perceber o movimento de moderação que veio fazendo nos últimos anos. Desta forma, tal como grande parte dos partidos de esquerda do mundo, atualmente podemos identificá-lo com a social-democracia (FONSECA, 2007).

Desde 1982, quando elegeu dois prefeitos, algumas experiências à frente dos municípios tornaram-se marcas da administração petista, dentre elas o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA) e o sistema de ciclos, ambos implantados na gestão de Paulo Freire na Secretaria de Educação da cidade de São Paulo, na administração de Luiza Erundina, no período de 1989-1992; o Programa Bolsa- Escola, criado por Cristovam Buarque, quando à frente do governo do Distrito Federal; o Orçamento Participativo, famoso mundialmente pela experiência de Porto Alegre (RS)106. Outro aspecto que merece destaque é a busca de tornar as cidades um ambiente educador, assunto ao qual retornaremos em um momento oportuno. Assim sendo, entre experiências reconhecidas e críticas elaboradas por diversos setores da sociedade, o partido cresceu e aumentou significativamente sua participação institucional nos últimos anos.

Na atual gestão municipal, a cidade de Niterói recebeu alguns prêmios de diferentes instâncias, tais como o Selo “Cidade livre do analfabetismo”, dado pelo Governo Federal em 2007 aos municípios que conseguiram reduzir a taxa de analfabetismo para menos de 5% - no caso da cidade, a taxa é de 3,55%107; o Prêmio “Sebrae Prefeito Empreendedor”, em 2003, pelo projeto “Mexilhão Rio – Cultivo e Beneficiamento Comunitário de Mexilhão”; o Selo

“Prefeito Amigo da Criança”, dado pela Fundação Abrinq entre 2005/ 2006; o Selo “Cidade Cidadã” em 2006, pela Câmara dos Deputados de Brasília, devido ao Projeto VivaIdoso; pelo trabalho referente à iluminação pública recebeu o “Prêmio Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia”, em 2005, pelo Ministério de Minas e Energia; pela diminuição do número de casos de hanseníase, recebeu um certificado do Programa Nacional de Eliminação da Hanseníase, dentre outros. Entretanto, cabe ressaltar que apesar destas distinções e dos índices oficiais divulgados na mídia – cidade com maior Índice de Desenvolvimento Humano

106 O volume nº 1 da Revista Debate, publicada pelo CEDS – Centro de Estudos e Debates Socialistas – apresenta uma crítica ao orçamento participativo, por entendê-lo como forma de cooptação das lideranças dos movimentos populares comunitários, a fim de controlá-las (CEDS, 2002).

107 De acordo com o Atlas de Desenvolvimento Humano do PNUD, o índice de analfabetismo data da cidade em 2000 era de 3,7%. Assim sendo, este índice não se constitui mérito exclusivo do programa de governo do PT para a cidade.

(IDH) no Estado e terceira no Brasil108 (PNUD, 2000), o mérito de tais avanços nas diferentes áreas não é somente do atual governo. Trata-se de uma construção histórica, cujas raízes remontam à sua criação e a diversos aspectos de seu desenvolvimento.

Com o objetivo de estabelecer uma relação dialética entre os prêmios recebidos pela cidade e os problemas que ainda persistem em seu cotidiano, faremos algumas considerações sobre notícias publicadas recentemente em um jornal de grande circulação. No período compreendido entre os meses de janeiro a agosto de 2007 houve um aumento de cerca de 30%

em roubos a ônibus na cidade (O GLOBO, 2007a, p.3); ainda existem muitas ruas sem asfalto e esgoto, sobretudo na região de Itaipu e Engenho do Mato (O GLOBO, 2007b, p.10); no próprio centro da cidade existem problemas referentes ao excesso de lixo e escassez de policiamento, que possa evitar a ação de criminosos, de prostituição e a proliferação de vendedores ambulantes (O GLOBO, 2007a, p.2); denúncias que se referem a problemas quanto ao repasse de verbas da Prefeitura para as creches comunitárias beneficiadas pelo Programa Criança na Creche – PCC109 (O GLOBO, 2007c; O GLOBO, 2007d, p.4); além da proposta orçamentária para 2008, em que a EMUSA – Empresa Municipal de Moradia Urbanização e Saneamento – receberia um aumento de 35,2% nos recursos para a realização de obras, representando 14% do total do orçamento previsto de R$ 755.000.000,00. Esta crítica se refere ao fato de 2008 ser um ano eleitoral, em que comumente as licitações são feitas de forma aligeirada, incorrendo-se no risco das obras poderem não ser concluídas no tempo previsto, podendo, ainda, serem feitas sem obedecer a critérios mais rigorosos (O GLOBO, 2007e, p. 3).

Segundo Davies (2006, p.1) existe ainda um problema, que se refere à não aplicação devida de receitas classificadas como Manutenção e Desenvolvimento do Ensino (MDE) especificamente em despesas da educação, que ocasionou uma perda de aproximadamente dez milhões de reais para a educação municipal em 2007. De acordo com o autor, esta é uma

108 Segundo o relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é calculado com base em três outros índices: IDH em Educação, IDH em Renda e IDH em Longevidade. Desta forma, calcula-se o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), de forma, a saber, quanto o município se desenvolveu nos últimos anos e em quanto tempo conseguirá alcançar melhores índices. No caso de Niterói, apresentou um desenvolvimento de 8,45%, no período de 1991 a 2000, passando a ocupar as posições supracitadas. Cabe ressaltar que os governos compreendidos neste período foram as três gestões de Jorge Roberto Silveira (1989 – 1993; 1997 – 2000; 2000 – 2002) e uma gestão de João Carlos de Almeida Sampaio (1993 – 1997). Os dois outros municípios brasileiros que apresentam índices melhores do que Niterói se encontram em São Paulo: São Caetano do Sul e águas de São Pedro.

109 A Fundação Municipal de Educação de Niterói emitiu nota em 02 de julho de 2007, a fim de esclarecer algumas questões apresentadas na reportagem supra citada. Dentre as questões abordadas no documento, trata do convênio firmado com as entidades mantenedoras das creches vinculadas ao PCC, da diferença nos valores financeiros repassados a cada instituição, da ação direta do município na oferta de educação infantil, da contratação dos profissionais do PCC pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), do trabalho pedagógico realizado nestas instituições, entre outras.

prática comum a muitas prefeituras, que contabilizam gastos de outras áreas no orçamento previsto para a educação110.

Tendo como base a discussão iniciada neste item, retornamos ao aspecto educacional de Niterói, analisando alguns dos artigos oriundos da Lei Orgânica Municipal (LOM), promulgada em 1990, que veremos a seguir.