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3.1. AS DIRETRIZES PARA A CONSTITUIÇÃO DE PLANOS MUNICIPAIS DE

3.1.2. As propostas de Plano Estadual de Educação do Rio de Janeiro

como parâmetro qualquer decisão estratégica de âmbito estadual; deverá, sim, envolver os atores da rede estadual de ensino de seu Município, para estabelecer um mínimo de ‘modus vivendi’, pautado inclusive pelos compromissos de atendimento até então assumidos.

A melhor hipótese é a de poder já estar adiantando o processo de elaboração do PEE. Neste caso, deve-se intensificar a participação dos atores municipais na cena estadual, para não somente assimilarem as decisões já tomadas como para se incluírem nas discussões e decisões futuras [...] Tratar-se-ia, então, de uma construção simultânea, o Estado e seus Municípios acertando passos comuns no ritmo de elaboração conjunta dos planos. (UNDIME, 2004, p. 96-97).

Passaremos a comentar um pouco do processo de elaboração do PEE do Rio de Janeiro, uma vez que este deveria servir de embasamento para a elaboração dos planos de educação dos 5.560 municípios fluminenses, dentre estes o município de Niterói, objeto de nosso estudo.

consonância com as metas traçadas no PNE85. Dispunha ainda de dados do 1º COED – Conferência Estadual de Educação – realizado pelo Fórum Permanente do Rio de Janeiro em Defesa da Escola Pública86 entre os dias 21 e 23 de novembro de 2002. A seguir passaremos a descrever alguns de seus principais aspectos.

No documento supracitado, define-se um plano de educação da seguinte forma:

O Plano Estadual de Educação é uma lei, prevista na Lei que criou o Plano Nacional de Educação (Lei 10.172/2001), que, elaborada pelo conjunto da sociedade e pelo Poder Público Estadual, fixa objetivos e metas para todas as modalidades de ensino, para a formação e valorização dos trabalhadores(as) em educação, para o financiamento e gestão da educação, por um período de dez anos.

O objetivo é o de garantir aos cidadãos que a educação escolar, enquanto política social e direito de todos, seja oferecida com qualidade, permitindo assim o acesso e permanência do conjunto da população à escola [...] (COED, 2002, p.13).

Sendo assim, o 1º COED foi organizado com base em seminários preparatórios realizados em todo o Estado do Rio de Janeiro, além de trabalhos realizados nas próprias escolas estaduais, com o objetivo de registrar as demandas da comunidade escolar, de entidades e movimentos envolvidos com a temática educacional, a fim de que fossem

85 Disponível em <http://www.magnomaranhao.pro.br>

86 O caderno de subsídios do I COED é assinado pelas seguintes entidades e movimentos, que compõem o Fórum Permanente do Rio de Janeiro em Defesa da Escola Pública: Governo do Estado do Rio de Janeiro – Secretarias de Estado de Educação, de Ciências e Tecnologia e de Cultura, Movimento Viva Rio, FETEERJ (Federação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino do Rio de Janeiro), ANPEd (Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Educação), SINPRO (Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro), SINEPE (Sindicato Municipal dos Estabelecimentos Particulares de Ensino), ABE (Associação Brasileira de Educação), CAMPO (Centro de Assessoria ao Movimento Popular), CEDE (conselho Estadual de Defesa da Criança e do Adolescente), ISER (Instituto Superior de Estudos Religiosos), ArtCreche (Articulação de Creche e Pré-escola Comunitária de São Gonçalo), REDE (Redes de Centros de Formação Profissional do Grande Rio), UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), UENF (Universidade do estado do Norte Fluminense), UNIRIO (Universidade do Rio de Janeiro), UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), UFRuRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), UFF (Universidade Federal Fluminense), PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica/ Rio de Janeiro, ISERJ (Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro), UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), UPPES (União dos Professores Públicos/Sindicato), UNDIME e o Comitê-Rio, composto pelas seguintes instituições: ABM (Conselho de Entidades Populares de São João de Meriti), ActionAid Brasil, ANFOPE (Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação), APAEP (Associação de Pais e Amigos da Escolas Pública), Casa de Cultura, CEACC (Centro de Estudos e Ações para a Cultura e Cidadania), CEDAC ( Centro de Ação Comunitária), CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), Comissão dos Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro), EDUCAFRO (Educação e Cidadania para Afrodescentes e Carentes), Escola de Formação da CUT, Executiva Estadual dos Estudantes de Pedagogia do Rio de Janeiro, Fórum de Educação Infantil, Fórum de Educação de Jovens e Adultos, FORUMDIR, IBASE\ Observatório da Cidadania\ Agenda Social, MOVA/RJ (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos), MOVA/Nilópolis, MST ( Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), Nova Pesquisa e Assessoria em Educação, Projeto de Educação de Jovens e Adultos de Cachambi, PVNC (Movimento dos Pré-vestibulares para Negros e Carentes) e Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro.

elaboradas questões e propostas que deveriam ser amplamente discutidas no evento, que, por sua vez, serviriam de base à elaboração do PEE. A perspectiva de elaboração democrática do plano é expressa no seguinte trecho:

É inadmissível imaginar a possibilidade de os Planos Estaduais e Municipais de Educação serem experimentos de gabinete, assim como também se deve estar atento para garantir que o âmbito de um Plano de Educação – Estadual ou Municipal – não se refere apenas às instituições dessas esferas de poder e, sim, diz respeito, a todas as instâncias educativas e educacionais que atuam naquele âmbito federativo, independente de que poder estejam ligadas. Em outras palavras, um Plano, por exemplo, não é o planejamento para a rede de ensino municipal, mas um Plano para toda a cidade; envolvendo órgãos federais, estaduais, particulares e municipais para a atuação articulada na persecução dos objetivos comuns (COMITÊ RIO, 2002).

Entretanto, apesar do movimento que se desenrolou no 1º COED, os momentos seguintes não consolidaram a elaboração do PEE, como era previsto. O Executivo Estadual que tomou posse no início de 2003 não contemplou as questões que vinham sendo debatidas pelos segmentos que fizeram realizar os Fóruns e a Conferência, de forma que desconsiderou a elaboração do PEE como elemento de importante contribuição para a definição de rumos da educação estadual. Esta discussão somente voltou à baila no ano de 2007, quando o Ministério Público acionou a responsabilidade do atual Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Educação, no que tange à elaboração do referido Plano.

Após uma longa pausa nas discussões do Estado do Rio de Janeiro, com o objetivo de finalmente formalizar o PEE, foram formadas Comissões Temáticas na Secretaria Estadual de Educação com a tarefa de redigir a minuta do PEE, que viria a ser encaminhada às escolas estaduais e disponibilizada por meio da página eletrônica do Governo do Estado. Este processo se deu de forma aligeirada, uma vez que entre os dias 13 e 20 de agosto a Comissão Organizadora participou de grupos de discussão da proposta de Minuta, realizada em sete regiões diferentes, tendo ainda que finalizar sua redação e disponibilizar às escolas que, por sua vez, deveriam realizar assembléias para escolher os delegados e estudar o documento até o dia 25 de outubro, quando aconteceram os Fóruns Regionais nas mesmas cidades87. Tais Fóruns tiveram caráter consultivo tendo como objetivo a discussão, o encaminhamento de contribuições e preparação da comunidade educacional para a segunda edição do COED, realizada entre os dias 21 e 23 de novembro, no Caio Martins, em Niterói, que se desdobrou

87 Cidades onde aconteceram os Fóruns: Niterói (Pólo I), Nova Iguaçu (Pólo II), Angra dos Reis (Pólo III), Petrópolis (Pólo IV), Cabo Frio (Pólo V), Campos (Pólo VI) e Volta Redonda (Pólo VII).

ainda em mais dois encontros, nos dias 05 e 06 de dezembro. É preciso pôr em destaque que este processo se distingue do primeiro, sobretudo porque durante a realização dos Fóruns, já foi apresentado aos participantes88 um documento denominado Documento Norteador das Discussões sobre a Construção da Minuta do Plano Estadual de Educação do Rio de Janeiro89, no qual especialistas nos diferentes níveis e modalidades de ensino assinaram a autoria de diferentes capítulos.

No início do documento ora apresentado há uma nota explicativa, onde é referenciado o caminho percorrido pela equipe elaboradora, não fazendo, contudo, nenhuma menção aos trabalhos do ano de 2002 e a toda discussão acumulada naquele período. Na página eletrônica da SEE, há um outro documento, intitulado Tese-Guia, cujo subtítulo corresponde ao mesmo anterior, acrescentando ao final “[...] nos Fóruns Regionais e no II COED”. O conteúdo dos dois cadernos difere basicamente pelo fato do segundo não conter uma nota explicativa, mas uma apresentação, que referencia a forma pela qual o processo de construção do PEE do Rio de Janeiro tem início no ano de 2007, bem como menciona a parceria com a UNDIME para a realização do mesmo. Ao final desta apresentação, lista algumas instituições convidadas a enviar delegação aos Fóruns e ao COED90, que, erroneamente, afirma estarem contribuindo na elaboração da minuta. Ora, se as instituições estão sendo convidadas por meio do próprio documento que já se encontra redigido, o correto seria afirmar que as instituições convidadas poderiam vir a contribuir na elaboração do PEE, posto que poderiam apresentar emendas aditivas e/ ou supressivas ao projeto original. Neste caderno há um texto introdutório, que define o PEE como “um instrumento norteador que define os traços delineadores da política educacional vigente para as redes pública e privada do Sistema Estadual de Ensino, bem como para os demais segmentos da sociedade” (2007b, p.5).

No primeiro capítulo de ambos os documentos, é apresentado um diagnóstico da educação na rede estadual, tomando como referência dados que supomos ser de origem da própria SEE, posto que as fontes não são citadas, sendo estes dados confrontados com os dados das esferas federal, municipal e privada. Menciona ainda a Lei Estadual 2.604, e da progressiva redução da oferta de Educação Infantil pelo SEE (SEE, 2007, p.6).

88 Os participantesforam escolhidos na proporção 50 por 1, por meio da realização de Assembléias e/ou Fóruns Específicos constituídos para este fim pelas escolas públicas e privadas, que compõem o SEE, além das escolas dos municípios que compõem o Estado do Rio de Janeiro.

89 Disponível em: < http: //www.see.rj.gov.br>

90 Para ter acesso às entidades convidadas acessar o endereço eletrônico acima, procurar o documento citado, e consultar especificamente as páginas 3 e 4.

Os capítulos seguintes são subdivididos em: Ensino Fundamental, Ensino Médio, Educação Superior, Educação de Jovens e Adultos, Educação à distância e Tecnologias Educacionais, Educação Profissional Técnica de Nível Médio, Formação e Valorização dos Profissionais de Educação, Educação Especial, Educação Indígena, Educação Afro-brasileira, Medidas Socioeducativas, Financiamento e Gestão da Educação, Transversalidades – Saúde, Orientação Sexual, Ética, Cidadania, Trabalho, Consumo e Educação Ambiental – e, por fim, Acompanhamento e Avaliação do Plano. Falaremos brevemente sobre os capítulos que dizem respeito aos objetivos de nosso trabalho - gestão da educação e acompanhamento do PEE - posto que fazem referência mais direta ao regime de colaboração previsto nas legislações federais.

Devido ao tempo de que dispomos para a finalização da pesquisa proposta nesta dissertação, torna-se impossível analisar com maior profundidade este processo, cabendo-nos apenas apresentar algumas reflexões, que poderão ser desenvolvidas em estudos posteriores91. No capítulo 13, elabora-se uma discussão sobre o Financiamento e Gestão da Educação, onde aparecem como estratégias básicas promovidas pelo Estado do Rio de Janeiro para a consecução dos objetivos previstos na CF e LDB, sobre o Regime de Colaboração: “[...] a descentralização financeira em função das dificuldades existentes, a democratização da gestão administrativa, pedagógica e financeira em função das dificuldades existentes, a democratização da gestão administrativa, pedagógica e financeira e a criação de canais de participação livres e representativos, com o objetivo maior de autonomia da escola pública da Rede Estadual de Ensino” (2007, p. 70-80). Na seqüência do texto, apresenta a participação do Estado no FUNDEF e o que muda com a implantação do FUNDEB, os programas do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) realizados no Estado e a meta de efetivação dos 7% previstos no PNE para despesas com educação, sem, no entanto, apresentar ações claras para a consecução da mesma. Como estratégia para democratizar a gestão, menciona a importância do trabalho cooperativo e da cultura de participação, a ser estimulada em toda a comunidade escolar, sobretudo no meio estudantil, como forma de entendimento da dimensão do que é ser cidadão. Cabe ressaltar que a cidadania é definida como “[...] ação e reflexão das práticas cotidianas [...] e possibilidades de interação e convivência com seus pares” (p.84). Apresentam os Conselhos Escolares como forma de materialização do regime de colaboração previsto em lei, posto que se inserem na “[...] estrutura dos sistemas de ensino

91 Cabe ainda destacar que observamos apenas os textos que precederam a realização do II COED, tendo em vista que o texto final, aprovado no referido congresso, não esteve disponível para consulta até o término da pesquisa.

como mecanismos de gestão colegiada, que expressam a vontade da sociedade na formulação e aplicação das políticas educacionais” (SEE, 2007b, p.84).

Estes pressupostos são sintetizados nas 36 (trinta e seis) metas que seguem o texto introdutório do capítulo. Cabe ressaltar um trecho, em que o Estado é apresentado como se fosse um sujeito, e não reflexo dos embates entre os grupos que disputam a hegemonia: “[...]

Assegurar na Gestão Pública entre as redes e sistemas de ensino o papel do Estado como fiador e regulador do direito Universal a uma educação de qualidade. O Estado tem que promover, proteger e garantir esse direito” (p.86).

Assim sendo, no sentido de “promover o direito à educação”, as primeiras metas tratam do regime de colaboração. A meta de número 4 expressa mais claramente a intenção do Governo do Estado ao implementá-la: municipalizar até 2008 as vagas oferecidas na Educação Infantil pela Rede Estadual e, até 2015, as vagas referentes ao 1º segmento do Ensino Fundamental. Ou seja, o que se deseja é pôr em prática a Lei Estadual nº 4.528/2005, já discutida anteriormente e onde pudemos observar alguns aspectos inconstitucionais.

As metas do número 13 ao 18 tratam da criação e fortalecimento de Conselhos Escolares, de diferentes naturezas; outras mencionam a necessidade de informatizar todos os municípios, interligando-os ao Estado, assim como todas as unidades escolares; a questão da alocação de recursos também é contemplada, além da busca de implantação de uma avaliação da Educação Básica no Estado, com o objetivo de contribuir para o Sistema Nacional de Avaliação.

O último e breve capítulo, que se dedica a estabelecer metas para o acompanhamento e avaliação do Plano, apresenta um diagnóstico introdutório que faz menção ao processo de construção do PNE e, mais uma vez, desconsidera o processo de construção deste Plano, iniciado com as discussões do 1º COED.

Assim, aparecem como metas principais o fornecimento de subsídios para elaboração de planos anuais e plurianuais, a divulgação de informações sobre o alcance das metas e dados que possam fornecer um panorama sobre o fluxo escolar, a fim de servirem como indicadores para avaliações ou informações complementares aos municípios.

Concordamos com Davies (2007c) quando afirma, em entrevista para o jornal Folha Dirigida, que a CE não é mencionada na minuta do PEE e que, caso fosse de fato cumprida, dispensaria muitas das metas propostas no mesmo. Cabe ainda um último destaque no que se refere aos documentos analisados, posto que até a finalização desse trabalho não dispúnhamos de uma versão final do PEE, uma vez que mesmo aprovado pelo 2º COED, ainda passará pelo Secretário Estadual de Educação, que o encaminhará ao Governador do Estado – a fim de ser

transformado em um projeto de lei, que poderá ter trechos vetados ou não – até ser encaminhado para a Assembléia Legislativa e poder ser incluído na pauta de discussão. Vale lembrar que neste momento muitos embates poderão vir à tona, e que a proposta ora analisada

pode vir a ser amplamente modificada.

3.1.3. As Leis Orgânicas Municipais (LOMs) e o papel dos Conselhos Municipais de