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Hipóteses de McFadyen, Hoskins e

CAPÍTULO 2 O AMBIENTE NORMATIVO

2.3 A coprodução cinematográfica no Brasil

De 1995 a 2010, o caminho traçado pela produção de filmes brasileiros no regime de coprodução internacional mostra alguns avanços. No total, foram 93 obras em coprodução concluídas, representando 13,32% da produção nacional no período. O ano de 2008 foi o de maior destaque. Foram 17 obras, contra uma variação de zero a dez longas-metragens dos anos anteriores. Mas esse número não é apenas um número aleatório. É o resultado de alguns fatores em conjunto entre intervenção do Estado e iniciativa privada. Uma consequência de ações regulamentares combinadas com o sucesso de alguns diretores brasileiros no exterior, o que despertou nos profissionais do setor um maior interesse pelo modelo. Por isso, podemos considerar 2008 como o ano de início da euforia brasileira da coprodução internacional.

No período analisado, a média de coproduções com relação ao total de obras nacionais produzidas é de seis obras anuais (12%). Em 2008, essa média subiu para 21,52%. Alguns fatores indicam que esta elevação não é apenas uma coincidência. Considerando que a média entre produção e lançamento de um filme de longa-metragem no Brasil é de dois anos, analisa-se a seguir alguns fatos ocorridos em 2006 no campo das políticas audiovisuais.

Nesse ano, através da Lei Federal nº 11.437/06, foram introduzidos os Artigos 1ºA e 3ºA na Lei do Audiovisual, treze anos depois da criação da Lei 8685/1993; foi criado o Programa “Cinema do Brasil”, pelo Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado de São Paulo (SIAESP), com o objetivo de ampliar a participação do audiovisual brasileiro no mercado internacional através principalmente do incentivo às coproduções; foi criado o Fundo

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Setorial do Audiovisual (FSA), através da Lei nº 11.437, para o financiamento de programas e projetos voltados para o desenvolvimento das atividades audiovisuais; e ainda, foi ampliada a possibilidade de administração dos Fundos de Financiamento da Indústria Cinematográfica Nacional, os FUNCINEs, um instrumento do mercado de capitais criado pela MP 2228-1 e alterado pela Lei nº 11.437 de 2006.

Em novembro de 2005, em Salvador-BA, pela primeira vez o Brasil sediou a reunião da Conferência de Autoridades Audiovisuais e Cinematográficas da Ibero-américa (CAACI), fomentando a discussão sobre o tema. Em julho de 2007, em Gramado-RS, a ANCINE e o Instituto do Cinema e do Audiovisual (IP) assinam o novo protocolo de coprodução cinematográfica entre Brasil e Portugal, passando a fornecer apoio financeiro na modalidade de subsídio a fundo perdido a quatro projetos anuais.

Além da repercussão dessas medidas, outro fator chama atenção neste período: o sucesso de cineastas brasileiros no exterior. O filme “Ensaio Sobre a Cegueira” (Blindness)48, uma coprodução entre Brasil, Canadá e Japão, de Fernando Meirelles, abriu o Festival de Cannes em 2008 com cinco minutos de aplausos; o filme “Linha de Passe”, de Walter Salles e Daniela Thomas, levou o prêmio de Melhor Atriz para Sandra Corveloni na mesma edição do Festival de Cannes; e a coprodução franco-brasileira “Última Parada 174”, de Bruno Barreto, foi escolhida pelo Ministério da Cultura (MinC) para representar o Brasil nas seleções do Oscar 2009 - a 81ª Premiação Anual da Academy of Motion Pictures Arts and Sciences. Ainda em 2008, a coprodução brasileiro-italiana “Terra Vermelha”, de Marco Bechis, abriu a 32ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, evento que realizou o debate “A ANCINE e a Política de Coprodução Internacional”, no qual foi constatado que a coprodução internacional com o Brasil apontava para um futuro promissor.

Todos esses fatores levantados acompanhavam uma tendência internacional para a realização de filmes em coprodução. Para Villazana49, dois elementos principais foram a raiz do surto em cooperação de cinema, durante a década de 1990:

O primeiro foi o surgimento de coprodução no âmbito de redes de televisão durante a década de 1980, que foi estendida para o cinema. A segunda foi a proliferação em meados da década de 1980 e 1990 de órgãos multilaterais de coprodução de filmes envolvendo países latino-americanos. Essas organizações são Fonds Sud (um fundo francês, concebido em 1984), Hubert Bals (um fundo holandês criado em 1988) e Ibermedia (um fundo de ajuda de Ibero-americanos originalmente concebido em 1989 e ratificado em       

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O projeto do filme “Ensaio sobre a Cegueira” captou recursos dos artigos 1°, 1° A e 3º da lei do Audiovisual.

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Hegemony Conditions in the Coproduction Cinema of Latin America: The Role of Spain in Framework: The Journal of Cinema and Media., Volume 49, Number 2, Fall 2008, pp. 65-85.

1997). Dessas organizações, Ibermedia é o mais ativo, [...]. Os Estados Unidos não criou um órgão que regula a longo prazo acordos de coprodução de filmes com a América Latina. No entanto, a Motion Picture Association of América (MPAA) estabeleceu uma parceria com empresas líderes de mercado de cinema no subcontinente, como Patagonik Film Group, na Argentina. Assim, o Ibermedia e Patagonik são tomados aqui como paradigmas dos principais financiadores da coprodução de filmes na América Latina. (VILLAZANA, 2008, p. 66). [tradução nossa]

Respondendo à pergunta “E no Brasil, a coprodução vem crescendo desde quando?”, Flaksman50 (2011), responde:

Vem crescendo desde a chamada Retomada, do surgimento da ANCINE, em que houve uma clara definição na administração do Gustavo Dahl e agora do Manoel Rangel, e nesse sentido não houve descontinuidade, no que concerne às coproduções. Há um interesse muito grande em estimular as coproduções, com medidas das mais diferentes, aumentando o número de acordos, renovação dos acordos, tornando-os mais flexíveis, mais modernos. A gente tem feito inúmeros encontros de coprodução internacional; esses acordos de participação com dinheiro; criação do Programa Cinema do Brasil. Existe uma gama enorme de ações do governo, de políticas públicas, para estimular as coproduções. (FLAKSMAN, 2011, em entrevista a esta pesquisadora) Os dados de coproduções internacionais de 1995 a 2010 baseados em relatórios da ANCINE51 mostram um crescimento no número de projetos no regime de coprodução no Brasil. Em 1995, apenas um filme foi realizado em coprodução. Em 1996, nenhum. Entre 1995 a 2002, o Brasil contabilizou 19 longas-metragens em regime de coprodução internacional. De 2003 a 2007 foram 37 projetos. Só em 2007, há o registro de 11 filmes financiados e/ou apoiados por países diversos, o número é 1000% maior que dez anos antes. Os dados são referentes às obras que solicitaram à ANCINE o enquadramento no regime de coprodução internacional. Não estão aí incluídos os filmes que fecharam acordos diretos com empresas de outros países, sem a mediação da agência.

Quanto à diversidade de países parceiros, dados da ANCINE mostram que entre 1995 a 2010 o Brasil dividiu produções com 18 países. Os continentes e subcontinentes que mais possuem parcerias, na ordem decrescente, são: Europa, América do Sul, América do Norte, Ásia, América Central e África. Neste período analisado, nenhum país da Oceania coproduziu filmes com o Brasil. Até 2010, este contabilizava 93 experiências em coprodução internacional. A maioria com Portugal (aparecendo em 45 obras), seguido de Chile (16) e       

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Alberto Flaksman, Superintendente de Acompanhamento de Mercado da ANCINE, concedeu entrevista à autora, por razão desta pesquisa, na sede da agência, na cidade do Rio de Janeiro-RJ, no dia 07 out. 2011.

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O presente relatório, publicado em abril de 2008, procurou reunir todos os dados disponíveis na ANCINE referentes às obras audiovisuais realizadas em regime de coprodução com países com os quais o Brasil possua ou não acordos de coprodução internacional, desde que reconhecidas como obras audiovisuais brasileiras.

Argentina (12). Os outros países parceiros foram: França (07), Espanha (06), Hungria (03), Inglaterra (02), Alemanha (01), Dinamarca (01), Colômbia (02), Uruguai (02), Cuba (01), EUA (01), México (03), Canadá (03), Japão (01), Hong Kong (01) e Moçambique (01).

A seguir, tabelas mostram um panorama da produção e da coprodução no Brasil no período de 1995 a 2010.

Tabela 5 - Série Histórica - Filmes Nacionais Lançados - 1995-2010 Total de Filmes Lançados por Ano de Lançamento52

Ano de