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Hipóteses de McFadyen, Hoskins e

CAPÍTULO 2 O AMBIENTE NORMATIVO

2.2 Os acordos bilaterais e multilaterais

Como já abordamos, para incentivar a prática da coprodução internacional, muitos países promovem assinaturas de acordos bilaterais e multilaterais, como instrumento de incentivo à aproximação cultural e comercial entre eles. Com isso, os produtores dispõem de iniciativas tanto governamentais como intergovernamentais com a função de motivar, facilitar e regulamentar essas relações. Não é objetivo deste trabalho analisar tais acordos, diante de

sua complexidade e da abertura para uma ampla discussão. O que apresentamos aqui são os principais aspectos, em termos de contextualização.

De 1963 a 2010, o Brasil assinou e mantém acordos bilaterais com onze países: Argentina (1999), Alemanha (2008), Canadá (1999), Chile (1996), Colômbia (1983), Espanha (1963), França (1969), Índia (2007), Itália (1974), Portugal (1981) e Venezuela (1990). Além disso, o Brasil desempenha acordos multilaterais: 1) Convênio de integração cinematográfica ibero-americana (1989); 2) Acordo para criação do mercado comum cinematográfico latino- americano (1989); 3) Acordo latino-americano de coprodução cinematográfica (1989).

Tabela 3: Cronologia dos acordos bilaterais de coprodução internacional

País

Celebração do

Acordo

Entrada em

vigor

Tempo para

vigorar

Espanha 12/12/1963 12/12/1963 Imediato 06/02/1969 08/03/1969 Um mês França 18/05/2010 (novo Acordo) 20/08/2010 Um mês Itália 09/11/1970 04/07/1974 Três anos 20/08/1974 Informação não disponível Informação não disponível Alemanha 17/02/2005 20/11/2007 2 anos e 9 meses

Portugal 03/02/1981 04/06/1985 4 anos e 4 meses

Colômbia 07/12/1983 07/12/1983 Imediato

Argentina 18/04/1988 25/07/1995 Sete anos

Venezuela 17/05/1988 25/05/1990 Canadá 27/01/1995 05/01/1999 4 anos 18/03/1966 18/03/1966 Imediato 10º Chile 25/03/1996 (ajuste complementar) 11º

Em todos os acordos bilaterais de coprodução cinematográfica firmados entre o Brasil e outros países, há a determinação ou a orientação para que representantes dos dois países envolvidos façam uma análise periódica da aplicação do acordo, no caso, tarefa de uma Comissão Mista, que serviria para avaliar a aplicação, o equilíbrio entre as partes e a eficácia do acordo, assim como apresentar propostas de melhorias. Porém, no âmbito das instituições públicas brasileiras não existe nenhuma comissão mista. A formação de comissões mistas, compostas de funcionários responsáveis pelo setor cinematográfico de cada Estado e especialistas designados pelas respectivas autoridades competentes, seria importante para o desenvolvimento de relações equilibradas e também como atividade regulatória. No entanto, segundo Manoel Rangel,

Não são todos que falam em Comissão Mista, mas são todos que falam que as autoridades cinematográficas dos dois países devem fazer balanços periódicos, e a gente faz, mesmo que não seja formal, mesmo que não se produza um relatório etc., a gente faz um acompanhamento permanente, se não fizéssemos não renovávamos acordos, não atualizávamos bases de acordos. As atualizações são derivadas desse tipo de análise sistemática. (RANGEL, 2011, em entrevista a esta pesquisadora).

O Acordo para a Criação do Mercado Comum Cinematográfico Latino-americano foi assinado em 1998, entre dez países da América Latina (Argentina, Brasil, Colômbia, Cuba, Equador, México, Nicarágua, Panamá, Venezuela e República Dominicana), com o objetivo de criar um sistema multilateral de participação nos espaços nacionais de exibição cinematográfica.

Ressaltando que o MERCOSUL é uma prioridade da política externa brasileira, o que levou a ANCINE - em articulação com a Secretaria do Audiovisual do MinC - a participar da criação da Reunião Especializada do Cinema e Audiovisual do Mercosul (RECAM). Cabe aqui uma constatação: como listamos acima, entre os países signatários do Acordo para a Criação do Mercado Comum Cinematográfico Latino-americano estão apenas dois dos quatro países membros do MERCOSUL - a Argentina e o Brasil, ficando de fora o Uruguai e o Paraguai. Interessante destacar, ainda, que o Uruguai e o Paraguai também não estão entre os 11 países com os quais o Brasil mantém acordos bilaterais de coprodução cinematográfica. Já a Argentina mantém com o Uruguai um acordo desde 2001, entre um total de 11 acordos bilaterais vigentes, mas também não tem o Paraguai como um de seus países parceiros. Mesmo sem que haja uma tradição cinematográfica no Uruguai e no Paraguai, é no mínimo

motivo de questionamento o porquê desses dois países continuarem de fora até mesmo desse tipo de negociação diplomática, já que a intenção é facilitar o acesso à produção nos países periféricos e promover a diplomacia cultural.

Quanto aos princípios diplomáticos nos acordos bilaterais, podemos identificá-los no quadro abaixo:

Tabela 4 - Princípios diplomáticos nos acordos bilaterais

País

parceiro Princípios

Espanha

No desejo de incrementar o prestígio e o desenvolvimento da cinematografia do Brasil e da Espanha, está disposto a concluir com o Governo espanhol um Acordo de Coprodução Cinematográfica.

França46

Considerando a Convenção da UNESCO sobre a Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, de 20 de outubro de 2005;

Considerando a sua vontade comum de renovar e reforçar as relações cinematográficas entre o Brasil e a França;

Considerando a sua vontade de valorizar o seu patrimônio cinematográfico comum;

Considerando a necessidade de atualizar as suas relações de cooperação na área cinematográfica, respeitadas as suas regulamentações respectivas na matéria e a realidade dos mercados

Itália

Considerando que as respectivas indústrias cinematográficas se beneficiarão de mais estreita e mútua colaboração na produção de filmes de qualidade, no escopo de difundir as tradições culturais dos dois países, bem como facilitar a expansão das recíprocas relações econômicas

Alemanha

Buscando desenvolver ainda mais a cooperação entre os dois países na área cinematográfica;

Desejosos de intensificar e favorecer a coprodução cinematográfica, que poderá promover o desenvolvimento das indústrias cinematográfica e audiovisual de ambos os países e o fortalecimento do intercâmbio cultural e econômico recíproco;

Convencidos de que essas formas de intercâmbio contribuirão para a intensificação das relações entre os dois países;

Portugal Animados pelo propósito de difundir através da coprodução de filmes, o acervo cultural dos dois povos e pelo objetivo de promover e incrementar os interesses comerciais das indústrias cinematográficas respectivas, com base       

46

O primeiro acordo de coprodução cinematográfica entre Brasil e França foi firmado em 1969 e modificado em 1985, deixando de vigorar com a assinatura e a promulgação do novo Acordo em 2010.

na igualdade de direitos e benefícios mútuos. Colômbia*

(não é mais utilizado)

Animados pelo propósito de facilitar a produção em comum de filmes que por sua qualidade artística e técnica contribuam ao conhecimento mútuo de seus povos e ao fomento das relações culturais entre os dois Estados.

Argentina

Animados pelo propósito de facilitar a produção conjunta de obras que, por suas elevadas qualidades artísticas e técnicas, contribuam ao desenvolvimento das relações culturais e comerciais entre os dois países e sejam competitivas tanto nos respectivos territórios nacionais como nos de outros Estados.

Venezuela

Animados pelo propósito de facilitar a produção em comum de filmes que, por sua qualidade artística e técnica, contribuam para o desenvolvimento das relações culturais e comerciais entre os dois países, e que sejam competitivos tanto nos respectivos territórios nacionais como nos de outros países.

Canadá

Considerando ser desejável a criação de um marco para o desenvolvimento de suas relações no campo das indústrias audiovisuais e notadamente para as coproduções para cinema, televisão e vídeo;

Conscientes de que as coproduções de qualidade podem contribuir para a maior expansão dos setores de produção e de distribuição para cinema, televisão e vídeo de ambos os países, bem como para o desenvolvimento do intercâmbio cultural e econômico;

Convencidos de que esse intercâmbio contribuirá para o fortalecimento das relações entre os dois países.

Chile

Conscientes da contribuição que as coproduções podem aportar ao desenvolvimento da indústria audiovisual, assim como ao crescimento dos intercâmbios culturais e econômicos entre os dois países;

Decididos a estimular o desenvolvimento da cooperação cinematográfica entre a República Federativa do Brasil e a República do Chile e;

Levando em conta o Convênio de Cooperação Cultural e Científica celebrado pelos Governos de ambos os Estados em 23 de dezembro de 1976, em especial o Artigo X;

Índia

Buscando desenvolver a cooperação entre os dois países na área audiovisual;

Desejosos de expandir e favorecer a coprodução de obras audiovisuais, que poderá promover o desenvolvimento das indústrias cinematográfica e audiovisual de ambos os países e o fortalecimento do intercâmbio cultural e econômico recíproco;

Convencidos de que essas formas de intercâmbio contribuirão para a intensificação das relações entre os dois países

É importante refletir sobre a questão de como são feitos os filmes em regime de coprodução internacional. No Acordo Latino-americano de Coprodução Cinematográfica (1998), por exemplo, está explícito o objetivo de divulgação da cultura das nações envolvidas. Os países signatários, membros do convênio de integração cinematográfica ibero-americana devem estar “conscientes de que a atividade cinematográfica deve contribuir para o desenvolvimento cultural da região e para sua identidade” (BRASIL, 199847) como expressa oficialmente o acordo. Embora pareça evidente a intenção desses acordos, é necessário discutir como as culturas dos países signatários estão inseridas nessas obras audiovisuais. Tema este que não é discutido neste trabalho, tendo em vista a sua amplitude e possibilidades de abordagens.