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Apesar da inserção no texto constitucional dos princípios da publicidade, da moralidade, apesar dos avanços da ciência e da técnica no que diz respeito à transparência da ação administrativa, apesar dos instrumentos de controle instituídos em nível constitucional, apesar das sanções previstas, continua latente o problema da corrupção, a desafiar a todos os cidadãos brasileiros.

Caio Tácito126 discorre que o servidor público submete-se, no

exercício do cargo ou função, a obrigações e deveres que são regulados pelo princípio da legalidade, o qual se vincula a outros princípios essenciais, estabelecidos na Constituição e nas leis ou regulamentos, entre eles o da finalidade e o da moralidade administrativa.

126 TÁCITO, Caio. Improbidade administrativa como forma de corrupção. Revista de Direito

A probidade administrativa é, em suma, a norma que rege a conduta do agente público como elemento subjetivo na prática do serviço público, cuja violação caracteriza o instituto da improbidade administrativa, regulada de forma especial na Lei 8.429/92.

E leciona Caio Tácito127 que o princípio da moralidade é

ameaçado pela corrupção administrativa que tem raízes seculares como desvio ético, a ser combatido no plano da responsabilidade administrativa na responsabilidade penal e civil do servidor público.

Raul Machado Horta128 comenta que a corrupção “é

manifestação maligna, que nega a moralidade administrativa”. No

domínio do Direito, identifica o crime, tipificado no Código Penal, na categoria dos crimes praticados por funcionário público contra a Administração em geral, ao lado de outros crimes, como o peculato, o excesso de exação, a prevaricação, o tráfico de influências, o contrabando e a condescendência criminosa. Informa que, até o advento do Código Penal de 1940, a corrupção não era tratada sob essa designação, adotando-se na legislação anterior, as expressões “peita ou suborno”.

Afirma este autor que a corrupção é uma conseqüência, cuja causa primeira reside na ruptura de valores, operada no domínio da conduta humana. Alega que a autonomia da Política, no seu

127 Ibidem, p. 2.

128 HORTA, Raul Machado. Improbidade e corrupção. Revista de Direito Administrativo, Rio de

desvinculamento da ética, conduziu, em seu longo percurso histórico, ao enfraquecimento da consciência ética, que as formas de organização política aprofundaram, promovendo a separação entre ética e Política. Corrobora que a ética encerra valor individual, desprovido de sanção material e exterior. Na ética, a coerção é interior e subjetiva, no plano da consciência de cada um. Essa apreciação conceitual sobre a autonomia da regra moral, não desconhece a subsistência das relações entre a Ética, a Política e o Direito e, especialmente, a jurisdização da regra moral.

No domínio das idéias, a filosofia política inseriu o tratamento da corrupção no quadro dos regimes políticos, estabelecendo a correlação entre corrupção e formas de organização política. Aristóteles dedicou o Livro VII da Política, para analisar as causas das mudanças de regimes e identificar nessas mutações as corrupções próprias de cada um, no plano das formas degeneradas dos regimes129.

A corrupção do regime político é inseparável da corrupção praticada pelos agentes, os funcionários, os titulares de cargo e mandatos, os representantes do Poder Político. A corrupção é dissimulada no seu procedimento.

Sérgio Buarque de Holanda, analisando o aparecimento da corrupção administrativa no período imperial, assinalou que “a

corrupção insinuava-se nas antecâmaras dos Ministérios e acabava por

invadir toda a periferia de poder, ajudando a corroê-lo130”.

Raul Horta131 informa que o controle da corrupção pode ser

exercido através dos poderes de investigação das Comissões Parlamentares de Inquérito (Constituição Federal, artigo 58, parágrafo 3.°) e da fiscalização contábil, financeira e orçamentária dos Tribunais de Conta da União e dos Estados, os quais, entre as suas atribuições, receberam a de apurar irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público (Constituição Federal, artigo 71, II).

Na legislação ordinária desenvolvendo as disposições da Constituição, destaca-se a Lei Federal 8.429/92, lei de anticorrupção, a legislação eleitoral codificada 4.737/65, a Lei 8.666/93, os Códigos de Ética profissional, que visam afastar as práticas moralmente contaminadoras da atividade profissional.

Na visão de Tércio Sampaio Ferraz Júnior132, corrupção tem a ver com percepções sociais, que são importantes na formação das dimensões éticas da sociedade e, assim, do modo como os atos públicos são avaliados e julgados. Elas podem ser apresentadas na forma de estereótipos que são facilmente assimilados pela sociedade e mesmo por estrangeiros que com ela entram em contato.

130 HOLANDA, Sérgio Buarque de. História geral da civilização brasileira. São Paulo: Difel, 1993, p.

94.

131 Op. cit., p. 127.

132 FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Ética administrativa num país em desenvolvimento. Cadernos

Magalhães Noronha133 conceitua corrupção como “o comércio

ignóbil da função. É o interesse vil, é a ganância, é a avidez do ganho que, em regra, inspira e lhe dá o ser. A propriedade ou impropriedade do ato não conta”.

Edmundo Oliveira134 se posiciona dizendo que a palavra

corrupção aparece na linguagem do Direito brasileiro em duas acepções diferentes: perversão e suborno. Na acepção de perversão, com tal sentido, corromper é induzir à libertinagem, tal como acontece no crime de corrupção de menores, definido no artigo 218 do Código Penal. Na acepção de suborno, corromper é, então, pagar ou prometer algo não devido para conseguir a realização de ato de ofício. E que ser corrompido é aceitar vantagem patrimonial indébita, como previsto nos artigos 333 e 317 do mesmo Diploma.