• Nenhum resultado encontrado

3 PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO – INVESTIGAÇÃO

3.1 CONTROLE INTERNO

O controle interno, feito pela própria Administração, é elemento essencial para a própria segurança do agente político responsável pelo órgão governamental. Na falta de um adequado sistema interno de controle da Administração, muitas vezes os problemas são detectados somente após serem utilizados por adversários políticos, no sentido de denegrir a imagem da Administração.

O controle interno, chamado de executivo, pode ser feito por autocontrole espontâneo ou provocado. O espontâneo é constituído

pela auto-adoção de mecanismos de controle interno, através de órgãos especializados, como as ouvidorias ou sistemas de avaliação213.

Aliás, a Constituição Federal, em seu artigo 74, determina que os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário devem manter, de forma integrada, sistema de controle interno que deve ter, entre outras, a finalidade de comprovar a legalidade da gestão financeira e patrimonial dos órgãos da Administração federal, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado.

Informa Luís Carlos Carvalho214 que em relação aos

municípios, existe norma expressa na Carta Magna que determina que a fiscalização deve ser exercida pelo Poder Legislativo, mediante controle externo, realizada com o auxílio do Tribunal de Contas Estadual, e pelos sistemas de controle interno do Poder Municipal.

O primeiro vigilante, em um sistema democrático, deve ser o cidadão o qual detém o poder e o dever de exercitar a sua cidadania exigindo a correta administração dos bens e receitas públicas, através de uma gestão ética e impregnada dos preceitos de moralidade. O sistema constitucional coloca à disposição do cidadão a ação popular, tradicional remédio jurídico de defesa do erário público, o mandado de segurança, a ação civil pública, os direitos de petição e de representação e a ação direta de inconstitucionalidade. Esses são

213 CARVALHO, Luís Carlos Schmidt de. Responsabilidade civil e criminal dos agentes públicos.

Revista Jurídica, Blumenau, ano 3, junho1998, p. 79.

instrumentos de tutela da gestão pública e devem ser utilizados nas condições previstas pelo legislador constituinte.

Segundo Luis Carlos Carvalho215 o grande instrumento para o

cidadão é a ação popular, que defende afirmando que, mesmo que atualmente a maioria da população tem optado por representar e requerer providências por parte do Ministério Público, a ação popular permanece como importante instrumento a ser esgrimido em defesa do patrimônio e da moralidade pública.

Wallace Paiva Martins Júnior216 declara que em decorrência

dos princípios constitucionais da Administração Pública, a probidade administrativa é dever a ser observado fielmente pelo próprio Poder Público e seus agentes, de qualquer espécie, como revela o artigo 4.° da Lei Federal 8.429/92. Diz que o exercício do controle interno do ato de improbidade administrativa é decorrência lógica do poder-dever disciplinar, mas, a par dele, esta lei instituiu investigação e controle específico no artigo 14.

A Administração Pública não pode abdicar da observância do dever de punir seus agentes por faltas disciplinares cometidas e por atos de improbidade administrativa, atendendo ao princípio da moralidade administrativa, pois, os atos de improbidade poderão também ser investigados administrativamente, e, obviamente, pela

215 Ibidem, p. 80. 216 Op. cit., p. 404.

própria autoridade administrativa competente, sob pena de responsabilidade, informa Edmir Netto Araújo217.

Wallace Paiva Martins Júnior218 comenta que é obrigação da

Administração Pública reprimir a conduta daqueles que, exercendo função pública, acabam por lesá-la, mas esse dever também se estende entre os agentes públicos, do superior ao inferior, do controlador ao controlado, pouco importando as injunções pessoais, políticas e emocionais. Eventual omissão de providências para repressão de ato ímprobo importará também em providências para o agente público omisso.

Desse modo, conclui o autor, o controle interno da Administração Pública direta ou indireta deverá ser empregado, em conjunto com o poder disciplinar, não só para punição do agente por fato considerado como falta funcional, mas também para municiar a própria Administração de elementos para ajuizamento da ação civil pública visando à aplicação das penalidades previstas no artigo 12 da Lei 8.429/92.

A investigação pode ser decretada de ofício, a requerimento de qualquer pessoa ou por requisição do Ministério Público. A Lei 8.429/92 obriga os agentes públicos a velar pela estrita observância dos princípios contidos no artigo 37 da Constituição Federal, artigo 4.°

217 ARAÚJO NETTO, Edmir. O ilícito administrativo e seu processo. São Paulo: Revista dos Tribunais,

1994, p. 232.

e, reiteradas vezes, determina conduta obrigatória e impositiva, torna lícito concluir o dever do agente público determinar de ofício d instauração de investigação, como coloca Edmir Netto de Araújo219, sem embargo da omissão do artigo 14.

Por isso, continua discorrendo este autor, deve-se instituir um órgão independente com competência exclusiva para investigação (de ofício ou a requerimento) de ato de improbidade administrativa, com agentes públicos requisitados para o exercício de funções por prazo determinado e irrevogável, órgão sem subordinação hierárquica, mas com amplos poderes investigatórios e meios capazes.

A intenção da legislação, lembra Edmir Netto de Araújo, é a indisponibilidade do interesse público consistente na efetiva repressão da impessoalidade, a partir do conhecimento do significado do princípio da impessoalidade. Informada por tais contornos, exsurge como obrigação legal do agente público competente determinar de ofício a instauração de ato de improbidade administrativa, prestigiando o interesse público primário.

Ressalta Carlos Alberto Ortiz220 que, em se tratando de requerimento de qualquer pessoa (e não somente de cidadão), é necessária representação com exposição do fato e indicação de provas de cuja existência tenha conhecimento.

219 Op. cit., p. 232.

220 ORTIZ, Carlos Alberto. Improbidade administrativa. Cadernos de Direito Constitucional e Eleitoral.

Adverte José Marcelo Menezes Vigliar221 que o indeferimento

não impede o acesso do interessado ao Ministério Público, nem condiciona o exercício do direito de ação por este ou pela própria entidade interessada, pois, se houver elementos, poderão propor a ação cabível. Observa que a lei não exige que o representante prove o ato de improbidade administrativa; requer apenas que ele informe o fato, sua autoria e indique as provas de que tenha conhecimento. Se o interessado não tiver conhecimento de provas, mas ao fatos forem graves e a representação apresentar credibilidade, verossimilhança e seriedade, será obrigatória a instauração de apuração, cujo caráter é unilateral, inquisitorial, de busca de elementos ou indícios de autoria e materialidade, e, por isso, não sujeita ao contraditório e à ampla defesa, visto que exigíveis apenas quando o procedimento, por si só, possa redundar na imposição de alguma penalidade ao agente.

Maria Sylvia Zanella Di Pietro222 aduz que a Lei Federal 8.429/92, à míngua de estabelecer normas procedimentais próprias para o procedimento administrativo ali determinado, salvo no tocante aos requisitos de admissibilidade da representação, estabelece para os servidores públicos federais a observância da forma prevista na Lei Federal 8.112/90. diz que é bem verdade que ali se fixa a garantia da defesa e do contraditório, entretanto, somente nos casos em que possa resultar punição administrativa e não nos que tenham como desiderato fornecer indícios ao Ministério Público ou à própria Administração

221 VIGLIAR, José Marcelo Menezes. Ação civil pública. São Paulo: Atlas, 1997, p. 135. 222 Op. cit., p. 402.

Pública para provocar o poder jurisdicional com o escopo de aplicação das penalidade previstas no artigo 12.

Recomenda a autora que vale neste caso o mesmo raciocínio desenvolvido com relação ao inquérito civil e aos outros meios previstos no artigo 22 da Lei 8.429/92 a respeito do caráter unilateral e inquisitivo da investigação, havendo a necessidade de compatibilizar- se o desiderato legal com o texto da Lei 8.112/90, aproveitando a liturgia ali estabelecida, porém afastando a defesa e o contraditório, cuja sede é o processo civil ou o processo administrativo disciplinar, vocacionados à imposição de penalidade pela autoridade judicial e administrativa, respectivamente, que possa deles resultar, pois tais garantias só têm cabimento em processo (e não procedimento) de que possa resultar penalidade administrativa e não judicial.

Celso Antônio Bandeira de Mello223 assevera que a rejeição da representação deve ser fundamentada, sob pena de nulidade. A exigência da motivação é inerente a todo ato administrativo, em que o motivo é requisito obrigatório. A motivação servirá justamente para a recorribilidade da decisão na via administrativa, acesso ao Ministério Público ou exame jurisdicional da própria decisão, porque é direito subjetivo público a fundamentação de todos os atos e decisões administrativas.