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A crescente internacionalização do Direito da Família ocidental

No documento O Direito Internacional da Famlia Tomo I (páginas 50-52)

NOTA IMPORTANTE:

1. A crescente internacionalização do Direito da Família ocidental

O Direito da Família dos países ocidentais não conhece fronteiras: regula internamente situações transnacionais mediante normas de outros ordenamentos, importa soluções e sujeita- se a fontes extraestatais.

A regulação interna de situações transnacionais mediante normas de outros ordenamentos constitui um exemplo clássico de superação de fronteiras de um Estado. As chamadas normas de conflito, como as que estão previstas nos artigos 49º a 61º do Código Civil português para as relações de família, podem determinar a aplicação de normas de um Estado no território de outro Estado.

A tendência para importar soluções provenientes de ordenamentos estrangeiros, associada a uma certa homogeneidade das várias sociedades nacionais, levou já à formação de um núcleo ocidental comum de Direito da Família, que se deteta nomeadamente na consagração do princípio da não discriminação entre cônjuges e entre filhos nascidos dentro e fora do matrimónio1.

Em 1 de setembro de 2001 foi criada a Comissão de Direito da Família Europeu. Tendo como objetivo a harmonização do Direito da Família na Europa, a Comissão, composta por especialistas oriundos da maioria dos Estados-membros da União Europeia e de outros países europeus (Noruega, Rússia e Suíça), elaborou já princípios em três áreas: divórcio e alimentos entre ex-cônjuges; responsabilidades parentais; efeitos patrimoniais do casamento.

Os Princípios do Direito da Família Europeu Relativos a Divórcio e Alimentos entre Ex-

1 Cf. DE VITA, Anna, “Aperçu comparatif sur l’évolution européenne: considérations et conjetures”, em La

contractualisation de la famille, sob a direção de Fenouillet/Vareilles-Sommières, Paris, Economica, 2001, p. 265; GUILHERME DE OLIVEIRA, “Um Direito da Família Europeu? (Play it again, and again…Europe)”, texto publicado na obra do mesmo autor, Temas de Direito da Família, 2ª ed., Coimbra, Coimbra Editora, 2001, pp. 319-331.

SUMÁRIO: 1. A crescente internacionalização do Direito da Família ocidental; 2. A

Convenção da Haia de 19.10.1996 e o Regulamento Bruxelas II bis: aspetos gerais; o direito de visita, deslocação ou retenção ilícitas de crianças (remissão); 3. Divórcio, separação e anulação do casamento (Regulamento Bruxelas II bis); 4. Responsabilidades parentais e medidas de proteção (Regulamento Bruxelas II bis e Convenção da Haia de 19.10.1996); 5. Considerações finais.

Cônjuges foram publicados em 20042, enquanto os Princípios do Direito da Família Europeu

Relativos às Responsabilidades Parentais foram publicados em 20073. Com a formulação de

todos estes princípios, que não vinculam os Estados dos peritos participantes, procura-se sobretudo persuadir os legisladores nacionais a adotar um mesmo modelo. Do ponto de vista metodológico, a Comissão do Direito da Família Europeu tentou que os princípios enunciados refletissem em primeiro lugar as normas atualmente vigentes na maioria dos países europeus e que só subsidiariamente traduzissem soluções novas. Alegadamente, houve a preocupação de introduzir apenas soluções novas comprovadamente superiores às vigentes, tendo em conta as tradições históricas, a evolução e as exigências da sociedade europeia4.

A Lei nº 61/2008, de 31 de outubro, assinala o triunfo da Comissão de Direito da Família Europeu, acolhendo muitos dos mencionados princípios5.

Recentemente, foram publicados os Princípios do Direito da Família Europeu Relativos às Relações Patrimoniais entre Cônjuges6.

Por fim, a internacionalização opera pela sujeição a fontes extraestatais. O elenco deste tipo de fontes a que Portugal está vinculado no âmbito do Direito da Família é extenso, afigurando-se pertinente identificar aqui apenas as seguintes7: a Convenção sobre os Aspetos

Civis do Rapto Internacional de Crianças (Haia 25.10.1980), a Convenção sobre os Direitos da Criança (26.01.1990) e a Convenção Relativa à Competência e à Lei Aplicável, à Execução e à Cooperação em Matéria de Responsabilidade Parental e de Medidas de Proteção das Crianças (Haia 19.10.1996), no domínio do Direito da Filiação; a Convenção sobre o Reconhecimento dos 2 Cf. KATHARINA BOELE-WOELKI e outros, Principles of European Family Law Regarding Divorce and

Maintenance Between Former Spouses, Antuérpia/Oxford, Intersentia, 2004. Há uma tradução portuguesa destes princípios na revista Lex Familiae nº 5, 2006, pp. 14 e s.

3 Cf. KATHARINA BOELE-WOELKI e outros, Principles of European Family Law Regarding Parental

Responsibilities, Antuérpia/Oxford, Intersentia, 2007. A obra também contém versões dos princípios em línguas francesa (pp. 289 e s.) e espanhola (pp. 315 e s.).

4 Cf. SALVATORE PATTI, "I Principi di Diritto Europeo della Famiglia sul Divorzio e il Mantenimento tra Ex

Coniugi", Familia 2005/2, p. 340.

5 Cf. JORGE DUARTE PINHEIRO, “Ideologias e ilusões no regime jurídico do divórcio e das responsabilidades

parentais”, em AA.VV., Estudos em Homenagem ao Professor Doutor Carlos Ferreira de Almeida, Coimbra, Almedina, 2011, p. 487.

6 Cf. KATHARINA BOELE-WOELKI e outros, Principles of European Family Law Property Relations Between

Spouses, Antuérpia/Cambridge, Intersentia, 2013.

7 Para um elenco das principais fontes do Direito da Família quer de Direito Internacional Público quer da União

Europeia, cf. JORGE DUARTE PINHEIRO, O Direito da Família Contemporâneo, 4ª ed., Lisboa, AAFDL, 2013, pp. 50-52. Tais fontes podem ser consultadas em versão portuguesa numa compilação organizada pelo autor, Código do Registo Civil, Código do Notariado e outras fontes com especial relevância em matéria de família, menores e sucessões, 6ª ed., Lisboa, AAFDL, 2013.

Divórcios e Separações de Pessoas (Haia 01.06.1970), no domínio do Direito Matrimonial; e o Regulamento (CE) nº 2201/2003, de 27.11, nos dois mencionados domínios (Direito da Filiação e Matrimonial).

Será dada especial atenção a duas das fontes extraestatais ora enunciadas: a Convenção Relativa à Competência e à Lei Aplicável, à Execução e à Cooperação em Matéria de Responsabilidade Parental e de Medidas de Proteção das Crianças, ou Convenção da Haia de 19.10.1996, e o Regulamento (CE) nº 2201/2003, de 27.11, ou Regulamento Bruxelas II bis8 [que revogou o Regulamento (CE) nºs 1347/2000, de 29.05. ou Regulamento Bruxelas II].

2. A Convenção da Haia de 19.10.1996 e o Regulamento Bruxelas II bis: aspetos gerais; o

No documento O Direito Internacional da Famlia Tomo I (páginas 50-52)