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Responsabilidades parentais e medidas de proteção (Regulamento Bruxelas II bis e Convenção da Haia de 19.10.1996)

No documento O Direito Internacional da Famlia Tomo I (páginas 54-57)

NOTA IMPORTANTE:

4. Responsabilidades parentais e medidas de proteção (Regulamento Bruxelas II bis e Convenção da Haia de 19.10.1996)

I. Em matéria de responsabilidades parentais e medidas de proteção, o Regulamento Bruxelas II bis contém normas sobre competência, reconhecimento, execução e cooperação.

O artigo 8º estabelece a regra geral de competência, atribuindo o poder de decidir às autoridades do Estado-Membro no qual a criança resida habitualmente à data da instauração do processo.

16 Cf. HELENA BRITO, “O Regulamento (CE) nº 2201/2003 do Conselho, de 27 de novembro de 2003, relativo à

competência, ao reconhecimento e à execução de decisões em matéria matrimonial e em matéria de responsabilidade parental”, em AA.VV., Estudos em memória do Professor Doutor António Marques dos Santos, volume I, Coimbra, Almedina, 2005, p. 343.

Todavia, há outras normas de competência, que, designadamente, quando se trate de filho matrimonial, atribuem também poder de decidir às autoridades que o podem fazer quanto ao pedido de divórcio, separação ou anulação de casamento dos pais (cf. artigo 12º, nº 1).

Na hipótese de concurso de ações em Estados-Membros diferentes, o artigo 19º, nº 2, do Regulamento opta por uma solução de verdadeira litispendência, que, portanto, não coincide com aquela que se fixa no artigo 19º, nº 1, para os assuntos matrimoniais.

Em caso de urgência, podem ser tomadas medidas provisórias e cautelares pelas autoridades do Estado-Membro em que se encontra a criança ou os seus bens, ainda que, por força do Regulamento, uma autoridade de outro Estado-Membro “seja competente para conhecer do mérito” (artigo 20º, nº 1).

Na área do reconhecimento, o Regulamento estatui que as decisões proferidas num Estado-Membro são reconhecidas nos outros Estados-Membros, mediante a mera observância das formalidades impostas pelo artigo 37º e sem possibilidade de revisão quanto ao mérito (artigos 21º e 26º).

Os fundamentos de não-reconhecimento são apenas os que constam do artigo 23º. Nos termos da alínea a), não é reconhecida a decisão manifestamente contrária à ordem pública do Estado-Membro requerido, “tendo em conta o superior interesse da criança”17. A alínea b) aceita

implicitamente o caráter fundamental do princípio da audição da criança, excluindo o reconhecimento de decisão não urgente proferida “sem que a criança tenha tido oportunidade de ser ouvida, em violação de normas processuais do Estado-Membro requerido”.

No campo da execução, a regra geral figura no artigo 28º, nº 1: as decisões proferidas num Estado-Membro, que aí tenham força executória e que tenham sido citadas ou notificadas, são executadas noutro Estado-Membro, depois de nele terem sido declaradas executórias a pedido de qualquer parte interessada.

De assinalar que “os atos autênticos e com força executória num Estado-Membro, bem como os acordos entre partes com força executória no Estado-Membro em que foram celebrados, são reconhecidos e declarados executórios nas mesmas condições que as decisões” (artigo 46º).

O processo de execução começa com o pedido de declaração de executoriedade instruído com os documentos indicados no artigo 37º. Trata-se de um processo simplificado, inicialmente sem contraditório (artigo 31º, nº 1). Contudo, é admitido recurso, fase em que já se observam as regras do contraditório (cf. artigo 33º, nº 3).

17 E o critério de ordem pública não permite a recusa de reconhecimento com base em regras internas que

O pedido só pode ser indeferido por um dos motivos que obstam ao reconhecimento da decisão cuja execução se solicita (artigo 31º, nº 2).

No capítulo da cooperação, o artigo 53º prevê que “cada Estado-Membro designa uma ou várias autoridades centrais encarregadas de o assistir na aplicação do presente regulamento, especificando as respetivas competências territoriais e materiais”.

O Estado Português designou como sua autoridade central o Instituto de Reinserção Social, atual Direção-Geral de Reinserção Social (Ministério da Justiça).18

II. Totalmente dedicada à matéria das responsabilidades parentais e das medidas de proteção, a Convenção da Haia de 19.10.1996 dispõe sobre competência, lei aplicável, reconhecimento, execução e cooperação.

O artigo 5º, nº 1, contém a regra geral de competência, conferindo poder para decidir sobre a pessoa e os bens da criança às autoridades do Estado Contratante no qual ela tem a sua residência habitual. Mas tal regra não obsta à competência das autoridades do Estado Contratante, em cujo território se encontra a criança ou os bens que lhe pertencem, para tomar medidas de urgência ou de caráter provisório (artigos 11º e 12º).

Em princípio, a lei aplicável é a do próprio Estado Contratante competente (artigo 15º, nº 1). Excecionalmente, quando assim o exija a proteção da pessoa ou dos bens da criança, as autoridades desse Estado podem aplicar ou tomar em consideração a lei de outro Estado com o qual a situação tenha uma ligação estreita (artigo 15º, nº 2).

No que respeita ao reconhecimento, determina-se que as decisões de um Estado Contratante “serão reconhecidas por força de lei em todos os outros Estados Contratantes” (artigo 23º, nº 1). Apesar do uso da expressão “por força de lei”, o reconhecimento pode ser negado nos casos indicados pelo artigo 23º, nº 219. E o artigo 24º, in fine, submete o processo de

reconhecimento à lei do Estado requerido.

A pedido de parte interessada, as decisões de um Estado Contratante podem ser declaradas executórias ou registadas com a finalidade de serem executadas noutro Estado Contratante (artigo 26º, nº 1). A declaração de exequatur ou registo deve seguir “um procedimento simples e rápido” (artigo 26º, nº 2); e apenas pode ser recusada com fundamento

18 Cf. “sítio” da própria Direção Geral (http://www.dgrs.mj.pt, Cooperação Internacional/Direito Internacional). 19 Há grande semelhança entre os elencos de fundamento de não-reconhecimento da Convenção da Haia e do

Regulamento Bruxelas II bis. A falta de audição da criança é mencionada no artigo 23º, nº 2, alínea b), da Convenção, e no artigo 23º, alínea b), do Regulamento. O critério de ordem pública figura no artigo 23º, nº 2, alínea d), da Convenção, e no artigo 23º, alínea a), do Regulamento.

em um dos motivos que impedem o reconhecimento da decisão cuja execução ou registo se pretende (artigo 26º, nº 3).

Não é permitida a revisão do mérito da decisão a que se refere o reconhecimento, a execução ou o registo (artigo 27º).

No capítulo da cooperação, o artigo 29º, nº 1, prevê que “cada Estado Contratante designará uma Autoridade Central responsável por fazer cumprir as obrigações que lhe são impostas pela Convenção”.

Portugal designou o Instituto de Reinserção Social, atual Direção-Geral de Reinserção Social do Ministério da Justiça, como Autoridade Central para efeitos da Convenção.20

III. A Convenção da Haia de 19.10.1996 influenciou muito o Regulamento Bruxelas II bis. A proximidade entre os dois atos explica a declaração de Portugal e outros Estados- Membros da União Europeia, feita com base no artigo 52º da Convenção: no âmbito da Convenção, serão aplicadas as regras de direito processual comunitário ao reconhecimento e à execução de decisões de Estado Contratante membro da União Europeia.21

No documento O Direito Internacional da Famlia Tomo I (páginas 54-57)