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2.3. GESTÃO DO CONHECIMENTO

2.3.2. Gestão do Conhecimento

2.3.2.2. A Criação do Conhecimento nas Organizações

O conhecimento tem sido visto como o recurso mais importante para aumentar a competitividade e, como tal, necessita ser gerido. TAKEUCHI (1998) informa que, 4

entre 5 executivos de 80 grandes companhias americanas, como Amoco, Chemical Bank, Hewlett-Packard, Kodak e Pillsbury, acreditam que gerenciar o conhecimento em suas organizações será essencial para a estratégia do negócio.

A gestão do conhecimento tem sido conceituada como um conjunto de ações sistemáticas de explicitação, mapeamento, armazenamento, disseminação e utilização do conhecimento na organização, com o fim de atingir seus objetivos estratégicos (FLEURY & OLIVEIRA Jr. 2001, LOUREIRO, 2003, TEIXEIRA FILHO, 2000, TERRA 2001). TAKEUCHI (1998) considera esta visão ocidental equivocada, por entender a organização apenas como uma máquina para processar informação. O autor ressalta que gerenciar o conhecimento é priorizar estratégias para lidar primeiro com o conhecimento tácito – aquele pessoal, difícil de ser formulado e comunicado - em segundo lugar, para a criação de conhecimento novo e, por último, para o envolvimento de todos na organização.

Para NONAKA & TAKEUCHI (1997), o que é fundamental para as empresas obterem competitividade internacional é a criação de conhecimento novo (p. XIII). A criação do conhecimento é assim definida por eles:

“...a capacidade que uma empresa tem de criar conhecimento, disseminá-lo na organização e incorporá-lo a produtos, serviços e sistemas” (p. XII). Caracteriza-se por um processo em espiral, onde a interação ocorre repetidas vezes.” (fig. 5)

Espiral do conhecimento Fonte: Nonaka, Takeuchi, 1997

A figura mostra o fluxo contínuo entre o conhecimento tácito e o explícito, criando conhecimento novo.

Há uma diferença básica com as abordagens ocidentais, que não se preocupam com a criação do conhecimento, por partirem de uma visão da empresa como máquina para processar informação (NONAKA & TAKEUCHI, 1997, p. 7).

A conseqüência dessa visão ocidental é considerar o conhecimento como necessariamente explícito. Ao revés, as empresas japonesas crêem que o conhecimento é basicamente tácito. NONAKA & TAKEUCHI (1997) acreditam que o segredo da criação do conhecimento está na mobilização e conversão do conhecimento tácito.

Para compreender como esta criação ocorre nas empresas japonesas, comecemos pela metáfora utilizada por eles para explicá-la: o jogo. Mas não qualquer jogo e sim o rugby6, que é utilizado para explicar o movimento da bola, que não pode ser definido, estruturado, linear ou seqüencial. Seu movimento emerge da interação

6 Rúgbi, esporte inventado em 1823, na Inglaterra, praticado por duas equipes de 15 jogadores, com uma bola oval, que deve ser levada até o arco adversário (em forma de H), ou passada por cima da barra horizontal, com um chute.

entre os membros da equipe, na hora do jogo, como resultado da experiência daquele momento. Para eles, assim ocorre a criação do conhecimento nas empresas japonesas: emerge da interação nas equipes.7

Os níveis de criação do conhecimento são: o indivíduo, o grupo e a organização. Assim que, a criação do conhecimento ocorre em dois componentes: as formas, que se referem ao tácito e explícito, e os níveis, que se referem ao indivíduo, grupo e organização (fig. 6 ).

Figura 6

Formas e níveis da espiral de conhecimento - Fonte: Nonaka, Takeuchi, 1997

A figura mostra como vai sendo criada a espiral de criação do conhecimento na interação entre conhecimento tácito e explícito, pelo indivíduo, pelo grupo e pela organização.

7 Grifo da autora

Socialização

Individual Grupo Organização

Conhecimento tácito Conhecimento explícito Dimensão epistemológica Interorganização Internalização Dimensão ontológica Externalização Combinação Nível do conhecimento

O modelo de NONAKA & TAKEUCHI (1997), que é apresentado no quadro 1, mostra como o conhecimento é criado nas organizações japonesas a partir de sua conversão em quatro modos: socialização, internalização, externalização e combinação. Conforme já citado, para eles, a criação do conhecimento novo é mais importante para a sobrevivência da organização do que sua captura e armazenamento. Para que o conhecimento seja criado, é fundamental lidar com o conhecimento tácito. O que determina a conversão de tácito em explícito é a conexão entre os indivíduos.

Quadro 1 De Para Conhecimento Tácito Conhecimento Explícito Conhecimento

Tácito Socialização Externalização

Conhecimento

Explícito Internalização Combinação

O modelo de conversão do conhecimento Fonte: NONAKA & TAKEUCHI, 1997

A conversão é o modo como o conhecimento é criado – chamada espiral do conhecimento - a partir da interação entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito. Por tácito entendem o conhecimento subjetivo, que classificam como sendo: conhecimento da experiência, advindo da vivência corporal; conhecimento simultâneo, do aqui e agora; e, conhecimento análogo, advindo da prática. Este tipo de conhecimento é intangível, como as crenças pessoais, as perspectivas e os sistemas de valores. É considerado pelos autores o mais importante na organização (p.13).

Por explícito, entendem o conhecimento objetivo, que classificam como sendo: conhecimento da racionalidade, produto da mente; conhecimento seqüencial, do lá e então; e do conhecimento digital – a teoria, as afirmações gramaticais, as expressões matemáticas, as especificações, os manuais.

A passagem do conhecimento tácito para o conhecimento tácito, denomina–se socialização. Esta fase é caracterizada pelo compartilhamento das experiências individuais, modelos mentais ou habilidades técnicas. A chave neste processo é a

experiência. Não é suficiente explicar a informação, é necessário vivenciar o que foi compartilhado, ou seja, incorporar o conceito. Segundo os autores, esta fase geralmente é iniciada pela construção de “campo de interação”. Um exemplo oferecido pelos autores é que para uma equipe desenvolver uma máquina de fazer pão, com a qualidade do pão feito pelo padeiro, teve que ir amassar pão.

Segundo os autores, a socialização ocorre quando há confiança, descontração, experiência corporal, proximidade, intimidade na equipe, para gerar um campo de interação, onde o conhecimento começa a ser compartilhado.

A passagem do conhecimento tácito para conhecimento explícito, denomina-se externalização. Esta fase é caracterizada pela explicitação do conhecimento incorporado em “metáforas, analogias, conceitos, hipóteses ou modelos” (NONAKA & TAKEUCHI, 1997). Consiste na chave que permite a criação de conhecimento novo, com a criação de novos conceitos que são explicitados.

A passagem do conhecimento explícito para o explícito denomina-se combinação. Esta fase caracteriza-se por uma combinação de conhecimentos já explicitados. Caracteriza-se pela “sistematização de conceitos em um sistema de conhecimento” (NONAKA & TAKEUCHI, 1997).

Por último, a passagem do conhecimento explícito para o tácito é denominada de internalização e se caracteriza pela incorporação do conhecimento novo. Caracteriza-se pelo aprender fazendo.

A abordagem da criação do conhecimento por NONAKA & TAKEUCHI (1997) é feita em duas dimensões: ontológica e epistemológica. A ontologia refere-se à compreensão dos autores de que o conhecimento é criado apenas por indivíduos, expandindo-se para os níveis de grupo, organização e interorganização. A epistemologia divide o conhecimento em tácito e explícito. Sua criação e expansão é realizada pela interação social envolvendo esses dois tipos de conhecimento. A dimensão epistemológica, baseada em POLANY apud NONAKA & TAKEUCHI (1997), classifica o conhecimento tácito em “pessoal, específico ao contexto e difícil de ser formulado e comunicado”. E o conhecimento explícito ou codificado “refere-se ao conhecimento transmissível na linguagem formal e sistemática”.

A síntese das duas dimensões da abordagem de NONAKA & TAKEUCHI (1997), encontra-se na figura 7. Figura 7 Dimensão epistemológica Conhecimento explícito Conhecimento tácito

Individuo Grupo Organização Interorganizacão

Nivel de conhecimento

Dimensão ontológica

Duas dimensões de criação do conhecimento Fonte: Nonaka, Takeuchi, 1997

Para esta investigação, a dimensão ontológica ganha especial importância, por referir-se às interações entre os indivíduos para promover a criação e a expansão do conhecimento. Esta dimensão é sustentada pela crença de NONAKA & TAKEUCHI (1997) em que o “conhecimento é criado somente pelos indivíduos e ocorre dentro de uma comunidade de interação”8(p. 65)

Acredita-se, neste trabalho, que o fundamental da proposta de Nonaka e Takeuchi não tem sido considerado nas abordagens ocidentais de gestão do conhecimento. A perspectiva japonesa é centrada na forma em que o conhecimento

novo é criado, na interação entre os seres humanos. Mas, para entender esta interação, não é suficiente a abordagem ocidental focada na TI como forma de promovê-la. Mesmo considerando que a TI favorece a interação, NONAKA & TAKEUCHI (1997) postulam que não é qualquer interação. Para entender que tipo de interação gera conhecimento novo, o foco é o ser humano e sua forma de atuar no mundo.

Para apoiar a investigação nesse caminho, buscam-se os postulados de STACEY (2001). Para ele, a aprendizagem e a criação do conhecimento novo são vistos sob a perspectiva da teoria da complexidade. Por sua relevância para esta investigação, suas contribuições serão apresentadas mais adiante.

Essa interação será vista sob a perspectiva da teoria dos sistemas adaptativos complexos - SAC (Complex Adaptative System – CAS) conforme apresentado no desenvolver deste estudo e será analisada dentro do arcabouço conceitual de conectividade, a partir das abordagens seguintes.

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