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PROCESSES – CRP OU COMPLEXIDADE

A indagação de Stacey, em seu livro Complex Responsive Processes in Organizations – learning and knowledge creation (2001) – processo de resposta complexa - é se, de fato, podemos gerenciar a aprendizagem e a criação do conhecimento.

STACEY (2001) retoma a proposta inicial de NONAKA & TAKEUCHI (1997) no seu elemento central: o conhecimento novo é uma propriedade emergente, resultante da interação nas equipes.

A proposta de STACEY (2001) é seguida e considerada, neste trabalho, como um passo além das abordagens anteriores, por analisar os elementos da criação do conhecimento novo, da aprendizagem organizacional à luz das teorias do caos e da complexidade. Sua larga experiência como consultor em organizações e como Diretor da Complexity and Management at the Business School, na Universidade de

Hertfordshire, no Reino Unido, o levou a questionar ferramentas como planejamento, e a pesquisar a dinâmica de grupos e agentes humanos em redes complexas.

Para STACEY (2001) “conhecimento não é uma ‘coisa’, um sistema, mas um efêmero processo ativo de relacionamento”. Apresenta uma visão complementar, ou mais avançada da teoria da cognição, base do pensamento sistêmico, por ter sua unidade de análise no sistema (indivíduo e sociedade) ao invés de focar o indivíduo. Para ele o ser só faz sentido no contexto da sociedade.

STACEY (2001) toma como base para sua proposta a compreensão de Varela e Maturana acerca da cognição. VARELA, THOMPSON & ROSH (2003) fazem uma distinção entre o que chamam de ortodoxia cognitivista e conexionismo. Segundo eles, “as arquiteturas cognitivistas afastaram-se demais das inspirações biológicas” (p.100). Tal fato deve-se ao que apontam como duas deficiências da abordagem tradicional.

A primeira deficiência é o fato do processamento simbólico da informação ter como base regras seqüenciais, que são aplicadas uma de cada vez. Esta lógica limita a análise de imagens ou a previsão do tempo. A segunda se refere ao fato do processamento simbólico ser localizado, resultando em disfunção séria, quando uma parte do símbolo ou regra perde-se ou apresenta mau funcionamento. O desejável é uma operação distribuída, que minimiza os efeitos da perda ou mutilação (p. 100).

Para eles, a ortodoxia computacional não incorpora a plasticidade do cérebro para resistir a lesões. Tampouco incorpora a flexibilidade da cognição biológica para adaptar-se, não comprometendo toda a sua competência.

Os autores caracterizam o cognitivismo tradicional com base nos paradigmas da ciência computacional e o cognitivismo alternativo, ou conexionismo, com base nos paradigmas da neurociência e da biologia. Na abordagem computacional, o conhecimento é o resultado da representação do mundo por meio de símbolos e modelos mentais. Já na abordagem conexionista, o significado não está em nenhum símbolo específico, mas “uma função do estado global do sistema” (VARELA, THOMPSON & ROSH, 2003). Segundo os autores, a cognição é a “emergência de estados globais em uma rede de componentes simples” (p. 111). Seu funcionamento é resultado “de regras locais de operação individual e regras de mudança na conectividade entre os elementos” (p.111).

STACEY (2001) acredita que a compreensão de Maturana e Varela, representantes do conexionismo, de que o sistema nervoso não é simplesmente a representação do mundo, mas que é criador de mundo, é um desafio para os cognitivistas tradicionais. A visão que apresentam de que os processos mentais estão em perpétua construção, é frontalmente contrária à posição clássica de que o cérebro é o espelho de uma realidade externa, independente do indivíduo, que pode “ser armazenada e utilizada como representação mental fiel da realidade” (STACEY, 2001). O mundo onde cada um atua, é o mundo que é criado no atuar de cada um. Maturana postula que não deveríamos falar em universo, mas em multiverso, porque há tantos universos quantos seres humanos. (MATURANA, 1998).

Para MEAD apud STACEY (2001), o significado é gerado na interação entre os indivíduos e não transmitido de um a outro. Não está ligado a um objeto, tampouco está armazenado, “é perpetuamente criado na interação”.

A seguir, uma síntese das diferenças de compreensão da conectividade, apontadas por STACEY (2001), entre as duas perspectivas: pensamento sistêmico e CRP (quadro 2).

Quadro 2

PENSAMENTO SISTÊMICO CRP

Atuam sobre a base de modelos mentais; influência mútua para mudar os modelos.

A experiência individual, o conhecimento e a aprendizagem residem na interação e não na mente.

A mente é processadora de dados e informação; a estrutura social são hábitos e tradições já existentes.

O conhecimento é um processo e não algo já dado. São padrões continuamente sendo gerados e potencialmente transformados.

Pouca atenção ao papel constitutivo de pensamentos e emoções nos relacionamentos.

Sentimentos e emoções nunca se separam da ação. Tem seu foco na interação corporal. O conhecimento

Tratados como fatores motivacionais.

não é só um marco cognitivo; é criado no padrão entrelaçado dos ritmos corporais.

Separa o pensamento da ação. Primeiro o indivíduo pensa, depois atua.

Fluxo contínuo da ação, através de gestos e posturas corporais. O conhecimento e a ação são processos emergentes.

Diferenças entre o pensamento sistêmico e o CRP

Segundo STACEY (2001), se tomarmos a perspectiva sistêmica e cognitivista tradicional, o conhecimento faz parte do mundo interior, residindo nos modelos mentais, nas mentes individuais. Constitui-se no armazenamento das memórias das experiências do passado. No entanto, se tomamos a perspectiva de processos complexos de resposta, deixa de existir o armazenamento de dados. O que existe é uma “contínua reprodução e transformação de padrões de interação”.

O modelo conceitual de STACEY (2001), conforme a figura 8, está baseado na perspectiva da teoria da complexidade, na visão dos cognitivistas conexionistas e, especialmente, em George Herbert Mead. Nele, o conhecimento emerge como resultado do processo de respostas complexas, ocorridos na interação, onde “a mente é a ação de um corpo na relação com outros”.

Modelo Complex responsive processes Fonte: Stacey (2001)

O modelo estrutura-se na proposta de MEAD apud STACEY (2001) sobre a interação entre os corpos. Para ele, o fundamento do conhecimento está na habilidade de uma pessoa experimentar em seu próprio corpo algo parecido ao que outra pessoa pode experimentar, respondendo a um gesto. O gesto é usado por ele como um símbolo, por considerá-lo uma ação. O significado aparece na resposta a um gesto, constituindo um “ato social total de gesto-resposta”. O significado não se localiza no passado (gesto), nem no futuro (resposta), “mas na ação cíclica dos dois no presente”.

A ressonância, no modelo, refere-se a padrões corporais rítmicos entre os indivíduos que interatuam. Esta ressonância faz com que a pessoa que gesticula possa antecipar possíveis respostas corporais de quem está na interação. STACEY (2002)

postula que a mente individual e as relações sociais são inseparáveis, ocorrem juntas, simultaneamente, sem ordem de prioridade.

Tomando a compreensão de Vigotsky, STACEY (2001) ressalta que o desenvolvimento humano tem sido dado por nossa capacidade de criar ferramentas em função da posição da mão humana. O nível de sofisticação humana para o uso de ferramentas ocorre por meio da linguagem. Baseado em Mead, postula que tanto falar, como escutar, são ações corporais e são formas de expressão das emoções.

STACEY (2001) sintetiza seu modelo da seguinte forma:

podemos dizer que a interação humana caracteriza-se por atos de comunicação entre os corpos individuais, caracterizados por ritmos biológicos e suas emoções constituintes, dentro de um meio-ambiente que compreende o mundo material e outros organismos. Os seres humanos atuam sobre este mundo material usando ferramentas que transformam o meio no qual se desenvolvem.

2.4.1 STACEY, NONAKA e TAKEUCHI, Teoria do Caos e da Complexidade

Quando Nonaka e Takeuchi fazem referência ao caos, há uma ambigüidade na compreensão do conceito. Embora citem a James Gleick, o que chamam de “caos criativo” (p. 88), refere-se à “ordem a partir do ruído”, ou “ordem a partir do caos” sugerindo desordem. Também fazem uma distinção entre “caos criativo” e “caos destrutivo” (p. 90). O primeiro é intencionalmente provocado para aumentar a tensão e forçar a resolução de crises, e depende muito da reflexão na ação. O segundo, é quando não há reflexão no momento de crise e não gera criatividade. Os teóricos do caos mostram que a dinâmica caótica é de ordem complexa e não de desordem (ver item 2.5.1).

No entanto, embora não façam explicitamente a relação de sua teoria da criação do conhecimento com a teoria do caos, há muita convergência entre ambas. O aspecto mais relevante de harmonia entre as duas teorias é a idéia de que o

conhecimento novo surge da interação dos componentes das equipes (ver conceito de propriedade emergente no item 2.4.2.1).

Este trabalho segue a linha de STACEY (2001), especialmente no tocante à compreensão, concordante com NONAKA & TAKEUCHI (1997), de que o conhecimento é um processo que ocorre na interação entre as pessoas. É uma propriedade emergente da interação, que envolve corpo, emoção e linguagem.

Com STACEY (2001), entra-se no campo das teorias do caos, da complexidade e da dinâmica não-linear, que a seguir serão apresentadas.

2.5. TEORIA DO CAOS, SISTEMAS COMPLEXOS ADAPTATIVOS E

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