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A crise de 2015 2016: O intensificar do desafio europeu

Capítulo IV: As crises dos migrantes e refugiados de 2015-2016

4.1. A crise de 2015 2016: O intensificar do desafio europeu

De 2015 a 2016 a instabilidade na região do MENA não demonstrou sinais de atenuar, o que leva, consequentemente a um intensificar dos fluxos migratórios tanto na região do MENA, como para a Europa. A grande maioria dos refugiados situa-se ainda nos países da região (Ostrand, 2015), com apenas 6% de sírios (239, 700) que fugiram da guerra civil entre 2011 e 2014 a procurarem refúgio em países industrializados na Europa, América do Norte e Região da Ásia Pacífico. A Europa, porém, desde 2015, sofre um aumento constante de requerentes de asilo. De acordo com o Eurostat em 2014 cerca de 627, 000 requerentes de asilo chegaram ao território da UE, em comparação com os 431, 000 verificáveis em 2013. Em 2015 o número de requerentes de asilo sobe para uns excecionais 1,3 milhões de requerentes,216 elevando a preocupação dos Estados Membros da UE. O aumento do

número de requerentes de asilo é acompanhado pelo reforçar e diversificar das rotas para chegar ao Continente Europeu. Uma das rotas mais utilizadas, mas também, das mais perigosas é a rota do Centro Mediterrânico, da Líbia para Itália tendo triplicado o número de deteções de 2013 (45,000) a 2014 (171,000), com cerca de 5,000 indivíduos tido perdido a vida nos dois anos,217 em comparação

com a rota grega que apenas registra 51,000 deteções em 2014. A rota dos Balcãs Ocidentais e do Mediterrâneo Oriental embora tenha sido utilizada durante o decorrer da crise migratória e dos refugiados desde o 2012, em 2015 as mesmas sofrem um reforço do número de indivíduos que procuram chegar à Europa. Só em 2015 764, 000 deteções são registadas, 16 vezes o número registrado no ano anterior (433,000).218 No que concerne à rota do Mediterrâneo Oriental em 2015

são registados 885,000 migrantes, 17 vezes o número registado em 2014 (50,830), sendo o mesmo um número record, tendo apenas sido 24,800 em 2013,219 sendo a maioria dos utilizadores destas

rotas sírios, que escaparam do conflito instalado no seu país.

À medida que a crise dos migrantes e refugiados aumenta em território europeu, as tenções entre os Estados Membros (Estados do Norte vs Estados do Sul) adensam-se. Itália e Grécia têm sido censuradas pelos restantes Estados Membros pela, considerada excessiva permeabilidade das suas

216 Ver Eurostat, http://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php/Asylum_statistics, consultado a 21 de Junho de 2016 217 Ver EMN Policy brief on Migrants movements through the Mediterranean

218 Ver Frontex http://frontex.europa.eu/trends-and-routes/western-balkan-route/, consultado a 21 de Junho de 2016 219 Ver Frontex http://frontex.europa.eu/trends-and-routes/eastern-mediterranean-route/, consultado a 21 de Junho de 2016

fronteiras, a sua inabilidade de conter a migração irregular, e a sua muito frequente implementação de programas de regularização massivos. Ao mesmo tempo, ambos os países são acusados de violar os direitos humanos dos migrantes irregulares e requerentes de asilo (Triandafyllidou, Ambrosini, 2011). Por seu turno ambos os países acusam os seus parceiros europeus do Norte da Europa e o Reino Unido de não partilharem a responsabilidade da crise migratória e dos refugiados, deixando-os sobrecarregados com o fardo. É de realçar, porém, que Itália e Grécia, assim como, Malta, são apenas países de transição, sendo a responsabilidade do acolhimento a ser suportado por outros países como a Suécia, sendo dos países da UE que detém uma grande taxa de aceitação de refugiados em relação ao tamanho da sua população de 9,6 milhões de pessoas. A política de abertura sueca atinge o seu pico em 2013, quando o país compromete-se a providenciar residência permanente a todos os sírios que chegassem a território europeu, tendo 58,800 pedidos de asilo sido processados, com 55% a serem aceites (bbc, 2016). Em 2014, das 81,300 pessoas pediram asilo na Suécia, 30,600 das mesmas são aceites de imediato, sendo deportados oficiais da migração suecos para as estações de comboios para receber os refugiados.

É um princípio moral e estamos também obrigados pelas convenções internacionais e mantemo-nos nisso. Todo o individuo tem o direito de procurar asilo na Europa…Não podemos impedir as pessoas de terem uma oportunidade de procurar asilo se o necessitam.

Não estamos a encerrar as nossas fronteiras para refugiados220 (Lofven in Aljazeera, 2015).

O elevado número de refugiados que chegam ao país, os ataques semelhantes aos de Colónia na Alemanha na passagem de ano novo em 2015221, e ao suposto encobrimento por parte das

autoridades locais e dos próprios meios de informação, e a morte de uma voluntária num Centro de Acolhimento em 2016, levantam receios na população que se refletiu, à semelhança de outros países europeus, no ressurgimento das forças de extrema-direita, como os Democrata Suecos, que tem vindo a ganhar grande influência política, sendo fundamentados pelos medos da população. Estes grandes desafios ao nível interno são acompanhados por uma crescente frustração em relação à UE e determinados Estados Membros que se recusam a aceitar uma maior partilha de responsabilidades entre os vinte e oito. “Nove Estados Membros hoje na UE recebem 90% de todas as aplicações de

220 Tradução livre da autora

221 Várias mulheres foram assediadas e violentadas na noite de ano novo, sendo os responsáveis maioritariamente jovens migrantes advindos da região

asilo anualmente mas esses nove Estados estão a começar a, bem, ficarem fartos”222 (Billstrom in The

Wall Street Journal, 2014). O Ministro da Migração, Tobias Billstrom, antes da reunião com os seus homólogos europeus, sugere que a Comissão deveria castigar os Estados Membros que não aceitem acolher refugiados. Esta posição endurecida é particularmente direcionada aos países do Leste europeu. Este conjunto de países, apelidado de Grupo de Visegrado, constituído pela Polónia, República Checa, Hungria e Eslováquia, obtém atenção internacional ao publicamente se recusar a aceitar o sistema de quotas delineado pela Comissão Europeia afirmando que “qualquer proposta que leve à introdução de quotas mandatarias e permanentes para medidas de solidariedade seria inaceitável”223 (EurActive 2015). O que leva a acusações por parte dos restantes Estados Europeus

destes países não intenderem o significado e funcionamento da solidariedade europeia (Veebel e Markus, 2015). O que causa ainda uma complexidade acrescida na procura por uma resposta coesa e comum ao nível europeu.

Com intensificar da crise assiste-se a níveis improcedentes de atenção política e mediática, em conjunto com um consequente alarido público, o que leva as políticas migratórias e de asilo a serem colocadas no topo da agenda da UE e dos seus Estados Membros, procurando os líderes europeus, tanto das instituições como dos Estados Membros demonstrar que podem enfrentar o desafio (Carrera, Blockmans, Gros e Guild 2015).

Os efeitos da crise migratória são bastante críticos, com o seu prolongar e a percecionada ineficácia das autoridades nacionais e europeias as sociedades europeias vêem-se agora com um crescente euroceticismo e fortalecimento das forças políticas de extrema-direita em vários países da UE (Dinamarca, Holanda, França, Reino Unido) o que leva os governos nacionais a adotarem medidas mais conservadoras e nacionalistas, salvaguardando os seus interesses, o que coloca em causa a possibilidade de encontrar uma resposta europeia coesa e eficaz para enfrentar o desafio. Os atentados de 13 de Novembro de 2015 em Paris, França, enfatizam ainda mais os medos da população europeia, com as forças de extrema-direita a catapultarem a sua relevância e a levarem os governos nacionais a endurecerem as suas posições, o que leva a sua ação europeia a ser caracterizada por uma vertente securitária, com a abordagem a ser maioritariamente focada na

222 Tradução livre da autora 223 Tradução livre da autora

proteção das fronteiras eternas, políticas de retorno e readmissão e a luta contra o tráfico ilegal de migrantes (Carrera Blockmans, Gros e Guild 2015).

A UE detém então uma difícil tarefa. Por um lado, a UE, detém a obrigação de assegurar o bem-estar e a segurança dos seus cidadãos, no entanto, pela sua própria lei e princípios fundadores, a UE detém também a responsabilidade de defender os direitos fundamentais em todo o mundo, o que coloca o projeto europeu numa situação complicada, onde terão que encontrar um equilibro entre a estabilidade e segurança nas sociedades europeias e a defesa e promoção dos direitos humanos, o que implicitamente leva ao providenciar da proteção internacional aos mais vulneráveis (Oltean, Iov, 2015).