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Capítulo II A ‘ Fortaleza Europeia’ : a ação europeia na sua vizinhança

2.1. A Parceria Euro-Mediterrânea (1995)

A proximidade geográfica com os países da região da MENA torna a parceria com os mesmos, indispensável para a estabilidade e prosperidade da UE e dos seus Estados Membros. O interesse pelo estreitamento das relações com os seus vizinhos próximos é procurado desde os primórdios da construção europeia. Entre 1972 e 1992 é elaborado um programa intitulado de Política Global Mediterrânea, renovado até 1996. No entanto um enfoque mais concreto na região dá-se em 1995 com o estabelecimento da Parceria Euro-Mediterrânea (PEM), na Conferência de Barcelona de 27 a 28 de novembro, o que representa nas palavras de Pace (2007) uma das iniciativas mais ambiciosas e inovadoras da União. A PEM ou Processo de Barcelona cria uma cooperação entre a UE (até então de quinze membros)66 e os países que banham o Mediterrâneo67, onde o principal objetivo é o

desenvolvimento de uma área de paz, estabilidade e segurança (Byrne, Schamas, 2002). Envolvendo os países situados no Sul do Mediterrâneo, a PEM aborda um amplo espectro de questões políticas, securitárias, económicas e socioculturais, sendo o trabalho ser realizado de cariz tanto bilateral como multilateral. A PEM é dividida em três áreas de ação68.

À superfície, a PEM demonstra um caráter bastante inovador e integracionista, ostentando a promessa de transformar o Mediterrâneo num espaço geopolítico, estratégico e económico partilhado; procurando, consequentemente, solucionar os problemas mais preocupantes da região, como os

66 Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Portugal, Reino Unido e Suécia. 67 Argélia, Chipre, Egipto, Jordânia, Líbano, Malta, Marrocos, Síria, Tunísia, Turquia e a Autoridade Palestiniana.

68 Cooperação política e de segurança, de forma a criar uma área comum de segurança e estabilidade; Cooperação económico-financeira, tendo como

objetivo criar uma área de prosperidade, onde estava inserida uma área de livre comércio; e Cooperação sociocultural e humana, que visa promover a harmonia entre culturas facilitando a interação na sociedade civil.

A primeira área de ação, Cooperação política e securitária, centra-se essencialmente no desenvolvimento do Estado de Direito e da democracia nos países da região do Mediterrâneo, permitindo, no entanto, que sejam os mesmos a desenvolver essas transformações, tanto ao nível dos seus sistemas políticos como também dos seus sistemas socioculturais, económicos e judiciais.

A segunda área foca-se no desenvolvimento de um espaço de livre comércio até 2010, tendo como base as disposições estipuladas pela OMC (Organização Mundial de Comércio) e o GATT, sendo o mesmo sustentado pelos acordos realizados ao nível bilateral da UE com os Estados do Mediterrâneo, ou seja os Acordos Euro-mediterrânios de Associação. Sendo também delineado o fornecimento de uma maior assistência financeira da parte da UE.

A terceira, e última área, da Parceria Euro-Mediterrânea afirma o reconhecimento da sociedade civil dos Estados, proclamando a descentralização dos instrumentos com base nesse mesmo princípio, sendo também propostas um conjunto de outras medidas e o reconhecimento do papel da emigração. Na altura da criação da iniciativa, a UE acreditava que através do auxílio económico-comercial, diálogo, e relações interculturais, poderia estabelecer uma política baseada na lógica do funcionalismo regional de modo a encorajar os seus parceiros do Mediterrâneo a seguirem o seu modelo integracionista (Pace 2007). A liberalização e a reforma económica possibilitam um aumento da classe média que, por seu turno, impulsionaria a reforma democrática, debilitando ou mesmo democratizando o islamismo político (Soravilla, 2006). Havia a crença de que a identificação com os valores da democracia, liberdade, direitos humanos era algo desejável e possível por as partes envolvidas.

regimes ditatoriais, e a carência de direitos e liberdades fundamentais (Hollis, 2012). No entanto, em termos estruturais, a PEM não leva em consideração a falta de equilíbrio institucional de ambas as partes (Hollis, 2012). Contrariamente aos europeus que já se encontram num progresso de integração bastante desenvolvido, os países do Mediterrâneo não detém nenhum tipo de cooperação e muito menos de integração entre si. Não estamos então a assistir a uma parceria entre dois blocos equiparáveis, mas sim a acordos bilaterais entre um sólido bloco (UE) e cada Estado do Mediterrâneo, ditando o primeiro ritmo e o conteúdo dos mesmos (Hollis, 2012). A criação da área de livre comércio, que viria a entrar em vigor em 2010, e que impulsionaria as economias, revela-se muito mais benéfica para o lado europeu do que para os países do Sul do Mediterrâneo. A primazia é dada à redução de barreiras tarifárias e não tarifárias em bens manufaturados, onde os europeus detém vantagem. Os produtos agrícolas, os bens de maior exportação dos países do Norte de África, além da energia, é realizada com maior precaução, pois, eram concorrentes diretos aos dos países europeus do Sul da Europa (Hollis, 2012). Ao analisar a PEM conclui-se que a UE procura salvaguardar os seus interesses, como o controlo dos fluxos migratórios da região do MENA para a Europa, recorrendo a incentivos financeiros, depreciando os problemas dos seus vizinhos do Mediterrâneo (Marks, 1996). Em 2008 é dado um novo ímpeto à parceria com a substituição da PEM pela União para o Mediterrâneo (UPM), sob proposta do anterior Presidente francês Nicolás Sarkozy. A UPM é estabelecida com o objetivo de prosseguir uma maior institucionalização da parceria através do fortalecimento e atualização da cooperação política, sendo dada uma maior ênfase à cooperação entre a UE e os países do Mediterrâneo na criação de iniciativas. É introduzida a presidência conjunta da UPM, com um chefe de Estado Europeu e outro Árabe69, juntamente com um secretariado sediado em Espanha, elevando

a mesma para o nível intergovernamental. Estes desenvolvimentos possuem o propósito de enaltecer a Parceria Euro-Mediterrânica; no entanto, em termos práticos tais desenvolvimentos são apenas arranjos diplomáticos, que conduzem apenas a mais custos financeiros e a um maior foco nas relações bilaterais, diplomacia de Estados para Estados, ao invés de prestar um maior foco em questões relacionadas com o intensificar das relações das sociedades civis e empresariais (Hollis, 2012). Embora a UPM tenha sido lançada com o propósito de revitalizar as relações entre a UE e os países da bacia do Mediterrânio, em meados de 2011, com a implosão da Primavera Árabe, a mesma

revelou-se tão ineficiente como a PEM que substituiu. É possível, no entanto, observar a viragem da perspetiva europeia, sendo observado o desgaste idealista inicial de promoção de reformas nos países do Médio Oriente (Hollis, 2012). A UPM descarta a agenda normativa que tinha vindo a caracterizar as aspirações europeias na PEM, aquando da sua formação. (Aliboni e Ammor 2009). No que concerne às questões migratórias, não houve muitas iniciativas multilaterais de migração com os parceiros do Mediterrâneo. " Mesmo que a Presidência espanhola da UE em 2010 tenha delineado como objetivo o incorporar de maneira mais eficaz a questão migratória nas conversações, não foram realizadas iniciativas concretas" (Colombo e Abdelkhaliq, 2012)70. A UPM representa mais um

retrocesso da PEM, do que um desenvolvimento. (Hollis, 2012; Bechev e Nicolaidis, 2010) Entre a transição da PEM para a UPM, a UE prossegue ao desenvolvimento de políticas e instrumentos de ação que iriam delinear a interação da União com a sua vizinhança, tanto com os países do Leste, como os do Norte e Sul. Tal política é apelidada de Política Europeia de Vizinhança (PEV).