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Orientações estratégicas no espaço de liberdade, segurança e justiça (2014-2020)

Capítulo I: O desenvolvimento de uma política de migração e um Sistema de Asilo Comum

1.2. Dos Acordos de Tampere às Orientações estratégicas no espaço de liberdade, segurança e

1.2.4. Orientações estratégicas no espaço de liberdade, segurança e justiça (2014-2020)

Com a chegada ao fim do período de realização do Programa de Estocolmo, surge a necessidade de delinear os novos objetivos da União para a Área de Justiça e Assuntos Internos. Contrariamente às situações anteriores, não se assiste à adoção de um programa plurianual, mas sim

62 Declarações feitas numa reunião do comité interparlamentar sobre o Programa de Estocolmo a 20 de Junho de 2013 e na conferência Assis de la

à aprovação de uma agenda estratégica, onde estão inseridas as principais prioridades para os próximos cinco anos. “O Conselho Europeu definiu as orientações estratégicas da programação legislativa e operacional para os próximos cinco anos no espaço de liberdade, segurança e justiça” (Conselho Europeu, 2014).

Três grandes questões alteraram o contexto onde é delineada a agenda estratégica, em relação aos anteriores. Os programas plurianuais estão associados a uma alteração dos Tratados (Tampere ao Tratado de Amesterdão, Haia à adoção da Constituição Europeia e Estocolmo ao Tratado de Lisboa), a agenda estratégica não esteve associada a grandes transformações. “Pela primeira vez desde a entrada em vigor do Tratado de Amesterdão em 1999, a fase de programação na área de liberdade, segurança e justiça irá ocorrer sem estar ligada a qualquer alteração dos Tratados” (Pascouau, 2014)63. O delinear da nova estratégia ocorre sob aquilo que Pascouau (2014) apelida de

“novo normal”, ou seja, é necessário ter em consideração o impressionante acervo alcançado, ao longo dos últimos quinze anos, mas também o novo contexto legal e institucional, sendo que após a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, o procedimento de codecisão ou processo legislativo ordinário64

é alargado à grande maioria das questões da área de liberdade, segurança e justiça. Em segundo, determinados Estados Membros estão sobre grande pressão e contingência advinda da crise económica de 2008, o que leva a que as decisões a serem adotadas nas áreas da migração e asilo sejam de cariz restritivo (Pascouau, 2014). Tal como Pascouau (2014) afirma, este tipo de situações é prejudicial para políticas de cariz mais progressista, desenvolvendo no seu lugar políticas de cariz securitário, de maneira a apaziguar a população nacional. Ao grande clima económico de incerteza, junta-se o desenvolvimento dos fluxos migratórios da região do MENA, impulsionados pelas revoltas da Primavera Árabe em 2011, onde se assiste a um maior apoio a políticas restritivas, como o reforço fronteiriço, e ao impulsionar das forças de extrema-direita. A terceira e última alteração que deverá ser considerada é a entrada em funcionamento do artigo 68 do Tratado de Lisboa, sendo que este irá delinear todo o processo do pós-Estocolmo. Segundo o mesmo, “ [O] Conselho Europeu define as orientações estratégicas da programação legislativa e operacional de liberdade, segurança e justiça”

63 Tradução livre da autora

64 Este processo de decisão confere o mesmo poder de decisão nas mais variadas áreas ao Parlamento Europeu e ao Conselho da União Europeia. É a

adoção conjunta, pelo Parlamento Europeu e o Conselho da União Europeia, de um regulamento, diretiva ou decisão, mediante proposta da Comissão Europeia. (Ver artigo 294º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia ou Tratado de Lisboa.

(Tratado de Lisboa, 2007). Este artigo, será de ressaltar, salienta uma vez mais a relutância em delegar poder nestes domínios, salvaguardando assim o desejo dos Estados Membros em preservar a sua soberania. A Comissão Europeia poderá apenas ser convidada a apresentar contribuições, enquanto o Parlamento Europeu e as restantes agências europeias são excluídos do processo de decisão (Pascouau, 2014). Tendo como pano de fundo este novo contexto europeu, o Conselho Europeu de 26 e 27 de Junho de 2014 delineia as prioridades da UE, a serem alcançados nos próximos cinco anos. São elas: uma União de emprego, crescimento e competitividade; uma União que capacita e protege todos os cidadãos; rumo a uma União da Energia com uma política virada para o futuro; uma União de liberdade, segurança e justiça; a União como forte ator mundial. A grande prioridade foi a implementação e consolidação de todos os instrumentos jurídicos e medidas desenvolvidas, nos últimos quinze anos. No que concerne à área de asilo é dada prioridade à plena transposição e implementação efetiva do SECA, devendo este processo levar ao estabelecimento de normas comuns e a uma maior cooperação, de forma a providenciar aos necessitados de asilo as mesmas condições de recessão em todo o território europeu. Ao mesmo tempo o papel do GEAA, é reforçado por via da promoção da aplicação uniforme do acervo (Conselho Europeu, 2014).

É dada grande ênfase ao elucidar e solucionar das causas primordiais da migração, principalmente a irregular, sendo utilizados todos os meios disponíveis para combater a última, assim como, é definida como prioridade o prestar de uma maior relevância às políticas migratórias e de desenvolvimento na política externa da UE, sendo aplicado o princípio “mais por mais” e tendo como base a AGMM (Conselho Europeu, 2014). A cooperação com os países de origem e de trânsito é tida como essencial para que estas políticas sejam eficazes, sendo necessário prestar o máximo de apoios possível a estes países no que concerne à gestão quer dos fluxos migratórios quer das fronteiras, sendo dada prioridade: ao reforço e alargamento dos programas regionais de proteção, tendo especial atenção os que estão a ser realizados perto das regiões de origem, sendo estes realizados com a colaboração da ACNUR. Denota-se a importância do aumento dos contributos para os esforços de reinstalação ao nível mundial, tendo em consideração a crise que se alastra na Síria; ao combate ao tráfico de seres humanos, sendo dada particular atenção aos países e rotas prioritárias; ao estabelecimento de uma política comum de regresso, assim como, o cumprimento dos acordos de readmissão estipulados com países terceiros; e o implementar das ações identificadas pelo Grupo de Missão para o Mediterrâneo (Conselho Europeu, 2014). É possível também assistir ao reforço dos

controlos das fronteiras externas de modo a controlar o elevado fluxo migratório a que estão expostas, através de uma gestão inteligente das fronteiras através de um sistema de entrada/saída e um programa de viajantes registados, com o apoio da Agência Europeia para a Gestão Operacional de Sistemas Informáticos de Grande Escala (eu-LISA). Foi determinado que o papel da FRONTEX deveria ser também realçado, de forma a esta proporcionar um apoio mais eficaz aos Estados Membros com o auxílio do Sistema Europeu de Vigilância (Eurosur). Sendo lançada a possibilidade de se criar um sistema europeu de guardas fronteiriços65(Conselho Europeu, 2014).

O delinear dos desenvolvimentos da UE nas áreas da migração e asilo desde a edificação dos Acordos de Schengen demonstra que apesar de terem existido acontecimentos e vontade política para uma maior comunitarização nas duas áreas de atuação, principalmente desde o Tratado de Amesterdão e os sucessivos programas multianuais, as duas áreas de atuação encontram-se ainda na vertente intergovernamental, ou seja, na esfera dos Estados Membros, do projeto europeu. É de denotar, porém, que os desenvolvimentos, embora ténues, significam até à crise, um passo progressivo nas políticas de migração e asilo, sendo estas áreas particularmente sensíveis dos Estados, estando as mesmas intimamente ligadas à identidade do Estado. No entanto os desenvolvimentos conseguidos demonstram-se insuficientes perante a crise em desenvolvimento desde 2011.

65 É também definido que deverão ser também modernizadas a política comum de vistos, de modo a facilitar as deslocações legais e deverão ser também

reforçadas a cooperação consular Schengen ao nível local, ao mesmo tempo que deverá ser mantido um elevado número de segurança e aplicando o novo sistema de governação Schengen.