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2. ELEMENTOS CARACTERIZADORES DA RESPONSABILIDADE CIVIL

2.5 A Culpa

A culpa é um dos pressupostos imprescindíveis à caracterização da responsabilidade civil, ou seja, a pretensão indenizatória. No Código Civil Português, há a clara indicação, assim como no Código Civil Brasileiro no que tange a obrigatoriedade da existência da culpa para fins de caraterização da responsabilidade civil, tal regra se encontra disciplinado no art.

483, nº 02 do Código Civil português e no art. 927 do código civil brasileiro155.

É importante ressaltar que em ambos os casos é possível que haja a responsabilidade civil sem culpa, que é o modelo de responsabilidade civil objetiva, contudo, para que tal modelo seja aceito se faz necessária a expressa previsão legal.

Mas devemos conceituar o elemento culpa para sabermos o que de fato é. Desta forma, de acordo com a doutrinadora Ana Maria Mafalda Barbosa, culpa é:

Tradicionalmente, a culpa era entendida em termos psicológicos, como uma mera ligação psicológica entre a vontade (do lesante) e o ato praticado. Mantendo embora essa nota de ligação subjetiva entre o sujeito e o seu ato, a culpa assume-se como um juízo de censura ético-jurídica, a traduzir um desvalor: a pessoa podia e devia ter agido de outro modo156.

De acordo com o autor brasileiro Flávio Tartuce: “A culpa pode ser conceituada como sendo o desrespeito a um dever preexistente, não havendo propriamente uma intenção de violar o dever jurídico, que acaba sendo violado por outro tipo de conduta”157.

Antônio Menezes Cordeiro assevera em sua obra que

a culpa, quando recém separada da ilicitude, começou a assumir um alcance puramente psicológico. Sendo a ilicitude o puro objetivo da dissonância entre a conduta do agente a estatuição normativa por ele desrespeitada, a culpa permitiria imputar o ocorrido a vontade livre daquele.158

Pois bem, o conceito objetivo de culpa pode ser entendido ainda como o descumprimento, ou uma inobservância do dever de cuidado do agente, posto que fosse importante que o agente antes de praticar a conduta, conhecesse e observasse bem o ato a ser praticado. Diante da culpa, entende o doutrinador Sérgio Cavalieri Filho, sobre o dever de cuidado do agente:

Vivendo em sociedade, o homem tem que pautar a sua conduta de modo a não causar dano a ninguém. Ao praticar os atos da vida, mesmo que lícitos, deve observar a cautela necessária para que de seu atuar não resulte lesão à bem jurídicos

155 BARBOSA, Ana Mafalda Neves de Miranda - Lições de responsabilidade civil. 2017, p. 227.

156 BARBOSA, Ana Mafalda Neves de Miranda - Lições de responsabilidade civil. 2017, p. 228.

157 TARTUCE, Flávio - Direito Civil, Vol. 2: Teoria das obrigações e da responsabilidade civil. 12ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. ISBN.

158 CORDEIRO, António Menezes - Tratado de direito civil, Volume 8: Direito das Obrigações: Gestão de negócios, enriquecimento sem causa. Responsabilidade Civil. 2016, p. 466.

alheios. A essa cautela, atenção ou diligência convencionou-se chamar de dever de cuidado objetivo159.

No que tange ao dolo, este é considerado, em termos de responsabilidade civil, apenas uma graduação da culpa, posto que sua classificação mais especifica se faz necessária somente para o Direito Penal.

Na verdade, a culpa na responsabilidade civil é a tradução de uma censura, ou uma reprovação pelo direito de uma dada conduta praticada por um agente, e no âmbito do direito romano, haviam várias distinções, lembradas por Antônio Menezes Cordeiro: culpa lata ou culpa levis160.

Nos dias atuais, a culpa, ou negligencia do agente causador do dano, tem sido estudada como sendo a violação de uma norma por uma inobservância de dever de cuidado, conforme acima já asseveramos, uma vez que a vida em sociedade exige de seus sujeitos à observação de determinadas regras de conduta, cuidado, prudência, zelo, ou simplesmente atenção. E a inobservância de tais cuidados, mesmo que não seja voluntário, poderá provocar a violação e como consequência disso, responsabilização civil e dever de indenizar161.

A autora Ana Mafalda Castanheira, estabelece em sua obra que “o juízo de censura da culpa pode vir a apresentar-se sob duas modalidades: o dolo e a negligencia”162. De acordo com a mesma autora, o dolo sempre indica a intenção do comportamento danoso, podendo ser distinguido entre dolo eventual, necessário ou direto.

Frise-se que para ela, há o dolo direto quando o agente previu e quis assumir o resultado, já o dolo necessário é quando o mesmo agente não quis assumir o resultado, mas o previu e aceitou como necessário para poder alcançar outro resultado, e por fim, há o dolo eventual quando o agente previu o resultado, mas assumiu o risco163.

E no que diz respeito à negligência, esta traduz em violação do dever de cuidado, podendo ser a consciente ou a inconsciente, de acordo com a mesma autora dantes citada.

No direito Civil Português, em seu art. 487, nº 01 do Código Civil, há a expressa determinação que incumbe ao lesado à prova da culpa, a não ser que haja uma presunção legal no caso164.

Segue o dispositivo, in verbis:

159 CAVALIERI FILHO, Sérgio - Programa de Responsabilidade Civil. 2014, p. 47.

160 CORDEIRO, António Menezes - Tratado de direito civil, Volume 8: Direito das Obrigações: Gestão de negócios, enriquecimento sem causa. Responsabilidade Civil. 2016, p. 472.

161 CORDEIRO, António Menezes - Tratado de direito civil, Volume 8: Direito das Obrigações: Gestão de negócios, enriquecimento sem causa. Responsabilidade Civil. 2016, p. 474.

162 BARBOSA, Ana Mafalda Neves de Miranda - Lições de responsabilidade civil. 2017, p. 236.

163 BARBOSA, Ana Mafalda Neves de Miranda - Lições de responsabilidade civil. 2017, p. 236.

164 BARBOSA, Ana Mafalda Neves de Miranda - Lições de responsabilidade civil. 2017, p. 238.

1. É ao lesado que incumbe provar a culpa do autor da lesão, salvo havendo presunção legal de culpa. 2. A culpa é apreciada, na falta de outro critério legal, pela diligência de um bom pai de família, em face das circunstâncias de cada caso.165

Percebemos então, que a culpa é o elemento central da responsabilidade civil, e deve ser analisada com cautela.

165 PORTUGAL. Decreto Lei n.º 47.344, de 25 de novembro de 1966. Código Civil. [Em linha]. [Consult. 14 de

maio 2019]. Disponível em WWW: <URL:

http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?ficha=401&artigo_id=&nid=775&pagina=5&tabela=leis

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CAPÍTULO III