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2. ELEMENTOS CARACTERIZADORES DA RESPONSABILIDADE CIVIL

2.4. O dano

2.4.1 Modalidades de danos

2.4.1.1 Dano material ou dano patrimonial

Podemos definir o dano material de acordo com os ensinamentos dos autores Cristiano Chaves e Felipe Netto que estabelecem que “esta modalidade de dano é a lesão a um interesse econômico concretamente merecedor de tutela. Quando o dano ofende a relação entre pessoa e bens economicamente avaliáveis, surge a responsabilidade patrimonial”136.

Ana Mafalda assevera em sua obra que: “o dano é patrimonial quando é suscetível de ser avaliado em dinheiro; será não patrimonial quando não seja suscetível de ser avaliado em dinheiro”137.

De acordo com Antônio Menezes Cordeiro:

Um dano é patrimonial quando a situação vantajosa prejudicada tenha natureza econômica: quando assume simplesmente natureza espiritual, o dano diz-se não patrimonial ou moral. A matéria pode ser precisada, explicando-se que o dano moral se reporta a vantagens que o direito não admita que possam ser trocadas por dinheiro: embora sejam compensáveis naturalmente, em sede de responsabilidade civil138.

Desta forma, acerca do dano material (patrimonial) em específico, podemos decifrá-lo como sendo a lesão de bens e patrimônios que possam ser expressos economicamente, de forma que o dano afeta somente o patrimônio do ofendido. O critério para a sua utilização se encontra no artigo 402 do Código Civil brasileiro, e este dispõe que, in verbis:

Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar139.

De acordo com Sérgio Cavalieri: dano patrimonial, como o próprio nome já diz, também chamado de dano material, atinge os bens integrantes do patrimônio da vítima,

136 NETTO, Felipe Braga; FARIAS, Cristiano Chaves; ROOSENVALD, Nelson - Novo tratado de responsabilidade civil. 2017, p. 256.

137 BARBOSA, Ana Mafalda Neves de Miranda - Lições de responsabilidade civil. 2017, p. 300.

138 CORDEIRO, António Menezes - Tratado de direito civil, Volume 8: Direito das Obrigações: Gestão de negócios, enriquecimento sem causa. Responsabilidade Civil. 2016, p. 513.

139 BRASIL. Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2001. Institui o Código Civil. [Em linha]. [Consult. 04 de abr.

2019]. Disponível em WWW: <URL: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.html>.

entendendo-se como tal, o conjunto de relações jurídicas de uma pessoa apreciáveis economicamente”140.

Essa espécie de dano ainda comporta dois subtipos de danos: o dano emergente e o lucro cessante. De forma sucinta, definimos o dano emergente como aquela perda (ou diminuição) de patrimônio que a vítima sofreu, ou seja, o prejuízo efetivo sofrido pela vítima;

e o lucro cessante seria o que a vítima deixa de ganhar em razão do dano, é uma perda de ganho esperado, uma frustração da expectativa de dano141.

Antônio Cordeiro de Menezes se posiciona em relação aos danos emergentes, estabelecendo que “este resulta da frustração de uma vantagem já existente”142. E quanto aos lucros cessantes: “o lucro cessante advém da não concretização de uma vantagem que, doutra forma, operaria”143.

Assim sendo, tanto no direito português quanto no Brasileiro, os danos materiais ou patrimoniais são divididos em dano emergente, que é o próprio prejuízo causado pelo agente, e em lucro cessante, que são os benefícios, ou valores que a vítima deixou de ganhar em virtude daquele ato ilícito ou lesão praticada pelo agente, tal diferença se encontra no art. 564 do Código Civil Português, e no art. 402, já citado acima, no Código Civil brasileiro.

Segue in verbis o citado art. 564 do Código Civil Português:

1. O dever de indemnizar compreende não só o prejuízo causado, como os benefícios que o lesado deixou de obter em consequência da lesão. 2. Na fixação da indemnização pode o tribunal atender aos danos futuros, desde que sejam previsíveis; se não forem determináveis, a fixação da indemnização correspondente será remetida para decisão ulterior.

Há de ressaltar que para que o juiz profira sua sentença é determinante e imprescindível que a vítima junte ao processo documentos, vez que a prova documental no pedido de dano material é extremamente importante, pois o juiz só poderá proferir uma sentença com documentos que comprovem qual foi o efetivo prejuízo da vítima, ou o que ela deixou de lucrar com este ato ilícito.

Frise-se ainda que grande parte da doutrina brasileira subdivide o dano em mais uma espécie, que é o dano pela perda de chance, o qual é o tema de nossa pesquisa, e que falaremos mais adiante nos próximos capítulos de forma específica.

140 CAVALIERI FILHO, Sérgio - Programa de Responsabilidade Civil. 2014, p. 93-4.

141 GONÇALVES, Carlos Roberto - Direito Civil Brasileiro, Volume 4: responsabilidade civil. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. ISBN:, p. 371-2.

142 CORDEIRO, António Menezes - Tratado de direito civil, Volume 8: Direito das Obrigações: Gestão de negócios, enriquecimento sem causa. Responsabilidade Civil. 2016, p. 525.

143 CORDEIRO, António Menezes - Tratado de direito civil, Volume 8: Direito das Obrigações: Gestão de negócios, enriquecimento sem causa. Responsabilidade Civil. 2016, p. 525.

2.4.1.2 Danos morais

O alargamento dos danos morais é uma das maiores conquistas da responsabilidade civil, e de acordo com Antônio Menezes Cordeiro, a isso se deve ao Código de Seabra, em uma ação de acidente ferroviário, e além disso, em Portugal, no Código Civil do ano de 1966, há a nítida consagração da possibilidade de ressarcimento por danos morais, no Art. 496, nº 01, que será oportunamente colacionado144.

No direito brasileiro não há nenhuma definição exata do que é dano moral, estando apenas presente na Constituição Federal e no Código Civil que toda ofensa, ainda que ela seja só moral, deverá ser indenizada.

O dano moral não lesa o patrimônio da vítima, mas sim a pessoa da vítima em si, causando-lhe uma sensação de dor, sofrimento, tristeza, vexame e humilhação145. Sendo assim, estes “bens” que podem ser lesionados se encontram elencados no artigo 5º da Constituição Federal Brasileira, a seguir exposta:

Art. 5º, X: são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação146.

Insta trazer à baila o que assevera Antônio Menezes Cordeiro, que estabelece que: “o dano moral se reporta a vantagens que o direito não admita que possam ser trocadas por dinheiro: embora sejam compensáveis, naturalmente, em sede de responsabilidade civil”147. De acordo com Sérgio Cavalieri: “dano moral é a dor, vexame, sentimento, desconforto, humilhação- enfim, dor da alma.”148

Em contrapartida, seguindo o pensamento contrário de Sérgio Cavalieri, temos o dos autores Cristiano Chaves de Farias e Felipe Netto que dispõem que o dano moral não tem absolutamente nada a ver com a dor, vexame, sentimento de humilhação sentida pela vítima, senão vejamos:

Ocorre que o dano moral nada tem que ver com a dor, mágoa, ou sofrimento da vítima ou de seus familiares. Pesar e a consternação daqueles que sofrem um dano extrapatrimonial não passam de sensações subjetivas, ou seja, sentimentos e

144 CORDEIRO, António Menezes - Tratado de direito civil, Volume 8: Direito das Obrigações: Gestão de negócios, enriquecimento sem causa. Responsabilidade Civil. 2016, p. 416.

145 GONÇALVES, Carlos Roberto - Direito Civil Brasileiro, Volume 4: responsabilidade civil. 2012, p. 386.

146 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988. Art. 5.º, inciso X.

[Em linha]. [Consult. 05 de jan. de 2018]. Disponível em WWW: <URL:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.html>.

147 CORDEIRO, António Menezes - Tratado de direito civil, Volume 8: Direito das Obrigações: Gestão de negócios, enriquecimento sem causa. Responsabilidade Civil. 2016, p. 513.

148 CAVALIERI FILHO, Sérgio - Programa de Responsabilidade Civil. 2014, p. 106.

vivencias eminentemente pessoais e intransferíveis, pois cada ser humano recebe os golpes da vida de forma única, conforme o seu temperamento e condicionamento.149

Vale dizer que a decepção, desgosto, dissabor, desprazer, tristeza são consequências de um dano moral ao indivíduo, ou seja, pode ser considerado reflexo ao comportamento danoso do ofensor na vida da vítima150.

Porém, como o dano moral é provado dentro dos processos judiciais? Na verdade, o dano moral pode surgir de um descumprimento contratual quando estivermos diante da responsabilidade civil contratual, o que dispensará maiores provas, bastando mostrar dentro do processo a existência do inadimplemento.

Agora, quando estivermos dentro de outra situação, como, por exemplo, morte de um filho como pode provar a dor de uma mãe? Nesse caso, a doutrina majoritária chama o dano moral de in re ipsa uma vez que há a dispensa da prova em concreto, pois a dor se passa no interior de uma personalidade, sendo uma presunção totalmente absoluta151.

O dano moral in re ipsa é aquele que vem em decorrência do próprio fato lesivo, de modo que depois de provada a ofensa, ipso facto, fica cristalinamente demonstrado o dano moral através de uma presunção natural152.

Desta forma, é uma dispensa da prova da dor ou daquela mágoa sofrida em virtude daquele dano, o que é o correto nesses casos, pois deixa a dignidade como o ponto principal da questão uma vez que há a substituição do dogma da dor pelo dogma da dignidade humana153.

E por fim, trazemos uma indagação de Antônio Menezes Cordeiro: “a morte seria caracterizada como danos morais?” Primeiramente, o aludido autor faz a colocação que a morte de uma pessoa deve realmente ser considerada um dano, eis que a vida representa, segundo ele, uma vantagem, e que esse é o bem mais importante de um ser humano, e que resta claro desde a abolição da escravatura que uma pessoa não é bem de ninguém, e com isso, o dano sendo a morte, deverá ser indenizada a família do falecido154.

149 NETTO, Felipe Braga; FARIAS, Cristiano Chaves; ROOSENVALD, Nelson - Novo tratado de responsabilidade civil. 2017, p. 302.

150 NETTO, Felipe Braga; FARIAS, Cristiano Chaves; ROOSENVALD, Nelson - Novo tratado de responsabilidade civil. 2017, p. 304.

151 GONÇALVES, Carlos Roberto - Responsabilidade civil. 2014, p. 504.

152 NETTO, Felipe Braga; FARIAS, Cristiano Chaves; ROOSENVALD, Nelson - Novo tratado de responsabilidade civil. 2017, p. 307.

153 NETTO, Felipe Braga; FARIAS, Cristiano Chaves; ROOSENVALD, Nelson - Novo tratado de responsabilidade civil. 2017, p. 307.

154 CORDEIRO, António Menezes - Tratado de direito civil, Volume 8: Direito das Obrigações: Gestão de negócios, enriquecimento sem causa. Responsabilidade Civil. 2016, p. 517.