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A Responsabilidade Civil do Advogado tanto no Brasil quanto em Portugal

4. A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO

4.2 A Responsabilidade Civil do Advogado tanto no Brasil quanto em Portugal

O advogado é profissional autônomo, liberal, tendo ampla autonomia no desempenho de suas funções. Assim sendo, poderá na qualidade de patrono, causar danos e com isso, ter que responder civilmente, sem prejuízo das demais responsabilidades, tais como na esfera administrativa perante a Ordem dos Advogados, por exemplo299.

De forma inicial, cabe dizer que a responsabilidade civil do profissional liberal advogado está inserida na modalidade de responsabilidade civil subjetiva, que é aquela em que há a análise do elemento culpa.

297 FERREIRA, Durval - Dano da perda de chance. 2017, p. 255.

298 FERREIRA, Durval - Dano da perda de chance. 2017, p. 255.

299 NETTO, Felipe Braga; FARIAS, Cristiano Chaves; ROOSENVALD, Nelson - Novo tratado de responsabilidade civil. 2017, p. 1.049.

Hoje em dia, a jurisprudência é vasta no sentido que o advogado deve ser responsabilizado civilmente por uma conduta que venha a ensejar em dano ao seu cliente, que é aquela mesma pessoa que o confiou o encargo do mandato.

A responsabilidade civil do advogado é contratual, onde este fica sujeito ao que for acordado no contrato formalizado com seu cliente, tendo o dever contratual de acompanhar o processos em todas as suas fases e, em caso descumprimento de seus deveres, será sua conduta levada ao Tribunal de Ética e Disciplina da OAB para a averiguação de conduta ético-disciplinar bem como se obriga a reparar os danos causados ao cliente por sua displicência, desde que comprovada sua culpa já que estamos diante da hipótese de responsabilidade civil subjetiva.

O autor português Orlando Guedes da Costa assevera que é possível que a responsabilização civil do advogado também seja de forma extracontratual, em casos em que mesmo dê pareceres sem ser contratado pelo cliente300. Mas a regra geral é que essa responsabilização se dê na forma contratual pela existência de contrato entre advogado e seu cliente.

De acordo com o Autor Silvio de Salvo Venosa:

É dever do advogado encontrar soluções adequadas para as questões que se lhe apresentam. Quando ao dever de indenizar, cumpre que no caso concreto se examine se o prejuízo causado pela conduta omissiva ou comissiva do advogado é certo, isto é, com sua atividade, o cliente sofreu um prejuízo que não ocorreria com a atuação da generalidade de profissionais da área.301

Sendo assim, independentemente da atuação do advogado ser como mandatário ou mesmo como prestador de serviço extrajudicial, ele ficará civilmente responsável pelos danos diretamente ocasionados caso não cumpra fielmente com suas obrigações profissionais.

O advogado deve agir com zelo, prudência, cautela e praticar todos os atos com o intuito de fazer com que seu cliente seja o ganhador da causa, mas, no entanto, jamais fica obrigado a um resultado de sucesso do provimento jurisdicional.

Desta forma, a obrigação contratual do advogado é uma obrigação de meio, que é a mesma que estabelece que o advogado deve praticar todos os meios para o sucesso da demanda sem se obrigar com o sucesso final, questão que será oportunamente abordada nos próximos itens deste trabalho.

É importante destacar que a responsabilidade civil do advogado será apurada mediante verificação de culpa, que é um dos elementos fundamentais da responsabilização civil deste profissional liberal.

300 COSTA, Orlando Guedes - Direito Profissional do Advogado: noções elementares. 2010, p. 402.

301 VENOSA, Sílvio de Salvo - Direito Civil, Volume 4: Responsabilidade Civil. 2009, p. 259.

Sendo assim, na legislação brasileira, a responsabilidade civil do advogado está inserida na modalidade subjetiva, que é aquela em que há análise do elemento culpa, sendo isso consubstanciado no Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 14, §º 4:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.302

Todos os profissionais liberais no Brasil, incluindo o advogado são responsabilizados pela legislação, mas só se a sua culpa for provada por aquele que entender ter sido prejudicado, não cabendo responsabilização civil objetiva com base na teoria do risco.

É difícil determinar, de forma sucinta, quais situações demonstram a culpa e motivam a responsabilidade civil do advogado, porém, a doutrinadora Maria Helena Diniz, conseguiu reunir algumas dessas hipóteses de alcance da chamada “culpa”:

Pelos erros de direito; pelos erros de fato; pelas omissões de providencias necessárias para ressalvar os direitos do seu constituinte; pela perda de prazo; pela desobediência às instruções do constituinte; pelos pareceres que der, contrários à lei, à jurisprudência e à doutrina; pela omissão de conselho; pela violação de segredo profissional; pelo dano causado a terceiro;pelo fato de não representar o constituinte, para evitar-lhe prejuízo, durante os dez dias seguintes à notificação de sua renuncia ao mandato judicial (art. 45 CPC); pela circunstância de ter feito publicações desnecessárias sobre alegações forenses ou relativas a causas pendentes; por ter servido de testemunha nos casos arrolados no art. 7o, XIX, da Lei 8.906/94; por reter ou extraviar autos que se encontravam em seu poder; pela violação ao disposto no art. 34, XV, XX e XXI, da Lei 8.906/94; pela perda de chance de seu constituinte;303

No entanto, cabe salientar que o advogado não será responsabilizado apenas por ter perdido uma causa em que agiu com todo cuidado e zelo inerentes ao mandato outorgado pelo seu cliente304.

É certo que a obrigação de indenização pelo dano causado depende da apuração de prova da culpa do profissional, e mais, que haja nexo causal entre a conduta praticada pelo procurador e o possível dano causado ao cliente.

Insta informar que assim como o médico, o advogado, poderá responder civilmente por ações ou omissões, dependendo da sua conduta. Como já dito, poderá responder o advogado que deixa de interpor um recurso, ou perde um prazo importante para o processo e

302 BRASIL. Lei n.º 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. [Em linha]. [Consult. 27 de abr. de 2019]. Disponível em WWW: <URL:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.html>.

303 DINIZ, Maria Helena - Curso de Direito Civil Brasileiro, Volume 7: Responsabilidade Civil. 28ª ed. São Paulo: Saraiva, 2014. ISBN:, p. 297.

304 COSTA, Orlando Guedes - Direito Profissional do Advogado: noções elementares. 2010, p. 403.

para a demonstração do direito do seu cliente, aquele que deixa de propor uma ação, ou ainda, deixa de dar um conselho que se fazia muito necessário no caso concreto,

De acordo com os Autores Felipe Braga e Cristiano Chaves, não é toda conduta que será passível de responsabilização civil, e só os casos concretos darão a chave da hermenêutica necessária, e isso nem sempre será simples. Além do mais, asseveram em sua obra que “Não basta que o advogado tenha agido mal: é preciso que essa ação ou omissão desastrada se junte a um dano indenizável.”305

Na obra do Autor Orlando Guedes, o mesmo estabelece como exemplo, o de um advogado que deixa prescrever o direito de um cliente em virtude da demora no ajuizamento da demanda de danos morais contra uma empresa de viação. E sendo assim, esse advogado terá que indenizar o cliente somente se este provar na ação contra seu advogado que era perfeitamente possível a obtenção do ganho da causa, caso o advogado tivesse proposto a demanda no prazo estipulado pela lei306.Aqui, fica clara a responsabilidade subjetiva do advogado, que só será punido se for provada a sua culpa pela vítima.

O exemplo acima citado é um caso típico de perda de chance da atividade forense, que abordaremos mais adiante de forma detalhada.