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CAPÍTULO II – A CULTURA DA SOJA: CARACTERIZAÇÃO DO

6 A cultura da soja

A soja é considerada uma lavoura temporária, de ciclo vegetativo de curta duração, e seu cultivo está previsto no Grupo 011 (Produção de Lavouras Temporárias) da Comissão Nacional de Classificação (CONCLA), Vinculada ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. “Este grupo compreende o cultivo de plantas de ciclo vegetativo de curta duração, até 1 (um) ano, utilizando técnicas de cultivo tradicional, orgânico, ou ainda o cultivo de plantas modificadas geneticamente24.”

Os fatores que podem determinar se uma lavoura de soja vai apresentar boa ou má produtividade de grãos são diversos, dentre os quais destacam-se os climáticos, tidos como decisivos na maioria dos casos, principalmente no tocante à distribuição das chuvas. O clima é também considerado aquele de mais difícil controle, embora exerça maior ação sobre a produtividade. Assim, dentre os elementos climáticos, a temperatura, o fotoperíodo25 e a disponibilidade hídrica afetam consideravelmente o desenvolvimento e a produtividade da soja (FARIAS; NEPOMUCENO; NEUMAIER, 2007, p. 01).

A relevância dos fatores climáticos para a produção agrícola é tal que, a partir de 1996, o Ministério da Agricultura passou a publicar, anualmente, por meio de Portarias, o

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Informação constante em: <http://www.cnae.ibge.gov.br/subclasse.asp?CodSecao=A&CodDivisao=01&Cod Grupo=011&codclasse=0115-6&CodSubClasse=0115-6/00&TabelaBusca=CNAE_201@CNAE%202.1%20- %20Subclasses@0@cnaefiscal@0>. Acesso em: 26 mar. 2013.

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Fotoperíodo pode ser entendido como “duração do dia; duração diária de exposição à luz”, como define

Zoneamento Agrícola de Risco Climático26, entendido como um instrumento de política agrícola e gestão de riscos na agricultura. Por meio dele, que é organizado com base na análise histórica do comportamento do clima, cada município pode identificar a melhor época de plantio de culturas, nos diferentes tipos de solo e ciclos de cultivares.

Todavia, estes fatores, por si sós, não determinam a boa produtividade da soja, sendo necessário que a instalação da lavoura permita que as plantas sejam beneficiadas por eles. Para tanto, observam-se a capacidade produtiva do solo, a época de semeadura apropriada ao melhor desenvolvimento das plantas, a cultivar adequada, a densidade de plantas e sua uniformidade na lavoura, além da combinação destes elementos com problemas fitossanitários27 da cultura, especialmente a interação de época de semeadura e ocorrência de pragas e doenças (GARCIA et al, 2007, p. 01).

Fotografia 1 – Plantas de soja em linhas de semeadura

Acervo pessoal – out. 2013

Somam-se a estes fatores, como também determinantes da produtividade, os sistemas28 adotados na instalação da lavoura de soja. Sistema de cultivo “refere-se às práticas

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No início, o Zoneamento de Risco Climático era feito somente para a cultura do trigo. “Atualmente, os estudos de zoneamentos agrícolas de risco climático já contemplam 40 culturas, sendo 15 de ciclo anual e 24 permanentes, além do zoneamento para o consórcio de milho com braquiária, alcançando 24 Unidades da Federação.” (MAPA; consulta feita em 03 fev. 2014)

27 Fitossanitário: “relativo à saúde das plantas” (GOULART, 1991, p. 77).

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A leitura dos diversos textos do corpus documental permitiu perceber o emprego de sistema de cultivo, sistema

de manejo ou manejo como sinônimos; todavia, os conceitos não costumam ser explicitados. O texto de Hirakuri et al. (2012) ora citado, ao contrário, evidencia algumas definições a partir de escala geográfica.

comuns de manejo associadas a uma determinada espécie vegetal, visando sua produção a partir da combinação lógica e ordenada de um conjunto de atividades e operações”; já sistema

de produção está relacionado ao “conjunto de sistemas de cultivo e/ou de criação no âmbito

de uma propriedade rural, definidos a partir dos fatores de produção (terra, capital e mão-de- obra) e interligados por um processo de gestão” (HIRAKURI et al., 2012, p. 12-13). Segundo os mesmos autores, o sistema de cultivo adotado para a cultura da soja prevê etapas, ilustradas no fluxograma abaixo (Figura 1), nas quais, inicialmente, é feito o manejo da área (calagem, gessagem, dessecação29), seguido da semeadura e adubação (sementes, tratamento de sementes, inoculação, adubação de base), controle fitossanitário (plantas daninhas, insetos- praga, doenças) e colheita (colheita, transporte externo). Já os procedimentos pré-plantio, iniciados com o planejamento do cultivo (capital, mão-de-obra, insumos, seleção da área) e os pós-colheita (secagem, armazenagem, transporte) são tidos como atividades complementares. Embora indispensáveis aos processos de produção, comercialização etc., tais atividades não se referem aos atos de cultivo da soja em si.

Assim sendo, os textos constituintes de nosso corpus documental, do qual extraímos os termos neológicos da cultura da soja, não contemplam essas atividades complementares (planejamento e pós-colheita), relacionando-se, portanto, às práticas culturais e aos problemas a elas inerentes, resumidos na próxima Figura.

Figura 1 – Fluxograma resumido de etapas de sistema de cultivo de soja.

Fonte: Fluxograma elaborado com base em Hirakuri et al. (2012, p. 12).

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Calagem: “tecnologia empregada com o objetivo de corrigir as deficiências químicas, biológicas e físicas

ocasionadas pela acidez, através da adição de certos compostos contendo cálcio ou cálcio e magnésio,

denominados calcários” (GOULART, 1991, p. 33); gessagem: “prática de se colocar gesso agrícola no solo, a fim de melhorar o ambiente radicular no subsolo” (IDEM, p. 85); dessecação: “1) Definhamento. 2) Perda de muita água dos tecidos. 3) Efeito de secar completamente.” (IDEM, p. 57). Dessecação, no contexto acima, é

referente à eliminação das plantas existentes no solo no período que antecede o plantio da soja.

Planejamento •Capital •Mão-de-obra •Insumos •Seleção da área Manejo da área •Calagem •Gessagem •Dessecação Semeadura e adubação •Sementes •Tratamento de sementes •Inoculação •Adubação de base Controle fitossanitário •Plantas daninhas •Insetos-praga •Doenças Colheita •Colheita •Transporte externo Pós-colheita •Secagem •Armazenagem •Transporte

Dentre os sistemas de cultivo adotados pelos agricultores para a instalação da lavoura de soja, podem ser mencionados o sistema convencional, que prevê aração e gradagem da terra no período que antecede o plantio da semente; o cultivo mínimo, em que é feito somente o trabalho de gradagem antes do plantio; o sistema de plantio direto3031 na palha, que dispensa os serviços de aração e gradagem, e a semeadura é feita sobre os restos de uma cultura anterior. Este último tem sido o sistema recomendado à cultura da soja pelos pesquisadores, por apresentar vantagens na produção, especialmente ao longo dos anos em que se repete este sistema de plantio, sob o qual há aumento gradativo da produtividade. A intenção é revolver minimamente a terra na linha de semeadura, de modo que seja protegida do impacto das gotas de chuva (deste modo, evita-se a erosão), ao mesmo tempo em que tem aumentada a capacidade de armazenamento de água no solo, mantendo-se a sua melhor qualidade biológica, com a preservação e o aumento da matéria orgânica do terreno. Neste sistema, a cobertura do solo (palhada) contribui para a redução da perda de umidade por evaporação, importante fator nos estádios iniciais de desenvolvimento da cultura, e atua como isolante térmico, já que mantém a menores graus a temperatura do solo em comparação com a terra a descoberto. Além dos benefícios para a conservação dos recursos naturais, o sistema reduz gastos com combustível, máquinas e mão de obra (MAPA).

Fotografia 2 – Plantas de soja no sistema plantio direto

Acervo pessoal – out. 2013

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O plantio direto e o cultivo mínimo são tipos de preparo conservacionista que procuram minimizar a mobilização do solo (SOUZA; ALVES, 2003, p. 02). Cf. abaixo a discussão sobre sustentabilidade.

31 Segundo o MAPA, o Brasil é líder mundial no uso do sistema plantio direto, que ocupa mais da metade da

O sistema de manejo adequado e eficiente depende de ações associadas, como, por exemplo, a rotação de culturas, que

consiste em alternar no tempo, o cultivo de espécies vegetais numa determinada área, preferencialmente com culturas que possuem sistemas radiculares diferentes (gramíneas e leguminosas, por exemplo) onde cada espécie deixa um efeito residual positivo para o solo e para a cultura sucessora (GONÇALVES et al, 2007, p. 01).

Sistema de rotação e sistema de sucessão de culturas são termos bastante frequentes em nosso corpus documental, sendo principalmente o primeiro deles indicado como benéfico à produção agrícola sustentável. Por este motivo, apresentamos a seguir suas definições, elaboradas por Franchini et al. (2011, p. 14) que, além de definirem tais sistemas, também os distinguem e apresentam exemplificação:

A rotação de culturas é definida como sendo a alternância ordenada de diferentes culturas, em determinado espaço de tempo (ciclo), na mesma área e na mesma estação do ano. A sucessão de culturas é definida como o ordenamento de duas culturas na mesma área agrícola por tempo indeterminado, cada uma cultivada em uma estação do ano. Um exemplo de

sistema de rotação de culturas seria aveia preta + nabo/milho – aveia

branca/soja – milho safrinha/soja – trigo/soja. Nesse sistema, ocorre a

alternância de espécies dentro de uma mesma estação, de modo que, no inverno, cultiva-se 25% da área com aveia preta + nabo forrageiro, 25% com aveia branca para grão, 25% com milho safrinha e 25% com trigo, enquanto que, no verão, cultiva-se 75% da área com soja e 25% com milho. Por outro lado, os sistemas onde o trigo ou o milho safrinha são cultivados em 100% da área todos os anos no inverno e a soja em 100% da área todos os anos no verão, são caracterizados como sistemas de sucessão de culturas.

Aliam-se, ainda, ao sistema de manejo várias práticas agronômicas que também podem determinar a produtividade da soja: uso de sementes sadias e tratadas, escolha de cultivares resistentes a doenças e a pragas e também adaptadas às diversas regiões brasileiras, adubação equilibrada, observância do período do ano ideal para o plantio, população adequada de plantas na área de cultivo, escolha da rotação e/ou sucessão de culturas, evitando

a monocultura, manejo de doenças e pragas, controle das plantas daninhas32, respeito ao período chamado vazio sanitário33.

Concomitantemente às práticas agronômicas que conduzem à produtividade da soja, há (ou deve haver) a preocupação dos produtores e pesquisadores com o desenvolvimento sustentável, questão sobre que traremos algumas observações, após a explicitação dos problemas seguintes.