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CAPÍTULO II – A CULTURA DA SOJA: CARACTERIZAÇÃO DO

8 Sustentabilidade

A agricultura é atividade essencial à vida do ser humano, considerando-se a variedade de alimentos que produz, além de fibras e diversas matérias-primas. Contudo, apresenta alto custo ambiental que, há décadas, vem preocupando as sociedades. Os limites dos recursos naturais de um lado e o acentuado crescimento populacional de outro são fatores que têm gerado discussões, em especial no âmbito das Nações Unidas.

Neste sentido, as preocupações se orientam em torno da proposta do desenvolvimento sustentável, ou seja, “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras de atenderem às suas próprias

38 Na bula deste herbicida, registrado sob a marca Roundup Ready, e indicado para a cultura da soja, consta que “ROUNDUP READY® é um herbicida de amplo espectro para controle de plantas infestantes, desenvolvido

pela Monsanto do Brasil Ltda., para uso exclusivo e seletivo em variedades de soja geneticamente modificadas, denominadas Soja Roundup Ready.” (ROUNDUP READY®. Herbicida Monsanto. Disponível em: <http://www.monsanto.com.br/produtos/herbicidas/fichas-de-emergencia-e-bulas/pdf/roundup-ready-bula.pdf>. Acesso em: 09 nov. 2013).

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Diversos termos neológicos de nosso corpus de análise contêm estes formantes em sua composição, sendo também presentes em diversos contextos, como se poderá ver na análise.

necessidades”41

, como ficou estabelecido no Relatório Brundtland, apresentado em 1987, em decorrência do debate sobre as questões ambientais proposto pela ONU (Organização das Nações Unidas) no início da década de 1980. A sustentabilidade compreende o desenvolvimento econômico e o social, com respeito ao equilíbrio e às limitações dos recursos naturais. Assim sendo, ela “passou a ser um dos grandes desafios da humanidade e, principalmente, do setor primário, responsável pela produção de alimentos”, como afirmam Lima et al (2008, p. 01).

Para que haja desenvolvimento sustentável, torna-se necessário minimizar a destruição dos biomas42, reduzir o uso de recursos naturais não renováveis, bem como diminuir a poluição e implementar a reciclagem de resíduos. No entanto, por um lado, a agricultura é “a atividade humana que mais destrói habitat para abrir espaço, a que mais utiliza terra e a que mais usa água. (…) utiliza recursos naturais não renováveis, degrada o solo e os recursos hídricos e é poluente” (RAIJ, 2006, p. 19), fatos que a caracterizam como a atividade de maior custo ambiental. Por outro lado, torna-se imperativa, por constituir um setor indispensável à vida humana, e as preocupações dos órgãos do Governo e de produtores voltam-se à disciplina do uso do solo e à minimização de problemas ambientais no processo produtivo.

Além do desmatamento, que avançou e ainda avança pelos diversos biomas nacionais, um grave problema ambiental é referente à erosão, cujas consequências resultam na perda da fertilidade do solo, no assoreamento dos rios, diminuição do suprimento de água nos aquíferos subterrâneos, a qual, por sua vez, provoca cheias mais intensas na estação chuvosa e falta de água mais acentuada na estação seca (RAIJ, 2006, p. 20), fenômenos que têm marcado o planeta nos últimos anos.

Neste particular, a cultura da soja apresenta, ao menos, dois aspectos positivos: caracteriza-se como cultura fundamental no sistema de rotação com outras culturas (prática acima mencionada), em plantio direto, sistema este que propicia a redução da erosão e o aumento da infiltração de água no solo, motivo pelo qual tem sido indicado para a sustentabilidade da produção agrícola; e, por retirar nitrogênio do ar, por meio da fixação

41 De acordo com Raij (2006, p. 19) e Marco Universal (Disponível em:<http://www.marcouniversal.com.br>.

Acesso em: 12 jan. 2014), p. 27.

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Segundo o Ministério do Meio Ambiente nacional, há seis biomas no Brasil: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal (http://www.mma.gov.br/biomas). Esta variedade de biomas, com sua respectiva riqueza de flora e de fauna, torna o Brasil o país mais rico do planeta em termos de biodiversidade. Soma-se, ainda, a esta variedade a extensa “costa marinha de 3,5 milhões de km², que inclui ecossistemas como recifes de corais, dunas, manguezais, lagoas, estuários e pântanos” (http://www.mma.gov.br/biodiversidade/biodiversidade-brasileira).

biológica deste elemento químico, dispensa o uso de adubos nitrogenados, de modo a economizar o gás natural que seria usado na fabricação de tais adubos.

Além da rotação entre culturas diversas, como as supramencionadas, pode compor esta prática de rotação com soja o sistema de integração lavoura-pecuária, caracterizado como um sistema de produção que consiste na rotação alternada de culturas anuais e perenes. Visa à otimização dos recursos naturais, proporcionando benefícios recíprocos entre a agricultura e a pecuária para a exploração sustentável do solo, como argumenta Sigma (2009, p. 293). Neste sistema, a alta produção de palha e o sistema radicular profundo das pastagens propicia a reestruturação do solo, implicando na melhoria sanitária, que, somada ao efeito saneador e nutricional da urina e do esterco do gado, favorece a produção agrícola. Já o cultivo de grãos em áreas de pastagem beneficia a pecuária com a melhoria da fertilidade do solo e a eliminação de agentes parasitas do rebanho.

Deste modo, ambas as práticas se beneficiam, com reflexo positivo para o meio ambiente. Ao mesmo tempo em que são recuperadas as pastagens degradadas, ocorre o restabelecimento do equilíbrio natural no sistema de produção, com a redução do custo de produção na propriedade. Sigma (2009, p. 294) afirma que “o papel da agricultura é o de melhorar em até 10 vezes a produtividade da pecuária e esta, por sua vez, incrementa significativamente a produtividade das culturas, com baixo custo”.

Um aspecto negativo relacionado à produção de soja é o uso elevado de defensivos agrícolas, os agrotóxicos, que contaminam o meio ambiente e prejudicam a saúde humana (discussão posta no próximo item deste trabalho). As recomendações acima mencionadas de manejo integrado – o controle integrado de doenças, o MIP, o MIPD e o sistema de integração lavoura-pecuária – contemplam ações voltadas à sustentabilidade na produção de soja, e consequente redução do uso de defensivos. Todavia, tais recomendações podem ainda não estar sendo seguidas por todos os produtores nacionais. Tem-se, assim, um grande desafio a enfrentar na busca da prática do desenvolvimento sustentável, com respeito aos interesses sociais e econômicos, mas também voltados à preservação ambiental.