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CAPÍTULO II – A CULTURA DA SOJA: CARACTERIZAÇÃO DO

7 Doenças, pragas e plantas daninhas: problemas à cultura da soja

7.3 Plantas daninhas

Assim como as doenças e as pragas, as plantas daninhas34, entendidas como os vegetais que crescem em locais indesejados35, também podem provocar perdas significativas

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O termo plantas daninhas é o mais frequente nos textos por nós consultados, mas também ocorrem sinônimos ou parassinônimos: plantas infestantes, flora infestante, ervas daninhas.

na produção da soja, posto que interferem no crescimento e na produtividade da cultura. Tal interferência pode ser direta, quanto à competição por luz, água, espaço, nutrientes vitais para a soja, e por dificultar a colheita, aumentar as impurezas ou o teor de umidade dos grãos na colheita; ou indireta, pois as plantas daninhas podem ser hospedeiras de pragas e doenças que também atinjam a soja. Neste sentido, a ausência ou o controle das plantas daninhas é um importante fator para o sucesso do cultivo da soja.

Ao longo do tempo, vários métodos de controle das plantas daninhas já foram adotados, “métodos que passaram desde o uso das mãos (monda), enxadas, arados e grades até, finalmente, o uso do controle químico através dos herbicidas” (NEMOTO, 2005, p. 159). Este último é o mais praticado na cultura da soja, principalmente nas regiões de Cerrado. Contudo, Gazziero, Voll e Adegas (2011, p. 416) recomendam que “o controle de plantas daninhas seja realizado seguindo os conceitos do manejo integrado de plantas de plantas (sic) daninhas (MIPD)”. Os mesmos estudiosos definem o MIPD como a “seleção e integração de métodos de controle e o conjunto de critérios para a sua utilização, com resultados favoráveis, dos pontos de vista agronômico, econômico, ecológico e social” (p. 417).

Dentre os métodos de controle componentes do MIPD, são indicados o preventivo, em que se adotam medidas para evitar a entrada ou a disseminação de espécies onde elas não existam; o cultural, com o planejamento do sistema de exploração das propriedades e que envolve práticas agrícolas diferenciadas; o mecânico, em que se utilizam instrumentos tracionados por máquinas, animais ou o próprio homem, no intuito de reduzir a população de plantas daninhas; e o químico, que consiste na utilização de herbicidas.

Nesta perspectiva, o MIPD e os supracitados MIP e controle integrado de doenças parecem ter o objetivo comum da diminuição da aplicação de produtos agroquímicos, também chamados defensivos agrícolas ou agrotóxicos (herbicidas, inseticidas, acaricidas, fungicidas). Esta ação do manejo, ou do controle integrado, barateia os custos de produção, mas principalmente tais medidas de controle são menos agressivas ao meio-ambiente e ao ser humano36.

Gazziero et al. (2006) registram e descrevem 57 espécies de plantas daninhas mais facilmente encontradas nas lavouras de soja, agrupando-as por famílias e descrevendo-as37 de

36 Discutimos, abaixo, o problema da sustentabilidade na agricultura.

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A descrição que se observa neste material indica a morfologia de cada planta destacando, dentre diversas características, se ela se refere a planta anual (a maioria delas), bianual ou perene, a forma de reprodução, e todas são acompanhadas de imagens fotográficas coloridas, que possibilitam a sua identificação no campo.

modo a facilitar a sua identificação e o manejo adequado, como organizamos no quadro a seguir.

Família Nome(s) comum(ns) Nome científico

Amaranthaceae

Apaga-fogo Alternanthera tenella

Caruru-rasteiro Amaranthus deflexus

Caruru-gigante Amaranthus hybridus

Caruru-de-espinho Amaranthus spinosus

Caruru-de-mancha Amaranthus viridis

Asteraceae (Compositae)

Carrapicho-de-carneiro Acanthospermum hispidum

Carrapicho-rasteiro Acanthospermum australe

Mentrasto Ageratum conyzoides

Buva Conyza spp.

Picão-preto Bidens spp.

Falsa-serralha Emilia sonchifolia

Picão-branco, fazendeiro Galinsoga parviflora

Estrelinha Melampodium perfoliatum

Losna-branca Parthenium hysterophorus

Couve-cravinho Porophyllum ruderale

Maria-mole Senecio brasiliensis

Botão-de-ouro Siegesbeckia orientalis

Serralha Sonchus oleraceus

Erva-de-touro Tridax procumbens

Brassicaceae Mastruço Coronopus didymus

Nabiça Raphanus raphanistrum

Commelinaceae Trapoeraba Commelina benghalensis

Convolvulaceae

Corda-de-viola Ipomoea grandifolia

Corda-de-viola Ipomoea nil

Corda-de-viola Ipomoea purpurea

Euphorbiaceae

Erva-de-santa-luzia Chamaesyce hirta

Erva-andorinha Chamaesyce hyssopifolia

Gervão-branco Croton glandulosus

Amendoim-bravo, leiteiro Euphorbia heterophylla

Fabaceae Desmódio Desmodium tortuosum

Fedegoso Senna obtusifolia

Lamiaceae

Cheirosa Hyptys suaveolens

Cordão-de-frade Leonotis nepetifolia

Rubim Leonurus sibiricus

Malvaceae Guanxuma, guaxuma, vassourinha Sida rhombifolia

Poaceae

Brizantão Brachiaria brizantha

Capim-braquiária Brachiaria decumbens

Capim-marmelada, papuã Brachiaria plantaginea

Capim-carrapicho Cenchrus echinatus

Capim-de-rhodes, capim-branco Chloris spp.

Capim-colchão Digitaria spp.

Capim-amargoso Digitaria insularis

Capim-arroz Echinochloa colonum

Capim-pé-de-galinha Eleusine indica

Capim-colonião Panicum maximum

Capim-oferecido, Capim-custódio Pennisetum setosum

Capim-favorito Rhynchelytrum repens

Capim-rabo-de-raposa Setaria geniculata

Capim-massambará Sorghum halepense

Portulacaceae Beldroega Portulaca oleracea

Maria-gorda Talinum paniculatum

Rubiaceae Poaia-branca Richardia brasiliensis

Erva-quente Spermacoce latifólia

Sapindaceae Saco-de-padre Cardiospermum halicacabum

Solanaceae Joá-de-capote Nicandra physaloides

Maria-pretinha Solanum americanum

Quadro 3 – Plantas daninhas da cultura da soja.

Fonte: Gazziero et al. (2006).

De acordo com as recomendações agronômicas, as medidas de controle devem ser planejadas para que sejam eficientes. A incidência das plantas daninhas nas diversas culturas, denominada “matocompetição”, é problema observado em todo o mundo e, no caso da cultura da soja, pode resultar em perdas de 90% da produção. Também pode dificultar o processo de colheita e prejudicar a qualidade do grão de soja ou da semente, como já afirmamos.

Outro problema que tem sido registrado pelos pesquisadores é o da resistência aos herbicidas, caracterizado como a capacidade de as plantas daninhas sobreviverem à sua aplicação. Este fato ocorre devido à evolução destas plantas e à sua adaptação às mudanças do ambiente e ao uso de práticas agrícolas.

O glifosato38, que é também utilizado em diversas culturas, é o principal herbicida do sistema de produção de soja nos últimos anos. Pode ser utilizado antes da semeadura da soja, no intuito de eliminar as plantas daninhas, ou após a emergência das plantas, somente com aquelas geneticamente modificadas para resistência ao glifosato (soja Roundup Ready ou soja

RR39). Contudo, o seu uso reiterado no Brasil e no mundo já apresenta o problema de resistência de plantas daninhas (relatos de 21 populações de espécies resistentes ao glifosato no mundo e 05 no Brasil40), as quais passam a inspirar maiores cuidados por parte dos produtores.