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Designação das cultivares de soja

CAPÍTULO V – ANÁLISE DO CORPUS NEOLÓGICO DA CULTURA

2 Estruturação dos compostos sintagmáticos

3.5 Designação das cultivares de soja

Os nomes dados às cultivares de soja, como demonstra o nosso corpus de análise e os registros observados no MAPA, podem conter números, siglas, adjetivos, substantivos, símbolos. São de livre escolha das empresas que as produzem, e não consta nos documentos consultados sobre a cultura da soja a explicitação de critérios adotados para a denominação. Entretanto, por meio da Lei nº. 9.456, de 25 de abril de 1997, o RNC apresenta algumas exigências quanto à nomeação de novas cultivares, que serão explicitadas a seguir.

O nosso corpus apresenta 47 (quarenta e sete) termos que contêm a base cultivar em sua estrutura. Por este motivo, houvemos por bem tecer considerações linguísticas sobre esta base e apresentar informações que colaboram na compreensão dos termos por ela formados, além de apresentar algumas questões subjacentes. Assim, iniciamos com observações linguísticas sobre o termo cultivar.

No dicionário Houaiss eletrônico (2009), constam duas entradas para cultivar: a primeira é referente ao verbo, e a segunda, que interessa a este estudo, ao substantivo homônimo. Segundo o dicionarista, o emprego mais antigo do verbo, consoante seu corpus de

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Esta definição de composto é dada por Rohrer (1967, apud Sandmann, 1989, p. 131): “Um composto é um sintagma da técnica lingüística sincrônica comutável com monemas simples, sintagma que só pode ser

buscas, data de aproximadamente 1539, enquanto que o substantivo passou a ser empregado depois de 1923 (d192390), sendo, portanto, mais recente a forma nominal.

Assim, com relação ao termo cultivar, enquanto substantivo, a definição dada por Houaiss é “qualquer variedade de planta produzida por meio de técnicas de cultivo, normalmente não encontrada em estado silvestre”. E a etimologia apresentada indica que o termo tem origem na língua inglesa, de idêntica grafia, formado como acrônimo de cultivated

variety: “ing. cultivar 'id.', acrônimo de culti(vated) var(iety), lit. 'variedade cultivada'”91. Podemos afirmar, no entanto, que a origem estrangeira deste termo não é percebida pelos falantes atuais de nossa língua, assim como não se percebe o processo acronímico que deu origem a ele.

Com relação a informações gramaticais e ao uso, Houaiss tece uma observação sobre o gênero do termo, afirmando que o uso mais frequente é o masculino, devido à analogia às substantivações de outros verbos latinos, embora a origem do vocábulo preconize o gênero feminino. Contudo, na maioria dos textos de nosso corpus documental, o gênero preferido é o feminino, o mesmo e único empregado nos documentos do MAPA ao quais tivemos acesso pelo site do Ministério, motivo por que também o adotamos neste texto.

O MAPA apresenta, em um de seus documentos, a sua concepção de cultivar:

uma cultivar é resultado de melhoramento em uma variedade de planta que a torne diferente das demais em sua coloração, porte, resistência a doenças. A nova característica deve ser igual em todas as plantas da mesma cultivar, mantida ao longo das gerações. Embora a nova cultivar seja diferente das que a originaram, não pode ser considerada geneticamente modificada, o que

ocorre é uma nova combinação do seu próprio material genético.92

No Artigo 3º, da Lei nº. 9.456, de 25 de abril de 1997, que institui a Lei de Proteção de Cultivares no Brasil, dentre as definições apresentadas para dezoito itens distintos, constam as seguintes para cultivar e nova cultivar, apresentadas nos Incisos IV e V que reproduzimos:

90 Na lista de abreviações do Houaiss, a letra d deve ser entendida como “depois de”. 91

O étimo do verbo, ainda de acordo com Houaiss, remonta ao latim: “prov. lat.medv. cultivāre

'desenvolver, aperfeiçoar pelo cuidado, trato contínuo'”.

92 Informação disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/vegetal/registros-autorizacoes/protecao-

IV - cultivar: a variedade de qualquer gênero ou espécie vegetal superior que seja claramente distinguível de outras cultivares conhecidas por margem mínima de descritores, por sua denominação própria, que seja homogênea e estável quanto aos descritores através de gerações sucessivas e seja de espécie passível de uso pelo complexo agroflorestal, descrita em publicação especializada disponível e acessível ao público, bem como a linhagem componente de híbridos;

V - nova cultivar: a cultivar que não tenha sido oferecida à venda no Brasil há mais de doze meses em relação à data do pedido de proteção e que, observado o prazo de comercialização no Brasil, não tenha sido oferecida à venda em outros países, com o consentimento do obtentor, há mais de seis anos para espécies de árvores e videiras e há mais de quatro anos para as

demais espécies; 93 (grifos nossos).

Um dos quesitos para a compreensão e distinção de uma cultivar é relativo à denominação que lhe é dada, como destacamos acima, e a mesma Lei, em seu Artigo 15 e respectivos Incisos, regulamenta a forma de designação:

Art. 15. Toda cultivar deverá possuir denominação que a identifique, destinada a ser sua denominação genérica, devendo para fins de proteção, obedecer aos seguintes critérios:

I - ser única, não podendo ser expressa apenas de forma numérica; II - ter denominação diferente de cultivar preexistente;

III - não induzir a erro quanto às suas características intrínsecas ou quanto à sua procedência.

Sendo estas as exigências apresentadas para a nomeação das cultivares de soja, as empresas proponentes têm liberdade de escolha das formas de designação. Deste modo, como observamos no corpus analisado, há diversidade na constituição dos termos que designam tais cultivares, mas também há observância de alguma estrutura determinada. As cultivares criadas pela Embrapa recebem a sigla BRS em sua designação (e outras empresas proponentes de registro de cultivares utilizam outras siglas, como CD, que apareceu no corpus; no entanto não se trata de um elemento obrigatório), à qual podem seguir símbolos, indicações numéricas, zoônimos, antropônimos, nome de produto agropecuário, adjetivos qualificadores ou classificadores, substantivos em função adjetiva, locuções adjetivas (ou SP‟s).

A sigla RR, referente ao produto herbicida Roundup Ready, se apresenta de maneira bastante significativa nos termos, devido à necessidade de distinção entre a soja geneticamente modificada e a comum ou convencional, dentre outros prováveis fatores,

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devido aos diferentes tratos culturais que uma e outra requerem, conforme revelam os contextos.