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OS JOGOS DIDÁTICOS SURDOS

6.2 A cultura surda e os jogos didáticos surdos

Minha percepção de que os jogos didáticos surdos estão imbuídos de cultura surda pela inserção de sinais culturais, ou seja, símbolos ou imagens de sinais da Língua de Sinais, do alfabeto manual, gravuras e outros, foi o que me levou a identificá-los como jogos didáticos surdos. Incluídos na educação bilíngue, estes jogos se prestam às diferentes disciplinas como o ensino de Matemática, Português, Ciências e outras.

Nas entrevistas-narrativas pude observar que os professores surdos aludiam à inserção de referências ligada à cultura e à identidade surdas, como no recorte narrativo da Professora Surda B.

“Geralmente são adaptações de materiais de ouvintes que penso e arquiteto em como utilizar dentro do contexto dos surdos, seguindo a cultura e a identidade surda. Causando debates em sala de sula, brincadeiras com objetivos de gordo, magro, feio, bonito, desenvolvendo o raciocínio lógico.” (Professora Surda B, 2015, p.10).

Da mesma forma, Hall (2003) cita, sobre a percepção de símbolos culturais em objetos que estão sendo significados continuadamente: “[…] o mundo cultural e ideológico, que está sempre significando e ressignificando — esse é um processo sem fim” (HALL, 2003, p. 362). A Professora Surda E percebe a necessidade de acréscimo de símbolos culturais ao material didático. Captei o que segue na entrevista-narrativa: “Ninguém faz nada e me entrega, não. Eu mesma quem faço! Se eu gostar de algum jogo de outro professor, traduzo para combinar com os meus objetivos que incluem símbolos culturais.” (Professora Surda E, 2015, p. 07).

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Percebo que as muitas significações culturais colocadas pelo professor surdo são objetos da progressão da cultura surda. Por isto, justamente, os jogos culturais surdos são criações da cultura surda que está em constante movimento como identidade cultural. São criações, adaptações e traduções feitas para a cultura surda e auxílio para a educação bilíngue. 6.3 O professor surdo e o ato de criar o jogo didático surdo

Penso em como os professores surdos encontram ou compram os jogos próprios surdos. No mercado é difícil, pois não se encontram os jogos didáticos surdos. Penso como olham os estudantes surdos com os jogos para brincar. Quaisquer que sejam os materiais, os estudantes surdos vão gostar de brincar com os jogos didáticos surdos diferentes, ou diversificados. Para o estudante surdo, quanto mais visuais e variados forem os jogos didáticos surdos, mais interessantes serão e melhor aprenderão.

Imaginei que há diversos jogos didáticos surdos, construídos a partir da criatividade própria e produzidos manualmente. Na entrevista-narrativa aos professores surdos, esta foi a pergunta específica sobre o jogo didático surdo. O Professor Surdo A, responde sobre a produção no recorte:

“Eu nunca comprei jogo nenhum, eu gosto mesmo é de fazer, de criar os jogos didáticos com as minhas próprias mãos. Sinto que alguns jogos prontos são incompletos, então é melhor que eu faça usando minha criatividade e meu conhecimento.” (Professor Surdo A, 2015, p. 06).

Entendo como explica Kishimoto (2011), a criação tem como o objetivo o conhecimento dos materiais e dos jogos didáticos surdos:

“Toda criação é a ordenação de uma ideia de um sentimento, expressão do diálogo entre o homem e o mundo que o rodeia. Mas este diálogo, fruto de uma elaboração única e pessoal, dá-se também dentro de um todo social, pois a criação concretiza-se dentro de um espaço coletivo cultural.” (KISHIMOTO, 2011, p. 58).

Na verdade temos a maioria dos jogos na cultura ouvinte, mas há poucos jogos didáticos para estudantes surdos. Eu posso, com criatividade, realizar a adaptação ou traduzir estes jogos para o Português da cultura surda da minha região. Percebo nas regiões do Brasil, diferentes jogos didáticos surdos, com diferentes significados culturais, porém não só semelhantes devido às variações culturais, como o jogo de memória, por exemplo. Percebo

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em meu sentimento, a falta dos jogos didáticos surdos para os estudantes surdos: cadê? Eu posso, em minha prática, criar e usar os jogos didáticos surdos com os estudantes surdos, estimular a prática dos jogos didáticos surdos.

Professora Surda B disse: prefiro usar minhas ideias para criar estratégias na confecção dos jogos didáticos surdos; adaptar e traduzir:

“Jogos prontos em Língua de Sinais não têm, agora jogos criados, adaptados ou traduzidos, existem. Estes jogos junto com SignWrite e em Português também. Eu comprar jogos é bem difícil, prefiro criar, desenvolver.” (Professora Surda B, 2015, p. 04).

Podem ser fornecidos na Educação Bilíngue os valores para o desenvolvimento dos jogos didáticos surdos, é mais interessante com maior liberdade na criação. Assim Silva (2002) faz uma citação dos valores do jogo: “[...] o jogo dramático promove determinados valores educacionais como cooperação, desenvolvimento linguístico, crescimento social, habilidade de pensar criticamente, desenvolvimento de valores morais etc.” (SILVA, 2002, p. 56).

Os jogos didáticos surdos motivam o desenvolvimento dos estudantes surdos pelo brincar. Continuam aprendendo através da criação, adaptação e tradução do professor surdo. É muito emocionante ter liberdade na confecção dos jogos didáticos surdos pensando em repassar valores.

Os professores surdos combinaram, na escola bilíngue, fazer ou criar os jogos didáticos surdos. Depende dos professores bilíngues, também, fazer ou criar os jogos deles, mas aos poucos professores surdos concordam com as criações dos professores bilíngues, visto que eles têm dificuldade com os signos culturais, porque não conhecem os jogos didáticos surdos.

Professora Surda B quer os grupos de professores surdos juntos, discutindo sobre como fazer a mediação, criando os materiais e as atividades com os jogos didáticos surdos.

“Nós professores que criamos os jogos, às vezes emprestamos um para os outros, mas por pouco tempo, usamos os materiais que desenvolvemos. Os outros jogos são para ouvintes, não são muito úteis para a gente.” (Professora Surda B, 2015, p. 07).

É importante que os professores surdos se organizem e troquem experiências quanto ao trabalho sobre os jogos didáticos surdos. Sobre isso, cita o autor Kishimoto (2011): “Entretanto, ao incorporar algumas características tanto do trabalho como do jogo, a escola

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cria a modalidade do jogo educativo, destinada a estimular a modalidade, o interesse, a descoberta e a reflexão.” (KISHIMOTO, 2011, p. 21).

Refletindo: os professores surdos tem um dever de construção, ou seja, de criação característica, na elaboração e planejamento dos jogos didáticos surdos. Percepção e organização dos jogos didáticos surdos e capacidade de desenvolvimento são importantes na educação bilíngue associada à cultura e identidade surdas.