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Relações de aprendizagem com jogos didáticos na prática do professor surdo

CONSIDERAÇÕES SOBRE JOGOS DIDÁTICOS

3.1 Relações de aprendizagem com jogos didáticos na prática do professor surdo

Quando nos deparamos com a Educação Infantil e Anos Iniciais dos Ensinos Fundamental e Médio, da educação bilíngue, já sentimos necessidade de usar materiais didáticos. Entre os materiais, o jogo proporciona a aquisição de conhecimentos importantes e contribui, também, para o processo de comunicação e para o desenvolvimento cognitivo, principalmente quando existe uma motivação para a prática e o aprendizado. A estruturação e o planejamento, mediados na criação, adaptação e tradução dos jogos didáticos surdos para a educação bilíngue, de modo interdisciplinar14, é de grande relevância para o aprendizado.

Brougère (2013) no início de seu artigo, afirma:

“Toda uma escola de pensamento, retomando os grandes temas românticos inaugurados por Jean-Paul Richter e E. T. A. Hoffmann, vê no brincar o espaço da criação cultural por excelência. Deve-se a Winnicott a reativação de um pensamento, segundo o qual, o espaço lúdico vai permitir ao indivíduo criar e entreter uma relação aberta e positiva com a cultura: “Se brincar é essencial, é porque é brincando que o paciente se mostra criativo”. Brincar é visto como um mecanismo psicológico que garante ao sujeito manter uma certa distância em relação ao real, fiel, na concepção de Freud, que vê no brincar o modelo do princípio de prazer oposto ao princípio de realidade. Brincar torna-se o arquétipo de toda atividade cultural que, como a arte, não se limita a uma relação simples com o real.” (BROUGÈRE, 2013, p. 19).

Brincar é essencial para este autor. Brincando se adquire cultura. O uso dos jogos didáticos é essencial para estudantes na aquisição de elementos culturais.

Mesmo que os diferentes usos dos jogos didáticos tenham importância para a educação bilíngue em atividades disciplinares, a maioria das escolas os utiliza pouco, por falta de conhecimento. Saliento que muitos estudantes surdos podem desenvolver sua capacidade cognitiva por meio de jogos específicos. A estes chamamos jogos didáticos surdos, pois possibilitam o desenvolvimento da aprendizagem, o conhecimento de vocabulários pela Língua de Sinais, o SignWriting, por imagens, alfabeto manual e por vários sinais ou palavras que são contextualizados com o apoio na cultura surda.

A experiência cultural adquirida pelos estudantes surdos, em suas tentativas e interações, pode proporcionar o desenvolvimento de novas ideias e a sua criatividade. É

14 Entendemos como jogos a serem usados nas atividades das diferentes disciplinas, ou seja: Português,

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importante perceber que pelos jogos didáticos surdos pode ser criada uma relação entre a aprendizagem e a comunicação cultural.

As características específicas e especiais da escola bilíngue são para preparar os surdos para a vida, como fala Costa (2002):

“Segundo essa concepção, trata-se de um processo educativo cujo ponto fulcral reside no fortalecimento do diálogo e da negociação com vistas à capacitação para a participação política nas mais variadas arenas sociais, sejam elas institucionais ou não.” (COSTA, 2002, p. 97).

Se as escolas sofrem com a escassez de materiais e jogos didáticos surdos, é tarefa dos professores criar, com base teórico-metodológica, esses recursos para o seu uso cotidiano em sala de aula, com o objetivo de oferecer aos estudantes surdos o conhecimento pela interação que esses materiais proporcionam na Língua de Sinais. Os alunos, certamente, iriam ter mais satisfação diante de atividades desenvolvidas nas diferentes disciplinas, por meio desses jogos com identidade cultural. Dantas refere que “toda a atividade da criança é lúdica, no sentido de que se exerce por si mesma” (2013. p. 113). Então seria mais interessante a aprendizagem dos conteúdos, por eles, mediante o jogo didático surdo, também para a sua compreensão de modo geral e sua comunicação em Língua de Sinais.

Kishimoto (2013, p. 57) refere que “enquanto filósofo do período romântico, Froebel acreditou na criança, enalteceu sua perfeição, valorizou sua liberdade e desejou a expressão da natureza infantil por meio de brincadeiras livres e espontâneas”.

Existe uma relação entre os jogos didáticos surdos e o processo de ensino- aprendizagem. O jogo é importante auxiliar na construção de conhecimento para os estudantes surdos e o desenvolvimento de sua expressão específica. Se o objetivo, o foco, for a liberdade de expressão, os jogos didáticos surdos proporcionam, ao estudante surdo, brincadeiras livres e espontâneas que o levam a compreender que o que é proposto, além da aprendizagem dos conteúdos, se tornar mais apropriado, o que ajuda a relacionar os jogos didáticos surdos com os conteúdos da aprendizagem. Então, os professores surdos intercalam materiais didáticos surdos, entre eles, o jogo didático surdo, e o processo de ensino melhora a oferta de educação bilíngue nas escolas bilíngues ou de inclusão15 e/ou públicas.

15 A diferença entre educação bilíngue e a inclusiva reside no fato de que a educação bilíngue usa a Língua de

Sinais como língua de instrução e a Língua Portuguesa é ensinada como segunda língua, após a aquisição da primeira. A educação inclusiva usa a Língua Portuguesa como língua de instrução e pode ou não ter ajuda da Língua de Sinais, sendo esta usada pelo professor ou pelo intérprete.

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Para o professor surdo, subsidiar a educação bilíngue com os jogos didáticos surdos, que compreendem os conteúdos culturais, requer envolver a prática da aprendizagem ao conhecimento, nas atividades disciplinares com os aspectos atrativos como sentimentos e interesses, promovendo o encontro com a cultura surda.

A minha experiência com os jogos didáticos utilizados na educação bilíngue, foi de escassez destes jogos. Desta forma tive dificuldades em trabalhar o lúdico com meus estudantes surdos. No momento, aqueles jogos didáticos feitos em fábrica, quase todos seguiam a cultura ouvinte. Os jogos com identidade cultural e objetivo pedagógico bilíngue eram mínimos. Estes jogos didáticos surdos têm que ser criados, adaptados ou traduzidos de forma específica para os surdos. Sobre os jogos didáticos surdos, alguns conteúdos relacionados com a identidade cultural, podem ser seu foco como: o ensino em Língua de Sinais como primeira língua, a aprendizagem do Português como segunda língua, a aprendizagem de outros conteúdos específicos da educação bilíngue, o desenvolvimento social etc.

Então, em relação à utilização dos jogos didáticos é importante encontrá-los para os estudantes surdos. É importante nas escolas bilíngues, que o professor surdo tenha boa quantidade de jogos didáticos surdos. Eles servem a vários objetivos no tocante aos aspectos cognitivo, de motivação e criatividade. Servem, também, como atividade interdisciplinar. Para os estudantes surdos, a aprendizagem aparece nas atividades dos jogos didáticos surdos, e isto reflete uma experiência de mais interação e diversão, levando-os a valorizar a si mesmos.

O jogo didático, em seu uso, requer planejamento e conhecimento na educação. Segundo Kishimoto (2011),

“a utilização do jogo potencializa a exploração e a construção do conhecimento, por contar com a motivação interna, típica do lúdico, mas o trabalho pedagógico requer a oferta de estímulos externos e a influência de parceiros, bem como a sistematização de conceitos em outras situações que não jogos. Ao utilizar, de modo metafórico, a forma lúdica (objeto suporte de brincadeira) para estimular a construção do conhecimento, o brinquedo educativo conquistou espaço definitivo na educação infantil.” (KISHIMOTO, 2011, p. 42).

No processo pedagógico, fazer uso dos jogos didáticos, no ensino bilíngue, requer estratégias para criar mais destes jogos, nos seus vários momentos de criação, adaptação e tradução. Abro aqui um espaço que pode servir a outra pesquisa: a criação do jogo didático surdo no espaço tecnológico. Depende do empenho dos professores surdos fazer e criar, na tecnologia, o jogo didático surdo. E o espaço tecnológico tem todas as características necessárias para favorecer, e muito, a criatividade em todos os aspectos dos jogos didáticos

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surdos. Mas hoje, nas escolas de surdos, o uso do jogo na tecnologia depende da existência de verba para tal. Em geral, só na sala de informática há internet, limitando o acesso aos jogos didáticos surdos pela via da tecnologia.

Fazer jogos didáticos surdos, estimular a fazê-los e continuar a usá-los, estimula a motivação dos estudantes surdos para participar do processo de ensino-aprendizagem. Aos estudantes surdos dá oportunidades, uma vez que os jogos motivam e estimulam para a brincadeira e as demais atividades. Os jogos didáticos surdos já trazem as diferenças sociais em relação aos jogos dominantes ouvintes, que são a cultura, a identidade e a comunidade surdas. São o mundo da experiência, o momento do desenvolvimento e o produto do criar a atividade lúdica que valorizam o ensino.

“Se brinquedos são sempre suportes de brincadeiras, sua utilização deveria criar momentos lúdicos de livre exploração, nos quais prevalece a incerteza do ato e não se buscam resultados. Porém, se os mesmos objetos servem como auxiliares da ação docente, buscam-se resultados em relação à aprendizagem de conceitos e noções ou, mesmo, ao desenvolvimento de algumas habilidades. Nesse caso, o objeto conhecido como brinquedo não realiza sua função lúdica, deixa de ser brinquedo para tornar-se material pedagógico. Um mesmo objeto pode adquirir dois sentidos conforme o contexto em que se utiliza: brinquedo ou material pedagógico.” (KISHIMOTO, 2011, p. 14).

Diferentes atos pedagógicos podem ser realizados com os jogos didáticos surdos. São importantes para a formação na Pedagogia, bem como no curso de Letras-Libras. Cada professor surdo deve adquirir conhecimentos destas teorias propagadas por Kishimoto. E é também importante a aquisição de conhecimentos sobre a interação das atividades lúdicas do jogo pedagógico surdo como auxiliar no ensino e na participação dos estudantes surdos no processo de educação.

A graduação, no ensino pedagógico e na Letras-Libras/EAD ou Presencial, deve levar esse conhecimento para a prática dos professores surdos. Deve-se, na medida do tempo disponível, trabalhar a metodologia que ensina os conteúdos e o aprender por meio da ação lúdica, e também o uso do jogo no ensino. Há tipos diferentes de jogos que podem ser usados nos conteúdos do currículo de educação bilíngue para atender as crianças surdas. Para Kishimoto a rejeição do jogo é evidente.

“O uso de brinquedos e jogos destinados a criar situações de brincadeiras em sala de aula nem sempre foi aceito. Conforme a visão que o adulto tem da criança e da instituição infantil, o jogo torna-se marginalizado. Se a criança é vista como um ser que deve ser apenas disciplinado para aquisição de conhecimentos em instituições de ensino acadêmico, não se aceita o jogo.” (KISHIMOTO, 2011, p. 14).

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Acredito que é necessário estudar o jogo didático como material imprescindível para a educação em geral, bem como para a educação bilíngue. A criança aprende o lúdico pelo jogo didático e o professor tem mais motivação didática para transmitir o conhecimento usando este recurso.