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Os Estudos Culturais e Estudos Surdos e o foco nos jogos didáticos surdos

CAMINHOS DA CULTURA SURDA

1.2 Os Estudos Culturais e Estudos Surdos e o foco nos jogos didáticos surdos

Segundo a teoria dos Estudos Culturais, a cultura surda é conhecida e compreendida como uma questão de diferença, um espaço que exige posições, que dá uma visão do entre lugar, da diferença da alteridade e da identidade. Os Estudos Surdos ao se aproximar dos Estudos Culturais permitem que se estabeleça a relação dos jogos didáticos surdos com a identidade surda, a Língua de Sinais, o povo surdo, a subjetividade surda, a literatura surda, a arte surda, a pedagogia surda, a educação bilíngue.

Felício (2014) relata que:

"Surdos e ouvintes transitam na cultura surda e que, ambos têm a possibilidade de avançar. Atualmente os Surdos têm acesso ao mais variados espaços, os movimentos e pesquisas que fortaleceram e fizeram reconhecer a língua e a cultura, favoreceram essas conquistas. Enquanto isto, os ouvintes têm interesse na cultura surda, e muitos, mesmo não tendo laços de família ou vínculo religioso, ingressam na área educacional buscando formação direcionada aos Estudos Surdos e mesmo já não encaram o Surdo como deficiente e se interessam pela língua estabelecendo as mais variadas relações como, por exemplo, de amizade.” (FELÍCIO, 2014, p. 197).

Esta interação cultural que acontece em diferentes espaços é importante para entender como o professor surdo, com isto, adquire e adequa conhecimentos de produção para os jogos didáticos surdos, que serão usados no ensino para o estudante surdo.

As relações dos Estudos Surdos e dos Estudos Culturais enfatizam a construção de elementos dos jogos didáticos surdos, no espaço da cultura surda. Estes elementos enriquecem o processo de produção visual, ou seja, dão significados culturais necessários à elaboração destes jogos.

Então se pode perceber que entrar no espaço da cultura surda requer conhecimento da experiência do ‘Ser Surdo’8 com toda a transformação que o acompanha. Perlin afirma:

“A cultura surda é, então, a diferença que contém a prática social dos surdos em sociedade e que comunica um significado. É o caso de ser surdo homem, de ser surda mulher, deixando evidências de identidade, o predomínio da ordem, como, o jeito de usar sinais, o jeito de ensinar e de transmitir cultura, a nostalgia por algo que é dos surdos, o carinho para com os achados surdos do passado, o jeito de discutir a política, a pedagogia, etc.” (PERLIN, 2004, p. 77).

De acordo com a autora, a cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modificá-lo, a fim de torná-lo acessível e habitável, ajustando-o com as suas percepções

8O termoser surdo”, segundo autora surda Gladis Perlin, dentro das posições culturais, assume uma política

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visuais, que contribuem para a definição das identidades surdas. Isto significa que abrange a língua, as ideias, as crenças, os costumes e os hábitos de povo surdo. Descreve a pesquisadora surda:

“[...] As identidades surdas são construídas dentro das representações possíveis da cultura surda, elas moldam-se de acordo com maior ou menor receptividade cultural assumida pelo sujeito. E dentro dessa receptividade cultural, também surge aquela luta política ou consciência oposicional pela qual o indivíduo representa a si mesmo, se defende da homogeneização, dos aspectos que o tornam corpo menos habitável, da sensação de invalidez, de inclusão entre os deficientes, de menos-valia social.” (PERLIN, 2004, p. 77-78).

Isto posto, a pesquisadora surda Strobel (2008), em seu livro “As imagens do outros sobre a cultura surda”, afirma que:

“A Língua de Sinais é uma das principais marcas da identidade de um povo surdo, pois é uma das características da cultura surda, é uma forma de comunicação que capta as experiências visuais dos sujeitos surdos, sendo que é esta língua que vai levar o surdo a transmitir e proporcionar-lhe a aquisição de conhecimento universal.”(STROBEL, 2008, p. 44).

Os Estudos Surdos pegam carona em diferentes campos teóricos. Constituem-se em pesquisas investigativas que captam os aspectos culturais e políticos referentes aos surdos, como sejam: educação, Língua de Sinais, identidade, diferença, alteridade cultural e mitos outros elementos.

Os Estudos Surdos entendem a cultura surda como sendo composta por: língua, história cultural, pedagogia dos surdos, artes, didática, literatura, e outros. Isto no que tange à teoria cultural, como também possibilita encontros de outros aspectos, entendidos nos campos dos estudos pós-coloniais como o audismo, o ouvintismo, o deaf gain, o estereótipo de sujeito deficiente e outros.

Com esta base teórica, o professor surdo motiva os estudantes surdos a alcançar seus objetivos na vida social, mostrando a importância da cultura e da Língua de Sinais. O uso do espaço visual nos jogos didáticos surdos, para o processo de aprendizado da Língua de Sinais – primeira língua, bem como outros aprendizados, valoriza o uso dos jogos.

Percebo que com esse material didático, ou seja, os jogos didáticos surdos (adaptados, criados ou traduzidos), há muitas imagens que quaisquer estudantes surdos ou ouvintes, usando a experiência visual, sabendo Língua de Sinais ou não, conseguem entender, adquirir conhecimentos e, ao mesmo tempo, desenvolver as atividades propostas pelo professor, naturalmente.

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Em Estudos Surdos percebemos, que com elementos da cultura surda, poderemos entender e acompanhar os professores surdos em relação a produções de jogos didáticos surdos, ao ensino de Língua de Sinais como primeira língua, a ideias, à sua prática pedagógica, às várias estratégias das atividades no processo de planejamento necessário, à criatividade para criar, adaptar e traduzir os jogos didáticos surdos.

Já as considerações entre as teorias de Estudos Culturais e de Estudos Surdos trazem conhecimentos de valor, como também possibilitam os estudos das práticas dos professores surdos no ensino de jogos didáticos surdos, a sua criação, adaptação ou tradução no espaço visual e, principalmente, iluminam os professores surdos nas produções dos referidos jogos.

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CAPÍTULO II

[...] ao invés de entender o surdo como uma exclusão e um isolamento no silêncio, entender como uma experiência e uma representação visual; ao invés de representá-lo através de formatos médicos e terapêuticos, quebrar esta tradição por meio de concepções sociais, linguísticas e antropológicas; em vez de submeter os surdos a uma etiqueta de deficientes, compreendê-los como formando parte de uma minoria linguística.

(Skliar, 1999).

ELEMENTOS SURDOS PARA COMPOR A HISTÓRIA DOS JOGOS DIDÁTICOS SURDOS

Este capítulo é constituído pela história de vida como caminho para compor o trabalho do professor surdo na criação, adaptação ou tradução do jogo didático ao longo dos anos, e que enfatiza sua prática em sala com estudantes surdos, entre outros aspectos. Também suas ideias e as relações que estabelece a partir de seu trabalho.

O objetivo é apresentar as histórias de professores surdos que elaboram os jogos didáticos para a educação e, ultimamente, para a educação bilíngue, e o desenvolvimento do processo de usar tais jogos aliados à identidade cultural surda.

É importante, também, mostrar como tem ocorrido o desenvolvimento do jogo didático do povo surdo através de algumas gerações de estudantes. E o conhecimento que a elaboração dos jogos didáticos e seus conteúdos trazem aos estudantes surdos, ao brincar, aprender e se divertir em relação ao processo de ensino-aprendizagem de Língua de Sinais como primeira língua.

Elementos históricos sobre a criação, adaptação e tradução dos jogos didáticos assumem papel de importância para os estudantes surdos, os professores surdos, bem como para mim, pois remetem a uma série de críticas referentes aos jogos didáticos universais tendo em vista que eles diferem dos jogos didáticos surdos. A crítica motiva o tempo do planejar e do fazer novos jogos didáticos surdos, beneficiando, também, a prática docente no fazer jogos didáticos, próprios dos surdos, e de suas linguagens culturais surdas.

Espero que o trabalho de buscar alguns elementos para a história dos jogos didáticos, processo em desenvolvimento nos aspectos da educação bilíngue, contribua para o conhecimento das atividades que envolvem os jogos didáticos surdos, em sua relação com a aprendizagem na educação bilíngue.

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