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O jogo didático surdo no ensino de Língua de Sinais para os estudantes surdos

CONSIDERAÇÕES SOBRE JOGOS DIDÁTICOS

3.6 O jogo didático surdo no ensino de Língua de Sinais para os estudantes surdos

O Decreto Federal nº 5626, de 22 de dezembro de 2005, declara que os alunos surdos devem ter uma educação bilíngue, na qual a Língua Brasileira de Sinais seja a primeira língua e a Língua Portuguesa, a segunda. Igualmente em, 25 de junho de 2014, a Presidente Dilma Rousself sancionou a Lei PNE - Plano Nacional de Educação que inclui Escola Bilíngue para Surdos:

“Estratégia 4.7: Garantir a oferta de educação bilíngue, em Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS como primeira língua e na modalidade escrita da Língua Portuguesa como segunda língua, aos(às) alunos(as) surdos e com deficiência auditiva de 0 (zero) a 17 (dezessete) anos, em escolas e classes bilíngues e em escolas inclusivas, nos termos do art. 22 do Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, e dos arts. 24 e 30 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, bem como a adoção do Sistema Braille de leitura para cegos e surdos- cegos.” (BRASIL, 2014).

Neste modelo, a Língua Brasileira de Sinais é a língua de instrução no sentido de que vai possibilitar o acesso ao conteúdo de todas as disciplinas, inclusive de Língua Portuguesa. Para isso, ela deve ser adquirida pelas/pelos estudantes surdos o mais cedo possível, o que, em geral, vai acontecer em todos os lugares onde houver surdos, principalmente na escola, preferencialmente na interação com professores surdos e todos usuários da Língua de Sinais.

Quadros (2011, p. 17), falando sobre os estudantes surdos cita que: “(...) As crianças surdas, filhas de pais surdos, adquirem as regras de sua gramática de forma muito similar às crianças ouvintes adquirindo línguas faladas.” Na maioria dos casos, o estudante surdo adquire a Língua de Sinais na escola bilíngue, visto que são filhos de pais ouvintes.

Nos últimos anos, devido às pesquisas linguísticas e aos movimentos crescentes de reivindicação dos surdos pelo direito de usar a Língua de Sinais, observa-se uma preocupação

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dos educadores por escolas bilíngues que possibilitem aos estudantes surdos, aprendê-la. A política de educação bilíngue se esforça em propiciar condições para que seus estudantes adquiram a Língua de Sinais cada vez mais cedo. Em relação a estes estudantes, alguns somente vêm para a escola bilíngue após passada a infância20.

Então, sendo que a maioria dos estudantes surdos são filhos de pais ouvintes, não têm acesso precoce à Língua de Sinais e, com isto, podem ter atraso no desenvolvimento da aquisição de linguagem e como solução, se estabelece que a Língua de Sinais seja adquirida por estes estudantes, geralmente na escola, na interação com usuários da língua. E nesta interação, muitas vezes, os jogos são usados como material didático.

É fato, como já citado anteriormente, que muitas vezes, mesmo sendo usuários da Língua de Sinais, os professores surdos não têm experiência no ensino de Língua de Sinais com uso de jogos, por falta de formação adequada. Trago uma referência abaixo sobre a realidade do ensino de Língua de Sinais como primeira língua:

“[...] Nós já vimos que ensino da Língua de Sinais nas escolas brasileiras é muito recente. Embora existam professores surdos em algumas escolas de surdos já há alguns anos, suas atividades nem sempre estão relacionadas ao ensino sistemático da LIBRAS, muitas vezes atuando como coadjuvantes dos professores ouvintes regentes, localizados em turmas de Educação Infantil e Séries Iniciais. Em muitos casos, a atuação destes professores é limitada a aulas de Informática e Literatura [...]” (BASSO, STROBEL e MASUTTI,2009, p. 16).

Podemos trabalhar os conteúdos preestabelecidos para o ensino de Língua de Sinais de forma agradável, satisfatória e eficiente, usando jogos didáticos surdos. Mas, para que isso aconteça é preciso que o professor surdo faça seu planejamento, priorizando a criação, a adaptação ou a tradução do jogo didático identificado à cultura surda. Pois é por meio dos elementos culturais que a aprendizagem dos estudantes surdos ocorre, a partir de questionamentos, com uma participação ativa por parte de todos.

Meu levantamento bibliográfico sobre os jogos didáticos surdos produzidos pelos professores surdos se constitui em um novo campo de pesquisas. A pesquisa iniciante, cita recortes apenas. Entre eles, Wanderley faz um pequeno recorte sobre a utilização desses jogos didáticos surdos. Da mesma forma, faz-se necessária a pesquisa sobre o que o estudante surdo adquire com o uso destes jogos, ou seja, conhecimentos e competências nas interações com seus pares.

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Considerando-se o aprendizado dos estudantes surdos em relação à Língua de Sinais, esses materiais didáticos, em especial os jogos didáticos surdos, são importantíssimos. Concorrem para a interação com o outro, ou seja, interação surdo-surdo ou surdo-ouvinte, e seja ela com crianças ou adultos, eles vão contribuir automaticamente, ampliando seu saber. Faz-se imprescindível que a escola bilíngue, por meio de orientações e planejamento organizados pela instituição para o ensino de Língua de Sinais, seja eficaz mediante programa de inicialização à educação bilíngue. Alguns tópicos para o uso do jogo didático surdo:

• atividades para aprender brincando, com os jogos didáticos surdos;

• investigar aspectos do ambiente que instigam a curiosidade do estudante surdo; • cuidar de si e valorizar atitudes que contribuam para uma vida saudável; • apropriar-se das linguagens que circulam em seu meio sociocultural;

Esta dissertação não traz, à discussão, a necessidade de se produzir jogos didáticos para o estudante surdo que vem à escola sem conhecer Língua de Sinais, mas percebe que este espaço é fundamental. O jogo didático surdo, exposto nesta pesquisa, pode contribuir também para o ensino da Língua de Sinais ao estudante surdo, bem como contribuir com os diferentes níveis educacionais e abordar a elaboração de jogos didáticos surdos. No capítulo 5 temos referências de alguns jogos didáticos para o ensino de Língua de Sinais.

As considerações sobre relações entre os jogos didáticos surdos elencaram alguns conhecimentos de importância para a educação bilíngue. Alguns conhecimentos captados a partir de experiências dos professores surdos com tais jogos, assumem significado no uso de estratégias, no momento em que aparecem o brincar, os aspectos lúdicos e as brincadeiras com os jogos, bem como os aspectos relacionados ao trabalho como a imagem no jogo, com seus valores, seu sistema de regras de qualquer jogo, a estrutura que especifica sua modalidade, por exemplo. O objetivo, no cotidiano da educação bilíngue, para a construção dos jogos didáticos surdos é também, com o brinquedo em sala de aula bilíngue, o de estimular os estudantes surdos. Ao criar o objeto lúdico em cada jogo e anexar a estes, artefatos culturais, se subsidia a educação bilíngue com a invenção do jogo didático surdo promovendo o encontro com a cultura surda. E nesta relação de valor, positivo para estudantes surdos, estão a criação, adaptação e tradução do jogo didático surdo. Sendo assim, o estudante surdo, em desenvolvimento, com características próprias, brinca e aprende a criar e ter liberdade com seus jogos didáticos surdos em construção, na educação bilíngue. Este aspecto assume uma relação de estrelato, de brilho para se compreender como o mundo dos jogos funciona na cultura e identidade surda.

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CAPÍTULO IV

Não estou me referindo a corpos surdos que têm conhecimento de língua escrita e têm bom conhecimento e se fazem usuários da mesma. Estou me referindo aos seres surdos que podem até conhecer a escrita, mas apenas a veem como letras pregadas em um papel ou em uma tela. (VILHALVA, 2012).