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As Declarações servem como princípios jurídicos que orientam instrumentos e ações, diferentemente das Convenções, que por serem Tratados geram obrigações e sanções. Assim, a Declaração da ONU sobre os direitos dos povos indígenas, aprovada pela sua Assembleia Geral, em 13.09.2007, reconhece, declara, afirma, assevera e torna público quais os direitos que deverão ser respeitados por todos os Estados que abrigam em seu território povos indígenas.

Composta de 46 artigos a Declaração da ONU sobre os direitos dos povos indígenas trata dos direitos individuais e coletivos destas populações, das formas de prever e reparar os danos causados à estas pessoas, do seu direito à terra, das suas relações, dentre tantas outras coisas.

O art. 1º. declara que os indígenas têm direito, tanto a título coletivo quanto individual, de desfrutar de todos os direitos humanos e liberdade fundamentais postos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e o Direito Internacional dos Direitos Humanos. Logo, se observa com esse artigo que finalmente os indígenas se elevaram, formalmente, ao mesmo “status” dos demais seres humanos, como foi posto pelo art. 2º., que diz:

Os povos e pessoas indígenas são livres e iguais a todos os demais povos e indivíduos e têm o direito de não serem submetidos a nenhuma forma de discriminação no exercício de seus direitos, que esteja fundada, em particular, em sua origem ou identidade indígena. (NAÇÕES UNIDAS, 2008a).

Os artigos 3º. e 4º. tratam do direito à autodeterminação dos povos indígenas, cuja consequência é a liberdade política, econômica, social e cultural, bem como “[...] têm direito à autonomia ou ao autogoverno nas questões relacionadas aos seus assuntos

internos e locais, assim como a disporem dos meios para financiar suas funções autônomas” (NAÇÕES UNIDAS, 2008a).

No art. 5º afirma-se que os povos indígenas têm todo o direito de participar plenamente da vida nacional do Estado ou de conservar ao mesmo tempo “[...] e reforçar suas próprias instituições políticas, jurídicas, econômicas, sociais e culturais” (NAÇÕES UNIDAS, 2008a), inclusive com o direito a ter uma nacionalidade.55

Os artigos 7º. e 8º. afirmam os direitos destas pessoas à vida, à integridade física e mental, à liberdade, à segurança pessoal e à paz, sem o risco de serem submetidas a qualquer ato de genocídio ou violência, incluindo-se a transferência forçada de crianças de um grupo para outro e o direito de não sofrer assimilação forçada ou a destruição de sua cultura, restando aos Estados estabelecer mecanismos para a prevenção e/ou a reparação, caso venha acontecer algo.

No art. 9º., declara-se o direito dos indígenas de pertencerem a uma comunidade ou nação indígena conforme seus usos e costumes, sem nenhum tipo de discriminação, enquanto que no art. 10 a afirmação é de que não poderão ser removidos à força de suas terras ou territórios, ou caso seja necessário, que haja consentimento prévio e indenização justa posterior.

Reafirmando seu direito de cultuar suas tradições e costumes, os arts. 11, 12 e 13 ainda afirmam seus direitos de manter, proteger e desenvolver as manifestações passadas, presentes e futuras de suas culturas tais como “[...] sítios arqueológicos e históricos, utensílios, desenhos, cerimônias, tecnologias, artes visuais e interpretativas, e literaturas”, com a obrigação do Estado de reparar danos ocorridos neste aspecto e garantir o direito de “[...] revitalizar, utilizar, desenvolver e transmitir às gerações futuras suas histórias, idiomas, tradições orais, filosofias, sistemas de escrita e literaturas, e de atribuir nomes às suas comunidades, lugares e pessoas e de mantê-los”. Para tanto, o Estado deverá assegurar aos indígenas que possam entender e ser entendidos em atos políticos, jurídicos e administrativos (NAÇÕES UNIDASa, 2008).

Os arts. 14 e 15 tratam do direito à uma educação diferenciada, com língua e métodos culturais próprios, do direito de não serem discriminados nas escolas estaduais, de serem tratados e vistos com dignidade em sua diversidade cultural por parte das tradições educacionais ocidentais e nas mídias.

No art. 16, é declarado o direito dos povos indígenas de estabelecer seus próprios meios de informação em seus idiomas e de ter acesso aos demais meios de informação sem discriminação, ficando a cargo do Estado garantir e assegurar tais direitos.

Os povos indígenas têm o direito de desfrutar de todos os direitos trabalhistas, tanto nacionais quanto internacionais, sem discriminação, conforme o art. 17, com a proteção do Estado contra a exploração econômica e contra todo trabalho perigoso ou que interfira na educação e saúde das crianças.

O art. 18 determina que os povos indígenas tenham o direito de participar das decisões que lhes afetem, enquanto que o art.19 afirma que os Estados deverão cooperar de boa-fé com estes povos antes de adotar medidas legislativas e administrativas que os atinjam.

Os arts. 20, 21 e 22 tratam do direito de viver e se desenvolver de acordo com suas tradições, do direito de indenização justa caso privados de seus meios de subsistência e desenvolvimento, do direito de melhorar sua qualidade de vida, de ser tratado com especial deferência seus idosos, mulheres, jovens, crianças e portadores de deficiências.

Nos arts. 23, 24 e 25, aponta-se para o direito de se conduzirem quanto ao seu desenvolvimento, de manter suas relações com as terras, águas e mares, o direito de participar ativamente na elaboração e determinação dos programas de saúde, habitação e demais que lhes afetem, sendo que salientam-se seus direitos de manter seus medicamentos tradicionais, práticas de saúde, inclusive a conservação de suas plantas, animais e minerais de interesse vital do ponto de vista médico, sem prejuízo do atendimento de todos os serviços sociais e de saúde.

Com os arts. 26, 27 e 28, declara-se o direito dos indígenas às terras, territórios e recursos ocupados tradicionalmente, o direito de possuir, utilizar, desenvolver e controlar essas terras, territórios e recursos que possuem, em razão da propriedade tradicional ou de outra forma tradicional de ocupação ou de utilização, bem como daqueles que de outra forma tenham adquirido, com a proteção jurídica do Estado, respeitando seus costumes e tradições, ou indenização caso haja prejuízos.

Nos arts. 29 e 30, figuram o direito à conservação e à proteção do meio ambiente e da capacidade produtiva de suas terras ou territórios e recursos, onde os Estados deverão estabelecer e executar programas de assistência a estes povos, com o intuito de assegurar essa conservação e proteção, sem qualquer discriminação, sem a armazenagem e/ou descarte de materiais perigosos em suas terras ou territórios. Sem ainda seu consentimento livre, prévio e informado, garantindo, se necessário, que programas de vigilância,

manutenção e restabelecimento da saúde dos povos indígenas afetados por esses materiais, elaborados e executados por esses povos, sejam devidamente aplicados. Não poderão ser desenvolvidas atividades militares em terras indígenas, a menos que haja interesse público pertinente ou com a aprovação destes povos.

O art. 31 mais uma vez reafirma o direito destes povos de:

[...] manter, controlar, proteger e desenvolver seu patrimônio cultural, seus conhecimentos tradicionais, suas expressões culturais tradicionais e as manifestações de suas ciências, tecnologias e culturas, compreendidos os recursos humanos e genéticos, as sementes, os medicamentos, o conhecimento das propriedades da fauna e da flora, as tradições orais, as literaturas, os desenhos, os esportes e jogos tradicionais e as artes visuais e interpretativas. Também têm o direito de manter, controlar, proteger e desenvolver sua propriedade intelectual sobre o mencionado patrimônio cultural, seus conhecimentos tradicionais e suas expressões culturais tradicionais. (NAÇÕES UNIDAS, 2008a).

Nos arts. 32, 33, 34 e 35, reafirma-se novamente o direito dos indígenas de determinar e de elaborar as prioridades e estratégias para o desenvolvimento ou a utilização de suas terras ou territórios e outros recursos, o seu direito à cidadania, o direito de se organizar conforme seus costumes e de determinar as responsabilidades dos indivíduos para com suas comunidades.

Nos arts. 36 e 37 verifica-se o direito dos povos indígenas que estão divididos em fronteiras internacionais de manter e desenvolver contatos, relações e cooperação, inclusive das atividades espirituais, culturais, políticas, econômicas e sociais, com seus próprios membros, assim como com outros povos através das fronteiras, com o apoio e a tutela do Estado. Além disso, o direito de que os tratados, acordos e demais arranjos entre os Estados e seus sucessores honrem e respeitem tais arranjos, assim como a observação de que nada do que está posto por esta Declaração será interpretado de forma a diminuir ou suprimir os direitos dos povos indígenas que figurem em tratados, acordos e outros arranjos construtivos.

Os arts. 38, 39 e 40 tratam das disposições para alcançar a finalidade desta Declaração, do direito à assistência financeira e técnica dos Estados, do direito aos procedimentos justos e equitativos na solução de controvérsias com os Estados ou suas partes, de uma decisão rápida nestes casos, bem como do direito a recursos eficazes contra toda violação de seus direitos individuais e coletivos, de acordo com seus modos.

Nos arts. 41 a 46, observam-se determinações para a cooperação entre Estados, ONU e outras organizações intergovernamentais no intuito de promover e respeitar essa Declaração, zelando pela sua eficácia, finalizando com a disposição de que “Nada do

disposto na presente Declaração será interpretado no sentido de reduzir ou suprimir os direitos que os povos indígenas têm na atualidade ou possam adquirir no futuro” (NAÇÕES UNIDAS, 2008a).

Conforme se constata há um esforço conjunto dos organismos internacionais para que o tratamento das questões indígenas seja transformado positivamente em todos os aspectos. Os resultados já surgiram, pois os ecos desses esforços já se materializaram constitucionalmente, contudo resta ainda a efetivação social desses esforços.