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Conforme dados socioeconômicos do município de Farroupilha, constantes do jornal O Farroupilha (Farroupilha, 20 set. 2009), o município de Farroupilha está localizado na região nordeste do estado do Rio Grande do Sul – Brasil, distante 110 quilômetros de Porto Alegre e a aproximadamente 783 metros de altitude. Emancipado em 11 de dezembro de 1934, possui quase 360 quilômetros quadrados de área e uma população de pouco mais de 63 mil habitantes (IBGE, 2010).

Farroupilha é o Berço da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul e a Capital Nacional da Malha. Sedia o maior Santuário da Fé Católica do Estado consagrado a Nossa Senhora de Caravaggio. Possui muitas belezas naturais e destaca-se pela qualidade de vida, pelo desenvolvimento, pelas indústrias e pelo potencial turístico. Em sua economia são representativos os setores: indústria (55,26 %), comércio (23,91 %), agricultura (11,84 %) e serviços (8,99 %); sendo que as principais atividades econômicas são: empresas metalúrgicas, coureiro calçadista, malhas e confecções, móveis e estofados, papel e embalagens, vinhos e sucos, indústria e comércio de ferragens (DADOS..., 2009).

A cidade também é conhecida como a maior produtora de kiwi e de uvas moscatéis do país, e o terceiro maior produtor vitivinícola do Rio Grande do Sul. Recentemente firmou o acordo de Gemellaggio (cidades irmãs) com a cidade de Latina, localizada na Itália (DADOS..., 2009).

Também é importante ressaltar que Farroupilha possui como principais eventos: a Fenakiwi – Festa Nacional do Kiwi, a Romaria ao Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio e o Entrai – Encontro das Tradições Italianas (DADOS..., 2009).

Atualmente, Caravaggio, 1º Distrito de Farroupilha, liga-se ao centro da cidade por meio de uma estrada asfaltada, a chamada Rodovia dos Romeiros. Ao longo dessa rodovia estão instaladas diversas empresas, uma escola, um hospital, um núcleo da Universidade de Caxias do Sul, entre outros empreendimentos.

A localidade de Caravaggio, hoje, possui pouco mais de 600 habitantes e está localizada a, aproximadamente, 10 km do centro da cidade de Farroupilha. Ao final da Rodovia dos Romeiros encontram-se modernas e sólidas casas de alvenaria, bem como construções mais antigas, feitas de pedra ou madeira, as quais remetem à imigração italiana. A pequena vila de Caravaggio possui cerca de 150 domicílios. Seus habitantes caracterizam-se, em sua maioria, por serem pessoas simples e trabalhadoras, de hábitos rurais e portadores de uma forte fé católica. É um distrito que tem sua economia baseada na pequena propriedade familiar, as quais produzem, principalmente, mel, queijos, salames, produtos coloniais e vinhos (TONOLLIER, 2002).

Fazendo parte desse contexto, o Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio recebe, diariamente, fiéis de todas as idades, que ali chegam por meio de automóveis, ônibus, caminhões, motocicletas, bicicletas e também a pé. São homens, mulheres e crianças oriundos de diversos lugares do estado, do Brasil e dos países vizinhos, que movimentam a localidade de Caravaggio (TONOLLIER, 2002).

Rotineiramente, o entorno do Santuário abriga uma estrutura que contempla: a antiga Igreja de Nossa Senhora de Caravaggio (ou também conhecida como “Santuário velho”, que por muito tempo foi a “Capela de ex-votos”, sendo essa igreja hoje preservada), a torre dos sinos, a sala de ex-votos (local onde, atualmente, encontram-se os ex-votos, estando repleto de objetos, imagens, mensagens etc., ofertados em agradecimento a Nossa Senhora de Caravaggio por uma graça alcançada), a Capela das velas, a Capela das confissões, a Casa paroquial, uma loja de objetos religiosos, uma emissora de rádio, dois restaurantes particulares, lanchonetes, telefones públicos, banheiros, bancos e mesas de madeira e cimento, uma fonte de água (benta em 26 de setembro de 1985 e distribuída em vários pontos da

esplanada), ampla área para passeio e para estacionamento, linhas de ônibus (fazendo a ligação com a cidade, diariamente, em diversos horários) (TONOLLIER, 2002; ZORZI, 1986).

Figura 2 – Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio, Farroupilha/RS

Fonte: http://www.caravaggio.org.br/galeria/9/Santuario

Contudo, há 133 anos, no lugar das confortáveis residências de hoje, havia as primitivas e rústicas casas de pedra e madeira; os atuais e modernos automóveis eram representados pelas mulas e carroções; o hoje imponente Santuário era um pequeno e simples oratório de madeira.

Lembrando um pouco da história, os imigrantes italianos que chegaram ao Brasil no final do século XIX (1875), trouxeram, juntamente com sua bagagem, a fé e os costumes. Nessa nova pátria, os imigrantes derrubaram matas, construíram casas, dedicaram-se à agricultura, ergueram igrejas (marcos da fé e devoção daquele povo), escolas, hospitais, criaram empreendimentos, indústrias e, com o passar do tempo, formaram vilas e cidades (ZORZI, 1986).

Assim também aconteceu com a localidade de Nova Vicenza (atual cidade de Farroupilha) e com a Linha Palmeiro (atual Distrito de Caravaggio). Conforme os registros históricos, o grupo de imigrantes italianos, que viria a se estabelecer na Linha Palmeiro, era oriundo do Vêneto, em sua maior parte. Esses imigrantes partiram da Itália em novembro de 1876, e chegaram ao estado do Rio Grande do Sul no mês de dezembro do mesmo ano. Em janeiro de 1877 os imigrantes chegaram em Linha Palmeiro. Ao escolher e delimitar as suas

terras, alguns acamparam próximos ao local onde hoje se encontra o Santuário de Caravaggio, construindo cabanas provisórias. Naquela época, essa região sofria uma forte estiagem. Mas, com a ocorrência de chuvas, o que era uma clareira seca transformou-se em um imenso banhado. As famílias que ali se encontravam tiveram que deixar o local, dividindo-se para formar novos acampamentos, em lugares mais favoráveis (TONOLLIER, 2002; ZORZI, 1986).

Com o passar do tempo, os imigrantes conseguiram construir rústicas casas e, se estabelecer, de fato, na nova terra. Em 1879, 22 famílias formavam a comunidade da Linha Palmeiro. Tão logo os imigrantes se estabeleceram em suas novas propriedades, surgiu a necessidade de um local de devoção. Já haviam sido realizadas celebrações ao ar livre e nas habitações rústicas, mas os imigrantes sentiam falta de uma casa de oração. Então, as famílias de Antônio Franceschet e de Pasqual Pasa construíram um pequeno oratório. A notícia do oratório logo se espalhou e, imediatamente, os moradores vizinhos quiseram participar com dinheiro e com mão de obra para construir uma capela que abrigasse pelo menos cem pessoas (TONOLLIER, 2002; ZORZI, 1986).

Ao término da construção da capela levantou-se a questão de quem seria o seu padroeiro ou a sua padroeira. As opiniões eram diversas: Santo Antônio, Nossa Senhora... Porém, decidiu-se, em concordância, que Nossa Senhora seria a padroeira, mas a dúvida persistia em qual Nossa Senhora seria escolhida. Foi sugerida Nossa Senhora de Loreto. Contudo, não havia imagem alguma dessa Nossa Senhora e, sendo assim, um grupo de pessoas foi procurar essa imagem nas redondezas (até nas colônias alemãs do Vale do Caí), mas não a encontraram, nem esculpida, nem pintada (TONOLLIER, 2002; ZORZI, 1986).

Diante desse fato, Natal Faoro ofereceu, em empréstimo, um pequeno quadro com a imagem de Nossa Senhora de Caravaggio, que sua mãe havia trazido da Itália, sendo esse quadro uma herança de seus antepassados. A imagem foi aceita e Nossa Senhora de Caravaggio seria, então, a padroeira da localidade (TONOLLIER, 2002; ZORZI, 1986).

A festa inaugural da capela ocorreu ainda no ano de 1879, marcando o início da devoção a Nossa Senhora de Caravaggio na localidade de Linha Palmeiro, a qual, posteriormente, viria a ganhar o nome de sua padroeira, tornando-se o Distrito de Caravaggio (ZORZI, 1986).

Em 1885, o escultor Pietro Stangherlini, de Caxias do Sul, tendo como modelo o quadro de Nossa Senhora de Caravaggio (trazido da Itália pela família de Natal Faoro), esculpiu em cedro as imagens de Nossa Senhora de Caravaggio e de Joaneta, as quais se encontram até hoje no Santuário. Assim, o pequeno quadro foi devolvido para a família Faoro

e, posteriormente, este foi definitivamente doado ao Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio, tornando-se relíquia e sendo preservado até os dias de hoje (TONOLLIER, 2002; ZORZI, 1986).

Figura 3 – Quadro de Nossa Senhora de Caravaggio, trazido da Itália pela família de Natal Faoro

Fonte: http://www.caravaggio.org.br/site/primeiro_quadro.php

Figura 4 – Imagens de Nossa Senhora de Caravaggio e de Joaneta, esculpidas por Pietro Stangherlini

Em 1889, dez anos depois da inauguração da primeira capela, iniciou-se a construção da igreja que a substituiria, ocorrendo a sua inauguração em 1890. No ano de 1892, o Bispo de Porto Alegre, Dom Cláudio José Ponce de Leon, visitou a igreja e um ano depois decretou a sua elevação a Curato. Em 1900, Caravaggio foi elevada à condição de paróquia. Nesse mesmo período foi construída a torre basáltica e foram adquiridos três sinos em Bassano Del Grapa, Itália. Em 1921 a igreja foi totalmente reformada, sendo remodeladas(os) a fachada, as paredes internas e externas, e o telhado. O pintor Cremonese foi o responsável pela nova decoração. Nesse ano também o local foi elevado à condição de Santuário (ZORZI, 1986).

Figura 5 – Antiga Igreja de Nossa Senhora de Caravaggio (inaugurada em 1890)

Fonte: http://www.caravaggio.org.br/galeria/10/Capela_Antiga

No ano de 1945 iniciou-se a construção do novo Santuário, que substituiria a antiga e pequena igreja. O Santuário que hoje existe em Caravaggio levou 18 anos para ser construído, e foi oficialmente inaugurado em 3 de fevereiro de 1963. A inauguração desse Santuário foi motivo de muito orgulho para os moradores de Caravaggio, pois todas as famílias da comunidade colaboraram, de uma forma ou de outra, com a sua construção, acompanhando todo o processo. As dimensões do atual Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio impressionam: são 47 metros de comprimento, 40 metros de largura, 40 metros de altura externa, capacidade para 1.500 pessoas em seu interior e mais 800 pessoas nas galerias (TONOLLIER, 2002).

Figura 6 – Atual Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio (inaugurado em 1963)

Fonte: http://www.caravaggio.org.br/galeria/9/Santuario

Figura 7 – Atual Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio e a Antiga Igreja

Fonte: http://www.caravaggio.org.br/galeria/9/Santuario

Ainda, durante o período de edificação do novo Santuário, foram construídos a Casa de Retiros Getsemani e o Carmelo (ZORZI, 1986). Também, nessa época, em novembro de 1956, passa a funcionar a primeira emissora de rádio de Farroupilha, a Rádio Miriam. Esta opera sob o controle da Igreja Católica e contempla em sua programação: músicas, notícias, debates, esportes e informes de utilidade pública, bem como, a transmissão, diária e ao vivo, de missas e eventos religiosos (TONOLLIER, 2002; ZORZI, 1986).

Em 1959, a Santa Sé declarou Nossa Senhora de Caravaggio como a Padroeira da Diocese de Caxias do Sul. Em meados de 1968, o Santuário é transformado em Santuário Diocesano, diretamente subordinado ao Bispado Diocesano de Caxias do Sul (atual Bispo Dom Alessandro Ruffinoni). Nesse mesmo período são construídos o restaurante panorâmico e o bar (ambos de propriedade do Santuário) e a Capela das confissões (ZORZI, 1986).

No ano de 1979 iniciou-se, por meio de iniciativas do Governo Estadual e da Prefeitura de Farroupilha, o asfaltamento da estrada que liga a cidade de Farroupilha ao Santuário (atual Rodovia dos Romeiros). Também, nessa época, estavam em projeto melhorias nos estacionamentos e na praça, que se pretendia transformar em uma esplanada, para melhor receber os romeiros nos dias das grandes festas (ZORZI, 1986).

Diversos padres assumiram a direção do Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio ao longo dos anos de sua existência, mas, atualmente, o padre Gilnei Fronza (Reitor do Santuário) exerce essa função (ZORZI, 1986).

Como vem acontecendo desde o ano de 1879, atualmente, o Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio continua sendo diariamente visitado por muitos fiéis, especialmente nos finais de semana, nos feriados, no dia 26 de cada mês, na festa votiva de 2 de fevereiro14 e na grande Romaria do mês de maio (realizada no dia 26, no sábado e no domingo mais próximos) (ZORZI, 1986).

Assim, com o passar do tempo, a fé em Nossa Senhora de Caravaggio foi crescendo, sendo transmitida de geração a geração, e divulgada por aqueles que tiveram suas graças alcançadas, transformando Caravaggio no “Maior Santuário Religioso do Sul do Brasil”. A quantidade de visitantes que Caravaggio recebe vem aumentando a cada ano, fazendo jus ao título conferido ao Santuário em 1921, citado anteriormente. As pessoas que visitam Caravaggio são oriundas, em grande parte, de cidades do Rio Grande do Sul (sobretudo da serra gaúcha, de Porto Alegre e da região metropolitana), dos estados do sul do país (Santa Catarina – Florianópolis), de outros estados brasileiros (com destaque para São Paulo – interior do estado –, Rio de Janeiro, Ceará e Mato Grosso), e também de países vizinhos (Uruguai e Argentina) (TONOLLIER, 2002; ZORZI, 1986).

Para exemplificar a grandiosidade que a fé em Nossa Senhora de Caravaggio representa, no ano de 2001, o Santuário de Caravaggio contabilizou mais de 900 mil presenças. Também, pode-se dizer que a Romaria do dia 26 de maio é uma das maiores manifestações de fé católica no Brasil (TONOLLIER, 2002).

14 Essa festa originou-se no ano de 1899, quando havia uma grande estiagem na região. O povo rezava pedindo chuva e, no mesmo dia (2 de fevereiro), choveu, amenizando a seca (ZORZI, 1986).

3.3 ROMARIAS AO SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DE CARAVAGGIO –