• Nenhum resultado encontrado

O percurso da consciência de si em busca da verdade da certeza de si mesma tem seu ápice na Dialética da luta por independência. Pela primeira vez o objeto externo vem a ser uma outra consciência, isto é, um ser-vivente. O que ocorre é uma duplicação da consciência de si, um efeito que se dá na própria existência. Hegel enfatiza que a consciência-de-si só é consciência-de-si enquanto o for para uma outra consciência, enquanto for reconhecida como tal. Para tal, ele nos apresenta a dialética do Senhor e do Escravo numa forma de demonstrar como se desenvolve o reconhecimento mútuo das consciências-de-si desejantes.

anderen”. FE, A luta por independência e dependência, HW 3, p. 274.

113 “No proceder lógico da argumentação de Hegel, a luta pela vida e pela morte em meio à transição do desejo

de ser uma personalidade independente no mundo-da-vida dos desejos finitos. Trata-se de uma mediação puramente lógica, dado que o simples desejo de autoafirmação vai de encontro à morte, e pode exprimir um veredicto sobre si mesmo somente quando o poeta o evoca do Hades. [...] Esta última condição de senhoria e servidão é a vida do desejo finito, a qual se realiza nos termos do ‘juízo’ do reconhecimento”. HARRIS, H. S.

A condição da existência da consciência-de-si é identificada pela necessária relação com outra consciência-de-si. Pois saindo da condição de si mesma e indo para fora de si encontra a outra consciência-de-si que é ser vivente, diferente. O primeiro momento salienta o ser diferente, mas logo as consciências-de-si se vêem como mesmo movimento, negando a condição de existência em si mesmas e passando a operação de reconhecimento da outra consciência-de-si. Então, após sair de si mesma e suprassumir a outra consciência-de-si, ela retorna a si mesma. Esse movimento praticado pelas consciências não é um agir individual, pois enquanto uma o faz, a outra também deve necessariamente fazê-lo. Esse reconhecimento é, na verdade, um enfrentamento, uma busca a morte da outra para que seu desejo seja satisfeito. É necessário arriscar-se para obter a satisfação de seu desejo, “a relação das duas consciências-de-si é determinada de tal modo que elas se provam a si mesmas e uma a outra através de uma luta de vida ou morte”.114

Esse processo de reconhecimento se dá na seguinte forma: a consciência-de-si sai de si mesma em busca do Outro, ela precisa suprassumir esse Ser-Outro, porém, na verdade, Hegel nos diz que ela vê a si mesma nesse Ser-Outro.

Então, após sair de si mesma e suprassumir a outra consciência-de-si, ela retorna si mesma. Esse movimento praticado pelas consciências não é um agir individual, pois enquanto uma o faz, a outra também deve necessariamente fazê-lo. Pois é exatamente o que afirma Hegel: “Eles se reconhecem como reconhecendo-se reciprocamente”.115

A princípio, as consciências-de-si estão somente para si mesmas, só tem certeza da sua verdade. Desse modo, no encontro com outra consciência, ambas são independentes no seu agir (handeln) na Vida. Porém, para serem realmente consciências-de-si, em si e para si, precisam ser reconhecidas na outra, saindo de si mesmas.

O movimento da luta pela vida e morte, o perigo e a definição de quem é senhor e de quem é escravo condiciona as consciências-de-si à experiência fundadora da liberdade. Mas a luta pela vida e pela morte deve ser interrompida antes da morte de uma das consciências- de-si, pois o reconhecimento tem neste ponto sua marca determinante na dialética do senhor e do escravo. A morte seria a anulação do outro e o reconhecimento significa a conservação

114 “Das Verhältnis beider Selbstbewußtsein ist also so bestimmt, daß sie sich selbst und einander durch den

Kampf auf Leben und Tod bewähren”. FE, A luta por independência e dependência, HW 3, p. 145.

115 “Sie anerkennen sichm als gegenseitig sich anerkennend”. FE, A luta por independência e dependência, HW

do outro.

O reconhecimento suprassume a luta de vida e morte e define os papéis das consciências-de-si, a saber, do senhor e do escravo no mundo, o senhor em busca do gozo e o escravo como mediador da relação do senhor e o objeto desejado.

O Senhor, o Escravo e o mundo: eis os três termos que se entrelaçam no jogo de mediações características dessa experiência fundamental. O Escravo e a coisa exercem respectivamente a função mediadora que permite à consciência-de-si do Senhor afirmar-se na independência reconhecida do seu ser-para-si. A unilateralidade do reconhecimento reside aqui no fato de que o Senhor não reconhece o Escravo como outra consciência-de-si mas como mediador da sua ação sobre o mundo. Ao Escravo cabe o trabalho exercido sobre a coisa, ao Senhor a fruição da coisa trabalhada que passa além da simples satisfação animal do desejo. Enquanto mediadora, a consciência servil passa a ser a verdade da consciência independente.116

Nessa disputa, torna-se o Escravo a consciência que, perante a morte, teve medo e voltou atrás e torna-se Senhor, aquela que enfrentou a morte e não teve medo de perder sua vida. Ao arriscar sua vida, a liberdade é posta à prova. Na verdade, o medo da morte é o medo da impossibilidade da satisfação de seu desejo, então segundo Hegel: “O indivíduo que não arriscou a vida pode bem ser reconhecido como pessoa; mas não alcançou a verdade desse reconhecimento como uma consciência-de-si independente”.117

Então, o escravo permance no plano da vida natural, ele rejeita tornar-se consciência- de-si ao agarrar-se firmemente a sua vida no confronto com outra consciência.

A dialética entre senhor e escravo possui, sobretudo, esse caráter existencial, de demonstrar a constituição do caminho angustiante da consciência de si, revelada em figuras e momentos como o desejo e a luta. No entanto, antes é necessário conceituar esta nova figura, a consciência de si, emergida da dialética anterior, a do reconhecimento.

A consciência de si, após exteriorizar a si mesma no Outro, perdeu-se em sua própria essência, cindindo-a. A teoria preconizada pela consciência na dialética do reconhecimento caiu por terra, pois a consciência não foi capaz de superar a alteridade, o Si não suprimiu o Outro. Com o desejo de negar o Outro e voltar a si, a consciência somente foi capaz de se ver no Outro, a presença (Gegenwart) do Si no Outro e do Outro na própria consciência.

116 VAZ, Henrique de Lima. Dialética do senhor e escravo, p. 22.

117 “Das Individuum, welches das Leben nicht gewagt hat, kann wohl als Person anerkannt werden; aber es hat

die Wahrheit dieses Anerkantseins als eines selbständigen Selbstbewußtseins nicht erreicht”. FE, A luta por

O Outro aparece como o mesmo, como o Si; mas o Si aparece igualmente como o Outro. Do mesmo modo, a negação do Outro, que corresponde ao movimento do desejo, torna-se também negação de si. Enfim, ao pretender suprimir toda alteridade, o retorno completo ao Si, no fundo, só conduziria a deixar o Outro livre de si [...] e, portanto, reconduziria à alteridade absoluta.118

A dialética do reconhecimento causou essa ruptura na consciência, onde ao desejar se ver na Outra, se viu no dever de negar a si mesma; e, depois, negar novamente a outra consciência, voltando a si. A liberdade não foi alcançada, porque a consciência não foi capaz de superar esse modelo universalizador, baseado na alteridade, não se tornou consciência de si, porque o Si se perdeu no Outro. Eliminar essa alteridade, conquistar para si a independência e a liberdade, são estes os principais objetivos da consciência que pretende desgarrar-se do momento anterior.119 Antes de qualquer outra coisa, essa nova consciência é uma consciência prática, posta no plano da Vida, que relaciona-se diretamente às outras consciências.

O estágio inicial é a condição de ser-para-si, emanada da dialética anterior. A consciência (Em Si) conquistou essa posição ao sair de si (Para Si) e retornar a si (ser-para- si), negando a si mesma e ao Outro. No entanto, não foi capaz de retomar sua condição de consciência Em Si, tendo a si mesma como referência, mas somente um Outro, e nisso não consta a liberdade. A consciência necessita superar esse reconhecimento teórico com a atividade prática, realizada na própria existência. Por isso, a seção dedicada à luta entre consciências revela-se, sobretudo, na esfera existencial, com as diversas relações da consciência.

A consciência, quando exteriorizou-se, veio a perder a si mesma, tornando-se uma outra. Nesse sentido, a consciência deixa de ser um Em Si para ser Para Outro, pois perdeu sua essência no movimento de exteriorização. Ao se perder a essência, a consciência torna-se um outro ser em si, um outro ser em um outro. E a alteridade permanece, porque a consciência finitiza-se nessa condição de ser um outro, perdeu sua plena singularidade. O

118 HYPPOLITE, Jean. Gênese da Fenomenologia do Espírito de Hegel, p. 182.

119 Vinci analisa a exclusão, a eliminação da alteridade como impulso inicial para a luta de vida ou morte. “A

luta entre autoconsciências tem origem naquela condição inicial em que a autoconsciência é ainda um simples ser para si que exclui qualquer alteridade, enquanto considera como essência exclusivamente o próprio Eu”. VINCI, Paolo. Coscienza Infelice e Anima Bella: Commentario della Fenomenologia dello Spirito di Hegel.p. 171.

que Hegel propugna é exatamente a superação desse modelo limitado, e o retorno da consciência à sua essência, a volta da consciência ao Si.

O objetivo é a liberdade da consciência. Ou, em outras palavras, significa tornar-se em-si-e-para-si, num ponto onde o singular e o universal encontram-se unificados, o que, necessariamente, indica a necessidade da existência de outra consciência, e reconhecida como outra consciência. Nisso consiste a duplicação das consciências, representa aquela consciência que não conseguiu superar a alteridade na primeira dialética do reconhecimento, porque perdeu a si mesma no Outro, perdeu o contato com o Si. O retorno ao Si será alcançado pelo meio prático, isto é, pela caminhada no mundo da Vida, através da própria manifestação existencial do indivíduo, num desejo incessante de liberdade, a independência da consciência. Essa passagem é fundamental para se compreender o significado da idéia trazida por Hegel com a consciência de si. “A consciência-de-si é em si e para si quando e por que é em si e para si para uma Outra; quer dizer, só é como algo reconhecido”.120

Essa alteridade entre as consciências de si representa a dificuldade e o limite do conhecimento adquirido pela consciência de si nos trabalhos anteriores. A pluralidade de consciências de si, que, por mais que se reconheçam no mundo, não alcançam a certeza universal, mas somente delas mesmas, revela a finitização da consciência de si. “De início, essa pluralidade está no elemento vital da diferença. Cada consciência de si não vê no outro mais que uma figura particular da vida, e por conseguinte não se conhece verdadeiramente no outro”. 121 Elas apenas vêem o outro como uma outra figura da vida, ou seja, a certeza e a verdade continuam sendo a ‘minha certeza’ e a ‘minha verdade’, persiste o subjetivismo.

Ainda que reconhecidas, as consciências de si mantiveram-se no plano da subjetividade, na ‘minha certeza’, na ‘minha verdade’, isolando a si mesma do Outro. São reconhecidas mutuamente como pessoas, no entanto, o verdadeiro e real reconhecimento, capaz de erguer a consciência de si a uma plena objetividade, somente ocorre quando este processo eleva-se para um reconhecimento recíproco onde, a consciência não vê a outra consciência como somente uma pessoa, mas como um verdadeiro ser independente, uma consciência que deseja elevar-se ao plano da vida espiritual. “A consciência de si eleva-se acima da vida”122.

A luta, em Hegel, segundo Hyppolite, possui conotação espiritual, pois representa a própria vontade humana por liberdade, em se reconhecer livre, uma vocação espiritual.

120 “Das Selbstbewußtsein ist an und für sich, indem, und dadurch, daß es für ein anderes an und für sich ist;

d.h. es ist nur als ein Anerkanntes”. FE, A luta por independência e dependência, HW 3, p. 145.

121 HYPPOLITE, Jean. Gênese e estrutura da Fenomenologia do Espírito de Hegel, p. 183-184. 122 HYPPOLITE, Jean. Gênese e estrutura da Fenomenologia do Espírito de Hegel, p. 184.

A vocação espiritual do homem manifesta-se já nessa luta de todos contra todos, pois tal luta não é somente uma luta pela vida, é uma luta para ser reconhecido, uma luta para provar aos outros e provar a si próprio que se é uma consciência de si autônoma, e só se pode prová-lo a si mesmo provando-o aos outros e deles obtendo essa prova.123

É um trabalho espiritual da consciência porque a eleva do plano da simples vida animal, fazendo-a superar os instintos básicos da existência, relacionados aos desejos corporais. Suprimindo este estágio inicial da vida, a consciência passa a alimentar os desejos humanos, aqueles desejos que não visam tão somente os instintos naturais, ou seja, desejos como a fome ou o sexo, mas outro desejo, de outra consciência. Um desejar outro desejo.124 O homem sai de sua imediaticidade natural, tornando-se capaz de interagir comunitariamente, pois já está preparado para conviver com os demais membros da sociedade.

Por mais que a dialética da luta por independência e dependência permita múltiplos significados, capazes de engendrar toda a filosofia hegeliana, é no sentido existencial, ou seja, naquele em que as questões relacionadas à vida em geral são discutidas, como o valor da vida, os desejos, os anseios por reconhecimento, o envolvimento com o outro, que emerge sua real manifestação. É o homem como ser desejante, de si mesmo e do outro, procurando a expansão da vida, superar os limites naturais e imediatos da existência. É nesta consciência de si mesmo e do mundo que o homem dilacera sua existência animal e se torna homem. As experiências da consciência não representam nenhum período da história, nenhum momento em especial, mas sim a própria história, o próprio homem, a própria existência. É a natureza humana em sua vocação de lutar por reconhecimento perante a si e ao mundo que está grafada interpretada na dialética da luta por independência entre senhor e escravo.125

123 HYPPOLITE, Jean. Gênese e estrutura da Fenomenologia do Espírito de Hegel, p. 184.

124 “O desejo humano, ou melhor, antropogênico – que constitui um indivíduo livre e histórico consciente de

sua individualidade, de sua liberdade, de sua história e, enfim, de sua historicidade -, o desejo antropogênico difere portanto do desejo animal (que constitui um Ser natural, apenas vivo e tendo só o sentimento de sua vida) pelo fato de buscar não um objeto real, ‘positivo’, dado, mas um outro desejo. Assim, na relação entre homem e mulher, por exemplo, o desejo só é humano se um deles não deseja o corpo mas sim o desejo do outro, se quer possuir ou assimilar o desejo considerado como desejo, isto é, se quer desejado ou amado ou, mais ainda, reconhecido em seu valor humano, em sua realidade de indivíduo humano.” KOJÈVE, Alexander. Introdução à

leitura de Hegel, p.13.

125 Acrescentemos, ainda, uma citação de Lèbre, numa análise da leitura de Deleuze sobre a filosofia hegeliana,

já anunciando a luta por intependência na dialética entre senhor e escravo, que será adiante. “A lição Hegeliana é clara: para apanhar a potência do negativo, é preciso trazer de volta a representação à sua fonte vital, e então refazer sem esquecer a gênese da consciência a partir do organismo. Este, como ‘efetividade da força infinita’, herança positiva do fluxo da vida e conservado ainda sua unidade contra a singularidade de seus órgãos. Mas

A dialética da luta por independência entre as consciências de si desejantes servem de base a todo o desenvolvimento da Fenomenologia nos capítulos seguintes. Após o reconhecimento recíproco entre as consciências, mas, que, no entanto, foram incapazes de reconhecer o outro como consciência de si, porém tão somente como pessoa, o que se verá é uma luta até a morte, onde cada consciência se verá forçada a tentar impor sua força contra a outra.

A relação de dominação e escravidão tratada nessa parábola não serve somente de base existencial para o caminho percorrido pela consciência, mas também pode ser analisada em sentido político e econômico, pois posteriormente influenciará também a temática trabalhada na Filosofia do Direito. Voltaremos mais adiante a esta problemática, indicando como a luta por independência das consciências de si, e a dialética entre senhor e escravo, estão engendradas no direito abstrato, na moralidade e na eticidade da Filosofia do Direito.

Este processo por si só compreende dois momentos opostos, no reconhecimento ambos os lados devem ser mantidos juntos, e no enfrentamento, distanciados.126 Esta aparente contradição pretende demonstrar o caráter de infinitude da consciência-de-si, que exatamente oposta a suas determinações, tem na negação dos extremos sua libertação. Na Filosofia do Direito, Hegel tratará da mesma forma quando discutir a dialética da guerra, pois nesse estado de enfrentamentos, uma nação somente pode suprassumir a outra, superá- la, se ao mesmo tempo reconhecê-la como nação.127 O conflito carrega em seu duplo aspecto de reconhecimento e enfrentamento; respeito e inimizade. A guerra, em Hegel, não deve ser tratada como um confronto selvagem buscando somente a aniquilação alheia, mas como algo necessário para a evolução de determinado povo, pois produzirá nos envolvidos os sentimentos de coragem e bravura, necessários para a auto-libertação.

Essa relação negativa do Estado a si aparece assim no ser-aí como relação de um outro a um outro e como se o negativo fosse algo exterior. A existência dessa relação negativa tem, por isso, a figura de um acontecer e do entrelaçamento com incidentes casuais que vêm de fora. Mas essa é o supremo momento próprio do Estado, - a sua infinitude efetivamente real enquanto idealidade de todo finito nele, - o lado no qual a substância, como a potência absoluta contra todo singular e particular, contra a vida, a

ele em herança também negativamente: é preciso valorizar a potência singular contra a universalidade do gênero. Esta herança contraditória implica uma oscilação entre a dependência e a autonomia, a falta da satisfação”. LÉBRE, JÉROME. Hegel à l’épreuve de la philosophie contemporaine. Paris: Ellipses Édition Marketing, 2002. p. 21.

126 FE, A luta por independência e dependência, HW 3, p. 142. 127 Cf. a última parte da FD, principalmente do § 321 ao § 331.

propriedade e seus direitos, assim como contra os círculos ulteriores, traz ao ser-aí e à consciência a nulidade dos mesmos.128

A interpretação da guerra em Hegel também deve ser feita no conflito dialético entre senhor e escravo. A origem e objetivo do confronto nascem no interior da própria consciência, que enfrentará a si própria, e não a Outra, pois na verdade a outra consciência- de-si surgirá como instrumento para o processo de reconhecimento. À raiz da questão, a dialética representa um caminho individual de evolução existencial, porém utilizando-se do reconhecimento para alcançar sua meta.

Primeiro, a consciência-de-si nega a si mesma, e se encontra fora de si, em um Outro, de forma que essa outra consciência é reconhecida como ela mesma. Em seguida, deverá suprassumir esse seu-ser-Outro, para então retornar refletida como certeza de si mesma. Na simbologia desse processo temos a consciência novamente superando-se, porque esse Outro era ela mesma. Por outro lado, essa outra consciência, superada e agora livre, também efetuará o mesmo processo, já que o “agir unilateral seria inútil; pois, o que deve acontecer, só pode efetuar-se por ambas as consciências”129. Aqui se encontra o sentido duplo e separado da dialética, cada consciência utiliza-se da outra para seu próprio processo, onde de certa forma estão interrelacionadas, mas por outra, agem separadas. Esta dialética envolvendo as consciências-de-si também retoma o conceito de meio-termo, pois a consciência, após a dupla negação, se encontrará justamente entre os dois extremos, a filosofia hegeliana, por si só, já valoriza o caráter da totalidade, de pensar o mundo como um todo, e não somente uma segmentação. “O meio-termo é a consciência que se decompõe nos extremos; e cada extremo é a troca dessa determinidade, e passagem absoluta para o oposto”.130 Contudo, cada extremo é para o oposto o meio-termo, de forma que a consciência

128 “In Dasein erscheint so diese negative Beziehung des Staates auf sich als Beziehung eines Anderen auf ein Anderes und als ob das Negative ein Äußerliches wäre. Die Existenz dieser negativen Beziehung hat darum die Gestalt eines Geschehens und der Verwicklung mit zufälligen Begebenheiten, die von außen kommen. Aber sie ist sein höchste eigenes Moment, - seine wirkliche Unendlichkeit als die Idealität alles Endlichen in ihm, - die Seite, worin die Substanz als die absolute Macht gegen alles Einzelne und Besondere, gegen das Leben, Eigentum und dessen Rechte, wie gegen die weiteren Kreise, die Nichtigkeit derselben zum Dasein und