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A distinção entre os efeitos erga omnes e os efeitos vinculantes

4 O CONTROLE DIFUSO APÓS A REPERCUSSÃO GERAL E A SÚMULA

5.4 OS LIMITES CONSTITUCIONAIS DO CONTROLE DIFUSO

5.4.1 A distinção entre os efeitos erga omnes e os efeitos vinculantes

Antes de adentrarmos no cerne da questão, referente aos limites do exercício da jurisdição constitucional, faz-se necessário estabelecer a distinção entre efeitos erga omnes e efeitos vinculantes, próprios de decisões das cortes constitucionais.

Estabelecer esta distinção se mostra imprescindível porque como se sabe o Brasil adotou o controle difuso, cuja inspiração foi norte-americana, mas, entretanto, faltava-lhe uma condição essencial, própria da justiça do Commom Low, a tradição do stare decisis ou do precedente judicial. Tal fato, de certa forma poderá determinar certa instabilidade ao controle difuso, haja vista que um juiz ou Tribunal poderá decidir de forma diversa a mesma matéria já decidida pelo Supremo Tribunal Federal, por não estar vinculado ao precedente da corte suprema143. Desta forma, repita-se, a súmula vinculante é muito mais um meio de atenuar essa contradição nos julgamentos, permitindo às partes uma maior segurança jurídica.

Nos últimos anos, tem-se verificado a saudável tendência, no direito brasileiro, de valorização dos precedentes judiciais. A atitude geral de observância da jurisprudência é positiva por promover valores relevantes, como segurança jurídica, isonomia e eficiência. Disso, naturalmente, não deve resultar a vedação de se afastar

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“A coexistência em nosso sistema jurídico dos dois modelos de controle de constitucionalidade, concentrado e difuso, dá ensejo a algumas situações no mínimo interessantes. De início porque o controle difuso no Brasil é capenga. Inspirados no exemplo americano, nós adotamos esse modelo de controle, mas sem adotarmos a doutrina do stare decisis. Isso é causa determinante da falta de uniformidade decisória no controle de constitucionalidade entre nós. Enquanto, que nos Estados Unidos, as decisões no controle difuso são razoavelmente uniformizadas pela aplicação da doutrina do stare decisis, no Brasil, exatamente pela ausência desta doutrina, essa uniformidade não existe”. SOUZA, Marcelo Alves Dias de. Do precedente judicial à súmula vinculante. Curitiba: Juruá Editora, 2006, pg. 208.

eventualmente o precedente existente, nem tampouco a impossibilidade de se alterar a jurisprudência144.

Fala-se em eficácia erga omnes quando a parte dispositiva da sentença atinge um número indeterminado de pessoas, independente de terem ou não participado do processo. Esse efeito é próprio do controle concentrado das ações de inconstitucionalidade, e sempre esteve presente no ordenamento, desde a entrada em vigor do controle concentrado.

Será vinculante o efeito, quando a decisão não atinge apenas os particulares, mas também o Poder Público, através dos órgãos da Administração Direta e Indireta, tanto municipal, estadual como federal.

A diferença entre os efeitos erga omnes e os efeitos vinculantes foram devidamente estabelecidos a partir da Emenda Constitucional n. º 3/93, quando o § 2º do artigo 102 da CF/88 disciplinou o efeito vinculante das decisões de mérito nas ações declaratórias de constitucionalidade. Posteriormente, a EC nº 45/2009, determinou que os efeitos fossem vinculantes também na Ação Direta de Inconstitucionalidade145.

Atualmente no ordenamento jurídico brasileiro os efeitos erga omnes ocorrem em todas as decisões proferidas no controle concentrado, independente de qual seja a natureza da ação, podendo, inclusive, ocorrer em sede de liminar nos termos do § 1º do artigo 11 da Lei 9.868/99.

Para o controle difuso esses efeitos ocorrerão quando do reconhecimento ou não da repercussão geral no recurso extraordinário, nos termos estabelecidos pelo §3º do artigo 102 da Constituição Federal de 1988, regulamentado pelo Código de Processo Civil no artigo 543-B e parágrafos. Poderá também ocorrer os efeitos erga omnes, no

144 BARROSO, Luis Roberto. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro. São Paulo: Editora

Saraiva, 2008, pg. 77.

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“Eficácia erga omnes e efeito vinculante, tecnicamente, são coisas diferentes. Isso ficou claro com a Emenda Constitucional 3/93 e a redação que ela deu ao § 2º do artigo 102 da Constituição Federal. Criando a ação declaratória de constitucionalidade, previram-se expressamente, como coisas diversas, a eficácia erga omnes e o efeito vinculante”. SOUZA, Marcelo Alves Dias de. Do precedente judicial à súmula vinculante. Curitiba: Juruá Editora, 2006, pg. 209.

controle difuso, se houver a suspensão da lei pelo Senado, conforme exigência do art. 52, inciso X da CF/88.

Já o efeito vinculante está previsto para as sentenças definitivas de mérito das ações direitas de inconstitucionalidade e das ações declaratórias de constitucionalidade, segundo o § 2º do artigo 102 da CF/88 e a Lei nº 9868/99. Também há previsão de efeito vinculante para a arguição de descumprimento de preceito fundamental, de acordo com o § 3º do artigo 10 da Lei nº 9868/99146.

Poderá ocorrer efeito vinculante em sede de controle difuso se houver expedição de súmula vinculante. Vale ressaltar que esse tipo de súmula poderá disciplinar qualquer matéria, seja no controle difuso ou concentrado. Entretanto, em decorrência do natural efeito erga omnes e vinculante próprio do controle concentrado é bem provável que as súmulas vinculem matéria, via de regra, apreciada no controle difuso.

Por último, vale registrar que o Supremo Tribunal Federal tem formado entendimento no sentido de que caberá reclamação para impugnar o descumprimento das decisões com efeitos erga omnes e vinculantes, com exceção dos pronunciamentos em sede de controle difuso onde a decisão ficou restrita entre as partes do processo, nestes casos somente os interessados poderiam propor reclamação constitucional147,

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Conferir julgamento da ADC 1, cuja relatoria é do Ministro Moreira Alves, onde ficou estabelecido que: “o Tribunal conheceu em parte da ação, e, nessa parte, julgou-a procedente, para declarar, com os efeitos vinculantes previstos nº § 2º do art. 102 da Constituição Federal, na redação da Emenda Constitucional n. 03/93, a constitucionalidade os artigos 1º, 2º e 10, bem como da expressão ‘A contribuição social sobre o faturamento de que trata esta lei complementar não extingue as atuais fontes de custeio da seguridade social, contida no artigo 9º, e também, da expressão “Esta lei complementar entra em vigor na data de sua publicação, produzindo efeitos a partir do primeiro dia do mês seguinte aos noventa dias, posteriores, àquela publicação...”, constante do artigo 13, todos da Lei Complementar nº 70, de 30.12.1991.

147 Conferir o julgamento da Rcl 6078, cuja relatoria é do Min. Joaquim Barbosa, que decidiu nos seguintes

termos: “reclamação constitucional. alegada violação de autoridade de precedente do pleno do supremo tribunal federal. aresto firmado em julgamento de alcance subjetivo. Agravo de instrumento. Legitimidade para propor a reclamação. Processual civil. Agravo regimental. decisão que indefere de plano o seguimento da reclamação. 1. agravo regimental interposto de decisão com a qual se negou seguimento à reclamação, destinada a assegurar a autoridade de precedente da corte. 2. a reclamação não é instrumento de uniformização jurisprudencial. tampouco serve de sucedâneo de recurso ou medida judicial cabível para fazer valer o efeito devolutivo pretendido pelo jurisdicionado. 3. nos termos da orientação firmada pelo supremo tribunal federal, são legitimados à propositura de reclamação todos aqueles que sejam prejudicados por atos contrários às decisões que possuam eficácia vinculante e geral (erga omnes). se o precedente tido por violado foi tomado em julgamento de alcance subjetivo, como se dá no controle difuso e incidental de constitucionalidade, somente é

pelo menos é esse o entendimento que se pode retirar de sua jurisprudência.

A distinção entre efeitos erga omnes e vinculantes é importante para o controle difuso, porque o reconhecimento ou não da repercussão geral não será capaz de vincular administração pública, direta ou indireta. Ademais, os efeitos erga omnes produzidos serão somente com relação aos processos que vincularem matéria semelhante. A decisão não vinculará nem mesmo os demais órgãos do Poder Judiciário, haja vista a possibilidade do Tribunal a quo manter sua decisão mesmo contrariando o entendimento do Supremo. Conclusão a que se chega com as disposições do § 4º do artigo 543 do CPC que disciplina, in verbis, “§ 4o Mantida a decisão e admitido o recurso, poderá o Supremo Tribunal Federal, nos termos do Regimento Interno, cassar ou reformar, liminarmente, o acórdão contrário à orientação firmada”.

Já a matéria decidida no controle difuso, que seja motivo de súmula vinculante poderá vincular não só os demais órgãos do Poder Judiciário, inclusive o próprio Supremo Tribunal, como também os órgãos da Administração Direta e Indireta das três esferas, municipal, estadual e federal. A decisão somente deixará de ser vinculativa caso seja revista ou cancelada, conforme previsão do artigo 103-A da CF/88.