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Os limites impostos ao controle de constitucionalidade

4 O CONTROLE DIFUSO APÓS A REPERCUSSÃO GERAL E A SÚMULA

5.4 OS LIMITES CONSTITUCIONAIS DO CONTROLE DIFUSO

5.4.2 Os limites impostos ao controle de constitucionalidade

O último ponto a ser analisado, diz respeito aos prejuízos que a abstração dos efeitos no controle difuso poderão ocasionar aos direitos fundamentais, como por exemplo, o acesso à justiça, o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa, entre outros direitos e princípios fundamentais.

Vale ressaltar que as críticas embora pertinentes, não podem prosperar tendo

legitimado ao manejo da reclamação as partes que compuseram a relação processual do aresto. 4. no caso em exame, o reclamante não fez parte da relação processual em que formado o precedente tido por violado (agravo de instrumento julgado pelo Pleno do Supremo Tribunal Federal). Agravo regimental conhecido, mas ao qual se nega provimento”.

em vista que são falaciosas se analisadas com base na Constituição e na legislação vigente.

Efetivamente, a teoria da nulidade da norma inconstitucional é sem sombra de dúvidas a que melhor atende aos objetivos de supremacia da Constituição, haja vista que nenhuma norma que vá de encontro aos preceitos constitucionais poderá produzir qualquer tipo de efeito no ordenamento jurídico.

Entretanto, também não se pode negar que por outro lado a complexidade das relações sociais na vida moderna forçou a atenuação dos efeitos na própria declaração de inconstitucionalidade, permitindo assim que em determinados casos sejam preservados a segurança jurídica em face da inconstitucionalidade constada. Em outros termos, mesmo havendo a inconstitucionalidade é de bom alvitre que a Corte Constitucional possa projetar ou atenuar os efeitos de sua decisão para manter a integridade de todo o sistema constitucional, sob pena de graves prejuízos à segurança jurídica e aos interesses sociais. É a possibilidade de moderação dos efeitos da decisão judicial, instrumento bastante utilizado nos dias atuais.

Imagine-se hipoteticamente a possibilidade do Supremo Tribunal Federal vir declarar a inconstitucionalidade do imposto sobre os rendimentos. Se por ventura não houvesse uma projeção dos efeitos da decisão tomada, seja esta em sede de controle difuso ou concentrado, não importando o meio para o exercício da jurisdição constitucional, o fato geraria uma imensa insegurança jurídica, e uma enxurrada de ações pedindo a devolução e o ressarcimento do tributo. Seria um verdadeiro pandemônio jurídico. Isto poderia gerar uma grande instabilidade social e econômica para o país, que não teria dinheiro suficiente para devolver tudo que foi arrecadado dos contribuintes.

Destarte, a modulação dos efeitos foi indubitavelmente o meio encontrado para que o controle de constitucionalidade pudesse respeitar os limites impostos pela própria

Constituição à fiscalização das normas.

Assim, da mesma forma que o controle concentrado sofre algumas atenuações em face dos limites constitucionais impostos ao exercício da jurisdição constitucional, também no controle difuso estes limites deverão ser respeitados, seja por uma questão de analogia ou por uma interpretação extensiva.

A atenuação dos efeitos, erga omnes e vinculativos, no controle de constitucionalidade foi expressamente prevista no artigo 27 da Lei n. 9868/99, estabelecendo a possibilidade de Supremo Tribunal Federal ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos da declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.

Embora prevista apenas para o controle concentrado, a modulação dos efeitos poderá ser aplicada em qualquer tipo de exercício da jurisdição constitucional, seja em sede controle difuso ou até mesmo quando o Supremo modificar o seu entendimento jurisprudencial. Assim, quando a decisão envolver razões de segurança jurídica ou excepcional interesse social, seja no controle difuso ou por modificação do entendimento do Supremo, poderá ser utilizada a modulação dos efeitos ou o temperamento da decisão.

Como já assinalado anteriormente, o Supremo Tribunal Federal tem precedentes, alguns relevantes antigos, nos quais, em controle incidental, deixou de dar efeitos retroativos à decisão de inconstitucionalidade, como consequência da ponderação com outros valores e bens jurídicos que seriam afetados. Nos últimos anos, multiplicaram-se estes casos de modulação dos efeitos temporais, por vezes com a invocação analógica do art. 27 da Lei n. 9868/99 e outras vezes sem referência a ele. Aliás, a rigor técnico, a possibilidade de ponderar valores e bens jurídicos constitucionais não depende de previsão legal148.

Vale aqui registrar que no tocante à súmula vinculante, como se trata de uma regra nova, com força de lei, seus efeitos serão ex nunc, conforme já determina o artigo

148

BARROSO, Luis Roberto. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro. São Paulo: Editora Saraiva, 2008, pg. 118

103-A, o qual preceitua que as súmulas vinculantes somente passarão produzir seus efeitos após a publicação no órgão oficial. E, como bem adverte Eduardo Appio, não há como sustentar que “em um recurso extraordinário tenham efeitos vinculantes capazes de colher decisões judiciais protegidas pela coisa julgada”149.

A abstração dos efeitos em sede de controle difuso não está sendo usada para cercear o acesso à justiça, haja vista que não se está impedindo a parte de ter acesso à jurisdição. O que se pretende é pelo princípio da economia e da celeridade processual, os processos que sejam semelhantes aguardem no tribunal de origem, até o pronunciamento do Supremo, para que só então o tribunal a quo confirme ou não seu julgamento. Inclusive, repita-se, a própria legislação prevê a possibilidade do tribunal recorrido não acatar a decisão do Supremo, quando então deverá remeter o processo para a Suprema Corte do país.

Com relação aos princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa, estes também não estão sendo suprimidos, uma vez que as partes interessadas podem utilizar-se deles em todas as instâncias, sem qualquer limitação. E presume-se que já o fizeram quando produziram todas as provas durante a tramitação processual na primeira instância.

Vale ressaltar que os recursos devolvem matéria de direito e não fática aos Tribunais. O que ocorrerá é que uma vez decidida a questão pelo Supremo, o pronunciamento evitará que os interessados esperem por anos e anos para que seu caso seja analisado. Além de evitar também que inúmeros processos subam para o Supremo, já que as partes interessadas conhecem o posicionamento da corte.

O sistema misto, o qual permite o controle difuso em qualquer instância – inclusive no âmbito do próprio Supremo Tribunal – parte do pressuposto de que a questão constitucional chegará mais cedo ou mais tarde – à mais alta Corte do país. A principal virtude das ações diretas de controle (concentrado), sempre foi a de conferir maior estabilidade do sistema jurídico, garantindo previsibilidade acerca do conteúdo da Constituição, segundo a interpretação dada pelo Supremo Tribunal. Em sua origem, buscava-se suplantar os impasses derivados de uma Constituição sujeita,

149

APPIO, Eduardo. Controle difuso de constitucionalidade – modulação dos efeitos, uniformização da jurisprudência e coisa julgada. Curitiba: Juruá Editora, 2009, pg. 42.

permanentemente, às paixões populares, expressadas através dos órgãos eleitos diretamente pela população150.

Desta forma, pode-se concluir que o exercício da jurisdição constitucional, seja no controle difuso ou concentrado, sofre atenuações em decorrência da segurança jurídica ou do excepcional interesse social, principalmente quando envolver direitos fundamentais e/ou outros princípios constitucionais de natureza essencial.

Ademais, a abstração dos efeitos em sede de controle difuso também não ocorre nos exatos limites do controle concentrado, haja vista que na repercussão geral, a eficácia erga omnes somente atingirá os processos que estão pendentes de julgamentos e cujo caso seja semelhante ao que foi julgado pelo Supremo, ou que ainda estejam em apreciação. O que se acontecer, neste caso, se suspenderá a decisão de todos os processos até o pronunciamento final da corte judicial, onde o mesmo entendimento deverá ser estendido aos casos semelhantes.

Já com relação a súmula vinculante, os seus efeitos somente serão obrigatórios a partir da publicação da súmula no órgão oficial. O que de toda a forma resguarda os ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada, por ter o mesmo tratamento de uma lei nova.

Portanto, resumindo, pode-se inferir que os efeitos erga omnes e vinculantes do controle difuso não ocasionam lesões aos direitos fundamentais, seja porque não ocorrem nos limites do concentrado, seja porque há a possibilidade de modulação dos efeitos, e mesmo que não existissem esses dois fatores, se o caso for disciplinado por súmula vinculante os efeitos são prospectivos, e, portanto, não retroagirão por se tratar de nova regra jurídica.

150

APPIO, Eduardo. Controle difuso de constitucionalidade – modulação dos efeitos, uniformização da jurisprudência e coisa julgada. Curitiba: Juruá Editora, 2009, pg. 48