O papel desempenhado pelas cortes constitucionais

Por último, cumpre destacar a importância dos Tribunais Constitucionais nos dias atuais, tanto na concretização das normas fundamentais como na defesa da própria constituição.

Como se sabe grande parte dos países na atualidade possui um tribunal que exerce a jurisdição constitucional, isto é, possui competência para averiguar se uma norma está em consonância ou não com a Constituição Federal. Essa competência é exercida de forma exclusiva, como acontece na Alemanha90, ou concorrente com os demais órgãos do Poder Judiciário, como acontece no Brasil e nos Estados Unidos.

A ideia de um Tribunal com competência para controlar a constitucionalidade das normas partiu da teoria positivista de Hans Kelsen, o qual defendia que somente um tribunal ou corte constitucional teria a competência necessária para expurgar do mundo jurídico as normas inconstitucionais.

Enquanto tribunal constitucional no sentido próprio da palavra, ou seja, com a função de proteger a Constituição, a Corte Constitucional decide sobre a inconstitucionalidade das leis, assumindo uma posição excepcional em face de todos os outros tribunais e autoridades administrativas. A estes, segundo a Constituição austríaca e a maioria das outras constituições, está vedado o controle das leis, ainda que decerto – e não poderia ser de outra forma – não completamente91.

Desta forma, desde que Kelsen defendeu a criação de um tribunal com função exclusiva de defesa da constituição, a ideia tem tomado força e vez no mundo jurídico. Não raros são os países que entregam essa função a um órgão exclusivo, e cuja

90 _{“Em primeiro lugar, há de se ressaltar que, ao contrário do que ocorre na tradição brasileira, o sistema de}

controle de constitucionalidade é concentrado, ou seja, é da competência exclusiva do TCF realizar o controle vinculante, ainda que este seja ensejado por um caso particular ou concreto(controle concreto). MARTINS, Leonardo. Cinquenta anos de jurisprudência do Tribunal Constitucional Federal Alemão, Fundación Konrad Adaenauer: Uruguai, 2005, pg. 36.

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competência em relação a interpretação das normas tem suma importância, como o Tribunal Constitucional Federal Alemão. Este tribunal tem durante os últimos cinquenta anos se destacado como verdadeiro intérprete da Constituição Alemã.

Ainda que a Grundgesetz tenha conferido ao TCF, em seu artigo 92, literalmente somente o status de tribunal, o próprio tribunal e a opinião dominante na literatura especializada – e não por último a sua lei orgânica (§ 1, I BVerfGG) – conferem-lhe a dignidade de “órgão constitucional”. À idéia de “órgão constitucional” não está somente ligada à ideia de mais um órgão constitucional ao lado dos demais, mais de um órgão sobreposto no que tange à interpretação e aplicação das normas constitucionais, alguns outorgando-lhe até mesmo o polêmico status de intérprete autêntico da Grundgesetz 92.

Vale ressaltar que o status de autêntico intérprete da Constituição Alemã figura-se mais como uma crítica do que propriamente um elogio, já que não é tão fácil a convivência entre Legislativo e o Tribunal Constitucional Federal93. Entretanto, referido tribunal tem desempenhado importante papel na defesa da Constituição do país.

As decisões do Tribunal Constitucional ganharam enorme influência na vida política da República Federal da Alemanha. É difícil encontrar um setor da vida pública que não tenha sido afetado pela jurisprudência do Tribunal Constitucional. Não raro, encontra-se o Tribunal no centro de grandes discussões públicas provocadas por uma de suas decisões94_.

É importante para um estado democrático a concretização das normas constitucionais, a presença de um intérprete designado como tal pela própria constituição federal, cuja responsabilidade é dar efetividade as normas constitucionais. Como bem leciona Canotilho “o tribunal constitucional assume, ele próprio, uma dimensão normativo-constitutiva do compromisso pluralístico plasmado na Constituição”95.

Conforme já afirmado, no Brasil a experiência tem demonstrado que nem

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MARTINS, Leonardo. Cinquenta anos de jurisprudência do Tribunal Constitucional Federal Alemão, Fundación Konrad Adaenauer: Uruguai, 2005, pg. 36

93 _{“Assim, mesmo em um sistema parlamentarista de governo, como é o alemão, muito se fala no}

relacionamento entre o legislador eo TCF, não somente no sentido de limitar o poder deste( de desconstituição do ato normativo) em face daquele, mas também devido à aludida transferência problemática do ônus da decisão eminentemente política para a esfera da competência do Tribunal, como forma de compensação de déficits de decisões parlamentes pelo TCF”. MARTINS, Leonardo. Cinquenta anos de jurisprudência do Tribunal Constitucional Federal Alemão, Fundación Konrad Adaenauer: Uruguai, 2005, pg. 39

94 _{MENDES, Gilmar Ferreira. Jurisdição constitucional. São Paulo: Saraiva, 1999, pg. 13}

sempre o Executivo e o Legislativo estão dispostos a cumprirem fielmente as disposições constitucionais. Nesse jogo de interesses políticos, estaria o Tribunal Constitucional responsável por dar efetividade quando houvesse omissão por parte dos demais poderes.

São neste sentido as lições de André Ramos Tavares:

Ao Tribunal Constitucional foi cometida a missão de fazer aflorar e, consequentemente, impor a filosofia política da Constituição. Teoricamente, essas linhas político-ideoológicas jazem abertas na Constituição. E, provavelmente, nunca se chegará a um consenso absoluto sobre o conteúdo, extensão, implicações, preponderância e eficácia dos princípios presentes numa determinada Constituição. Daí a necessidade de um Tribunal que bem desempenhe esse papel, colocando em termos objetivos, devidamente fundamentados e apoiados na concepção vigente da Constituição, os valores abraçados na solução daqueles casos em que caiba certa dose de discricionariedade relevante por parte do Poder Judiciário96_.

Desta forma, não se pode deixar de reconhecer a importância das cortes constitucionais nos atuais estados democráticos, seja como intérprete ou como concretizadores das normas, principalmente quando se depende da discricionariedade dos demais poderes estatais.

4 O CONTROLE DIFUSO APÓS A REPERCUSSÃO GERAL E A SÚMULA