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CAPÍTULO I REVISÃO DA LITERATURA

1. AS TÉCNICAS DE DANÇA

1.5 A DIVERSIDADE DE MÉTODOS

Os métodos utilizados para a lecionação das técnicas de dança contemporânea são variáveis e plurais. Já no período marcado pela dança moderna, surgem, como refere Giguere (2013), ao lado de Graham, Cunningham e Limón, aqueles que acrescentam

valências transmissíveis de técnica para técnica. Para além destas, com a circulação dos profissionais e a interação multicultural, ao longo do último século, surgem outras que ligam o treino técnico a outras áreas, como é o exemplo das artes marciais, técnicas de relaxamento, entre outras, que interligam experiências e vivências profissionais e com pensamentos que constroem teorias baseadas em ideais sobre o corpo, sobre o movimento e sobre as práticas artísticas. A par com a linguagem e estilos adotados nas aulas de técnicas de dança contemporânea, surgem também abordagens a ferramentas da composição coreográfica, como é o exemplo da improvisação. De uma forma genérica, a estrutura das aulas de técnicas de dança contemporânea, como já se constatou, centra- se no trabalho no chão, na verticalidade e na união entre os dois, esta última abordada, normalmente, na parte final das aulas, em deslocações pelo centro. Smith-Autard (2010) apresenta, de forma sintetizada, alguns dos princípios que estão patentes nas aulas de técnicas de dança contemporânea, focando-se maioritariamente nas ações do corpo,

(...) emphasising the use of the torso, feet in parallel, concentration on body design and spatial design, movements or isolated parts of the body as well as the whole, emphasis on the pelvic region and the centre initiating and causing momentum, tension between up and down, floor-work and extensive variations of qualities and phrasing. (p.84)

Para além destas, são referidas por Schwartz (2000) as abordagens à improvisação como elemento integrativo das aulas de técnicas de dança contemporânea. Esta refere que a improvisação, apesar de normalmente incluída nos programas das escolas, usada fundamentalmente como ferramenta da composição, pode integrar aulas de técnicas de dança contemporânea em diferentes níveis técnicos, à semelhança da contraction e

release em Graham ou a utilização da barra no ballet clássico, ideia também corroborada

por Krasnow & Wilmerding (2015). Refere ainda implicações na prática performativa, nomeadamente no apoio ao desempenho técnico psicomotor, bem como na pesquisa de material usado ou não na criação coreográfica. Em suma, os desafios das técnicas de dança contemporânea centram-se numa constante possibilidade de interação entre as competências artísticas e as competências psicomotoras, promotoras da construção de um indivíduo enquanto performer.

As abordagens ao puro tecnicismo aliado ao treino do corpo parecem não ser apenas os únicos meios e critérios para a lecionação das técnicas de dança contemporânea. Martha Graham baseou a sua técnica e a própria conceção artística nos rituais primitivos; Isadora Duncan nos ideais clássicos; David Zambrano utiliza a experiência de ter ficado inutilizado das pernas; Ohad Naharin utiliza experiências provindas da improvisação nas suas obras coreográficas. Apesar disso, existem muitas outras que são unicamente reflexo de uma profunda absorção e incorporação de estilos e

linguagens das formações e experiências vividas no âmbito da prática artística. Ou seja, os percursos dos profissionais são fundamentais para uma análise das opções técnicas e metodológicas nas técnicas de dança dos mesmos. Diehl & Lampert (2011) fundamentam esta ideia referindo:

Dance teachers can source a hybrid network of dance forms and body–work techniques, along with presentation methods and teaching forms. Yet, at the same time, the method of training contributes to the style: the way of working informs any individual artistic practice. (p.10)

Existe, no entanto, uma falta de exatidão no que é lecionado, como já foi evidenciado. Thomas (2003) refere que “The Graham technique, like ballet, became codified and since the 1950s has been taught as an alternative to ballet in dance schools and universities in many different countries.” (p.112), que se podem estender até aos dias de hoje, correlacionado com outras formas de abordar as técnicas de dança. As abordagens são tão vastas que, inevitavelmente, a codificação fica a cargo de cada profissional. Não se procura, no entanto, apenas catalogar os conteúdos lecionados em cada aula de técnicas de dança contemporânea, visto que não existe um vocabulário universal e transversal a todas as técnicas. A este respeito, Diehl & Lampert (2011) afirmam:

Today’s dance training consists of a combination of different methods, some of which are concerned with a better understanding of the ways in which the body generates movement and how this movement generation can be individual, sensed, and efficient. The various ways of offering kinaesthetic/pro-prospective tools and developing skills of students in the field of contemporary dance and movement practice differ widely and are not easily subsumed under one umbrella term, such as ‘technique’. (pp.14-15)

As noções de que as técnicas de dança contemporânea na contemporaneidade poderão não ser tão taxativas (em termos históricos) com o aparecimento das abordagens à dança de Steve Paxton. Talvez os seus ideais sempre tenham existido e, por isso, construíram um percurso simultâneo com aquelas que podem ser denominadas como técnicas de dança moderna, onde se pode inserir Martha Graham. Desta forma, considera- se que não é possível separar o sujeito do seu passado. Se olharmos para alguns exemplos anteriormente referidos, constatamos que, por exemplo, o percurso de Cunningham é pautado pelo contacto com múltiplas experiências com a dança, em particular no trabalho como bailarino nas peças Graham, entre os anos 30 e 40. Se, por um lado, existia uma necessidade de afirmar diferentes perspetivas e abordagens à dança, por outro, existem “impressões” no corpo que se afirmam e vão ao encontro de uma das mais famosas afirmações de Graham: “O corpo nunca mente”. É assente nesta “crença”, que o percurso de cada profissional se afirma singularmente, usando o arquivo de

experiências do passado (mesmo aquelas das quais não se tem afinidade ou concordância) a favor dos seus ideais inscritos num determinado tempo.