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A doação da sede da Associação de Professores do Estado do Maranhão e o prenúncio

3 A ASSOCIAÇÃO DE PROFESSORES DO ESTADO DO MARANHÃO:

3.5 Década de 1980: as contradições das lutas e o crescimento da entidade

3.5.4 A doação da sede da Associação de Professores do Estado do Maranhão e o prenúncio

As relações que se estabeleciam entre os dirigentes associativistas e os representantes governamentais nem sempre foram marcadas pela defesa dos interesses classistas e ou políticos dos seus porta-vozes. Não é de se estranhar, nesses casos, o estabelecimento de relações pautadas na amizade existentes entre os interlocutores ou mesmo que procurassem traduzir certas particularidades presentes na forma pelo qual os seus personagens agiam. Não foi de outra forma que a APEMA recebeu do Governo do Estado à doação de um prédio para funcionamento de sua sede, local no qual, até os dias de hoje, funciona o SINPROESEMMA.

Tais premissas, acima esboçadas, ficam evidenciadas pelas palavras do professor Mário Carneiro quando observa que foram as relações de amizade entre ele e Ivar Saldanha que propiciou à categoria o recebimento da doação de um prédio no centro histórico de São Luís.

Quando eu [fui] deputado e o colega deputado Ivar Saldanha foi assumir o governo pela saída de João Castelo, ele era o vice, porque o vice, General Arthur Carvalho tinha morrido, então ficou como vice, na hierarquia o presidente da Assembleia, e Ivar era o presidente da Assembleia. Quando João Castelo renunciou pra ser Senador da República, então Ivar Saldanha assumiu o Governo; nesta época nós conseguimos com Ivar Saldanha e amizade com ele, mas nós professores, era nosso colega, nós estávamos juntos na Assembleia, votava junto comigo as coisas dos professores, aí nós conseguimos aquela casa lá no centro, [...] só sei que conseguimos a casa através do Governado Ivar Saldanha, nós devemos isso a ele, e ele era a pessoa de nossa alegria ali dentro. (Entrevista concedida em 22/01/2016, ANEXO B, p. XXXIV)

Havia também uma pressão do presidente da APEMA, Antonio Anacleto Ferreira, sobre Ivar Saldanha, que se materializava através de notas à imprensa, o que pode ter contribuído para essa doação, já que havia uma lista grande de demandas do professorado maranhense. De todo modo, a resposta da APEMA ao ato de concessão do prédio para fixar sua sede, foi dar a Ivar Figueiredo Saldanha, o título de benemérito da associação. A entrega do título estava programada para o dia 15 de outubro de 1982, mas o governador se manifestou publicamente pedindo desculpas por não poder comparecer à festa em comemoração ao dia do Professor, quando receberia em ato solene a honraria. (O IMPARCIAL, 15/10/1982, p. 7)

Foi assinado, então, pelo governador Ivar Saldanha, no dia 14 de outubro de 1982, em solenidade no Palácio dos Leões, o projeto de lei a ser encaminhado à Assembleia Legislativa autorizando a doação do imóvel,

Art. 1º Fica o Poder Executivo autorizado a doar à Associação dos Professores do Estado do Maranhão – APEMA, entidade civil de direito privado, o imóvel de propriedade do Estado situado na Rua Henrique Leal, n. 128, nesta cidade, a fim de que a referida associação ali instale sua sede própria. (MARANHÃO, Lei n° 4.488 de 22 de fevereiro de 1983)

No mesmo dia em que foi firmado esse projeto de lei, um novo “Treinamento Seletivo” teve sua realização anunciada, com o objetivo de enquadrar mais 7 mil professores ao novo Estatuto do Magistério.

O secretário Antonio Fernando por sua vez, destacou a importância do treinamento a ser promovido que vai beneficiar milhares de professores. ele revelou que “nos treinamentos anteriores mais de 7.500 professores foram beneficiados e destacou o apoio do Governo que tem traduzido as aspirações da classe” (O IMPARCIAL, 15/10/1982, p. 7)

Esse discurso do secretário de educação trouxe à tona inúmeras contradições uma vez que, no mês de maio do ano seguinte, a edição d’O Imparcial (19/05/1983, p. 5) se expunha a preocupação da APEMA em garantir o enquadramento dos professores participantes do Treinamento Seletivo ao Estatuto do Magistério. Segundo o professor Antonio Anacleto Ferreira informou, o quantitativo de partícipes foi inferior, 4.500 docentes

até então já haviam realizado o treinamento e não 7.500 como havia dito o representante do Estado, e destes “somente 10 foram enquadrados entre agosto de 1982 e março de 1983”.

Essa era a materialização de mais uma manobra do governo sobre a categoria dos professores maranhenses.

Por outro lado, muitas dúvidas pairavam sobre a situação funcional dos professores horistas. A Lei n° 4.277/81, como já foi mencionada, era um dispositivo legal utilizado pelo Governo a fim de contratar pessoal para o exercício do serviço público, mas, por outro, era um método utilizado com a intensão visível de excluir do trabalhador qualquer possibilidade de estabilidade. Geralmente esses contratados eram indicados por políticos, o que não os eximia de incorrer nos sucessivos atrasos salariais e demissões sumárias.

Essa situação desencadeou em novembro 1982 um Debate Político organizado pelo núcleo da APEMA na cidade de Caxias. O intuito era discutir com as lideranças políticas daquela cidade e do Estado suas propostas para a educação, já que aquele era um período eleitoral e muitos problemas assolavam os professores caxienses tanto da esfera pública como da privada, sendo o principal deles, atrasos em seus vencimentos. (O IMPARCIAL, 07/11/1982, p. 12)

Em março de 1983 os professores de Caxias, começaram a realizar manifestações contra o governo pela falta de pagamento que, conforme o periódico O Imparcial, o atraso já ultrapassava os dois meses. A mesma matéria afirmava também que os professores

Alegavam que na situação de crise, em que se encontram, as implicações desse atraso, na vida de pessoas que têm desse salário um único meio de sobrevivência é inexplicável que o Governo do Estado adote uma política de discriminação entre eles e os funcionários da capital, que já receberam seus vencimentos de fevereiro, enquanto muitas cidades do interior ainda não receberam nem o mês de janeiro. (04/03/1983, p. 5)

O resultado desse movimento reivindicatório foi uma greve, deflagrada em 07 de março de 1983, com adesão de professores da rede pública estadual e privadade ensino, ironicamente, todos estavam com salários atrasados (O IMPARCIAL, 08/03/1983, p. 7).

Nas mesmas páginas desse jornal, o professor Sidney Rocha, presidente da APEMA do núcleo de Caxias declarou:

Como agentes transformadores da sociedade, os professores [...] não estão sujeitos em hipótese alguma, a viver sem salários. “Acima de qualquer lei [...] está o direito humano e, assim sendo não há lei humana nem divina que obrigue se trabalhar sem salários. O professor de Caxias está passando fome e miséria e não se pode trabalhar com fome.

Sendo chamado para as negociações, o professor Antonio Anacleto Ferreira, presidente estadual da APEMA utilizou seu velho método de pressionar, lançando notas à imprensa,

[...] o Governador Luiz Rocha e sua inteligente assessoria sensível às mutações sociais, cioso do papel do professor, haverá de conduzir o magistério do Maranhão e o ensino de modo geral a uma plenitude histórica de realce. (O IMPARCIAL, 18/03/1983, p. 5)

Luiz Rocha havia acabado de assumir o papel de condução do Estado, e o professor Antonio Anacleto Ferreira, esperava sensibilizar o seu governo para os problemas não apenas concentrados na cidade de Caxias, mas em todas suas regiões. Afinal, dias depois o professorado da rede estadual na cidade de Barão do Grajaú iniciaria uma paralisação pelo mesmo motivo da greve em Caxias, que havia sido os atrasos nos seus vencimentos.

Uma série de discussões foi iniciada com a recém-chegada Secretária de Educação Leda Maria Chaves Tajra e uma comissão formada pela APEMA, tendo como um dos pontos principais a situação dos professores contratados pela Lei. n° 4.277/81.

A fim de abrir as discussões para a categoria, a APEMA planejou dois eventos. O primeiro em São Luís com a realização do II Seminário Estadual dos Professores, sob o tema: Política Educacional e Organização dos Professores, realizado em 14 e 15 de outubro 1983 no Liceu Maranhense (O IMPARCIAL, 16/10/1983), e o segundo na cidade de Bacabal – I Seminário Municipal de Professores de Bacabal, com a temática: Política Educacional do Governo e as Entidades de Professores. O objetivo dos encontros era discutir os problemas pelos quais os trabalhadores estavam sofrendo naquele momento, como: ameaças de demissões (O IMPARCIAL 20/05/1983, p. 5); situação funcional dos docentes (O IMPARCIAL, 04/09/1983, p. 5); atrasos nos pagamentos (O IMPARCIAL, 04/03/1983, p.5; 16/04/1983, p.5; 26/10/1983 p.2; 28/10/1983, p. 10).

Nesse momento, a APEMA fixou núcleos em várias regiões do estado, mais precisamente nas cidades de Imperatriz, Caxias, Timon, São Mateus, Bacabal e Chapadinha (O IMPARCIAL, 20/05/1983, p. 5).

Por conta da passagem do dia do Servidor Público, consagrado na data de 28 de outubro, a APEMA, distribuiu uma nota de protesto contra o governo, conforme é possível verificar pelo seu excerto abaixo reproduzido:

A nota é dirigida aos funcionários públicos e professores, dizendo que hoje não é um dia de festa, mas uma data para reflexão e até protestos contra a insensibilidade dos nossos representantes na área do Executivo e do Legislativo. Protesto contra a política anti-povo que o Governo vem mantendo, embora diga que governa para o povo, afirma a nota.

Os protestos são contra a impassividade dos nossos parlamentares que nada fazem para melhorar a condição de penúria em que está vivendo a nossa gente. Também contra o que chamou de sadismo consciente do Poder Público, que parece sentir prazer em, paulatinamente, matar o povo de fome, de angustia por não poder honrar seus compromissos em razão dos atrasos salariais.

A Nota da Associação dos Professores incita a classe a unir-se em torno de uma grande paralização que já conta com a adesão de 63 municípios. (O IMPARCIAL, 28/10/1983, p. 3)

Conforme apuramos O Imparcial não publicou a nota na sua íntegra, mas a encerrou afirmando que os professores estariam se mobilizando para uma paralisação de grandes proporções no Estado.

Em meados de junho 1984, cerca de 800 professores do segundo grau paralisaram suas atividades por estarem com os salários atrasados por cerca de 4 meses. A fim de amenizar a situação com o professorado o governo anunciou um aumento salarial de cem por cento, tal qual se pode constatar, pela notícia jornalística, abaixo reproduzida:

[...] “O funcionalismo público maranhense e particularmente os professores estão de parabéns com o aumento salarial concedido pelo Governador Luiz Rocha”, disse ontem o ex-presidente da APEMA, professor Antonio Anacleto Ferreira [...] “os professores maranhenses passam a ter vencimentos superiores aos dos seus colegas de alguns Estados nordestinos [...] a nossa confiança renasce agora com o substancial aumento concedido à classe, graças ao espírito público do Governador Luiz Rocha, que se afirma cada vez mais”. (O IMPARCIAL, 04/07/1984, p. 5)

Nesse momento, o professor Antonio Anacleto Ferreira, não estava mais na presidência da APEMA, seu sucessor foi o professor Antonio Marmo Martins Pavão, que deixou o cargo em poucos meses. A liderança da entidade ficou, então, a cargo da vice- presidente, professora Lucimá Goes de Sousa que esteve à frente da entidade por 23 anos.